Cresceu sem oportunidade de escolha. Ainda bem jovem, em sua nona década de vida, dominou a arte da caça solitária. Mas não a caça desprezível, onde matar representava apenas prazer mórbido, mas a caça instintiva do predador nato, em comunhão com suas presas, impedindo a proliferação excessiva destas, ao mesmo tempo que garantia o futuro alimento. Sem saber, respeitava a lei natural... cruel, mas também necessária ao perfeito equilíbrio ecológico.
O problema então surgiu à medida de seu crescimento; talvez motivado pela revolução de hormônios desconhecidos, próprios da terceira ou quarta centena de anos, mudou sua forma de atuar: já não mais se contentava em satisfazer apenas a fome, passando a torturar suas presas de forma abominável... infringindo terror e agonia indescritíveis aos sentidos humanos. Matando indiscriminadamente. Não conseguia entender aquela diabólica compulsão, mas lhe era impossível dominá-la.
Tal comportamento passou a ser visto com grande polêmica entre seus pares: enquanto os mais conservadores veementemente o condenavam, as alas mais jovens e rebeldes procuravam imitá-lo, gerando grande pânico na comunidade. Sua perversidade se fez sentir. A fuga em massa motivada pelo medo perturbou irreversivelmente o outrora equilibrado ecossistema.
Mas sua casta advinha de milenares regras de comportamento... não obstante as desesperadas súplicas de seus ascendentes, ele próprio e seus seguidores acabaram condenados à mais definitiva das mortes, sem qualquer possibilidade de retorno, uma vez que foram decapitados e trespassados em pleno coração por estacas de madeira de pinho, sendo então sepultados em caixões de chumbo, a muitos metros de profundidade.
A aparente harmonia voltou aos poucos ao vilarejo. O pavor até certo ponto controlado e tolerado pelos camponeses supersticiosos, onde apenas esporadicamente alguém não retornava de sua imprudente incursão noturna, retornou ao antiquíssimo desenrolar. Água benta, sementes de mostarda nos telhados, réstias de alho nas janelas, crucifixos...
Os moradores porém, jamais se acostumariam às tão simétricas mordeduras ostentadas pelas pobres vítimas: que espécie de predador ali atuava? Muitos juravam, sobressaltados, ouvir ruídos noturnos, semelhantes a um ruflar de asas. Em vão procuravam reflexos nos espelhos, estrategicamente colocados no exterior das portas; o sono intranquilo ladeava a vida bucólica, regada a resignação e fé. Como sempre havia sido. Como sempre haveria de ser...
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