NOTAS DO AUTOR: Conto baseado em "Bandersnatch", filme da série black mirror.
*****
O jovem caminhava tranquilo pela estrada da vida. Era uma estrada longa, mas até o momento em sua travessia por ela não havia encontrado grandes obstáculos. Então, subitamente, ele parou. Algo novo e intrigante havia acontecido. A estrada encerrava-se em frente a uma arvore e, desse ponto, bifurcava-se em dois caminhos.
Confuso e inseguro o jovem refletiu sobre a ação a tomar. Aquilo era estranho, assustador e novo. Dois caminhos, qual seguir? Qual o melhor? Qual o pior?
- Indeciso?
A voz soou de cima, era pausada e possuía uma leve pitada de humor. O jovem procurou o dono daquela voz com o olhar, mas nada viu.
- Aqui em cima, na arvore – repetiu ela.
Então ele viu um gato preto sentado em um dos galhos da arvore. Era um belo e enigmático animal com sua pelugem negra como a noite e seus fascinantes olhos amarelos. Sua cauda balançava sutilmente da esquerda para direita em um ritmo monótono e constante.
- Estou um tanto desnorteado aqui senhor gato – exclamou o jovem feliz por ter alguém que lhe pudesse ajudar – a estrada da vida se dividiu em duas. Qual caminho devo seguir?
O gato ronronou preguiçosamente, coçou o rosto com sua patinha pequena e só então respondeu.
- Ah isso acontece porque você está diante de uma escolha garoto. Toda vez que o caminho se bifurca é devido a uma escolha. Agora, quanto ao caminho a seguir, isso depende de onde você quer ir.
O garoto pensou sobre isso por um brevíssimo instante.
- Eu não quero ir a lugar nenhum em especifico. Apenas sigo a estrada e aguardo que ela me traga boas coisas em meu futuro.
O gato deu de ombros. Era difícil identificar quando um gato faz isso, mas o jovem teve certeza que foi exatamente isso que ele fez.
- Então, meu jovem, qualquer caminho lhe convém – respondeu indiferente.
Talvez sim, as palavras daquele bichano até faziam sentido. Mas a obrigação de escolher assustava o jovem. Se haviam dois caminhos haveria, consequentemente, um melhor e um pior. Como saber que a decisão que tomara levaria ao melhor?
- Por favor senhor gato diga-me o que irei encontrar em cada um dos caminhos assim poderei escolher com mais segurança – suplicou.
O gato ocupou-se em lamber as suas patinhas distraído. Parecia gostar de deixar o jovem aflito por uma resposta. Passado alguns segundos nesse seu ritual o animal voltou a falar.
- Não acho que isso iria adiantar meu jovem. Em cada um desses caminhos a estrada ira se bifurcar em mais dois caminhos e, então, em mais dois caminhos de novo e esse processo ira se repetir incontáveis vezes. Existem centenas de milhares de caminhos a seguir. São muitas possibilidades.
Só de imaginar a estrada se bifurcando tantas vezes o jovem ficou tonto e teve a impressão que ia desmaiar. Começou a tremer de medo e a suar frio.
- I-isso é horrível. Porque tem tantos caminhos assim? – perguntou em um tom patético de lamuria.
O gato deu uma risadinha sarcástica.
- São as escolhas meu jovem, é tudo culpa das escolhas. Elas estão em toda parte da estrada da vida e é impossível fugir delas.
- Mas... com tantas escolhas assim as pessoas não acabam se perdendo na estrada? – perguntou assustado. Não queria se perder. Queria apenas seguir um rumo seguro.
- Ah com certeza isso acontece o tempo todo! – o gato pareceu se divertir ao dizer isso – as pessoas sempre se perdem por essa estrada. Alguns acabam reencontrando-se depois, mas a grande maioria continuam perdidos até seus pés não aguentaram mais caminhar e eles se deitarem no chão fechando os olhos para nunca mais abri-los.
O jovem começou a tremer da cabeça aos pés. Olhou para o caminho da esquerda, depois para o caminho da direita, ambos pareciam iguais, estendiam-se até o horizonte. Ele não sabia escolher, ele não queria escolher. Afinal quem teve a maldita ideia de sair colocando tantas escolhas no meio da estrada?
O gato, percebendo o desamparo do jovem, desceu da arvore e ficou no chão em frente ao garoto. Com seus olhos dourados fitou-o intensamente.
- Tem medo das escolhas garoto?
- Sim... muito!
- Então posso lhe ajudar. Adore a mim e deixe-me ser seu guia. Eu irei acompanha-lo pela estrada da vida e a cada escolha que nos depararmos lhe indicarei o caminho a seguir. Assim você não precisara se culpar por ter pegue os caminhos errados, não precisara se culpar pelas dificuldades que encontrar pela estrada. Culpe a mim e acredite piamente que estou lhe guinado pelo melhor caminho mesmo que para isso acabe passando por alguns caminhos tortuosos. Adore a mim – repetiu o gato enfaticamente – e tudo ficara bem.
Pareceu ao jovem que o gato crescia em tamanho e imponência, como transformando-se em um enorme leão. Seus olhos dourados ficavam ainda mais intensos, transformando-se em ouro liquido. Sua expressão tornava-se mais selvagem, brutal e demoníaca. Era assustador, mas ao mesmo tempo era reconfortante pois se seu guia era poderoso então suas escolhas seriam certamente as melhores.
O leão crescia mais e mais, era uma fera admirável e assustadora. Mas por mais assustadora que fosse não era tão assustadora aos olhos do jovem quanto o peso de tomar uma escolha.
- Adore-me – repetiu mais uma vez o leão. Sua voz grave como o trovejar de mil raios – eu sou Bandersnatch, o ladrão do destino. Adore-me e deixe-me guia-lo livrando-o assim do peso de ter que enfrentar as escolhas.
O jovem sentiu-se admirando e assustado por aquela criatura. Ele olhou mais uma vez para os dois caminhos e, sabendo que essa seria sua primeira e ultima escolha, decidiu adorar ao enorme leão.
Então o leão sorriu e, como em um passe de magica voltou a ser apenas um gato. O bichano seguiu em frente pela estrada tomando um dos caminhos e o jovem, agora escravo dos desígnios do gato, seguiu-o.
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