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[oneshot; kaisoo; angst; 1910s] Amei-o implorando a Deus que me perdoasse, pois ele é misericordioso, enquanto temia que o nome de minha família fosse manchado e eu condenado por aqueles que tanto rogavam por misericórdia, mas que pouco a proporcionavam.


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#kaisoo #exo #jongin #kyungsoo
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O que nós nunca teremos

12 de Maio de 1913

Detive em mim por um longo tempo os sentimentos que me levaram a quase perda de minha redenção, tanto pela falta de entendimento em relação ao afeto que nutria pelo Doutor Kim, como pelo medo da sentença que tais sentimentos pudessem me proporcionar. Eram puros, de início, apenas lhe desejava o bem e que tivesse uma vida próspera. Não posso dizer que o admirei de forma platônica uma vez que meu afeto se mascarou de amizade e assim permaneceu durante os primeiros meses após sermos apresentados. Contudo, as fantasias não puderam ser evitadas ao que se estendeu o tempo.

Dizem que o amor de um homem para com outro pode ser relevado conquanto que se mantenha platônico. Assim entendo que minha alma não está totalmente perdida e que não posso ser julgado por algo que olhos não viram, exceto os meus e os olhos do que me jurou amor eterno.

Eu estava certo de que poderia dormir com minha cabeça leve sobre o travesseiro de penas, porém entendia que a angústia não me deixaria durante muitos anos, não enquanto tais sentimentos profanos não se desapossassem de mim. E ouso dizer que nunca me deixaram.

Amei-o implorando a Deus que me perdoasse, pois ele é misericordioso, enquanto temia que o nome de minha família fosse manchado e eu condenado por aqueles que tanto rogavam por misericórdia, mas que pouco a proporcionavam.

Que a alma do Doutor Kim tenha sido perdoada, assim como a minha, e que a vida ainda lhe dê muitos anos prósperos assim também para sua família. Nunca pude deixar de lhe desejar boas coisas pois é o único sentimento que me resta ser expressado sem condenação.

{...}

Sinto-me tolo ao lembrar do momento em que Kyungsoo confessou que me amava. Nutria sentimentos por ele e acreditava serem singelos de um amigo. Ouvi-lo dizer tais palavras me causaram um tremor da cabeça aos pés. Algo em mim vinha crescendo e sendo rapidamente podado, entretanto suas palavras me desequilibraram. Não pude conter, mesmo que a primeiro momento eu não compreendera.

“Te amo, Jongin... Entende?”

O afastei e roguei a Deus que tivesse misericórdia dele, que talvez Kyungsoo fosse tolo e não compreendesse as próprias palavras. Não havia modo de um homem amar outro homem como deve ser feito para com uma mulher. Era o pior dos pecados. Porém, enquanto ajoelhado implorando misericórdia, algo em meu âmago se deleitava com a ideia de o ter em meus braços e lhe acariciar o cabelo negro como a noite até que seus belos olhos se fechassem em descanso. Desejei tocar seus lábios e lhe segurar a mão.

Lembro-me de ter saído da capela atordoado e suando por todo corpo, tais pensamento se apossaram de mim e não consegui contê-los. Entendi que os sentimentos dele eram recíprocos e que fui um parvo em não entender tão cedo. Espalhafatoso do modo que eu era, creio que Kyungsoo tivesse entendido meus sentimentos por ele antes mesmo que eu pudesse.

Foi a minha queda e tive consciência, mesmo que tarde. Estava destinado a amar outro homem ainda que meus sentimentos para com ele fossem os mais puros que eu pudesse ter. O amor destinado a alma errada se torna uma maldição.

Sempre tive apreço por Kyungsoo, por sua clareza em ver o mundo, mesmo que seus discursos me causassem risadas pela forma audaciosa como ele falava e fossem distintos aos meus pensamentos. Sempre lhe desejei o bem. Não compreendia por que tal pecado caíra sobre nós.

E como último apelo roguei a Deus para que meus sentimentos não o condenassem, que a culpa se mantivesse em mim e eu unicamente sofresse a consequência.

{...}

Havíamos nos ausentado das aulas e fugido do campus.

Naquela época eu havia me tornado um inconsequente e sabia que minhas ações poderiam causar minha expulsão da universidade. Entretanto, pouco me importava. Os títulos de minha família me fariam rico até meu leito de morte e não havia nada que o reitor pudesse fazer em relação àquilo. Acredito que ele soubesse do fato e me visse apenas como mais um jovem imprudente e bem apossado que vivia no campus apenas como um passatempo. Um diploma não me era necessário, mas ainda queria exercer a medicina.

Com o blazer e o colete deixados de lado, nos deitamos na grama alta que beirava um riacho ainda dentro da propriedade da universidade, longe o suficiente do dormitório para não sermos vistos. Ele parecia sereno com os primeiros botões da camisa abertos, os olhos fechados enquanto a brisa gélida que ainda rondava a primavera lhe acariciava as madeixas longas e negras penteadas para trás. Kyungsoo era belo de uma maneira que me instigava a querer pintá-lo mesmo não possuindo aptidão para tal.

“O que te atormenta?” Kyungsoo perguntou-me depois de um tempo. Abriu os olhos lentamente e se ajeitou sobre o lençol que trouxemos do dormitório. Ele perguntou como se lesse a minha alma e visse todos os pecados que habitavam em mim. Por um instante pensei em não dizer nada e emudeci. Contudo, meus sentimentos por ele já haviam se apossado de mim de forma que não poderia contê-los em minha boca por mais tempo.

“Não sei se posso considerar como tormenta você em meus pensamentos.” Virei-me para o lado me apoiando sobre o cotovelo.

“Espero que ao menos o péssimo desempenho que vem tendo em suas notas não seja atrelado a mim porque não me tira de sua mente.”

Ri com um sorriso largo enquanto meus dedos se perdiam em seu cabelo. Se ele soubesse das fantasias que nutria por ele talvez virasse a cara para mim e nunca mais me dirigisse a palavra. Eram profanas, porém não as via como tal. O afeto que nutria por Kyungsoo em meu entendimento era puro. Queria lhe proporcionar felicidade, fazer com que ele se sentisse amado, nunca lhe desejei nada além do bem. Entretanto, eu tinha o entendimento de que meus desejos não eram bem vistos por outros olhos além dos meus.

Meus dedos se arrastaram lentamente para seu rosto onde lhe fiz um leve carinho. Toquei sua pálpebra, seu nariz e por último seus lábios. Kyungsoo se deleitava com meus toques e colocou sua mão sobre a minha. Não me contive ao beijá-lo, pressionamento meus lábios os dele como se pudessem fugir de mim. Segurei-o pelo queixo e aprofundei nosso beijo. Eu sabia que beijar daquela forma envolvendo línguas era íntimo demais e ia além do que Kyungsoo e eu tínhamos até aquele momento, mas não quis me conter. Há tempos vinha imaginando como seria senti-lo daquela forma. Para ser honesto, me pegava pensando em várias formas de sentir seu corpo e sabia que todas eram erradas.

Sua mão sobre meu ombro tentou me afastar, mas a segurei junto a minha, próximo ao seu coração. Queria que ele entendesse que me negar com ações não esconderia o que efetivamente ele sentia. Seu coração batia tão forte quanto o meu e sua pele estava aquecida tanto quanto a minha. Um amor platônico não é diferente de um amor manifestado. Encoberto ou não, ainda era amor e desejo.

“Por que é sempre tão indecente?” Sorri contra seu rosto quando finalmente o libertei de meus lábios. Beijei sua bochecha e ousei guiar meus lábios para sua mandíbula. Beijei seu pescoço exalando seu cheiro que me era tão querido. Ouvi-o suspirar: “Jongin, sabe que não pode.” Afastei-me e o fitei. Sorri mesmo estando magoado. Não gostava quando ele me lembrava que não podia amá-lo tão intimamente, que o que compartilhávamos era errado e minhas demonstrações de afeto eram lidas como indecentes. “Sabe que ir além nos causaria a perdição.”

“Já não estamos perdidos por nos amarmos?” Kyungsoo puxou o estojo do bolso e o vi acender um cigarro com dificuldade devido ao vento que insistia em apagar seus fósforos. Ele parecia fugir de minha pergunta, mas meus olhos insistentes sobre ele o encurralaram.

“Não podemos ser acusados por algo que não verbalizamos ou fizemos. Enquanto seus desejos estiverem apenas vagando em sua mente ninguém pode condená-lo.” Senti-me confortado por suas palavras, de certo modo. Ainda assim a frustração me incomodava como um pernilongo irritante, zumbindo em meu ouvido. “Mas se ultrapassarmos o limite, qual será nossa desculpa perante Deus?”

Deitei minha cabeça contra seu ombro e a mão de Kyungsoo que segurava o cigarro acariciou meu cabelo cuidadosamente. Senti que ele me consolava. Desejei me jogar no rio e pedir que Deus me lavasse dos sentimentos que possuía por ele, porque amá-lo às vezes doía.

{...}

Aos fins de semana Kyungsoo me acompanhava até a capela. Eu me confessava ao padre encobrindo quaisquer detalhes que pudessem me ligar a Kyungsoo como além de um amigo e saía como se carregasse mais pecados do que deveria. Naquele dia em questão o vi rezar e me perguntei o que ele poderia estar pedindo a Deus. Kyungsoo sempre parecia preocupado, isso era notório na cautela que ele mantinha em não deixar que quaisquer suspeitas sobre nós pudessem chegar à cabeça de alguém.

Hoje penso que ele se angustiava tanto quanto eu, que o sentimento que compartilhávamos também o fazia sofrer. Contudo, eu nunca soube o que se passava com Kyungsoo enquanto ele estava sozinho em seu quarto no dormitório, se assim como eu ele chorava em noites frias por não podermos ter um ao outro nos braços.

Entramos em um táxi assim que saímos da capela. Pegaríamos o trem rumo a minha casa.

Kyungsoo já era querido por minha família e minha mãe e irmã sempre o recebiam com grande carinho. Tornou-se amigo de todos que carregavam o meu sobrenome. Mamãe costumava dizer que se papai ainda estivesse vivo teria muito apreço por Kyungsoo e que caçariam juntos. Eu gostava daquele pensamento, me trazia um sentimento de aconchego poder imaginar meu pai e Kyungsoo juntos como sogro e genro — ainda que a ideia fosse absurda e real apenas em minha cabeça.

Minha mãe sempre preparava o maior aposento quando Kyungsoo nos visitava, porém daquela vez o fiz andar por todos os quartos que minha casa possuía até que estivéssemos no último, longe de todos. Dei para minha mãe a desculpa de que ele precisava de mais privacidade, principalmente pela manhã porque era mal-humorado. Ri da expressão indignada que ele fez quando me ouviu dizer tais coisas.

“Minha mãe e minha irmã não nos incomodarão aqui.” Abracei-o enquanto ele pendurava as camisas no guarda-roupas. “E posso te visitar durante a noite.”

“Sua mãe pensará que sou mal-educado por ter recusado o quarto que ela preparou.” Meu riso soprou contra sua nuca. Era um absurdo que alguém pudesse ver Kyungsoo como algo além de um verdadeiro cavalheiro.

“Sabe que minha mãe não te veria como mal-educado nem se falasse mal dos chapéus dela.”

“Isso seria um grande absurdo visto que sua mãe é a mulher mais elegante que já conheci.”

O perdi de meu abraço quando ele terminou de guardar as camisas e andou até a janela para abrir as cortinas. Parou sobre o parapeito observando o extenso jardim da propriedade. A primavera cada vez mais longe do inverno pintava a natureza com cores belas e vivas.

“Podemos passear pelo jardim depois do almoço?” indagou.

Andei até seu lado e admirei a paisagem assim como ele.

“Podemos cavalgar também se quiser.”

“Preciso de um lugar calmo.”

“Sei de um lugar que pode gostar.” Segurei sua mão e depositei um beijo singelo sobre as costas da palma antes de sair do quarto lhe deixando um de meus sorrisos.

...

Depois do almoço, roubei Kyungsoo de minha mãe que insistia em lhe contar histórias sobre nosso falecido pai enquanto tomavam chá. Deveras mórbido para uma bela tarde de sol. Levei-o até o jardim como prometido. Naquele dia ele parecia mais calmo que seu habitual. Estava à vontade sem o blazer e o colete, porém não abriu mão dos suspensórios tão pretos quanto a calça.

Nos afastamos do casarão o suficiente para não podermos vê-lo entre as árvores. Kyungsoo interrompeu a caminhada e parou sob uma olmeira que pintava a vista sobre nós de um verde vibrante, os ramos tão densos que mal se podia ver o céu. Ele observou por um tempo e pensei que procurava por algum pássaro que pudesse ter feito seu ninho em algum galho. Sentou-se sobre o pé da árvore e fez um gesto para que eu o acompanhasse. Apoiei minha cabeça em seu ombro, um costume de adquiri com o tempo.

“Creio que aqui seja tranquilo da forma que imaginou,” eu disse, “mas pensei que quisesse caminhar.”

“Estou fatigado do almoço. Sempre como o dobro na casa de sua mãe.”

“Mamãe sempre te faz comer porque pensa que é magro demais.”

Kyungsoo acendeu um cigarro e emudeci observando seus dedos baterem as cinzas contra a perna dobrada todas as vezes que tirava o cigarro da boca. A fumaça chegava amarga em minhas narinas, mas não quis me afastar dele.

“Acha que existe algum lugar na terra que possa ser longe dos olhos de Deus?” Kyungsoo perguntou depois de terminar seu cigarro.

“Talvez na América?” respondi sem intenção de soar sério, “Por que pergunta?”

“Já ouviu o que os céticos dizem?” ele começou dizendo, “Dizem que Ele apenas existe na cabeça de cada um que tem fé. Não há Deus se não acredita nEle. Não há pecado e condenação se não acredita que suas ações são erradas. Não existe um lugar no mundo longe dos olhos de Deus, mas qualquer lugar pode se tornar um se acreditar que não há Deus para olhá-lo.”

Ergui minha cabeça e o olhei tentando não demonstrar minha indignação. Não que eu estivesse verdadeiramente indignado, tal pensamento me trouxe conforto, contudo o pensamento era tão blasfemo e ultrajante que apenas alguém audacioso como Kyungsoo poderia sustentar tal discurso.

“O que quer dizer com isso?” indaguei.

“Quero dizer que estive pensando sobre você nas últimas semanas e fiz algo indecente. Não pedi perdão a Deus porque não vejo o que precisa ser perdoado.” Não pude imaginar Kyungsoo praticando algo indecente uma vez que ele era o homem mais cortês que conhecia. Cabia a mim ser o praticante das indecências, que induziu Kyungsoo ao pecado. “Pensei que se fechasse as costinhas durante a noite Ele não me veria.”

“Mas Deus está em todos os lugares. Ele é onipresente.”

“E se não quisermos que Ele esteja aqui?”

Tive dificuldade para entender Kyungsoo. Estar longe dos olhos de Deus era algo impossível em minha cabeça. Culpava-me todas as horas do dia porque sabia que Ele me olhava a todo momento e julgava meus atos, meu amor. Contudo, qualificava Kyungsoo como um homem inteligente e suas palavras naquele momento se fizeram fatos. Se ele estava dizendo o maior dos absurdos não coube a mim decidir porque eu queria que suas palavras fossem verdade.

Ele me surpreendeu com um beijo simples. Kyungsoo raramente iniciava nossos beijos, mas naquele dia em questão ele o fez. O ósculo se tornou confortável devido ao lugar onde estávamos, tão longe de qualquer outra pessoa que podíamos relaxar nossos ombros e apenas sentirmos um ao outro.

E sussurrando contra meus lábios, ele disse:

“Por que não me beija da forma indecente como fizera naquele dia no riacho?”

Afoguei meus dedos em seu cabelo e o beijei profundamente. Diferente daquele dia, ele não me afastou e sim o oposto. Sentia suas mãos em meu rosto casualmente me acariciando enquanto o segurava pela nunca como se pudesse fugir de mim. Diferente da primeira vez, não me senti culpado. Não havia a rejeição de Kyungsoo e suas palavras negativas. Havia reciprocidade, desejo e incentivo.

Os momentos que seguiram me fizeram acreditar que de fato poderia haver um lugar longe dos olhos de Deus, dado que naquele momento minha fé e devoção se voltaram para o homem que me tocava com tanto amor. Algo em meu âmago vibrava de satisfação por estar livre. O instinto primitivo que me arranhava as entranhas agora me proporcionava o prazer de poder amar outro homem sem haver uma penalidade.

Leve como uma pena de ganso e ansioso pela realização de um desejo que tanto fantasiei, beijei Kyungsoo pela última vez antes de me deleitar do prazer que era tocá-lo e ser tocado. Entendi naquele momento que não amei a alma errada e que nosso amor não era maldição, mas sim a mais pura forma que um sentimento poderia ser. Éramos puros e compreendi que o mundo estava corrompido demais para nos enxergar daquela forma. E quem sabe Deus também estivesse errado.

Beijei a curva desnuda de seu pescoço e descansei a cabeça ali. Nossas roupas completamente amassadas retinham o suor de nossas peles e deixei que meu colete fosse retirado completamente. A respiração calma de Kyungsoo acalmou a minha e observei os galhos sobre nós e como os poucos feixes de luz caíam de forma bela sobre nossos corpos.

“Juro te amar para sempre.” confessei com meu coração aberto e sem culpa. Confessaria todos os dias de nossas vidas dali em diante para que Kyungsoo nunca esquecesse.

Ele virou o rosto contra o meu e beijou minha têmpora.

“Juro te amar enquanto houver estrelas no céu para nos observar.”

Sorri com muita alegria. O céu à noite nunca se apagaria enquanto o nosso amor existisse para ser admirado. E daquele dia em diante só havia a eternidade.

{...}

Kyungsoo sempre foi um homem meticuloso. Eu, sendo tão exagerado, sempre o ouvia atentamente. Nunca deveria me confessar demais para o padre e dizer o que não deveria ser dito, na faculdade éramos bons amigos e compartilhávamos do mesmo amor pela medicina. Ele costumava dizer que eu o encarava demais, principalmente durante as refeições e quando ele jogava rúgbi com nossos colegas vizinhos de quarto. ‘Seja mais cauteloso,’ ele sempre dizia, ‘Podem não descobrir que é apaixonado por mim, mas podem pensar que é um louco obcecado’. Eu ria, mas me atinha as suas palavras.

Havíamos decorado cada canto daquela universidade onde sabíamos que não poderíamos ser vistos. Era onde eu o beijava ou simplesmente permanecia com a cabeça apoiada contra seu ombro, sentindo seu cheiro. Às vezes ele lia para mim, algo que eu adorava. Podia ouvi-lo ler páginas sem fim enquanto minha cabeça descansava sobre seu colo e ele acariciava meu cabelo. Não havia nada que me trouxesse tanta paz quanto a voz de Kyungsoo.

Fizemos planos de viajar para o sul da América um dia. Kyungsoo queria conhecer a Argentina e o Tango. Disse a ele que o levaria até a Lua se assim ele quisesse. Ria de minhas bobagens dizendo que eu era um tolo apaixonado, que era impossível para um mero homem alcançar a lua, mas eu insistia que poderia levá-lo aonde quisesse desde que ele nunca soltasse minha mão.

Meu peito se enchia de alegria a cada plano que fazíamos, sentia-me ainda mais ligado a ele e achava bela a conexão que criamos com o tempo. Pertencíamos cada dia mais um ao outro e nossa promessa se tornava inquebrável.

{...}

Certo dia visitei o dormitório de Kyungsoo à noite, antes que o relógio marcasse onze horas. Bebemos e notei que ele estava inquieto, misturando uma grande quantidade de uísque ao chá. Kyungsoo era pequeno como sua língua, nunca expressava o que o incomodava, me causando angústia. Toquei sua perna inquieta e acariciei o joelho com o polegar para que ele se acalmasse. Depositou a mão sobre a minha e a segurou tão forte que por um instante pensei que ele estivesse caindo e precisasse que eu o segurasse.

“Quero que me visite menos” ele começou, “e que não me acompanhe tanto pela faculdade.”

“Por que isso tão de repente? Minha companhia te desagrada?”

“Apenas faça.” E virou a xicara de chá com uísque de uma vez, batendo com certa força a porcelana contra o pires.

Soltou minha mão e se levantou. Permaneci observando o chá que refletia meu rosto entristecido. Não entendia o porquê daquele afastamento e pensei que porventura Kyungsoo tivesse se arrependido do que fizemos semanas atrás no jardim de minha mãe. Deus o havia castigado e não tomei conhecimento, pensei.

A meu ver havíamos tecido algo que nos unira e onde podíamos nos manter na segurança um do outro, contudo ele preferiu lidar com suas questões sozinho enquanto permaneci na escuridão.

Levantei-me e me aproximei de Kyungsoo que inquieto procurava algo sobre a escrivaninha. Depositei um beijo sutil sobre sua nuca e lhe desejei boa noite. Retirei-me de seu quarto e o deixei sozinha com suas indagações.

{...}

Cumpri seu desejo por exatos sete dias, após isso meu coração se apertou de maneira que sentia uma dor pior que a morte. Ele fugia de mim e presumi que havia mudado boa parte de seus horários. Não o encontrava na biblioteca ou na sala de música onde gostava de passar as tardes ouvindo os alunos tocarem. Por um colega descobri que ele vinha almoçando na cidade e isso explicava seus atrasos na aula. Nunca o encontrava em seu quarto, nem ao menos à noite. Senti-me rejeitado e traído. Pensei que Deus houvesse roubado o amor que Kyungsoo sentia por mim como forma de punição.

Sabendo que não podíamos ultrapassar a marca das onze horas fora do dormitório, aguardei Kyungsoo em seu quarto após escalar sua janela. Sabia que ele poderia me acusar de invasão para o reitor, mas acreditava que ele ainda possuísse algum apreço por mim e não me acusasse.

Seu rosto mudou para uma expressão de supressa ao me ver. Permaneceu parado a porta por alguns instantes antes de fechá-la e depositar os livros sobre a escrivaninha. Levantei-me da cama às pressas e o abracei com força, ele demorou a retribuir e fechar seus braços em torno de mim.

“Sei que me pediu para que não o acompanhasse tanto, e tenho sido obediente, mas não posso suportar mais um dia sem ter sua companhia.” Meus olhos lacrimejaram ao senti-lo em meus braços naquele momento depois de dias sem ao menos vê-lo. “Por que me evita? Que mal te causei?”

Kyungsoo tentou me afastar, mas relutei, tive medo de que ele fugisse. Calmamente ele me pediu que sentasse e o fiz com dificuldade. Abriu um dos livros que antes havia depositado sobre a escrivaninha e tirou de lá uma folha de jornal dobrado. Entregou-me e li com atenção. O assunto da página se tratava do julgamento de um professor que fora preso acusado por outro professor de ter um envolvimento amoroso com seu aluno. Ele confessou seu crime e por sorte e influência fora libertado, contudo, o nome de sua família estava para sempre difamado e perdera o posto de professor. Um crime grave como aquele rendia consequências da mesma proporção.

Lembro-me de ter escutado cochichos sobre o escândalo pelos corredores da universidade, mas não dei importância o suficiente para que aquilo ficasse em minha cabeça. Entretanto, para Kyungsoo fora motivo o suficiente para se manter distante de mim.

Ergui meu olhar para ele, não precisava de uma confirmação sobre aquele ocorrido ser o motivo de seu afastamento. Deixei a página sobre a escrivaninha enquanto o ouvia falar:

“Poderia ter sido nós,” ele disse, “poderíamos estar presos agora ou causando desgosto as nossas famílias, sendo difamados e expulsos da universidade.”

“Somos tão cuidadosos.” Minha voz resumida a um sussurro.

“Mas não somos intocáveis.” Kyungsoo andou até a lareira com a página no jornal em mãos e a jogou contra o fogo. “E temos sido imprudentes.”

“Então...” Engoli o aperto que se formava em minha garganta. “O que sugere?”

Kyungsoo olhou-me nos olhos e pude ver que ele também sofria. Agira de maneira fria ao se afastar e me deixar no escuro, contudo sabia que sofrera tanto quanto eu devido as olheiras que se formaram sob seus olhos.

Não me respondeu, minha pergunta fora retórica. Entretanto queria que ele negasse e sugerisse uma alternativa. Por sete dias senti meu peito doer como nunca sentira e minha mente não podia conceber a ideia do que poderia ser uma vida sem Kyungsoo.

Levantei-me e andei depressa para seus braços novamente, daquela vez certo de que não o deixaria escapar de mim. O apartei tão forte que sabia que o machucava. Era o meu desespero em sua mais pura forma.

“Não pode me deixar,” eu disse, “prometera que me amaria para sempre. Não pode de repente me pedir para me afastar de ti. Te amo, Kyungsoo, não posso viver sem tê-lo.”

Apertou meus pulsos com a força que adquiriu com o rúgbi e se soltou do meu abraço. “Escuta, não pode abrir mão da vida de sua família para manter um mero caso de amor. Pense em sua mãe viúva e sua irmã, na integridade delas.” Olhava-me com seriedade, sua voz possuía uma frieza que nunca fora direcionada a mim.

“Mero caso de amor? É assim que nos vê agora?” indaguei, minha voz se quebrando aos poucos. Era doloroso ouvir aquelas palavras, me atingiram tão profundamente que a dor se transformou em lágrimas. “O que preciso fazer para que não me deixe? Posso implorar o quanto for necessário.” Meus joelhos cederam e caí contra o chão duro de madeira, meu corpo não possuía forças diante de toda aquela situação. Chorei como no dia em que perdi meu pai.

Kyungsoo tentou me afastar quando o segurei pela cintura, minha cabeça apoiada contra sua barriga. Suas mãos insistiram em me afastar, porém aos poucos desistiram enquanto eu soluçava contido por seu colete.

“Sabe que sempre te quis o bem” disse com a voz calma, seus dedos acariciando meu cabelo, “Sabe que não suporto te ver sofrendo. Entenda, Jongin, faço tudo por ti. Podemos fugir do julgamento de Deus, mas não podemos fugir do julgamento dos homens. Deus é misericordioso, mas o homem não. Nunca me perdoaria se soubesse que meu amor lhe traria a ruína.” E senti suas lágrimas pingarem contra o topo de minha cabeça, umedecendo os fios do meu cabelo.

A vela do quarto aos poucos se apagou e nos deixou com a luz fraca dos postes externos. Kyungsoo deixou que eu chorasse contra seu peito até meus olhos não suportarem mais.

Aquela era a condenação de Deus pelo nosso pecado de amar. Não se pode fugir dos olhos dEle, mesmo que eu e Kyungsoo tivéssemos tentado. Roguei para que ao menos a alma dele fosse perdoada e que o amor que sentia por mim lhe fosse tirado para que vivesse uma vida sem sofrimento. Eu suportaria carregar a dor de amar alguém inalcançável, conquanto que Kyungsoo vivesse feliz.

{...}

Nunca pude esquecê-lo e sei que carregarei meu amor por Kyungsoo até meu leito de morte.

Creio que minha hora não chegará tão cedo visto que não me levara quando adoeci por Kyungsoo e passei dias acamado. Meu choro parecia sem fim e chamava por ele durante a noite, suando frio, implorando para que não me deixasse. Vivi dias infelizes longe dele, pensei que não suportaria e desejei a morte.

Anos após o fatídico dia, quando ambos formados e exercendo a medicina, Kyungsoo pediu a mão de minha irmã. O questionei se ainda lhe restava alma ou se lhe causava prazer me proporcionar tanto sofrimento. Não me respondeu. Ousei pensar que Kyungsoo ainda quisesse minha presença e poderia consegui-la se tornando meu cunhado. Ainda assim fora deveras difícil o ver construir aquilo que nós nunca teríamos juntos: família. Minha irmã passou a carregar o sobrenome de Kyungsoo enquanto eu continuei sendo Kim Jongin.

Perguntei-me se todo o sacrifício por títulos fora necessário, mas ver os olhos de minha mãe descansarem em paz ao falecer foi a resposta que precisava. Poderia ter sido egoísta com meu amor, ignorado as palavras de Kyungsoo e deixado que nos descobrissem, porém quando seguro meu sobrinho nos braços entendo que todos merecem uma vida digna e feliz. Ainda me questiono quando será a minha vez.

Kyungsoo uma vez me escreveu enquanto viajava pela América, disse que o lugar era belo e que eu deveria visitar algum dia. Na carta também dizia que podia observar o céu de uma maneira diferente e que contara as estrelas. Pôde ver um punhado delas que ainda não puderam nos presenciar, que existiam para que nosso amor ainda pudesse ser admirado.

17 Kasım 2019 06:47 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
1
Son

Yazarla tanışın

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