Todos estavam reunidos no pátio comemorando o aniversário dos meus pais. As crianças corriam de um lado para o outro, os adultos estavam numa mesa no centro bebendo todas e eu tinha que fazer as honras da casa, ou seja, servir o pessoal. Cheguei até a conversar com o tio Agenor que não estava muito bem de saúde, pois desde que ficou doente andava fraco.
― Oi tio, quer alguma coisa? ― perguntei com a bandeja na mão.
— Não, querida, está tudo ótimo — falou com sua voz rouca.
— Quando quiser é só pedir — respondi quando já estava saindo do canto em que ele estava.
Fui até onde meu marido estava – que por sinal jogava com os outros homens – para saber se ele queria alguma coisa. Desde que nos conhecemos, e já faz um bom tempo, não nos separamos mais. Rafael e eu casamos depois de cinco anos de namoro e parecia que ele sempre fez parte da minha família, pois no primeiro dia em que eu o apresentei – para a minha surpresa – ele se juntou com os meus tios para jogar dominó. Até hoje eles se dão muito bem. Eu caminhei até a mesa redonda no centro do pátio.
— Oi, amor, o que vai querer? — Cheguei perto dele.
— Tem salgado? — Olhou para ela.
— Sim, o de sempre? — Ele confirmou e eu entreguei um prato de salgadinhos para ele.
Depois de conversar um pouco com eles eu fui até a casa de minha mãe para pegar mais salgados.
— Filha, como a festa está bonita, parabéns! — Minha mãe chegou perto de mim e eu pude notar sua emoção.
— Que isso, mãe, vocês merecem... Mas obrigada! — falei sorrindo e ela me deu um abraço.
— Todo mundo está se divertindo — ela comentou.
— E você já viu festa de família aqui não ser divertida? — falei sorrindo.
— É mesmo, sempre divertida. — Olhou para os lados.
— Mãe, você viu a Mari? — Eu deixei a bandeja na mesa para descansar um pouco.
— Não, filha. Será que ela não está com os meninos? — ela respondeu.
— Talvez. — Eu olhei para o pátio.— Você conhece a sua prima, ela sempre quer estar com eles. — Minha mãe disse e cumprimentou uma tia minha com as mãos.
— É verdade, depois eu vou atrás dela — respondi. — Tenho que servir o povo.
— Tudo bem, filha, vou lá com o seu pai. — Ela deu um beijo na minha bochecha. — Parece que agora ele não consegue viver sem mim! — disse e saiu rindo.
No final da festa alguns homens estavam mais animados por causa da bebida – como sempre – e eu já tinha andado pelo pátio tantas vezes que meus pés criaram bolhas de água. Eu sentei num canto no qual eu conseguia olhar a todos. Os homens bebendo empolgados, as crianças deitadas no sofá da sala exaustas e as mulheres fofocando na cozinha. Desde que eu era adolescente as festas sempre foram assim na minha casa. Minha família não é perfeita, mas eu gosto dela desse jeito.
— O que foi, amor? — O Rafael chegou perto de mim.
— Nada — respondi. — Só com dor nos pés.
— Por que não vai deitar. Já está tarde.
— Parece que alguém está tentando se livrar de mim. — Sorri. — Eu já estou indo para a cama.. — Beijei seus lábios — Não demore muito. — Levantei do meu lugar e fui para dentro da casa.
É muito frequente nessas festas toda a família dormir na casa da minha mãe. A casa não é muito grande, mas sempre damos um jeito para que todos fiquem e não saiam de noite. Passei pela sala, onde já podia ver alguns colchões no chão, e fui me despedir da minha mãe e do meu pai, seguindo depois para o meu antigo quarto – que agora estava muito diferente: ganhou uma cama de casal e algumas tralhas de ginástica. Quando deitei na cama o cansaço foi maior e não consegui esperar o Rafa acordada.
No outro dia acordei assustada, pois a Gabrielly entrou correndo dizendo que tinha alguém morto no chão. Eu levantei da cama, não entendendo nada, cheguei na sala e ouvi a conversa delas:
— Mamãe! Ele está morto. — A coitadinha chorava sem parar, as lágrimas caíam pelo seu rosto.
— Gabi, quem morreu? — Lívia perguntou assustada à sua filha.
— Do que ela está falando? Alguém morreu? — eu perguntei confusa.
A menina estava tão aterrorizada que não nos respondeu. Olhei ora para uma, ora para outra e as duas aparentavam medo. Lívia era uma mulher muito bonita, possuía os olhos azuis, os cabelos loiros e uma boca perfeita. Ela era casada com Felipe – meu primo - e por isso a chamávamos de prima também. Não sei ao certo quando a pequena saiu correndo pela sala para chamar alguém. Eu só consegui ficar preocupada com a situação. Por que tudo parecia estar em câmera lenta? Meus olhos piscavam, não acreditando ainda que alguém estava morto.
Eu podia ver uma movimentação grande na sala – todo mundo queria olhar o que tinha acontecido – e me movi junto com eles para o pátio, já que todos foram para lá. O Rafa me encontrou no meio das pessoas. Eu ainda estava um pouco perdida – ele me abraçou passando as mãos no meu cabelo – e eu não queria aceitar que era o meu tio, assim que vi ele no chão eu balancei a cabeça negativamente. Eu não conseguia acreditar que alguém teria coragem para fazer uma monstruosidade dessas, ainda mais com o meu tio Agenor, que já estava meio doente. Como poderiam tentar matá-lo? Ele estava deitado no chão, com os olhos fechados e uma poça de sangue ao seu lado. Um barulho agudo ecoou no ambiente e eu olhei na direção do ruído. Alguém já tinha chamado uma ambulância, pois ela parou em frente à casa da mamãe e os paramédicos socorreram o tio Agenor, levando-o logo em seguida para o hospital. Como eu disse antes, tudo parecia em câmera lenta para mim, as imagens vinham na minha direção com um atrasado de segundos.
— Viu, querida? O tio está indo para o hospital, ele não morreu — Lívia consolava a pequena Gabrielly.
— Mas ele tá com os olhos fechados. — Ela ainda chorava, provavelmente imaginando que ele estava morto.
— Acho melhor levar ela para dentro de casa — eu comentei com a Lívia.
— Sim, — Ela concordou comigo — Vem com a mamãe querida. — Ela pegou na mão da menina e segundos depois as duas sumiram no meio da multidão.
Uma hora depois a casa da minha mãe ficou cheia de policiais fazendo um monte de perguntas para toda a família.
— A senhora consegue se lembrar de alguém estranho na festa? — um policial conversava comigo.
— Não, senhor. Todos são da família e é por isso que eu não entendo como alguém poderia querer matar o tio Agenor.
— Tudo bem, senhora. — O policial me acalmava, mas eu só conseguia pensar no tio Agenor entre a vida e a morte no hospital. — Você pode me dizer o que fez desde que entrou na casa? — Ele pegou um bloco de anotações.
— O senhor acha que fui eu que matei o meu tio? — Olhei séria para ele.
— São perguntas que eu tenho que fazer para todo mundo. — ele explicava calmamente. — Preciso saber exatamente o que todos faziam para não haver erros.
— Eu ajudei a minha mãe a organizar as coisas para a festa e depois não parei de andar pelo pátio, pois era eu quem servia as pessoas. — Ele anotou.
— Muito obrigado, senhora — disse e apertou minha mão. — O delegado irá fazer mais perguntas depois. — Ele se retirou da sala e foi ao encontro de outro policial.
— Ai, Mari! — Comecei a chorar. — Quem poderia fazer uma barbaridade dessa?
— Prima, eu também não sei — ela respondeu. - Vem cá, senta aqui no sofá. Você está tão assustada.
Eu segui o conselho dela e sentei no sofá. Ela ficou comigo até o Rafa chegar. A Mari é filha da minha tia mais nova. Nós crescemos juntas e tínhamos quase a mesma idade. Seus cabelos são loiros, mas isso ela puxou da família do pai dela. Ela é bem diferente de mim: fisicamente, ela é mais alta e, além dos cabelos loiros, seus olhos são azuis. A Mari e a Lívia são as únicas loiras naturais da nossa família. Quando o Rafael apareceu, ela saiu. Provavelmente foi atrás do Lipe, pois quando éramos pequenos o tio Agenor sempre brincava com nós três. Sentada no sofá eu olhava desanimada para a sala, com o meu marido ao meu lado segurando a minha mão.
— Vai ficar tudo bem — ele falou. — O seu tio foi para o hospital e tenho certeza que ele vai acordar. — O meu marido queria me consolar com essas palavras, mas eu não conseguia pensar em coisas boas.
— Quando vamos poder voltar para casa? — Eu mudei o assunto, pois não queria pensar no tio Agenor.
— Não sei, amor — ele respondeu — Os policiais disseram que vão liberar só depois de conversarem com todo mundo. — Ele acariciou a minha mão.
— Acho que eu vou ver como a mamãe está. — Beijei os lábios dele — Você se importa?
— Não, tudo bem. — Ele me deu um sorriso — E eu vou conversar com o Felipe.
Levantei do sofá e fui até a cozinha. Minha mãe estava com o braço apoiado na mesa enquanto soluçava.
— Mamãe, — segurei na mão dela — ainda temos uma esperança. — Olhei para ela. — Ele pode sobreviver.
— Eu não me conformo! — Ela estava perdida nos seus pensamentos. — Quem poderia fazer uma coisa dessas? Ele não fez nada para ninguém!
— Mãe, — suspirei — eu também gostaria de entender o que aconteceu, mas temos que esperar a polícia resolver.
Ela continuou no mundo dela, pois não parava de falar sobre o tio. Eu a deixei comentar tudo que queria, apenas passei minha mão em seu braço, confortando-a. Momentos depois chegou um homem de meia idade, com um chapéu marrom e vestia um casaco preto. Provavelmente aquele era o delegado. Ele entrou na casa, retirou seu chapéu e observou todo mundo.
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