- Letícia!
A voz dele ecoava por seus ouvidos, mas ela o ignorava. Precisava fugir dali.
- Letícia!
Ele continuava a lhe chamar, o som do timbre cada vez mais audível e mais perto assim como os passos.
- Pare, Letícia!
Não se deteria e nem podia: a situação havia se tornado insustentável demais; no fim, devia culpar a si mesma. Era fácil culpar a ele por tudo que havia feito, mas não; a decisão foi sua e sabia quantos erros havia cometido contra si própria e mesmo contra ele.
- Letícia, por favor, pare!
Ele estava mais perto, faltava pouco para alcançá-la.
O portão...
Felizmente, ainda não havia sido fechado por ordens dele. Ela o transpassou numa correria mais acelerada. E mesmo assim, escutou os passos dele se acentuarem atrás de si.
- Letícia!
Não pensou duas vezes e atravessou a rua sem olhar para os lados. Queria apenas que ele a deixasse de perseguir, que a deixasse em paz.
- Letícia!
O berro que ele emitiu foi abafado pelo som de buzinas, seu próprio grito e de outros transeuntes. Não viu e não escutou mais nada; um baque forte a pegou de lado e fê-la voar pelos ares. Sentiu a queda forte de seu corpo e membros no asfalto, uma pancada em sua cabeça, um zunido e uma escuridão turvando seus olhos.
- Letícia...
Ainda podia ouvir a voz dele, talvez seu grito, mas tão baixo, talvez abafado pela sua consciência na escuridão que a invadia pouco a pouco.
Era o fim, ela sabia. Talvez não o que imaginou em todos os seus sonhos de infância e juventude, mas ao menos um fim para toda sua angústia. E a sua dor.
E a dor dele.
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