Notas iniciais
Criada para o desafio inkdisney, ao qual o roteiro deve ser inspirado por uma música de um filme da Disney.
Música escolhida: The Climb, de Hannah Montana o filme
Essa é uma original, então o enredo e os personagens pertencem a mim.
Aborda temas como transgênero (personagem trans) , depressão, pensamentos suicidas e conflitos familiares. Não procuro ofender ninguém, e espero que tenha feito uma abordagem adequada, e estou sempre aberta a críticas e melhorias. : - )
Boa leitura!
......................
Eu quase posso ver
O sonho que venho sonhando, mas
Há uma voz dentro da minha cabeça dizendo
‘Você nunca vai alcançá-lo’
Sentia-se patético. A todo momento olhava ao redor, esperando alguém apontar isso, mas todos pareciam ignorar sua batalha interna. Sentia-se exposto no vestido de cetim, seus pés doíam nos sapatos. E o rosto refletido na taça que lhe foi servida era de uma pessoa completamente estranha.
Seus olhos focaram no irmão no salão. O terno social, a barba bem feita. A confiança com que se movia. Livre. Sem máscaras, sem teatros.
“Vou ser como ele um dia.” Jurou, olhando fascinado. Podia se imaginar dessa forma tão claramente, que queria gritar como todos pareciam tão cegos. Como eles não viam isso?
A mão da sua mãe estava ali nas suas costas, o tirando de seus devaneios e lhe apresentando para um grupo de pessoas.
- Essa é minha filha, Kohaku.
Sentiu seu corpo inteiro tenso. Sua boca seca, a língua pesada que não lhe deixava corrigi-la.
Filho, sou seu filho.
Apenas sorriu serenamente, apesar de querer gritar até sua voz ser finalmente alcançada.
........
Cada passo que eu estou dando
Cada movimento que eu faço, parece
Perdido, sem direção
Sua mãe o olhava de forma horrorizada. Os cabelos ainda estavam na pia, a tesoura ainda na sua mão. E sabia que segundos antes de ela entrar de supetão no banheiro, estava sorrindo de forma maníaca.
Se encararam, em completo silêncio por quase um minuto. Podia ver as expressões no rosto dela, horror, confusão, os olhos escurecendo em fúria. Os lábios apertados, muito perto de explodir.
Seu irmão apareceu na porta logo no inicio do primeiro grito. Os olhos dele confusos na cena, focando em seu cabelo cortado de qualquer jeito, nas faixas em seu peito que cobria rapidamente vestindo um capuz.
- VOCÊ ENLOUQUECEU?
Seu irmão tocou o braço da sua mãe a impedindo de avançar em cima dele, e então o fitou de forma firme.
-Vai.
Não saiu a tempo de perder o primeiro soluço dela.
.........
Minha fé está abalada
Mas eu, eu tenho que continuar tentando
Tenho que manter minha cabeça erguida
Não sabia exatamente como viera parar ali naquela ponte. Estava olhando para baixo, vendo o impacto da chuva sob a água. Ao redor, as pessoas passavam com pressa, debaixo de guarda-chuvas e capas.
Poucos notavam o adolescente ensopado, olhando para baixo. Contemplando todas as possibilidades.
Contemplar sua vida não era algo que gostava de fazer. Suas notas perfeitas, seu sonho de ser astrofísico, tudo parecia nublado pelo fato de que havia algo de errado com ele. Nenhuma conquista era o bastante. Ainda continuava a decepção na família. Ainda continuava o ator.
Seu pai nem mesmo o fitava, sua mãe, às vezes, queria que ela não o fitasse tanto.
Seu irmão fazia tudo melhor que ele, pelo simples fato de não temer ser ele mesmo.
Se aproximou mais da bancada. As pessoas continuavam sem o notar. E pensou se em algum lugar, em alguma outra realidade poderia ter sido feliz. Ter nascido em sua própria pele.
Se havia alguma decisão que pudesse ter tomado, que mudaria alguma coisa. Se havia virado em alguma esquina errada, ou se tudo era só uma piada do destino.
Ele não achava que as coisas fossem melhorar, não tinha mais essa ilusão. Era dali montanha abaixo. Se apenas pudesse...
-Ei, garoto.
Duas palavras. Essas duas palavras. Garoto. Seu coração acelerou e olhou para o lado. Notou que havia parado de chover na sua cabeça, agora protegida por um guarda-chuva. Olhou para cima e viu o rosto bonito e sereno de um estranho. Os olhos âmbar eram estranhamente familiares, o sorriso de alguém conhecido.
O estranho não pareceu se incomodar com seu escrutínio.
-Melhor sair dessa chuva garoto.
Garoto. Sentiu seus ombros relaxarem. Se afastou mais da bancada. O homem sorriu mais quando assentiu.
-Dia ruim?
Deu de ombros apenas, mas o homem pareceu não se importar.
- As coisas vão melhorar.
Havia tanta convicção na voz do estranho que sorriu divertido. Fazia tanto tempo que não sorria.
-Só manter a cabeça erguida, certo? – O homem continuou. E então apontou para uma livraria entre dois prédios do outro lado da rua.
-Eu trabalho ali, vem comigo. Precisa trocar essas roupas.
Sabia que era perigoso ir com estranhos. Mesmo estranhos com sorrisos serenos.
Ainda assim, ele foi.
........
Sempre haverá outra montanha
Eu sempre vou querer movê-la
Sempre haverá uma batalha a frente
E as vezes eu terei que perdê-la
Kuraimā era um homem diferente. Podia até dizer que um tanto excêntrico. Apesar de ser jovem, a alma dele parecia velha demais.
Depois daquele primeiro dia em que o levara a livraria, lhe dera roupas para trocar, uma xícara de chá quente e uma conversa agradável, acabou se pegando indo ao lugar todos os dias. Era um refúgio quando tudo parecia demais, entre os livros empoeirados, xícaras de chá e conversas sobre física e o universo. O homem era brilhante. Não entendia como ele estava ali naquela livraria mofando e não ensinando em alguma universidade de prestígio.
Sempre saia de lá com a espinha mais ereta e sua mente fervilhando de ideias. Para seu amigo não importava sua aparência, ele via o que tinha por trás de sua casca. Ele o ouvia, suas ideias, seus sonhos. Imaginava de forma agridoce, se teria tido uma relação assim com seu pai, se as coisas fossem diferentes.
Aquele dia na ponte havia mudado tudo.
E quando havia chegado em casa tarde da noite, tudo silencioso, seu irmão o esperava no quarto ainda. os dois ficaram se olhando longamente, parados. Até seu irmão suspirar e passar a mão nos olhos.
-Kohaku, seu cabelo...
-Eu prefiro assim. – cortou, da forma mais firme que podia.
-Eu sei. Só ia me oferecer para ajustar as pontas.
Ele apontou para a tesoura na cama, e o fitou surpreso.
Kuraimā não havia sido o único aliado que encontrara naquele dia.
.....
Havia dias ruins. Os uniformes obrigatórios na escola, as brigas dentro de casa. Seu pai cada vez mais distante, sua mãe cada vez mais tentando lhe impor seus desejos.
O medo de sair nas ruas quando era percebido por quem era. As brigas na escola tão frequentes, principalmente quando algum colega tentava o rebaixar.
Cada dia era um leão a enfrentar, uma batalha a se travar.
Kuraimā o ajudava em todas.
- Você não vai vencer todas as batalhas.
Kuraimā falou da sua forma suave, enquanto lhe ajudava a passar o antisséptico em seus cotovelos ralados, depois de mais uma briga na escola. Havia trocado o uniforme feminino por roupas confortáveis que deixava ali para isso.
Ir a Kuraimā depois das aulas havia se tornado um ritual.
-E algumas vitórias irão parecer derrotas. – o homem continuou, se erguendo de onde estava sentado, guardando as coisas.
-Eu sei. Mas a pior batalha é a que se perde por não lutar, certo?
A risada suave percorreu por entre as estantes de livros. A cabeça dele apareceu, o fitando de forma divertida. E teve certeza ali, vendo a bondade nos olhos dele, a inteligência, a confiança com que se movia.
Não era como seu irmão que queria ser afinal. Ele queria ser assim.
Ele um dia iria ser como Kuraimā.
- Falou como um verdadeiro encrenqueiro.
Bufou e o homem sorriu mais.
-Vamos, pegue suas notas. Que teoria tem para mim hoje?
-Paradoxos temporais.
A expressão que o outro fez foi engraçada, o olhar se tornou distante por alguns segundos. E então ele voltou a sorrir.
-Paradoxos temporais, lá vamos nós.
............
Não é sobre o quão rápido eu chegarei lá
Não é sobre o que está me esperando do outro lado
É a escalada
- As vezes é melhor focar nas batalhas de cada dia, e não na guerra inteira.
-Mas isso não seria como ignorar a grande pintura, Kuraimā?
-Não, isso seria como ser contente por cada coisa que recebe. As vitórias do dia-a-dia. A única certeza que temos da vida, é que ninguém vai sair dela vivo.
-Isso é tão mórbido. – Riu, servindo o chá. Lá fora caia uma fina garoa. Algumas pessoas circulavam entre as estantes.
O homem riu da sua cara, e então provou o chá com um sorriso misterioso.
-É a verdade. Tudo o que temos certeza é do agora. Vamos ser felizes com o que conseguimos a cada dia, sim?
...........
Havia terminado a olimpíada de física em primeiro lugar. Seu colégio comemorou, seus pais foram chamados.
Nenhum dos dois apareceu.
Ignorou os olhares de pena, a expressão do seu irmão enquanto falava com os professores. Continuou sentado segurando seu prêmio entre os dedos, feliz por a ocasião não ser obrigatória ao uniforme, e por isso poder estar longe das odiosas saias.
Era um passo a mais da sua escalada.
Estava conseguindo, aos poucos.
E a indiferença de seu pai e a vergonha da sua mãe não iriam diminuir a felicidade que sentia naquele momento por sua pequena vitória. Não quando estava olhando para as pequenas batalhas, micro ambições. As venceria aos poucos.
Quando saíram de lá, não foram para casa. Queria ir a livraria, mas dizer isso ao seu irmão seria como revelar um segredo precioso. E isso que Kuraimā era, seu segredo. Seu refúgio, e por agora, não queria dividir com ninguém.
Os irmãos passaram a tarde em cafés, foram ao cinema. Terminaram nos balanços em um parque perto da sua casa.
Os dois não sabiam o que falar um para o outro. Hiro parecia chateado. Era a primeira vez que via seu irmão chateado por ele. Ou que notava isso.
-Hiro!
Alguém chamou e notou nervoso um grupo de garotos mais velhos, amigos de seu irmão. Ficou sentado, enquanto ele se levantou sorrindo. Ignorou a conversa entre eles, se balançando devagar até que..
-Quem é ele?
-Ah? É meu irmão.
Escondeu o sorriso gigante que deu com isso abaixando a cabeça.
Pequenas grandes vitórias.
....
As lutas que estou enfrentando
As oportunidades que eu estou tendo
Às vezes podem me derrubar, mas
Não, eu não estou falhando
-Ele nunca me dá uma chance.
Kuraimā removeu o olhar de algo que construiu na mesa e o fitou, esperando continuar.
-Otou-san, nunca me dá uma chance.
-Talvez ele apenas não saiba como agir.
..................
Tudo começou quando seu pai estava empesteando seu irmão para assistir um campeonato com ele. Apesar de tudo, sentiu um pouco de pena do seu pai por não conhecer o filho o bastante.
- Isso não é minha área. – Hiro por fim cortou o pai, tentando o máximo não ser rude. Tentou segurar o riso de onde estava sentado fazendo seu dever de casa. Seu irmão era o maior artista da escola, os dois não podiam ser mais diferentes. – Isso é a área dele.
Ergueu o olhar surpreso com isso, encontrando os olhos dos dois em seu rosto. Os do Hiro eram escuros como os da sua mãe, enquanto os seus eram como os do seu pai. O homem o olhava de forma surpresa.
-Sua irmã gosta de artes marciais?
A surpresa deu lugar a vergonha e abaixou a cabeça. Sua irmã. Hiro nem mesmo piscou ao continuar.
-Ele é o melhor da escola. Ganhou faixa preta mês passado.
‘E vocês não foram o ver’ ficou não dito. Apesar do tom ser meio óbvio.
Seu pai o fitou por alguns segundos, e então voltou o olhar para a televisão. Seu irmão não disse mais nada.
Nenhum deles falou.
No outro dia ficou surpreso quando seu pai foi o buscar na escola, já estava pronto para ir a livraria. Ele estava com dois ingressos na mão, o olhando de forma incerta.
Era longe do ideal, mas aceitou a pequena vitória.
Quando fitou o sorriso do seu pai durante a luta, a forma como ele o olhava para ter certeza que estava se divertindo, percebeu como os olhos âmbar dele eram parecidos com o de Kuraimā em certas expressões
Não passaram a ser pai e filho da noite para o dia depois disso, mas as coisas começaram a parecer mais esperançosas.
.............
Eu posso não saber disso
Mas estes são os momentos que
Eu vou lembrar mais, yeah
Só tenho que continuar
E eu, eu tenho que ser forte
E apenas continuar
-Eu tento não esperar a aprovação de ninguém, mas sempre espero a dela.
-E isso te frustra?
Assentiu, olhando a rua. Já estava perto de ir para casa. De enfrentar sua mãe, como sempre.
- Você a ama, não há o que ser feito sobre o que sente. Mas tem que lembrar, que a pessoa com quem tem que ser mais verdadeira é você mesmo.
-O que quer dizer?
-Quero dizer que é normal tentar ter aprovação da sua mãe. Você quer que ela fique orgulhosa de você. Mas não tente se castrar para agradar a ninguém, ou vai acabar decepcionando a pessoa mais importante.
-Quem?
-Você mesmo. Se amar, essa é a tarefa mais importante, e as vezes acaba sendo a mais difícil.
............
Era seu aniversário. Não esperava que houvesse comemoração em casa, depois de tudo. Aceitou graciosamente os parabéns de Hiro, e de seu pai, e tentou esconder a magoa por não ver sua mãe o dia inteiro.
Quando chegara em casa, no entanto, ela estava o esperando na porta. Não havia grandes sorrisos, ou abraços entre os dois, mas obedeceu quando ela pediu para que a seguisse para ajudar com as caixas no porão.
Imaginava que ela fosse lhe mostrar as fotos de infância. Era sempre uma estratégia sua nos últimos tempos, mas dessa vez ela ignorou essa caixa e puxou um baú antigo.
As coisas do seu avô.
Mesmo confuso com a atitude, a ajudou a arrumar as coisas. Apenas depois de quase uma hora com poucas palavras, ela parou e o fitou. A expressão mais relaxada do que vira por meses. Os olhos dela iam do seu rosto para uma foto em sua mão.
-Você parece com seu avô.
-Pareço?
-Exceto os olhos. Você tem os olhos âmbar do seu pai.
Ela franziu a testa, pensativa. E então algo em seu rosto mudou ao notar o que havia dito.
Escondeu o sorriso ao voltar a caixa.
-Aha! Aqui. – ela o interrompeu novamente. Olhou e ela lhe estendia uma caixa de veludo. – Pegue, feliz aniversário.
Dentro da caixa havia um cordão de couro, com um pingente âmbar, da cor dos seus olhos. Era simples, mas absolutamente lindo a seus olhos.
-Era dele.
Os dois ficaram lá a tarde inteira, até seu pai vir os chamar.
Era a primeira vez em meses que passava tanto tempo com sua mãe sem os dois brigarem.
................
Porque, sempre haverá outra montanha
- Um dia, vou poder olhar a mim mesmo no espelho e me enxergar como sou de verdade.
-Como você é?
-Menos curvas, sem os...hn, sabe.
O homem riu da sua falta de jeito, e fez um muxoxo.
-Falo sério.
-Eu sei.
-Quero uma barba também. – Coçou o queixo. – Igual a sua.
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Eu sempre vou querer movê-la
Havia passado o ano inteiro trabalhando na livraria de Kuraimā, juntando dinheiro. Quando se formou no ensino médio, apenas seus pais e seu irmão estavam lá. E, por um momento nem mesmo achou que sua mãe fosse. Foi o melhor aluno, poderia ser o quisesse da vida.
Semanas depois estava indo para o outro lado do país para estudar. Se despedir de Kuraimā havia sido mais difícil do que se despedir de sua família. Ainda assim, ele havia prometido que a livraria estaria lá quando chegasse.
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Sempre haverá uma batalha a frente
Quando fez 21 anos, era oficialmente legal. A primeira coisa que fez foi ir em uma clínica. Semanas depois começava sua transição.
Notou maravilhado sua voz mudar de timbre, as curvas ficarem menos pronunciadas. O pelo ralo que começava a nascer em seu rosto.
Começava a se ver mais e mais na pessoa do outro lado do espelho.
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Às vezes eu terei que perdê-la
Quando fora em casa a primeira vez depois de começar a transição, sua mãe ficou trancada no quarto por dias.
Quando voltou ao campus, ela nem mesmo havia saído para se despedir, e seu pai parecia não saber o que fazer além de o olhar um tanto decepcionado.
Não voltou para casa até o fim da universidade.
Quando se formou, fez a remoção dos seios, graças a um amigo do seu irmão que o ajudou nos custos. Era um físico, oficialmente. Ia começar seu mestrado.
Não falava com seus pais há mais de 3 anos.
Nunca mais voltou para casa.
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Não é sobre o quão rápido eu chego lá
A livraria continuava igual ao que lembrava. Era como se nunca tivesse saído de lá. Atravessou a rua, as luzes dos postes lhe dando nostalgia. Faziam quase 10 anos que não se viam, se comunicando apenas por cartas.
Kuraimā o esperava na porta.
Ele estava mais velho. Havia fios brancos na cabeça, e o mesmo sorriso suave no rosto.
-Bela barba.
Sorriu e o abraçou com força. Queria dizer tanto. O quanto não teria conseguido sem ele, mas esperou que conseguisse transmitir tudo isso em um abraço.
Quando o soltou ele bagunçou seu cabelo, os olhos em seu rosto tão mais masculino, tão mais confortável e confiante em sua própria pele.
-Um astrofísico. 10 anos, hn?
-Desculpe a demora.
-Chegou a tempo.
-Tempo?
O homem sorriu, os olhos mais tristes.
-De se despedir.
Ficou surpreso, notando as caixas de livros só então, as estantes vazias.
-Está indo embora?
O homem sorriu novamente, e assentiu: - Resolvi o que vim fazer.
-Não, espera. Agora? – Estava surpreso demais. Não queria que ele fosse. – Vamos nos ver ainda, certo?
-De certa forma.
O olhou confuso, mas o outro apenas balançou a cabeça.
-Vamos dar uma volta, sim?
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Não é sobre o que está esperando do outro lado
Os dois caminhavam por entre as ruas calmas. Subiam as ladeiras, até onde sabia havia o monte que dava a visão para toda a pequena cidade costeira.
Quando pararam, lado a lado, se recostaram na mureta.
Se encolheu mais no casaco, se escondendo da noite fria. Podia ver sua casa dali. Esperava poder ir ver os pais depois de tantos anos. Havia prometido a seu irmão.
-Eu não quero que vá embora. – Quebrou o silêncio
Kuraimā o fitou longamente, de lado: - Sabe o que significa meu nome?
-Alpinista.
O homem assentiu, tocando seu ombro:
-Eu escolhi esse nome para mim, porque a vida me jogou montanhas na frente, e eu tive que escalar todas elas. Cada uma que aparecia. Você tem as suas, e estava tentando movê-las. Escale.
-Eu...certo. – olhou com incerteza.
- Você vai ficar bem agora, garoto. – a voz dele era convicta. – As coisas vão ficar bem.
-Como sabe disso?
Kuraimā sorriu e tirou algo de seu pescoço, o mostrando. Arregalou os olhos ao notar o pingente conhecido. Tocou em seu pescoço, e encontrou o mesmo ali.
Âmbar.
Da cor dos seus olhos.
Da cor dos olhos do homem que o fitava a sua frente.
-Como..,?
O homem sorriu mais, sua voz soou saudosa.
-Era do meu avô. Minha mãe me deu de presente, por ser da cor dos meus olhos.
Prendeu a respiração ao ouvir isso. Finalmente, entendendo. O fitou com afinco. As curvas do rosto, o sorriso, os olhos. Não eram parecidos com seu pai como pensara.
Era como ele mesmo.
Ficou paralisado, sem acreditar. As conversas sobre paradoxo temporal, as ideias, tudo parecia ter sentido mas...havia apenas ponderado a ideia dias atrás? Como aquilo poderia ser real?
-Cuide da loja, ela sempre foi sua.
Ergueu os olhos, vendo ele caminhar já ao longe, acenando.
-Espera!
Correu atrás dele, mas quando chegou a curva, ele não estava mais lá.
Ele havia ido embora.
Ficou parado no meio da ladeira, fitando a frente, paralisado por segundos. Todas as interações agora na sua mente por uma nova ótica.
Em como desejou um dia ser como kuraimā.
E no fim das contas...era ele.
Riu, entre histérico e maravilhado.
Pela primeira vez na vida, um futuro se desenhava brilhante na sua frente. Que viessem as montanhas.
Ele estava preparado.
.............
É a escalada
...........
Notas finais
Kohaku – âmbar
Kuraimā – alpinista
E um grande plot twist.
+
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