Tomoyo não sabia quem ela era, seu nome e muito menos de onde vinha. Tudo o que sabia era que aquela garota trabalhava em uma floricultura e fazia coroas-de-flores maravilhosas em minutos.
Era difícil explicar o que ela sentia toda vez que a via sorrir. Como se várias borboletas flutuassem em seu estômago e uma batida falha de coração, Tomoyo só queria ver mais e mais daquele sorriso — mesmo que ele não fosse para ela.
Tomoyo adorava observá-la depois da escola. Os fios castanhos ganhavam uma coloração belíssima sob o pôr do sol. Era tão lindo que ela sentia seus dedos coçarem para tirar uma foto. Infelizmente, a câmera fora esquecida sobre a escrivaninha de seu quarto, junto com os inúmeros desenhos de vestidos que Tomoyo desenhara apenas para ela.
Levou muito tempo até Tomoyo reunir coragem para ir à floricultura. Ela só conseguiu fazê-lo por não estar sozinha — Akiho-chan era muito gentil e solícita, incapaz de negar um favor a uma amiga com problemas.
A floricultura era bonita e perfumada. Uma infinidade de flores estava exibida em mesas e prateleiras, alguns vasos até mesmo pendurados no teto. Eram lindas, mas não tão belas quanto a garota que as recebeu com gentileza e ternura. Tomoyo podia ouvir Akiho-chan elogiar o lugar, conquistando um sorriso pequeno da florista.
As palavras custaram sair de sua boca — um pedido por um buquê de lírios brancos. As flores eram lindas e os ramos pesavam nos braços de Tomoyo. Ela queria saber o nome daquela moça, mas era realmente necessário? Ela estava sorrindo para ela! Foi Tomoyo que recebeu uma coroa-de-flores. Foram os olhos de Tomoyo — tão violetas quanto os da florista — que ela elogiou e ela foi a única que recebeu um abraço apertado.
Tomoyo estava feliz.
Mas com tempo aquilo já não era o bastante.
Ela não acreditava que estava em frente a floricultura outra vez. E agora sua única companhia era uma bolsa cor-de-rosa que pesava cada vez mais em suas mãos suadas. A garota não estava lá. Em seu lugar, um garoto de cabelos negros e cerca da mesma idade do irmão da Sakura-chan.
— Você quer comprar flores? — A voz dele era muito mais grave que a de Touya e seus olhos tinham um peculiar tom róseo. Ainda assim, ele transmitia um certo carisma que a impedia de desviar o olhar.
Tomoyo mal conseguiu balbuciar a palavras “não”, “a garota” e “presente”. Ele pareceu compreender a quem ela se referia. O sorriso no rosto dele dizia isso e o leve carinho em sua cabeça a tranquilizou um pouco.
— Você tem uma visita, Nunnally! — Ela ouviu o garoto gritar dos fundos. Poucos segundos depois a florista estava ali, de pijamas e cabelos molhados como se tivesse saído de um banho há pouco tempo. — Não esquece de limpar a bagunça que você fez com as omeletes — ele relembrou, cortando algumas flores.
Nunnally, Tomoyo repetiu em pensamentos, desejando dizer o nome em voz alta. Ela foi guiada para os fundos da floricultura. A garota reclamava de seu irmão mais velho durante todo o caminho, apesar de às vezes mais parecesse uma série de elogios. Curioso.
— Meu irmão disse que você tinha um presente — Nunnally comentou, olhando curiosa para a sacola que ela tinha em mãos.
Tomoyo observou, ansiosa, enquanto Nunnally tirava o vestido de dentro da sacola. O vestido era o mais simples que já fizera, azul e branco ao estilo Alice. Tomoyo contou a ela como tinha se divertido costurando aquela peça e o quanto gostaria de poder tirar fotos de Nunnally usando-o, se ela permitisse. Talvez fosse o nervosismo falando mais alto — estando às suas costas, ela não podia ver a reação de sua florista.
Tomoyo nunca ficou tão feliz por alguém usar uma de suas roupas.
Nunnally estava adoravelmente linda, fazendo todo o tipo de pose para as fotos em seu quarto. Mesmo sendo dois anos mais e meio velha que Tomoyo, ela tinha tanta energia e era tão doce que ela quase podia esquecer essa diferença. Sua câmera estava cheia de fotos e vídeos quando elas acabaram. O sol já se punha no horizonte e já estava na hora de Tomoyo voltar para casa.
Nunnally a abraçou antes que ela pudesse ir, tão forte que parecia temer que Tomoyo desaparecesse de repente.
— Eu sempre vi você, sabe? Atrás dos arbustos. — A voz dela era tão baixa que Tomoyo mal conseguiu ouvi-la. — A primeira coisa que pensei foi no quanto você era linda. E depois pensei que você só estivesse olhando pelas flores. E não tive coragem de me aproximar... — Tum-tum, tum-tum, tum-tum. O coração de Tomoyo batia mais forte a cada palavra dita. — Obrigada pelo presente, Tomoyo-chan. Eu gostei dele do fundo do meu coração, tanto quanto gosto de você.
— Eu também gosto de você, Nunna-chan. Muito, muito, muito — Tomoyo sussurrou de volta, olhos úmidos de felicidade.
Os olhos de Nunnally brilhavam como se fossem joias quando ela se afastou e seus lábios eram mais doces do que Tomoyo poderia imaginar algum dia. Mais tarde, quando estivesse deitada em seu quarto, ela reviveria aquele momento único outra e outra vez, assim como as fotos que tirou durante o dia.
Entre todas elas, estaria uma foto delas tirada por Nunnally. Elas estavam sorrindo, abraçadas, com o pôr do sol como plano de fundo. Tomoyo abraçaria a câmera com carinho, como se isso também significasse estar abraçando a garota de quem tanto gostava — e, mais do que isso, aquela que retribuía seus sentimentos.
Uma foto perfeita que não precisava de reparos.
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