Uma noite sem lua enlutava tenebrosamente a adormecida cidade de Ouro Fundo, capital de “lugar nenhum” e incrustada num pequeno pedaço de terra no meio do nada. Ainda que alheios à vida que pudesse existir muito longe daquela cidade esquecida, não raro alguns dos seus habitantes vislumbravam aventuras mesmo em meio ao completo marasmo onde quase nada quase nunca acontecia. Mas aquela sombria madrugada de certo modo mudaria tudo. Para sempre.
Beatriz Torres e seu ousado companheiro de trabalho adentraram silenciosamente os portões do Centro Educacional de Ouro Fundo. A escuridão local tornava a incursão ainda mais tenebrosa enquanto os dois esgueiravam-se pelas paredes. Após atravessarem um corredor margeado de salas, chegaram próximos a um auditório onde já podiam ouvir vozes de um diálogo acalorado. A jovem abriu lentamente sua mochila, retirando uma máquina fotográfica pronta para registrar o que presenciaria ao dobrarem o corredor seguinte. Fez sinal para que o outro esperasse e se aproximou um pouco mais. Sua calça de um jeans escuro surrado e a blusa preta sem mangas permitiam um quase ofuscar entre as sombras das pilastras ao redor. Antes de prosseguir a jovem puxou o gorro que cobriu seus longos cabelos negros e sombreou seu rosto alvo. Por fim Bia respirou fundo, contendo o ar nos pulmões e esgueirou-se com a câmera junto ao rosto para o registro que provaria sua teoria. Antes que pudesse fotografar, porém, foi tomada por um pavor paralisante. E diante de seus castanhos olhos arregalados um evento inexplicável se consumava. Uma forte luz emanava, dispersando uma energia descomedida que em instantes eclodiu expandindo-se e atingindo tudo o que tocava. O grito vindo do centro da luz foi abafado pelo devastador som de uma explosão fazendo a garota voar e atingir uma das paredes. No mesmo instante tudo começou a tremer e ruir. Rachaduras espalhavam-se como artérias, abrindo caminho através dos pilares e paredes rumo ao teto, revelando um inevitável desmoronamento prestes a soterrar os incautos visitantes. Inclusive a ainda atordoada Beatriz Torres.
Sente-se perdido? Deslocado, quem sabe? Bem, talvez a descrição fúnebre deste trágico acontecimento não seja a melhor forma de começar esta fantástica história. Então me permita voltar um pouco e começar... pelo começo, na falta de uma expressão mais apropriada.
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