Escrito por: @Mi_stosf
Notas Iniciais: Oi, voltei, e mais sombria do que nunca skskksks.
Essa história foi um desafio pessoal, e realmente posso dizer que saí totalmente da minha zona de conforto em relação a escrita.
Esse é um presente para uma pessoa muito, muito, muito especial, que escreve tão maravilhosamente bem e ainda é um amor. Espero do fundo do meu coração que você goste disso, foi difícil, trabalhoso, mas, incrivelmente gratificante trazer essa fic a vida.
Sejam bem-vindes à ABQHTN! Tenham uma boa leitura!
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Min Dori sempre foi um homem ganancioso; ele gostava de dinheiro, porém gostava ainda mais de exibi-lo aos outros. Tinha herdado a velha taberna de seu pai e uma quantia considerável de moedas de ouro que o patriarca dos Mins guardara durante seus longos anos de trabalho árduo e incansável.
Embora odiasse trabalhar pesado, Dori gostava da taberna e do dinheiro que os diversos homens que trabalhavam nas minas aos arredores de Anteric deixavam na Taberna do Lótus Escarlate: o único estabelecimento existente em raio de 208 léguas da província principal.
A única coisa que existia em volta da taberna era o bosque dos jovens perdidos e, muito mais distante, a mansão do misterioso Lorde Park.
E se existia algo que Min Dori tinha medo, era daquele homem recluso, que estava ali muito antes de Anteric ser colocada no mapa da província principal e que tinha sua história envolta por lendas, sendo que, muito provavelmente, muitas delas eram verídicas.
Dori sempre ouvira do pai que o tal Lorde raptava rapazes bonitos da região para um tal ritual realizado todo dia 31 de outubro, ou melhor, todo Halloween. Mas ninguém da região poderia comprovar se tal história era verdade, muito menos o velho senhor Min, ainda que acreditasse fielmente que o Lorde Park não era coisa boa.
Mesmo tendo visto a tal homem pouquíssimas vezes em toda a sua vida e de ter quase visto um vislumbre da imensa mansão do Lorde, Dori nunca iria se esquecer das vestimentas e do rosto daquele rapaz.
Era como se ele tivesse parado no tempo e, embora os anos passassem, continuava com a aparência de um jovem de vinte e cinco anos. Entretanto, não era isso o que espantava Dori, mas sim o fato de o homem ter olhos na cor vermelha.
O Min jurava de pés juntos que as írises do Lorde eram de um tom forte de carmim, contudo resolveu guardar a descoberta apenas para si mesmo, pois temia o que poderia acontecer consigo se o Park descobrisse que andava sendo observado por ele.
Então, como nunca mais encontrou o tal Lorde novamente, Dori deixou a lembrança da única vez que se encontrara com ele perder-se em suas memórias. O único problema era o fato de que não foram apenas as lembranças que ele perdeu: Dori havia deixado sua taberna chegar ao vermelho por conta de seu esbanjar e apostar com pessoas de índole duvidosa.
Pediu um “empréstimo” a um grupo perigoso de agiotas, que frequentavam assiduamente a taberna, só que, assim como o dinheiro evapora na mão daqueles que apenas gastam, pessoas cobram dívidas sem nem uma empatia.
A Taverna do Lótus Escarlate estava por um fio de ser fechada, e Dori não poderia lidar com isso, pois era o único sustento que ele e seu filho, Min Yoongi, tinham, e, mesmo o progenitor de Yoongi não se importando com a maioria das coisas a não ser seu próprio umbigo, seu filho era o único ser o qual ele estimava mais que moedas de ouro.
Yoongi era um rapaz doce, que naquele momento estava prestes a completar vinte primaveras e não merecia descobrir que o pai tinha deixado a amada taverna dos Mins chegar àquela situação. Dori não queria dar essa decepção ao seu bem maior, então, em um momento de desespero, lembrou-se do homem estranho que sempre viveu aos redores de Anteric.
Talvez o Lorde Park fosse a solução para todos os seus problemas e evitasse que tudo fosse arruinado de vez, fazendo com que a família Min tivesse que ir morar no bosque permeado por histórias e perdas traumáticas.
O nome bosque dos jovens perdidos vinha de diversos relatos de pessoas que perderam seus filhos mais novos para o local. Ninguém sabia dizer por que nem como exatamente acontecera, mas muito jovens da região haviam sumido no bosque pontualmente no dia 31 de outubro de cada ano.
Se as contas dos moradores de Anteric estivessem certas, já haviam sumido centenas deles, sempre de forma misteriosa e nunca mais sendo vistos em qualquer lugar novamente.
A maioria achava que tais acontecimentos tinham a ver com o Lorde, pois o único dia do ano em que ele saía de sua mansão para andar por Anderic e qualquer lugar da região era exatamente o dia 31.
Porém, como o homem não interagia com ninguém além de seu criado — um homem de cabelos vermelhos como sangue e de vestimentas sempre amarronzadas, chamado por todos como "o corvo" —, ninguém poderia afirmar com certeza se ele tinha dedo nos tais desaparecimentos.
A única coisa certa era que, quando a lua do dia 31 de outubro se punha ao céu, um rapaz com no máximo 30 primaveras sumia no bosque sem deixar rastros nem qualquer pista de onde poderia ter ido.
Tais acontecimentos fizeram muitas famílias abandonarem suas casas e fugirem o mais rápido para longe de Anteric, mas principalmente do Lorde Park.
Não existia alguém na região que não soubesse quem ele era e não temesse sua presença. Quando alguém que estava na feira das festividades do Halloween via um homem vestindo um sobretudo na cor púrpura, com os cabelos pretos como a madrugada mais densa e sendo acompanhado por outro homem com as vestes completamente marrom, absolutamente todos no lugar abriam espaço para ele e seu criado visitarem as barracas presentes na feira, sem nenhuma intromissão.
Dori já havia visto essa cena algumas vezes, mas ainda se espantava com o quanto a presença daquele homem era intimidadora, contudo, ele estava desesperado e sabia que, se não pagasse os agiotas, seria morto e o pior: quem teria que lidar com as consequências de seus erros seria Yoongi.
Então, engolindo o temor do Lorde e o seu próprio orgulho, ele decidiu que iria tentar conversar com o homem, para pedir sua ajuda e rezava para que o Park fosse um ser benevolente o suficiente para ter piedade dele e de seu filho.
Assim, num dia em que a taberna estava um pouco mais calma, ele pediu para Yoongi — que ficava cuidando dos petiscos e iguarias na cozinha, e não servindo bebida no balcão ou nas mesas — cuidar do local enquanto ele iria até a mansão do Lorde.
Dori não disse para o filho para onde iria, mas avisou que demoraria e que Yoongi deveria tomar conta de tudo até que voltasse. O Min mais novo achou estranha a atitude do progenitor, mas, como havia muita coisa a se fazer no Lótus, deixou sua curiosidade e preocupação de lado e afirmou que cuidaria de tudo na ausência do pai sem nenhum problema.
Então, o Min mais velho saiu da taberna e foi em direção ao desconhecido, pois não sabia o que iria encontrar ao cruzar os limites do bosque, mas principalmente da mansão do Lorde.
Era isso, havia tomado sua decisão e, a partir do momento em que pisou no limite que demarcava o início do bosque, soube que não havia mais volta.
Dori não gostava daquele lugar; tudo parecia muito mórbido, solitário e ameaçador. Os sons do vento batendo nas folhas das árvores o davam calafrios, os uivos do que pareciam ser lobos o deixavam em alerta para qualquer perigo iminente, e a luz escassa o fazia sentir que não tinha nenhuma ideia de para onde estava realmente indo.
Porém, a mansão do Lorde Park era impossível de não ser reconhecida. Era uma imensa residência em tons escuros e ficava em evidência na paisagem opaca que era o bosque dos jovens perdidos. Ela tinha um ar de riqueza quase imprópria, o que despertava a inveja e o desejo de posse de muitos homens; alguns até tentaram colocar suas mãos nas posses do Park, mas eles nunca mais foram vistos para contar se tinham conseguido alcançar ou não os seus objetivos.
O Min tinha quase certeza que a explicação para tais desaparecimentos não era muito agradável, então nem tentava imaginar o que teria acontecido àqueles pobres homens.
Era tempo de pensar no que fazer se o Lorde se recusasse a ajudá-lo. Dori estava entrando em parafuso, iria perder tudo por fazer apostas com pessoas inescrupulosas e sabia que Yoongi não o perdoaria se a taberna fosse tomada deles. E foi o medo de decepcionar seu filho que o moveu até a entrada da majestosa mansão e o fez bater na imensa porta, que parecia ser feita de carvalho.
Dori estava se perguntando como havia chegado tão facilmente até ali, pois nunca havia chegado nem perto daquela parte do bosque, muito menos da residência de Park Jimin. Mas seus pensamentos foram interrompidos quando a porta foi aberta e uma voz doce soou por todo o ambiente o convidando para entrar, como se estivesse sendo projetada uniformemente por todos os cômodos do local.
O Min não hesitou em adentrar a mansão, sendo recebido pela figura etérea e quase alucinógena do Lorde Park ao pé da enorme escada que cortava sua sala de entrada.
O Park o olhava com curiosidade e diversão, mas não perguntou o que ele estava fazendo ali, apenas o esperou pacientemente tomar partido e anunciar o motivo da sua visita não avisada.
Entretanto, Dori estava fascinado, quase hipnotizado, pela figura do outro homem e ainda mais por seus olhos, que eram exatamente como se lembrava: vermelhos, como o sangue borbulhando em suas veias.
— O que o traz à minha residência? — A voz esbanjava doçura. Contudo, mesmo que Dori estivesse paralisado pelo ser diante de seus orbes, não era bobo em cair tão facilmente nos encantos do outro e sabia que aquele homem não estava contente em vê-lo, como queria fazê-lo acreditar.
— B-bom, Lorde Park, p-preciso de a-ajuda — o Min, com muita dificuldade, conseguiu reorganizar seus pensamentos e, com muito embaraço pela situação, foi direto ao ponto.
— Venha até o meu escritório para conversarmos adequadamente. — O Lorde passou a se mover em direção à saída do hall de entrada, rumo a um longo corredor com diversas portas, não olhando para trás nenhuma vez, pois sabia que estava sendo seguido pelo outro homem.
Assim que pararam em frente a uma porta que tinha um tom excêntrico de preto, quase como se a madeira tivesse sido queimada antes de virar efetivamente uma porta. Dori desconfiou das atitudes alheias tão cordiais e hesitou em seguir o Park para dentro do cômodo.
Jimin deu uma leve risada e se virou para olhar o homem parado na porta como um pequeno cordeiro perdido.
— Eu sei tudo o que se passa em sua cabeça, senhor Min. Primeiro: se você está aqui, é por culpa única e exclusivamente sua e de mais ninguém, então não culpe homens maus por serem maus com você; segundo: eu não irei machucá-lo, a não ser que me dê motivos para o fazê-lo; e terceiro: eu estava esperando a sua visita, por isso não o transformei em cinzas assim que invadiu os limites de minha residência.
— Como você…
— Você sabe a resposta. Agora, vamos ao que interessa, eu não ajudo ninguém de graça. Mas, antes de qualquer coisa, preciso que você entenda que não sou uma ameaça, você é sua própria ameaça.
Dori não se sentiu menos intimidado e preocupado com o rumo daquela conversa, mas ignorou o seu receio e finalmente entrou no cômodo, parando atrás da cadeira, em frente à mesa de pinheiro que tinha no local.
O Lorde tinha se sentado do outro lado da mesa; o Min só não fez o mesmo porque ficou admirado com a monumental estante repleta de livros de todos os tipos e tamanhos. Era admirável alguém ter uma coleção tão vasta de escritos, e isso fez com que ele ficasse ainda atento ao seu redor e ao homem com quem iria conversar.
— Você pode se sentar se desejar fazê-lo. A conversa que teremos não será tão breve. — O Park olhava para o outro com uma modesta seriedade, mas não o suficiente para assustar ainda mais a face alheia.
— Eu ainda não compreendi como sabia que eu viria até você. — Dori finalmente se sentou na cadeira e olhou nos orbes escarlates com a dúvida transparecendo em seu semblante.
— Você é um homem inteligente, meu caro Min, logo você sabe como eu sabia de sua visita, não sabe?
— Então, as coisas que falam sobre você são verdade? — O Min sentiu sua nuca ficar molhada e as palmas das suas mãos suarem frio por sua constatação.
— De que coisas estamos falando exatamente? — Jimin sorriu, divertido com a expressão temerosa e com o claro desconforto do outro.
— Você tem algo a ver com o desaparecimento dos jovens meninos de Anteric?
— Eu não faço nada com absolutamente ninguém. As pessoas que nunca prestam atenção ao que estão realmente fazendo. — O Lorde entrelaçou os dedos de suas mãos, os pôs em cima da mesa e aproximou seu rosto da face alheia. — A questão é que absolutamente nada vem de graça, senhor Min.
Dori engoliu em seco e quase passou a rezar, temendo ainda mais com quem havia se metido. Mas, como situações desesperadoras levam a medidas radicais, ele secou o suor em sua nuca com as mangas da blusa que vestia, ergueu o queixo e, olhando seriamente para o homem à sua frente, afirmou: — Eu sei muito bem disso, mas, se o senhor me ajudar, prometo que irei pagar o preço que for.
O Park deu uma risada graciosa.
— Deixe de formalidades! Meu nome é Jimin e gosto que me chamem assim. Mas, como um ser que se preocupa com os semelhantes, devo avisá-lo do quão perigoso é prometer "pagar o preço que for" para alguém como eu.
— O que isso quer dizer? — O Min não estava gostando do rumo daquela conversa.
— Eu não faço acordos, muito menos ajudo qualquer pessoa. Eu faço pactos.
Dori sentiu sua respiração travar e o ar ficar denso de tão pesado.
— É por isso que aqueles garotos somem todo ano, não é?
Os olhos vermelhos do Lorde brilharam diante do temor explícito na expressão do infeliz sujeito à sua frente, Jimin não poderia negar que era muito divertido brincar com almas como a daquela pobre criatura.
— É por isso que dívidas são cobradas. — O Park balançou a cabeça em negação e encostou suas costas no encosto da cadeira, sem desviar os olhos nem por um mísero instante das írises do outro homem. — Você sabe o motivo de sua vinda até aqui, a decisão de querer ou não fazer um pacto comigo é inteiramente sua.
— Como funciona isso? — Dori não acreditava que estava realmente prestes a fazer aquilo. Não que toda a situação por si só não fosse surreal o suficiente, só que o fato de estar considerando dever para alguém, ou melhor, algo, que ele tinha certeza não ser nada bom, era realmente assustador.
Sabia que a partir dali não teria mais volta e rezava para Deus o perdoar por seus pecados no dia de sua morte, pois um ser é feito de erros e um homem é feito das lições tiradas deles.
Estava tomando uma atitude drástica para defender a si e a sua família — o seu legado —, não poderia deixar tudo acabar por culpa única e exclusivamente sua, então, sim, iria negociar com o Lorde Park, mesmo tendo certeza de nunca ser capaz de pagar o preço exigido pelo tal pacto.
O Lorde podia sentir as engrenagens do cérebro alheio rodando. Ele gostaria de sentir pena do outro ser, mas não tinha, pois sabia que ele estava colhendo o que havia plantado.
O Min dizia amar o filho, mas nunca havia se importado o suficiente com ele para parar de apostar o dinheiro da família, então a vida tratou de dar-lhe a devida lição. Ele só não sabia que o custo iria ser muito caro, muito menos o fato de não ser ele quem pagaria por seus próprios atos.
Jimin era um ser bastante ardiloso, sabia qual o ponto fraco de cada pessoa em Anteric, eles eram quase como seus animais de estimação. Nada passava despercebido pelos olhos vermelhos do Lorde, ainda mais coisas bonitas como Min Yoongi.
Ele queria aquele belo jovem para si e, com as dívidas de Dori, isso ficaria muito fácil de ser arranjado, só precisava fazer o pacto corretamente e realizaria os seus desejos.
Por isso, o Park sabia que o melhor caminho para conquistar a confiança do homem era ser honesto e falar das vantagens monetárias trazidas pelo pacto para ele e para o seu estimado filho; o Min era fácil de ludibriar. Além disso, era necessário dizer quem realmente era, pois assim o outro o temeria o suficiente para não fazer gracinhas idiotas.
Logo, o Lorde respondeu à pergunta alheia com um tom de voz morbidamente sombrio: — Você entrega a sua alma a mim em troca de moedas de ouro que o ajudarão a pagar suas dívidas.
Dori quase caiu para trás com uma resposta tão diabólica quanto aquela. Então era isso, aquele tempo todo as pessoas de Anteric estavam convivendo com um demônio em forma de humano debaixo de seus narizes.
Ele nunca foi alguém de frequentar a pequena igreja da província, mas, ao finalmente compreender exatamente o que aquela criatura estava querendo dizer, sua vontade de ir até o local rezar e se benzer foi grande.
Era por esse motivo que os garotos sumiam sem nenhuma explicação e nunca mais retornavam às suas casas, por causa dos pactos feitos por aquele demônio, e o Min estava prestes a entrar na lista das pobres almas que caíram na lábia e no olhar enigmático daquele ser.
Se arrependimento matasse, estaria estatelado no chão naquele exato instante, porém não existia mais volta. Era entregar sua alma a um dos servidores de Lúcifer ou morrer espancado na mão de trogloditas malditos.
— O que você quer dizer exatamente com “entregar minha alma a você”? — Dori estava realmente considerando fazer aquela loucura, cruzando os dedos para a realidade não se tornar pior do que os seus pesadelos.
— Eu sou um demônio, senhor Min, logo, alimento-me da energia provinda de almas de criaturas mundanas. Quando digo para entregar sua alma a mim, significa que o senhor vai abrir mão de ir ao Purgatório e ter a chance de ser julgado, para que eu continue forte e poderoso e você não morra nas mãos daqueles a quem está devendo por não ter moedas de ouro para pagar suas dívidas.
— Mas isso não é justo! — O Min não estava gostando nada do que estava ouvindo e seu ato de bater na mesa do Lorde de forma brusca ao processar as palavras alheias demonstrou isso.
— Não existe justiça nos pactos entre humanos e demônios, senhor Min. Não fui criado para fazer o bem, o senhor deveria saber muito bem disso. Portanto, é pegar ou largar, a decisão está em suas mãos. — O Park descruzou os dedos e pôs as mãos sobre suas pernas, que foram cruzadas como modo de conter sua impaciência com o chilique feito pelo humano.
— Para você, é fácil falar, não é a sua alma que está em risco de ir apodrecer no Inferno. — Dori estava de olhos arregalados e sentia o suor voltar a escorrer por sua testa.
Em resposta, o Lorde apenas deu uma gargalhada estridente, quase como um disco arranhado sendo tocado em uma vitrola.
— O senhor não tem ideia do que é o Inferno e a minha paciência está acabando, é melhor parar de gastar o meu precioso tempo com suas asneiras e tomar logo a sua decisão. — O demônio entortou a cabeça, evidenciando o seu desgosto com as falas do Min, e pegou o punhal de prata que mantinha guardado na gaveta de sua mesa exclusivamente para firmar pactos.
Dori, vendo a arma nas mãos do outro, alarmou-se e sairia correndo dali sem olhar para trás, se não fosse pela voz séria de Jimin ressoar novamente pelo recinto:
— Antes que você decida o que irá fazer, preciso que saiba de algumas coisas. A primeira: o pacto é feito em um pergaminho sagrado para minha espécie, são edições raras e eles são usados exclusivamente para esse propósito; a segunda: para o pacto ser selado, existe um contrato feito na hora com os seus desejos e com as condições para que eles sejam realizados; e terceira: o pacto só é firmado se a assinatura do humano for com o seu próprio sangue, a partir de um corte feito por um punhal de prata.
O Min não se sentiu melhor ao saber de coisas como aquela, mas a perspectiva de ter seus problemas resolvidos na hora o animou pelo menos um pouco. Iria entregar sua alma a um demônio, porém teria uma vida farta e cômoda.
Por isso, depois de encarar o punhal de prata na mão alheia e o rosto do Lorde, o homem assentiu para os seus pensamentos e aceitou o peso de sua tomada de decisão.
— Eu quero dinheiro, muito dinheiro, quero ter uma mesa cheia de comes e bebes. Quero uma esposa devota que cuide de mim, do meu filho e da minha casa, e, quando você vier buscar a minha alma, quero que seja rápido e indolor. Você pode arranjar isso? — O Min olhou com expectativa para Jimin, este que apenas maneou a cabeça em afirmativa e pegou um pergaminho sagrado de dentro da gaveta de sua mesa.
Quando o papel pousou sobre a superfície de madeira, letras cursivas rebuscadas em tinta preta brilharam, quase como se estivessem sendo escritas pelo fogo, e os olhos rubros do Lorde cintilaram como o magma borbulhando de um vulcão entrando em erupção.
Como se estivesse novamente hipnotizado pela figura, naquele momento, quase ébria de tão surreal, Dori esticou sua mão esquerda em direção ao Park e deixou que ele fizesse o corte em sua palma.
A ação não doeu.
Rapidamente o demônio deixou o corte escorrer no local onde estava indicado para a assinatura de humanos ficar. O humano não sentiu sua mão não machucada pegar uma pena, muito menos esta assinar o pergaminho; sua mente não estava mais presa a si e a sua cabeça, estava à mercê do Lorde. Assim, selou não só o seu destino, mas também o do filho.
{...}
Dez anos depois
Yoongi estava se preparando para o pior. Seu pai estava muito doente e nem mesmo os chás de cura de Boda — sua madrasta — estavam sendo capazes de curar Dori.
Seu pai iria morrer e, mesmo que fosse inevitável, a ideia de perdê-lo era muito dolorosa, havia sido apenas os dois desde que Yoongi se entendeu como gente.
Sua mãe tinha os abandonado não muito tempo depois que o deu à luz e sumiu no mundo sem deixar rastros, muito menos mandar uma carta ou um cartão postal.
Então, as coisas começaram a ficar complicadas quando o Min mais velho se envolveu com apostas e passou a dever dinheiro para agiotas, porém tudo foi milagrosamente resolvido por um tio distante do qual Yoongi nunca havia ouvido falar. Isso aliviou os Mins, principalmente o mais velho, mas não deixou o mais novo menos preocupado com as atitudes do progenitor.
Contudo, suas vidas ficaram mais alegres com a chegada de Boda, uma mulher de uma província distante que havia se separado do marido e deixado tudo para trás, com medo do que ele poderia fazer com ela.
Boda era doce, muito inteligente e engraçada, mas tinha uma personalidade forte e, a princípio, não se deu nada bem com as pessoas fofoqueiras de Anteric. Entretanto, encontrou na Taberna do Lótus Escarlate um lugar onde poderia ser quem era sem medo do julgamento alheio.
Yoongi não sabia como ela e Dori se envolveram, mas ficou muito feliz quando o pai anunciou que se casaria com a mulher; ela o fazia feliz e era apenas isso o que importava.
E eles foram felizes por longos nove anos, entretanto Dori começou a ficar doente repentinamente. Ninguém sabia o que era, e os curandeiros de Anteric não conseguiam arranjar algo que pudesse fazê-lo ficar bem novamente.
Boda estava estudando livros e mais livros em busca de receitas milagrosas, e Yoongi mandava cartas para curandeiros da província principal em busca de algum diagnóstico ou cura para a doença misteriosa, mas não encontravam solução alguma para sua angústia.
Até que o fatídico dia chegou. Estava perto do Halloween, e o dia que marcava dez anos do pacto selado entre o Min mais velho e o Lorde Park havia chegado.
Dori sabia ser aquele o dia de sua morte, o momento no qual o demônio iria levar sua alma consigo, e havia prometido para si mesmo contar a verdade para o filho sobre o pagamento das dívidas da taberna.
Contudo, não pôde fazer isso, pois, assim que iria chamar seu filho e sua esposa para se despedir, aquele cujo o nome nunca era pronunciado por si em voz alta rompeu pelo quarto, banhado pela penumbra, levitando com os seus olhos vermelhos e a mesma adaga de prata com a qual o pacto foi selado.
Se o homem não estivesse acamado, teria saído correndo e gritando do local de medo da figura horripilante à sua frente.
— Uma década passa impressionantemente rápido, senhor Min. Sabes o que vim buscar aqui. — A voz do ser continuava a mesma, mas sua presença era densa, quase sufocante.
Com muita dificuldade, Dori tentou pedir ao outro que pudesse contar a verdade para sua família, mas Jimin não o esperou nem iniciar uma sílaba antes de enfiar a adaga em seu peito e arrancar o seu coração para fora.
Não havia mais o que ser dito, pedido ou implorado, o Lorde estava ali para cumprir o pacto, mesmo esse envolvendo alguém que não tinha nada a ver com tudo aquilo.
Então, após aprisionar o coração de Dori em um invólucro de vidro que sempre trazia consigo ao ir cobrar um pacto, o Park se preparou para ir atrás daquele que havia sido prometido a si pelo próprio pai do rapaz sem que nem ele mesmo soubesse.
Porém, Yoongi entrou no quarto do pai em um rompante. Antes mesmo de emitir qualquer tipo de som, Jimin foi mais rápido e tampou sua boca com uma das mãos, para fazê-lo ficar calado e prestar atenção no que iria dizer.
— Sua alma, assim como a do seu pai, pertence a mim. Você tem nove dias, contando a partir de hoje, para subir ao altar comigo ou irá se tornar uma das bestas que assombram o bosque — o Lorde foi direto. Estava cansado de tentar ser amigável, havia passado os últimos dez anos cortejando aquele humano em todo Halloween e, em todos eles, havia sido forte e vergonhosamente rejeitado pelo humano.
Jimin estava furioso para dizer o mínimo e, se o rapaz não ficaria com ele por livre e espontânea vontade, ficaria pelo pacto assinado tão inconsequente por seu progenitor.
Yoongi seria seu ou se tornaria uma besta — ou melhor, um lobisomem —, como todos aqueles que tentaram fugir do temido e maléfico Lorde Park. E pensando que o futuro de todos em Anteric estava nas mãos do franzino a assustado jovem à sua frente, Jimin resolveu que já era hora de voltar à sua residência e, assim como entrou nos aposentos de Dori, Jimin flutuou por entre as paredes do homem — que, naquele momento, jazia morto em seu colchão — e, levitando, subiu seu corpo até que seus pés ficaram próximos à cabeça do Min mais novo. Sem seus pés tocarem o chão outra vez, foi muito rapidamente embora do local, levando consigo a alma e a paz de espírito dos Mins.
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Notas Finais: Me digam o que vocês acharam do capítulo que vou amar ler tudinho, meus amores!
Quero aproveitar para agradecer a @YinLua que além de betar essa fic, ainda é minha ADM amada que sempre, tipo, sempre mesmo, me ajuda em tudo! Muito obrigada, Lu!!!
Também quero agradecer a @minie_swag que revisou a fic e sempre me incentiva de diversas maneiras a escrever, mesmo que ela nem saiba disso! Muito obrigada, Noh!!!
E, por último, mas não menos importante, quero agradecer a @Nutella_Kpop_ pelas capas e banners! Jully, você fez mágica, sério!
E foi tão paciente comigo, muito, muito obrigada mesmo.
Obrigada a quem chegou até aqui! ♡
Okuduğunuz için teşekkürler!
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