Sentia-se rodopiando, embora nem se mexesse na realidade.
Os braços que o acolhiam eram quentes e reconfortantes, mas a dor em seu peito lhe asfixiava, literalmente.
As pequenas mãos pálidas agarravam com força os braços do loiro, tentando segurar-se à sua única esperança.
O couro da roupa dele, sempre incômoda, já não era um empecilho. Sentados na mesma silenciosa sala de brinquedos, sozinhos e assim permaneceriam.
Não por escolha, mas por obrigação.
Os lábios rosados entreabertos, puxando como podia o ar, com força, com intensidade, com desespero.
Os cabelos brancos grudados ao rosto pelo suor que descia lentamente pela face, a camisa também dava sinais de estar umedecida.
Soluçou com força, como se algo se prendesse a sua garganta e sentiu o abraço ficar mais apertado.
Lacrimejou.
Mello atrás de si, as pernas abertas tentando trazer mais a si o albino, desesperado, com medo.
Que ideia fora aquela de esconder a bombinha do albino? Quem foi o idiota que teve a brilhante e mortal ideia?
Mello acabaria com a pessoa mesmo se fosse L o vilão.
Estranho. Caçoara do garoto quando o ataque começou, achou que era uma brincadeira, enfim uma tentativa de fazer o loiro não lhe bater.
Mas, ao ver as mãos irem ao peito, o desespero nos olhos do menor – antes tão sem vida.
Os olhos... Mello nunca mais levantaria sequer a mão contra Near com a finalidade de ver aqueles olhos adquirem qualquer sentimento, pois agora que viu, arrependeu-se.
Correu até o albino quando percebeu que ele parecia sentir tamanha dor que chegava a arranhar o peito, olhou ao redor, destruiu a construção de dados, chutou o quebra-cabeças e nem um sinal do aparelho salva vidas do menor.
Abaixou-se, segurou o rosto de Near entre as mãos, tencionou sair para buscar ajuda, mas aqueles olhos... Aqueles olhos molhados, com medo, com dor e desespero, não deixaram.
Sentou-se como pode, abraçou o menor, reteve-o consigo, tentou o acalmar, sussurrava que igualasse a respiração com a dele, mas como se a do loiro estava quase igualmente descompassada?
As batidas do coração infantil sobre sua palma, batidas aceleradas e sem ritmo.
Pressionou os lábios contra o ouvido do albino, continuou em desespero sussurrando que se acalmasse, implorando que se acalmasse.
Nada.
Os olhos do loiro ardiam, algumas lágrimas começaram a cair silenciosamente e contra a vontade do chocólatra.
Mordendo a língua, Mello passou a rezar.
Deus? Não. Ele não acreditava ou acreditava, nem ele mesmo sabia.
Passou a orar com força, para qualquer um que ouvisse. Orou ao ouvido do albino, sentindo o menor apertar com mais força seus braços, colar-se mais ao seu corpo.
Os minutos passavam, os segundos voavam.
O aperto das mãos em seus braços cedeu ao aperto que se formava em seu coração, quase ou tão sufocante quanto a asma que quase sempre queria lhe roubar a pequena praga, sua pequena praga que ele ainda não havia pesquisado um jeito de destruir.
E queria?
Não... Caso quisesse, não estaria desesperado só com a hipótese. O pior era não saber dizer quando o albino passou de praga para parasita, hospedando-se, não no coração, mais na alma do chocólatra, marcando-a a ferro e deixando claro sua posse.
O nó em sua garganta agonizava mais do que a respiração já um tanto controlada de Near. Chorara por ele... Que vergonhoso.
Sentiu-o relaxar, salvara a vida de seu adversário, deveria se sentir nobre por isso. Mas só isso.
Contudo, não se mexeu. Passou a se concentrar na respiração calma do albino para tentar controlar a sua própria, pois agora que verdades em si foram esclarecidas era ele que precisava de um tempo parra fazer o ar entrar novamente em seus pulmões.
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