lara-one Lara One

Um verdadeiro Arquivo X para Mulder enlouquecer? Elvis Presley e Michael Jackson aparecem numa cidadezinha de Nevada instalando o caos entre a população local...


Hayran Kurgu Diziler/Doramalar/Pembe Diziler Sadece 18 yaş üstü için.

#xfiles #arquivox #comédia #mulder #elvis #michael-jackson
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S07#16 - CONFUSÕES, POP E ROCK'N ROLL


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INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

2011

Condado de Cactus – Nevada - 11:59 PM

Foco na frente da casinha amarela da pequena fazenda, de portões brancos. Jardim florido. Varanda com uma rede.

Na sala de estar, a vovó Sra. Archer tricota pensativa, sentada na poltrona ao lado da janela. Vemos as duas muletas escoradas na parede. Seu marido, velho, gordo e rabugento, assiste um programa de perguntas e respostas na TV, atirado no sofá, vestido de cuecas e botas de cowboy.

TV OFF: - Seu tempo está se esgotando, Cybill... Repetindo a pergunta. De quem são os rostos esculpidos no Monte Rushmore?

VELHO ARCHER: -(GRITA) Washington, Jefferson, Roosevelt e Lincoln, sua mulher burra!

SRA. ARCHER: - Você sabe todas as respostas dessas perguntas, Tom...

VELHO ARCHER: - Eu não sou inteligente! Essa gente que eles escolhem é que são burras! Olha ali, vai perder 500 mil!

A Sra. Archer continua tricotando, tranquilamente.

[ESTRONDO]

SRA. ARCHER: - Ouviu isso?

VELHO ARCHER: - São os rapazes da base aérea quebrando a barreira do som!

A Sra. Archer larga o tricô no colo. Vira-se para a janela. Uma luz verde surge entre as árvores, com uma névoa intensa que se espalha. Uma silhueta humana indefinida no meio da luz vem em direção da casa.

SRA. ARCHER: - Tom, tem alguém no quintal...

VELHO ARCHER: - Deve ser a vaca que fugiu de novo!

O velho empolgado, prestando atenção na TV e xingando a participante do programa. A velha continua observando o quintal, curiosa.

SRA. ARCHER: - Tom, estou falando, tem alguma coisa esquisita acontecendo lá fora.

VELHO ARCHER: - Cala a boca, eu não posso ouvir o programa!

SRA. ARCHER: - Podem ser alienígenas. A gente já ouviu tanta coisa sobre Dreamland...

VELHO ARCHER: - Essa gente inventa coisas sobre Dreamland só pra sair na mídia! Isso é coisa de democrata! Esses subversivos!

[Som: Elvis Presley - Johnny B. Goode]

VELHO ARCHER: - Ah, é o que me faltava, o vizinho novo ouvindo música alta numa hora dessas!!!

SRA. ARCHER: - (SORRI) Concordo com o gosto musical dele.

Batidas na porta. A Sra. Archer se levanta com certa dificuldade. Pega as muletas e se locomove lentamente até a porta. Abre a porta com cuidado, espiando pra fora.

Elvis Presley dançando e cantando na varanda e sorrindo pra velhinha. Ela abre um sorriso. Elvis ajeita os óculos escuros e limpa a roupa branca, cheia de pedras coloridas. Ajeita o violão no ombro.

ELVIS: - A Senhora poderia me conseguir um milk-shake de morango?

SRA. ARCHER: - (CATATÔNICA) ...

VELHO ARCHER: - (GRITA) Quem é que está incomodando à uma hora dessas, mulher?

SRA. ARCHER: - (INCRÉDULA) Tom... Acho que é o Elvis.

VELHO ARCHER: - (GRITA) Quem é Elvis? Manda ir dormir que eu já tô fazendo o mesmo!!!

O velho sobe as escadas, coçando o traseiro, resmungando e sem nem olhar pra porta. A Sra. Archer olha para o marido, desanimada e suspira. Volta a olhar pra Elvis, enquanto abre mais a porta.

SRA. ARCHER: - (SORRI) Você não prefere uma torta de morangos, Elvis? Fiz hoje à tarde. Posso fazer um chá também, eu durmo tarde e preciso de companhia... De boa companhia.

ELVIS: - (SORRI) Se não for incômodo, eu adoraria, mama.


Stephen's Cyber Cafe - Cactus – Nevada - 1:23 AM

A névoa se aproxima pela rua. A neblina vai se espalhando. Do lado de dentro do cyber café, os barbados disputando campeonato de videogame. Stephens, dono do lugar, serve cerveja e sanduíches. Do lado de fora, Billie de uns 10 anos de idade, roupas surradas, bate insistente na porta.

STEPHENS: - Não pode entrar, é campeonato fechado e adulto!

BILLIE: - Eu só quero assistir! E tá ficando frio aqui fora, tem neblina!!!!! Me deixa entrar!!!

STEPHENS: - Vai pra casa moleque! Isso não é hora de estar na rua. Eu sou o dono, eu mando nessa droga!

BILLIE: - Eu moro na rua, tá lembrado? Por favor, então só me dá alguma coisa pra comer!

STEPHENS: - Cai fora garoto ou vou chamar a assistência social!!!!!

Billie dá as costas, cabisbaixo. Sai por entre a densa neblina.

[Som: Michael Jackson - Bad]

Billie coloca as mãos nos bolsos das calças, e caminha se embalando com a música. Esbarra em um sujeito. Então olha pra cima.

MICHAEL: - (SORRI) Alguém está incomodando você, garoto?

Billie, com os olhos arregalados, aponta em direção ao cyber café, sem desviar os olhos de Michael. Michael relaxa o pescoço de um lado pra outro, sério. Ajeita a jaqueta preta cheia de tachinhas. Ajeita a luva e o chapéu. Toma a direção da porta dançando. Billie se empolga.

Corta pra dentro do cyber café. Batidas na porta. Stephens já irritado abre a porta com raiva.

STEPHENS: - Vou socar você até a morte, seu moleque...

MICHAEL: - (ABORRECIDO) Não deveria tratar as crianças dessa maneira. E nem deveria negar um pouco de comida. Isso não é legal, sabia?

STEPHENS: - (RINDO) Ei gente, de quem é o telegrama ao vivo? Tem um Michael Jackson na minha porta ao som de Bad!

MICHAEL: - Faça mal pra uma criança e vai ver o quanto eu sou "bad".

Michael estende a mão na direção de Stephens.

[Fecha a tela]

[Som de vidros estilhaçados, gritaria e corre-corre]

[Abre a tela]

Billie sentado na calçada comendo um sanduíche às pressas e tomando refrigerante. Michael sentado ao lado dele.

MICHAEL: - (RINDO) Puxa, você estava faminto mesmo! Não vá se engasgar!

BILLIE: - Você não pode ser o Michael Jackson de verdade.

MICHAEL: - (SORRI) E quem mais eu seria?

VINHETA DE ABERTURA: O POP E O ROCK ESTÃO LÁ FORA...



BLOCO 1:

Delegacia de Polícia – Precinto 11 - Virgínia - 1:18 PM

Krycek parado com o distintivo de policial pendurado no pescoço e as mãos na cintura, olhando preocupado para dentro da cela. Mulder sentado dentro da cela com cara de poucos amigos.

KRYCEK: -O cara pode abrir um processo contra você por agressão.

MULDER: - Quer calar essa boca e me soltar daqui? Ele não é quem você pensa que ele é!

KRYCEK: - Sabe que não posso soltar você. Vai ter que pagar fiança, arrumar um bom advogado...

Krycek segura o riso.

MULDER: - (INDIGNADO) Eu não acho graça nenhuma, Rato! Você teria feito a mesma coisa se visse aquele cara sorrindo pra sua filha e abraçando a sua garotinha! Não desgrude da Victoria, eu não a quero perto dele!!!

KRYCEK: - Ela está segura, Mulder. Relaxa. Scully está vindo pra cá. Eu vou conversar com o cara e ver se ele alivia pra você. É o que posso fazer.

[Som: Elvis Presley - Jailhouse Rock]

Vemos os pés que se aproximam pelo corredor, usando botas surradas. Calças jeans rasgadas. Penduricalhos pela cintura. Victoria de mão dada com o homem, ele tem anéis pelos dedos. Do outro lado, Megan de mão dada com ele também, fascinada olhando pra ele e suspirando. Eles se aproximam da cela e param. Victoria olha para Mulder. Depois ergue o rosto olhando pra Johnny Depp que está com um olho roxo e os óculos quebrados, com uma das hastes caindo da orelha. Mulder tenta agarrá-lo com raiva pelas grades. Depp recua erguendo as mãos. Krycek abaixa a cabeça rindo.

MULDER: -(FURIOSO) Solta a mão da minha filha, seu desgraçado!!!!!! Saia de perto dela ou eu vou esfolar você até a sua pele fajuta descolar e mostrar a sua real aparência!!!!

Krycek empurra Mulder pra ele se afastar.

VICTORIA: - (FECHA OS OLHOS) Ai Deus, que mico! Que mico!

JOHNNY DEPP: - Eu nunca vi você na minha frente, ok? Não sei que tipo de maluco você é pra voar em cima dos meus seguranças e me atacar em plena rua. Suas filhas me pediram um autógrafo e eu dei. É crime dar autógrafo nesse país?

MEGAN: - (SUSPIRANDO APAIXONADA) Ele não é meu pai, eu nem tenho pai, estou disponível pra ser adotada, Johnny... Eu não incomodo, eu sou comportada, posso lavar, passar, tomar conta de você, ajudar a decorar seus textos e serei uma ótima irmã pra Lilly Rose e o Jack...

Victoria dá um beliscão em Megan que recua fazendo beiço. Depp tenta ajeitar os óculos sem sucesso. Guarda-os no bolso, num suspiro.

MULDER: - Eu confundi você com outra pessoa!

JOHNNY DEPP: - (DEBOCHADO) Ah! (OLHA PRA KRYCEK) Ele me confundiu com outra pessoa... (TIRA O CIGARRO DO BOLSO) Eu tenho realmente uma fisionomia muito comum. Pode fumar aqui?

KRYCEK: - O senhor pode, Sr. Depp.

Mulder fulmina Krycek com um olhar de indignação. Krycek sorri provocando.

JOHNNY DEPP: - (ACENDE O CIGARRO) Crianças eu sou um viciado, nunca peguem essa porcaria, ok? Não traz nada de bom, só dentes ruins. Agora quanto a você... Eu tenho alguma cópia solta por aí que não estou sabendo?

MULDER: - Tem. E me acredite, você não gostaria realmente de conhecê-lo. E quem me garante que você não é a cópia, hum???

Mulder se levanta e se aproxima da cela. Depp recua. Aponta o cigarro pra ele.

JOHNNY DEPP: - (IRRITADO) Se não gosta da minha pessoa podemos resolver isso lá fora, entre você e eu, bem longe das crianças. Louco por louco, eu posso mostrar o quanto eu também sou doido de pedra.

MULDER: - (IRRITADO) Krycek me tira daqui, eu vou esfolar esse cara!!!! Vem aqui, "Jack Sparrow", eu vou ensinar você a não chegar perto da minha filha!!!

JOHNNY DEPP: - Policial, pode levar as crianças pra fora? Eu quero levar um papo de homem pra homem com o... Mulder, não é mesmo?

VICTORIA: - Parem por favor!!! Não estão vendo que é um mal entendido?

JOHNNY DEPP: - Olha, Mulder, em consideração a sua filha, (DEBOCHADO) "savvy"? Eu vou retirar a queixa. Eu também tenho filhos, sei que o sangue sobe à cabeça quando...

MULDER: - (IRRITADO) Não quero que retire a queixa! Quero que tire a camisa!!!

Krycek olha assustado para Mulder. Depp deixa o cigarro pender da boca, incrédulo.

JOHNNY DEPP: - Entendi. Olha aqui, Mulder. Já tive assédio de homens, posso entender que se apaixone por algum personagem, mas o ator não é o personagem e não sei qual é a sua, mas posso dizer que a sua não é a minha, se é que me entende. Primeiro você me agride, depois quer que eu tire a camisa. Eu não estou entendendo o seu lance de amor e ódio comigo. Isso é algum tipo de homossexualidade reprimida?

Krycek abaixa a cabeça, rindo e olhando pra Mulder.

KRYCEK: - Eu vivo dizendo isso, mas ele não acredita.

MULDER: - (IRRITADO)Depois que eu me entender com o Willy Wonka aí, eu juro que vai sobrar pro Ratatouille! Ele anda sentindo falta do meu punho na cara dele! Tira a droga da camisa agora!!!

MEGAN: - (EMPOLGADA) Faz o que ele diz. Por favor, tira a camisa!!!

VICTORIA: - (IRRITADA) Megan, se contenha! Papai, por favor, ele é mesmo o Johnny Depp!

MULDER: - Só acredito vendo!

VICTORIA: - (PIDONA OLHANDO PRA DEPP) Desculpe por isso. Mas pode só mostrar alguma tatuagem pra que ele realmente veja que você é você? Meu pai tem razão em ter medo, tem um cara muito parecido com você que já tentou me sequestrar. E ele não tem tatuagens. É só por isso.

Depp olha pra Victoria. Num suspiro coloca o cigarro no canto da boca, tira o casaco, abre a camisa. Megan arregala os olhos. Depp tira a camisa e abre os braços, dando uma volta.

JOHNNY DEPP: - (COM O CIGARRO NA BOCA) Satisfeito?

Mulder enfia as mãos no rosto envergonhado. Megan desmaia por cima de Victoria.

Corte.


Mulder sai da delegacia, indignado. Os policiais ficam rindo dele. Um deles tira a camisa e dá uma volta, desfilando, com um cigarro na boca. Mulder entra no carro, com cara de poucos amigos. Scully está ao volante, as meninas no banco de trás.

SCULLY: - Ótimo, Mulder! Era só o que faltava no seu currículo: agressão a celebridades!

MULDER: - Não quero mais falar no assunto. Você também se enganaria. Eu pensei que era o Moedinha.

SCULLY: -(IRRITADA) Sabe o que me deixa mais indignada nessa história toda?

MULDER: - (CULPADO/ CARINHA DE PIDÃO) ...

SCULLY: - Nem é o fato de ter que sair às pressas de uma aula inaugural de anatomia e deixar os alunos aborrecidos pra vir até a delegacia tirar o meu marido da cadeia!

MULDER: -(CULPADO) Scully, e-eu posso explicar...

SCULLY: - (FRUSTRADA) O que me deixa mais aborrecida nessa história toda é o fato de que o Johnny Depp fez um strip-tease e eu não estava lá pra ver isso!!!!!!!!!!

MULDER: - (INCRÉDULO) ...

SCULLY: -(ABORRECIDA) Eu nunca vejo as coisas importantes nessa droga de seriado mesmo! E o pior de tudo, ele fez um strip-tease pra você, Mulder! Porque você pediu! Ô mundinho injusto esse!

MULDER: - (IRRITADO) Cala a boca, Scully!!!!! (SÉRIO/ PRA MEGAN) E quanto a você, eu vou ter que ter uma conversa séria com o seu pai.

MEGAN: - Sou pré-adolescente, não sou criança. Qual é? Eu tenho 10 anos! Já posso paquerar!

SCULLY: - Megan, realmente precisamos conversar...


Residência dos Mulder – Virginia – 3:29 PM

Na cozinha Scully fala ao telefone. Mulder emburrado sentado na cadeira.

SCULLY: - (RINDO) Tô falando Ellen! Sim, tirou a camisa pro Mulder!

Mulder se levanta irritado.

MULDER: - Ótimo! Espalhe por aí que tenho um caso com o Johnny Depp, que ele anda tirando a roupa pra mim. (VINGATIVO) Só não esqueça de dizer que ele é a minha mulherzinha!

Barbara entra correndo pela porta dos fundos.

BARBARA: - O Alex me contou! Ai, eu não acredito que ninguém tirou uma foto ou filmou! Eu quero matar o Ratoncito por não ter me chamado!!!

MULDER: - E o que você faria pra me ajudar? Uma reportagem?

BARBARA: - Quê? Ajudar você? Eu queria era agarrar o Johnny Depp!!!

SCULLY: - Você, Ellen, eu e a população local feminina inteirinha!!!

Mulder revira os olhos, irritado e sai batendo a porta. Victoria entra na cozinha e sai pela porta dos fundos atrás de Mulder.

BARBARA: - O que deu nele?

SCULLY: - Ciúmes. Senta aí, deixa eu terminar de falar com a Ellen que conto tudo pra você!

BARBARA: - Eu vou matar o Alex, ele me paga! Pra essas coisas ele nunca me chama! Eu queria um autógrafo e uma fotinho! Talvez uma passadinha de mão... Ai, era o Johnny Depp poxa!!!

Corte.


Mulder está sentado no balanço, cabisbaixo. Victoria se aproxima, sentado-se ao lado dele.

VICTORIA: - Papai... Desculpe por essa confusão.

MULDER: - Não foi sua culpa.

VICTORIA: - De certa forma foi. Você mandou a gente ficar no carro enquanto ia ao banco. A Megan quando viu o Johnny saindo da loja, correu porta à fora enlouquecida e eu corri atrás dela. Como os seguranças dele não nos barraram, a gente se aproximou, pediu autógrafo, ele foi gentil e ainda tirou foto conosco... Ele é legal, papai.

MULDER: - É, eu sei. E ele foi legal em nem registrar queixa... Meu problema não é com ele, você sabe com quem é. Johnny Depp é o seu ídolo, Pinguinho, seu capitão Jack. Se eu visse o Elvis faria o mesmo, correria atrás sem pensar duas vezes. Nossa... Ah eu correria mesmo!

VICTORIA: -Nah! Meu ídolo é você, papai. O Johnny é ídolo da Megan. E se você visse o Elvis, desmaiaria, eu tenho certeza.

Mulder sorri e a abraça.

VICTORIA: - Podia ter confiado em mim quando eu disse que não era Lúcifer.

MULDER: - Fiquei surdo. Vi Coin ali com você e o meu sangue subiu. Temi o pior, temi que ele levaria você e eu perderia minha filha pra sempre.

VICTORIA: - Eu entendo, papai. Mas da próxima vez que algo acontecer, só confia no meu instinto, ok?

MULDER: - (RINDO DE SI) Que mico a minha filha passou na frente do ator preferido dela.

VICTORIA: - (RINDO) É, foi um mico mesmo. Mas tá perdoado.

Victoria dá um beijo em Mulder.

MULDER: - E serviu pra eu matar a charada. Ele usa a forma do Depp pra poder se aproximar de você. Porque você é fã dele.

VICTORIA: - Não adiantaria, papai. E além do mais ele já usa essa aparência antes mesmo de eu nascer. Não tem chances dele me enganar, eu sei quem é quem, com ou sem tatuagem.

MULDER: - E como pode saber? Me diz pra eu ficar mais tranquilo.

VICTORIA: - Papai, meu olfato é diferente, eu já percebi isso. Além de enxergar diferente, eu também sinto cheiros que vocês não sentem. E cada anjo exala um cheiro específico, único, só dele. Lúcifer tem um cheiro, Gabriel tem outro. Posso saber pelo cheiro quando se aproximam, há metros de distância.

MULDER: - Johnny Depp cheira a cigarro.

VICTORIA: - (RINDO) Mas estes cheiros comuns aos humanos, algumas vezes desagradáveis para vocês, não o são pra mim. E o meu alarme só aciona quando sinto cheiro de anjo por perto. Como o Cookie reconhece as pessoas? Ele tem faro apurado. Eu também. É assim que reconhecemos quem se aproxima. Gabriel tem cheiro de jasmim. Miguel tem cheiro de sálvia. E eu não sinto o cheiro das pessoas ao longe, eu só sinto quando estão perto. É diferente do cheiro dos anjos. Esse cheiro chega antes mesmo deles chegarem.

MULDER: - (INCRÉDULO) Sálvia? Miguel cheira a sálvia?

VICTORIA: - É. Aquele tempero, sabe? Aquela coisa que a Baba usa pra limpar lugares ruins.

MULDER: - (RINDO) Faz sentido... Esse conhecimento deve ter sido perdido no tempo, mas se manteve como um costume, mesmo que as pessoas não saibam o fundamento, elas ainda usam sálvia para expurgar espíritos e demônios. Eu perguntava pra Baba qual o sentido de queimar um chumaço de sálvia, da onde surgiu essa ideia, nem ela sabia me responder, só dizia que era costume dos antigos e sempre funcionou. Limpa qualquer ambiente.

VICTORIA: - Interessante... Será que eles pensam que é Miguel chegando e caem fora na mesma hora?

MULDER: - É a explicação mais plausível que encontro agora, depois dessa sua revelação.E o cheiro de Lúcifer, por acaso é enxofre?

VICTORIA: - (RINDO) Nah! De onde tirou isso? Da literatura? Ai papai, desconfia da literatura humana sobre o paranormal, seja a mamãe nesse aspecto, porque as pessoas inventam muita coisa. Lúcifer não fede. Ele tem perfume estranho... Não sei bem o que é, mas cheira bem, não é ruim não.

MULDER: - Deve ser por isso que as pessoas se sentem atraídas pelo maldoso, ele não tem cheiro de perigo. (SORRI)Eu lembro que quando você nasceu e durante a sua infância, nas vezes que eu sentia a presença do seu espírito por perto e mesmo ainda hoje... Eu sinto cheiro de rosas. A minha filha tem um perfume suave e doce de rosas, eu reconheço o cheirinho da alma dela até de olhos fechados.

VICTORIA: - (SORRI) Devia ter me batizado de Victoria Rose.

MULDER: - (SORRI) Faria sentido. E a sua mãe nunca entendeu porque eu digo que ela tem cheiro de canela, mas eu sinto esse cheiro nela desde que a conheci. É o cheiro da alma da Scully.

VICTORIA: - (SORRI) Ela tem cheirinho de canela mesmo. Um cheirinho gostoso que faz a gente querer estar pertinho dela, né? Dá uma segurança... Masvocê pode sentir o cheiro dos anjos se você se concentrar, eu tenho certeza.

Mulder cheira o cangote dela e ela começa a rir.

MULDER: - Ah meu cheirinho de rosas...

Baba vem correndo pelo jardim, esbaforida, segurando um tabloide. Mulder solta Victoria.

MULDER: - Onde foi o incêndio?

BABA: - (OFEGANTE) Você não vai acreditar! Você tem que ir pra Nevada agora! Tá acontecendo coisas esquisitas por lá! Esse caso é digno de um livro, Mulder!

MULDER: - Que tipo de coisas esquisitas?

BABA: - Elvis tomou chá com uma senhora de 70 anos e Michael Jackson estava fazendo o moonwalker em frente a um cyber café!

MULDER: - Do que está falando, mucama?

BABA: - Seu judeu burro! Olha aqui, tá nesse tabloide!

MULDER: - E desde quando eu acredito em tabloides?

Scully se aproxima.

SCULLY: - Desde que estava no porão do FBI?

MULDER: - Eu não vou. Estou cansado de cópias e originais por hoje. Já não sei mais diferenciar quem é quem. Cansei de clones!

BABA: - Tem coisa aqui, eu tô falando! Acredita! Eles foram vistos em Nevada. Eu disse, eu sempre disse que o Michael tinha forjado a morte dele! Aquela cena do helicóptero... E o Elvis? Ele cansou daquilo tudo e...

Victoria abaixa a cabeça, segurando um riso debochado de Dana Scully.

MULDER: - Desce daí, mulher! Eram sósias fazendo shows em cassinos de Las Vegas.

BABA: - Não estavam em Las Vegas. Eles estavam há vinte quilômetros de Dreamland. Captou?

Mulder se levanta do balanço. Olha pra Scully.

MULDER: - Quem quiser tomar um avião pra Nevada arrume as malas que eu vou reservar as passagens, vou ver se consigo ainda pra hoje.

SCULLY: - E vou deixar as crianças com quem? A Megan está aqui e...

MULDER: - Leva junto. O pai dela não liga pra filha mesmo!

SCULLY: - Eu não posso! Esqueceu que a Angela foi passar o final de semana num retiro da igreja e deixou o Darius sob minha responsabilidade? Eu tenho quatro crianças dentro de casa. Impossível!

MULDER: - Leva o Darius e a Megan junto. Eu tô indo, com ou sem você. (ABORRECIDO) A não ser que esteja arrumando desculpas pra ficar e ligar pro Krycek passar o telefone do Johnny Depp e reivindicar seu strip-tease particular. Mas aviso, ele não é quente!

Mulder entra em casa.

BABA: - (EMPOLGADA) Johnny Depp fazendo strip-tease? Onde mulher? É algum filme novo? Revista? Ele aparece peladão? Como que Johnny Depp não é quente?

VICTORIA: - (INDIGNADA) Deus me livre das fãs do Johnny Depp!!!!!!!!

Victoria vai atrás de Mulder.

SCULLY: - (DEBOCHADA) E lá vai a cópia de Fox Mulder enxugar as mágoas do pai...

BABA: - Eu fico com os moleques pra você.

SCULLY: - Baba, agradeço sua oferta. Mas não estou apenas com os meus filhos. Estou com outras duas crianças, que por sinal estão na mira do governo também. Entendeu? E já incomodei a Barbara e o Krycek demais na semana passada. Acho abuso. Eles já tem dois pra ficarem loucos, imagina deixar mais quatro? Seis crianças dentro de casa? A Barbara e o Krycek vão surtar!

BABA: - Bom, Krycek teria um time pra treinar!

SCULLY: -Vou ligar pra Angela e avisar que vou levar o filho dela junto...

Barbara se aproxima com Dimi no colo.

BARBARA: - Scully, eu não quero abusar da sua ajuda, mas tem como você ficar com o Dimi hoje? Alex vai trabalhar a noite toda como sempre e eu vou ter que fazer uma reportagem, posso levar a Svetlana, mas dois não dá.

Baba abaixa a cabeça, rindo.


4:37 PM

Na sala, Mulder com as mãos na cintura observando debochado. Bryan e Dimi brincando com carrinhos. Victoria, Megan e Darius, sentados no chão e jogando um jogo de tabuleiro. Mulder vai pra cozinha. Scully sentada à mesa, tomando café.

MULDER: - Ok. Hoje você está em casa porque precisou sair da universidade por minha causa. O resto da semana sou eu quem fica em casa o dia inteiro. A dona de casa aqui sou eu.

SCULLY: - E...?

MULDER: - Impressão minha ou estou no filme "A Creche do Papai"? Só está faltando a Julie hoje, porque a Susanne colocou ela de castigo por ter estragado o computador do Langly.

Scully segura o riso.

MULDER: - Todo mundo pede pra você cuidar das crianças, mas quem fica em casa com elas sou eu. Você trabalha fora.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não tá gostando da casa cheia? Afoga todos na piscina!

MULDER: -Quem disse que não gosto deles? São ótimas companhias, fazem a tarde passar rápida e sem tédio, e ao contrário do que vocês pensam, não incomodam e nem brigam, exceto quando o nosso Irlandês resolve brincar de cuspir ou atirar pedras causando revolta coletiva no grupo. Estou dizendo que sempre sou eu quem banca a babá. Estou pensando em criar uma creche e cobrar 500 dólares por cabeça. Vou ganhar mais que sendo detetive, psicólogo, escritor... E nem preciso entender nada de pedagogia. Acho que com o meu currículo, ninguém vai reclamar: Venha para a Creche X, deixe seus monstrinhos e capetinhas por aqui.

Scully abaixa a cabeça, rindo. Depois olha orgulhosa e apaixonada pra ele.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você tá adorando, né? Admita, Scully! Eu vivia cercado de fantasmas, monstros, vampiros, alienígenas... Agora vivo cercado de monstrinhos, fraldas, mamadeiras, lanchinhos da tarde e deveres de casa, fora a vassoura, fogão e roupa suja. Não demora e estarei ouvindo rádio, com um lenço amarrado na cabeça enquanto faço faxina e chorando nas novelas da tarde!

SCULLY: - Eu amo crianças, Mulder. Deus me deu apenas dois filhos, mas me trouxe muitos outros. Eu não sei, eles adoram vir pra cá, mesmo quando as mães não pedem. E não acho que seja por minha causa, é por causa do tio Mulder que cai junto na bagunça. E eu amo ver você aí bancando a minha esposa.

MULDER: -Você vai ver esposa. Só até a hora de você deitar naquela cama, aí acaba a sua esposa e começa o seu marido.

SCULLY: - Você só fala, Mulder. Chega de noite e cai cansado na cama, dorme de boca aberta e babando o travesseiro, exausto. Hoje não, Scully, estou com dor de cabeça. Hoje não, estou com dor nas costas, passei o dia fazendo faxina. Ou fica falando de tudo o que você e as crianças fizeram durante o dia até cair no sono, quando não me conta os babados todos da vizinhança!

MULDER: - Eu? Pode parar, você e o Rato estão de sacanagem comigo! Aquele safado fica me atirando beijo do outro lado da rua e rindo da minha cara! Teve a coragem de me mandar um avental cor de rosa cheio de babados e com um bordado escrito: "Eu sou a senhora Scully". E por falar em Rato, o que o Elvis tá fazendo aqui?

SCULLY: - Barbara precisou ir trabalhar. Não dava pra levar duas crianças e Svetlana ainda mama e não fica longe dela. Dimi já se acostumou conosco.

MULDER: - Tem certeza que é por isso mesmo? Aqueles dois andam parecendo dois coelhos! Querem fazer concorrência com a gente? Era só o que me faltava!

SCULLY: - (RINDO) Mulder!!!

Mulder segura o riso e serve café.

MULDER: - Geralmente o sexo esfria com o tempo de casamento, mas ali a coisa apimentou de vez! Fora o resto que eu não sei, porque vocês duas vivem de risadinhas e cochichos pelos cantos, maquinando taras sexuais perversas para porem em prática com seus maridos, as pobres vítimas.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Sei, pobre vítima das minhas taras. Você acha mesmo que Barbara e eu passamos horas falando sobre vocês dois? Ora, Mulder, vocês não são os últimos biscoitos do pacote! Nós temos outros assuntos.

MULDER: - Acha que sou idiota, Dana Scully? Há um troca-troca de crianças aqui que coincide com as noites que eles ou nós resolvemos nossas pendências sexuais.

SCULLY: -(RINDO) Não se meta em assuntos de mulheres, Mulder. O máximo que pode é pedir receitas ou dicas de limpeza pra Barbara. De resto, desista. Você nunca vai entrar no clube das donas de casa.

MULDER: - Ah, acha mesmo? Você vai ver, mulher! Uma hora dessas você chega em casa e estarei aqui oferecendo chá da tarde para as minhas colegas da vizinhança enquanto tricotamos meias! Nós, donas de casa, temos muito a falar sobre filhos e casamento, além de trocar receitas e dicas de limpeza.

SCULLY: - Mulder, como você é fofoqueiro, sabia? Você quer tirar segredos do Krycek, usando a Barbara pra isso, com o intuito de sacanear o Krycek na primeira chance que tiver. Olha que o feitiço pode virar contra o feiticeiro, sabia?

MULDER: - Aquele Rato não tá com toda essa bola não!

SCULLY: - Hum... Será?

MULDER: - (PÂNICO) ... Mais que eu?

SCULLY: - (SORRI ENIGMÁTICA) ...

MULDER: - (IRRITADO) Eu não sei que figurinhas vocês duas andam trocando, mas o que ele faz eu faço melhor, ok? O que você quer, mulher? Hum? Uma noite de fetiches? Posso me vestir do que quiser e até usar suas calcinhas!

SCULLY: -Deixa as minhas calcinhas em paz, Mulder! Vocês dois não cansam de ficar se digladiando? Ahn? Quando eram inimigos viviam brigando, agora que são amigos vivem provocando brigas!

MULDER: - Mas foi ele quem começou! Quem veio com a coisa do avental cor de rosa? Ahn? E hoje com o Johnny Depp? Aquele Rato anda pedindo, aliás, ele tá implorando por um revide! Só que ele vai esperar, eu vou investigar um Arquivo X primeiro.

SCULLY: - Mulder, você não tirou isso da cabeça ainda? Você vai se quiser, eu não posso. Não podemos levar cinco crianças! É uma investigação, não é um passeio da escola! Não sabemos o que podemos encontrar por lá e...

MULDER: - (PIDÃO) O Elvis Presley? Ele não é perigo pra ninguém, Scully! Quem sabe pode ser um passeio da creche, regado ao bom e velho rock'n roll?

SCULLY: - Não. Mulder, você pode ir sozinho.

MULDER: -(PIDÃO) É que... Sem você não tem graça. Quem vai discordar das minhas teorias? E... Vou lavar as orelhinhas de quem, entre uma investigação e outra, ahn? Scully, eu tô sofrendo!

Scully se levanta e se aproxima dele. Ajeita a camisa de Mulder.

SCULLY: - (SORRI) Você lava minhas orelhinhas quando voltar. E me liga para eu discordar das suas teorias à distância, já fizemos tantas vezes isso, não? Eu fico feliz que ainda me estimule a ser sua parceira em investigações, Mulder. Mas hoje não tem como. Fica para a próxima. Admito, também sinto falta de investigar um bom Arquivo X.

MULDER: - (PIDÃO)Scully, você vai tomar conta deles enquanto eu investigo, não é? Podia fazer isso em Nevada. Assim eu não gastaria telefone pra trocar teorias com você, hum?

Scully começa a rir.


7:16 PM

Megan e Victoria no sofá lendo revistas de cinema entre risadinhas. Darius, triste, sentado na poltrona com os fones do mp3 player no ouvido. Bryan e Dimi brincando com carrinhos numa pista de Hot Wheels.

MEGAN: - E da Saga Crepúsculo?

VICTORIA: - Eu prefiro o Edward Cullen.

MEGAN: - Nunca Tory, tá louca? Taylor Lautner é o mais lindo! Ai, ele é tudo! Quando vejo o Jacob, oh, chega me dar arrepios!!! O Pattinson é muito branquela!

VICTORIA: - Ele tem que ser, é um vampiro, oras!

MEGAN: - O Jacob... Nossa, Jacob é miau-miau!

Scully entra na sala trazendo uma bandeja com refrigerantes e pipocas.

SCULLY: - (RINDO) Quem é miau-miau? E o que é miau-miau?

VICTORIA: - A mesma coisa que o "gato" do seu tempo.

MEGAN: - Estamos falando do Jacob, de Crepúsculo.

SCULLY: - Sinceramente? Edward Cullen. Prefiro vampiros a lobisomens. São mais sensuais.

VICTORIA: - (SORRI) Mamãe, numa coisa concordamos: Nós duas temos o mesmo gosto pra meninos!

SCULLY: - Brigaram com o Darius? Ele está tão triste, alheio com aqueles fones...

MEGAN: - Ele tá chateado porque já faz mais de dois anos que o Michael Jackson morreu.

VICTORIA: - Michael sempre foi a inspiração do Darius pra dançar.

Scully vai até Darius. Coloca as pipocas na frente dele. Ele sai da sua concentração e tira os fones, sorrindo.

DARIUS: - Obrigada, tia Scully.

Mulder desce as escadas, aborrecido.

MULDER: - Nenhuma companhia aérea tem passagens disponíveis pra Nevada. Hoje é véspera de Ação de Graças, vai dar feriadão e todos os aposentados do país resolveram gastar as economias em cassinos de Las Vegas. Malditos jogadores, vou ter que entrar em lista de espera!

MEGAN: - O que vai fazer em Nevada, pai Mulder?

MULDER: - Um caso pra resolver. E o que vou fazer com vocês?

SCULLY: - Angela disse que não tem problema algum levarmos Darius pra Nevada. Barbara também não se importa. Mas e o pai de Megan?

MEGAN: - O que tem ele? Sabe aonde meu pai está? Na Suíça, reunido com amigos e planejando aquela droga de Fórum Econômico Mundial! Sabe quando me liga? Nunca! Nem vai notar se eu estou aqui ou na Coréia. E eu posso resolver o seu problema, pai Mulder. Tenho um jatinho.

MULDER: - Não perdi meu juízo ainda pra arrumar confusão com o Robinson. Vai me acusar de roubo de avião e sequestro da filha dele.

MEGAN: - Eu tô falando do meu jatinho. O jatinho do meu pai tá com ele.

Scully olha pra Mulder, boquiaberta.

MEGAN: - Me deu de presente de aniversário, pra quando eu quiser ir pra Disney. Assim fica mais fácil me despachar sem ter que ir junto.

DARIUS: - (INDIGNADO) É, e eu nem tenho a minha própria bicicleta! Queria que meu pai me despachasse desse jeito!

MEGAN: - Sério? Eu compro uma pra você.

SCULLY: - Megan, não podemos fazer isso. Vocês são crianças, não entendem de responsabilidade. Adultos não podem simplesmente...

MULDER: - (EMPOLGADO) Megan, seu pai saberia que você usou o jatinho?

SCULLY: - (BRAVA) Mulder!!!!!!!!

MEGAN: - Lógico que não. Se a babá não souber de nada. E ela não sabe, porque estou aqui com vocês... É Ação de Graças, lembra? Muito que eu me ligo nisso, nasci na Coréia, nem entendo a cultura de vocês!

DARIUS: - Dois! Pra que serve esse feriado, alguém me explica?

VICTORIA: - Ele se originou dos costumes dos peregrinos que vieram da Inglaterra pra cá, como uma forma de expressar gratidão por uma colheita abundante. E não questione esse dia diante de americanos ou canadenses, eles vão ficar muito ofendidos, me acredite.

Scully puxa Mulder pra cozinha.

SCULLY: -Mulder, você surtou? Ahn? Quer ensinar as crianças a mentirem? Megan acaba de confessar que está mentindo pra poder vir aqui em casa e não estou gostando disso!

MULDER: - Não quero ensinar as crianças a mentir. Mas quero ver o Elvis. (PIDÃO) Scully, eu tenho que saber!

SCULLY: - Mulder, é Ação de Graças! Lembra? Família? Amor? União?

MULDER: - (PIDÃO) Mas vamos todos juntos... Ver o Elvis. Hum? Quer algo mais família, amor e união que o Elvis?

SCULLY: - E a Meg? O Bill...

MULDER: -Ah entendi, não são as crianças, é que vamos ter feriado com os Scullys! Não, esse ano não! Não vou passar Ação de Graças com a sua família esse ano. Não vamos pra Nova Jersey, pra maldita casa do Bill aguentar o maldito Bill! Aquele infeliz invejoso que vai chegar aos dez filhos tentando competir comigo só pra dar uma neta pra sua mãe. E não há de conseguir! (BATE NO PEITO) Só eu acertei o tiro!

SCULLY: - (INDIGNADA) Ei, não fale assim do meu irmão, ok? (BATE NO PEITO) E quem "acertou o tiro" fui eu, lembra? E não vai ser em Nova Jersey, será aqui na casa da mamãe. E a Tara tá tentando engravidar porque quer, e só chegaram aos quatro filhos. Ou vou começar a falar da sua irmãzinha "querida" que desde que agarrou o Donald, nunca mais veio aqui e está pouco se lixando pra você que passou sua vida inteira atrás dela!

MULDER: - Ahá! Estamos brincando de nos magoar é isso?

SCULLY: - As crianças precisam conviver com os primos, Mulder!

MULDER: - Certo, então vamos ver... Somos uma família, não? Vamos decidir juntos.

Mulder volta pra sala. Scully atrás dele.

MULDER: - Victoria e Bryan, votação de família. Quem prefere passar o feriado de Ação de Graças com o tio Bill levanta a mão.

Victoria e Bryan trocam olhares fazendo uma cara de desprezo.

MULDER: - Quem prefere ir pra Nevada?

Victoria e Bryan levantam as mãos num sorriso de orelha a orelha. Scully volta pra cozinha, indignada.


BLOCO 2:

Mulder entra na cozinha.

MULDER: - Viu? Nem seus filhos aguentam!

SCULLY: - Você fez a cabeça deles, Mulder!

MULDER: - Eu? Eu não fiz nada! Não tenho culpa que eles nasceram mais Mulder que Scully. Nem o seu irlandês puxa-saco aceitou essa bronca por você!

Scully pega o pano de prato e vai pra pia.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully... Você tem sérios problemas com perus. Lembra do natal? Mas se o seu problema é comer um peru, eu resolvo rapidinho...

Scully acerta o pano de prato em Mulder.

MULDER: - (PIDÃO) Au!

SCULLY: - Seu cafajeste! Você não vale nada, Fox Mulder! Nada mesmo! Chega de piadas de perus! Aliás, você me deve um peru, já que deu o meu peru para um bando de bolas de neve alienígenas devorarem!

MULDER: - (PIDÃO/ IMITANDO O ELVIS) ... Don't be cruel... To a heart that's true...

SCULLY: - Impressão minha ou você virou um adolescente desde que a Baba chegou com aquele jornal?

MULDER: - Eu? Foi você quem começou com o Johnny Depp!

SCULLY: - Prefiro o Bryan Adams.

MULDER: - Oh, tá vendo?

SCULLY: - Desista Mulder. Não vou concordar com isso. Sem Elvis, sem Michael Jackson!

Darius entra na cozinha com a tigela de pipocas.

DARIUS: -(EMPOLGADO) Michael Jackson? É isso o que vocês vão investigar?

Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Pronto! Juntou a fome e a vontade de comer!

DARIUS: - (IMPLORANDO) Por favor, tia Scully! Deixa a gente ir pra Nevada, por favor!!!!!!!

MULDER: - (IMPLORANDO) Por favor, "tia" Scully é só um pobre garotinho implorando pra ir ver o Michael Jackson!

SCULLY: - E outro pobre garotinho implorando pra ver o Elvis. Crianças, o Michael Jackson e o Elvis Presley morreram!

DARIUS: - Quem pode saber?

MULDER: - Exato. Quem pode saber?

DARIUS: - Pra mim, ele estava cansado demais da história de Neverland.

MULDER: - E pra mim, ele estava cansado demais da vida em Graceland.

Scully ergue as mãos, suspirando.

SCULLY: - Ok, ok! Lavo minhas mãos. Mulder, você vai se responsabilizar por esse ato completamente insano enquanto tento explicar pra minha mãe que não vamos passar o Dia de Ação de Graças com nossa família porque você decidiu passar com o Elvis Presley e o Michael Jackson!

Mulder sai correndo pra sala e Darius atrás dele. Os dois empolgados.

MULDER: - Meninas, juntem suas tralhas. Megan, empresta mesmo o seu jatinho?

MEGAN: - Mas é claro. Vou ligar agora pro piloto. Temos bastante tempo pra arrumar as malas.

DARIUS: - Vamos Megan, larga essa revista! Michael Jackson nos espera!!!!! Vamos lá em casa, tenho que fazer minha mala! Yes!!! Yes!!!!!!!!

Darius sai porta à fora puxando Megan. Mulder sobe as escadas correndo.

MULDER: - Yhaaaaaaaaaaaa!!!! Elvis me espera!!!!

Scully e Victoria se entreolham.

SCULLY: - E aí, Docinho, o que pensa em fazer por Nevada enquanto as crianças se divertem?

VICTORIA: - Que tal um passeio pelo deserto, subir alguma montanha e ver a natureza?

SCULLY: - Vou levar meus tênis. Leve os seus. Acho que vamos ficar entediadas. E me faz um favor? Seu pai e eu temos que fazer algumas contas por causa da viagem. Você dá uma olhadinha no Bryan e no Dimi?

VICTORIA: - (FINGINDO SERIEDADE) Tá, eu fico com eles. Não se preocupe, vão fazer as contas. Ninguém vai incomodar, afinal dinheiro é dinheiro.

Scully sobe as escadas.

VICTORIA: -(RINDO) Vão fazer as contas... Humhum...

Victoria olha pra Bryan e Dimi, entretidos nos carrinhos. Bryan, num sorriso sacana, acerta um carrinho na cabeça de Dimi, que magoado, pega outro e ergue pra atirar.

VICTORIA: - Ei garotos!!!! Que tal largarem esses carrinhos um pouco pra gente ir brincar de bola no quintal? O último que chegar lá é um bobalhão!!!

Bryan sai correndo, Dimi tenta alcançá-lo. Victoria vai atrás deles.


8:24 PM

[Som: Elvis Presley - Suspicious Minds]

Scully tranca a porta do quarto. Entra no banheiro, tirando a calcinha por baixo do vestido, e num ar devasso a gira nos dedos.

SCULLY: - (CANTANDO) And we can't build our dreams... On suspicious minds... Uma das minhas favoritas.

Mulder faz a barba, vestido só com a toalha, fingindo ignorá-la. O celular sobre o balcão tocando Elvis.

MULDER: - ... Você acaba com qualquer romantismo, sua devassa.

SCULLY: - Sou uma menina muito má... Então, acha que é um Arquivo X com o Elvis Presley?

MULDER: - ... Eu não faço ideia, mas se tem Arquivo X e tem Elvis, tem meu nome! O avião sai às dez. Espero que esteja pronta.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Ainda tá furioso pelo Johnny Depp?

MULDER: - Ele que se exploda!

SCULLY: - Brad Pitt pode?

MULDER: - Vai ficar me provocando?

SCULLY: - Robert Pattinson... Ele é gostoso.

MULDER: - Você tá velha demais pra ele.

SCULLY: - Será?

Mulder chuta a porta do banheiro, a fechando. Agarra Scully pelos pulsos e a empurra contra a parede. Scully se agarra nele, envolvendo as pernas na cintura de Mulder e as mãos em seus cabelos. A toalha de Mulder cai ao chão. Trocam um beijo intenso e lascivo. Ele desce os lábios pelo pescoço dela.

MULDER: - (MURMURA) Diz que prefere o Johnny Depp.

SCULLY: - Hummmm... Mulder... Ele não tem o seu sex appeal, o seu corpo maravilhoso...

MULDER: - (EXCITADO) Fala mais, fala... Eu sabia que o seu problema com o Dia de Ação de Graças era a falta de peru. E você adora um peru, Scully... E eu tenho andado cansado, não estou dando conta do seu fogo.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, seu pervertido!

MULDER: - (OFEGANTE) Duas semanas... Duas semanas que eu não toco em você e não é por falta de vontade... É por excesso de trabalho doméstico.

SCULLY: - (RINDO)Você tá se saindo melhor do que eu, Mulder. Você é a melhor esposa do mundo!

MULDER: - (DEBOCHADO) E você é o melhor marido do mundo, chega em casa e não reclama de nada! Scully, temos cinco crianças lá embaixo, entre elas um filhote de raposa e um filhote de rato, e sabemos que isso nunca termina sem um chute, um soco ou uma cuspida na cara, dedo no olho ou pedrada na cabeça e "mamãe, mamãe"!!!! Acho que não vai rolar.Se o Dimi aparecer com um arranhão, o Krycek nem vai perguntar nada, vai chegar atirando!

SCULLY: - (SORRI) As crianças estão entretidas com a Victoria, sabe que nossa filha consegue segurar o pestinha do irmão e o Dimi não revida se não for provocado. Relaxa, Mulder. Eu disse para não perturbarem porque nós dois vamos fazer contas.

MULDER: - (RINDO) Depósito a curto, médio ou longo prazo?

SCULLY: - Longo prazo...

MULDER: - Conta corrente ou poupança?

SCULLY: - (RINDO) Vamos de conta corrente. Precisa de muito tempo e paciência para outras aplicações...

MULDER: - Scully, tem certeza de que não somos tarados?

SCULLY: - Não, mas que eu adoro isso, ah, eu adoro!

MULDER: - (RINDO) ... Não faz barulho...

SCULLY: - (RINDO) Eu não faço barulho!

MULDER: - (RINDO) Faz sim, sua espalhafatosa. Sexo com você é barulho na certa.

Mulder se coloca dentro dela, Scully morde os lábios.

SCULLY: - Eu quero gritar!... Hum, Mulder... Mulder... Eu vou gritar!!!

Mulder estende a mão e pega a toalha de rosto.

MULDER: - (RINDO) Oh, morde a toalha...


10:00 PM

Dentro do jatinho, Scully afivela o cinto de segurança em Dimi, sentado ao lado da janela. Bryan sentado em frente, tentando abrir o cinto já fechado.

SCULLY: - Bryan, por favor! Não pode ficar sem o cinto de segurança! Tem que ficar sentadinho!

BRYAN: - "Num quero"!

SCULLY: - Não tem querer! É regra de segurança e regras não são quebradas.

DIMI: - Não pode, dinda?

SCULLY: - Não, não pode.

DIMI: - "Tendeu, Baian"? Num pode!

SCULLY: - Minha nossa, preciso saber como a Barbara consegue colocar o filho dela na linha, porque o meu já é caso perdido! Estou começando a acreditar que é a genética mesmo.

Mulder senta-se no banco, ao lado de Bryan.

MULDER: - (DEBOCHADO)Arrependida da minha genética? Acha a do Rato mais interessante?

SCULLY: - Nem vou responder, Mulder. Só confesso que Dimi se parece com o Krycek mesmo, sabe se comportar e não arruma confusão, exceto se tiver um Mulder por perto provocando.

MULDER: - Não culpe a minha genética, o Irlandês é um Scully completo. Culpe a sua.

SCULLY: - Não mesmo! Não no quesito vamos irritar um rato! Nisso ele saiu você por completo!

MULDER: - Certo, pirralhada. Eu quero silêncio e se houver um desentendimento, eu atiro os dois capirotinhos pela janela do avião. Fui claro?

Dimi olha assustado. Bryan faz careta. Scully, segurando o riso, senta-se ao lado de Dimi.

MULDER: - Estão vendo a Megan e o Darius ali? Estão conversando com Victoria, ouvindo música, sendo gente civilizada. E eu sou pai de gente civilizada, entendeu Bryan? Não é pra bater, cuspir, beliscar, socar ou atirar coisas na cabeça do Dimi. Um Mulder nunca briga com um Krycek...

Scully ergue a sobrancelha, olhando debochada pra Mulder.

MULDER: - E tem mais: se você bater no seu amigo, eu não vou mais deixar o Dimi vir brincar com você. Qual é o seu problema, filho? Certo, eu até entendo que existe uma vontade inerente dentro de um Mulder de socar um Krycek até ele cuspir sangue, porque isso dá um certo prazer inexplicável, eu sei e...

SCULLY: - Mulder!!!

MULDER: - Mas esse Krycek aí não fez por merecer, ok? E se você aprontar com o Dimi, eu vou contar tudo para o pai dele. E aí você vai ver o que é um Krycek bravo. E ele não vai aliviar só porque é seu padrinho. Vai deixar de jogar futebol com você, pode apostar! E vai levar você pra cadeia. Preso, numa viatura, com direito a sirene ligada. E aí você vai para a prisão e sua mãe e eu só vamos poder visitar você uma vez por mês.

Bryan arregala os olhos. Mulder se inclina pra frente, Scully se inclina também.

MULDER: - (COCHICHA) Acha que fui convincente?

SCULLY: - (COCHICHA) Eu acho que Krycek consegue impor respeito, coisa que você não consegue. Mas vamos ver por quanto tempo o Bryan vai acreditar nisso.

MULDER: - (COCHICHA) Também pudera, ele está sempre com aquela cara amarrada e séria, que criança não ficaria assustada? Lembra do Velho do Saco? Está ultrapassado! É só ameaçar com o Velho Krycek, comunista e comedor de criancinha.

SCULLY: - Mulder, por favor!!!

MULDER: - Ok, eu vou dar um dólar pra cada pato que passar voando na janela. Agora fiquem vidrados na janela se quiserem ganhar dinheiro. Contem os patos que passarem.

Os dois viram os rostinhos pra janela, curiosos.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Patos? Em altitude de cruzeiro, Mulder?

MULDER: - Scully, deixa de ser chata, não estraga a brincadeira.

SCULLY: - Isso é golpe, Mulder. Eles nunca vão ganhar um tostão!

MULDER: - Ah! Dois dólares se virem um disco voador! Pago cinco se o extraterrestre der um tchauzinho!

Dimi e Bryan se empolgam, sem desviar os olhos das janelas.

SCULLY: - Acho que sou a única adulta nesse avião, levando um bando de crianças pra Nevada pra ir atrás de aparições do Elvis e do Michael Jackson, enquanto deveria estar preparando o Dia de Ação de Graças com a minha família...

MULDER: - Ainda tá reclamando do peru, mulher?

SCULLY: - Mulder, eu juro que ainda vou socar você por causa desse peru!

MULDER: - E eu vou comprar um estoque de peru pra você comer peru até enjoar. Ou prefere que eu soque peru até...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Estou procurando patos e alienígenas na janela e você está atrapalhando a minha concentração.


Motel Silver State – Quarto 6 – Nevada - 2:01 AM

Victoria, Megan e Darius, cada um sentado numa cama. Mulder olha com desconfiança para os três. Darius vestido de Michael Jackson, ajeita o chapéu.

MULDER: - Posso confiar que vão se comportar?

VICTORIA: - E o que faríamos? Fugir e ir pra Las Vegas apostar nossas miseráveis mesadas? Lógico, com exceção da mesada da Megan.

MULDER: - (DEBOCHADO) Isso é algum tipo de protesto, Pinguinho?

VICTORIA: - (RINDO) Não, apenas uma constatação.

MULDER: - Ok, eu vou pensar no assunto. E não saiam do quarto durante a noite.

MEGAN: - E se precisarmos de um lanche, pai?

MULDER: - São duas da manhã. Vocês já lancharam. Tem refrigerante e água aí. Se não forem dormir, amanhã não poderão conhecer o lugar.

DARIUS: - Não vou deixar elas saírem, tio Mulder.

MULDER: - Tá bom, "Mr. Jackson", tome conta das suas amigas. Vou deixar a chave com vocês. Eu tenho sono leve, ok? Tranquem essa porta e não abram pra ninguém.

Eles afirmam com a cabeça, bem comportados.

VICTORIA: - Eu preciso pedir uma coisa pra você.

MULDER: - Peça.

VICTORIA: - (IMPLORANDO) Papaizinho, me deixe participar das suas investigações. Tenho fome de conhecimento! Você precisa da verdade. Eu posso dar a verdade pra você, mas eu preciso conhecer o que tem por aí, pra saber onde me encaixo, e isso, só o seu trabalho pode me dar. Hum?

MULDER: - Já falamos sobre isso, Pinguinho. Eu faço coisas que são perigosas... E sua mãe não quer que eu envolva mais você nas investigações...

VICTORIA: - Está ficando sem parceira, Mulder. Sabe que mamãe está pulando fora. É pegar ou largar. Melhor de tudo: eu trabalho por doces e não vou contestar suas teorias paranormais com teorias científicas.

MULDER: - Vou falar com sua mãe. E você já sabe a resposta dela.

VICTORIA: - Isso só vai me atrasar, mas não vai evitar o inevitável. Você sabe disso... Se não me der, vou buscar fora. Isso foi bem Scullyano...

Mulder sai fechando a porta e rindo. Os três trocam olhares entre si. Megan espia pela janela.

MEGAN: - Seu pai já foi. Agora solta a bomba, Tory.

Darius se atira em sua cama, com uma lata de refrigerante. Abre o refrigerante, observando curioso pra Victoria que se senta sobre as pernas, se preparando pra falar alguma coisa. Megan deita-se do lado da amiga.

VICTORIA: - Seguinte, galera. Quando eu disse que tinha que falar com vocês em particular é porque tem uma coisa acontecendo que eu acho que vocês tem que saber. E eu não posso falar isso com o meu pai. Não agora. Ele já tem coisas demais na cabeça e eu não quero que fique se preocupando comigo. Por isso já passou da hora de eu começar a me envolver nessas coisas que ele investiga.

DARIUS: - É tão grave assim?

VICTORIA: - Lúcifer está me rondando já faz bastante tempo.

Darius se engasga. Megan levanta-se e bate nas costas dele.

DARIUS: - Quê? E você ainda não quer falar pro seu pai sobre isso?

VICTORIA: - Ainda não. Quero saber se ele está rondando vocês.

DARIUS: - Como é que eu vou saber? Deus me livre, eu rezo todos os dias, maninha! Minha família é evangélica, quero aquela coisa longe de mim!

VICTORIA: - E você, Megan?

MEGAN: - Eu? Não sei Tory, nem sei se acredito nisso... Quer dizer, acredito porque você me diz que vê. Eu não me ligo muito nessas coisas... Não sei nada disso. Nem tenho religião.

DARIUS: - Já perguntou pro Kevin? Pro Chad?

VICTORIA: - Já. Nem Kevin, nem Chad perceberam nada. Droga, eu vejo Lúcifer, vocês não veem. Como vão saber?

MEGAN: - Tá, mas... Por que quer saber disso? Acha que a gente tá em perigo? Os cinco?

VICTORIA: - Eu não tenho provas de que estão em perigo, porque vocês não podem me confirmar se ele está observando vocês também. Mas se ele está apenas me observando, aí vou ter que realmente aceitar o que não quero.

DARIUS: - Bota pra fora, chega de suspense. Eu tô arrepiado só de ouvir, cara!

VICTORIA: - Cresci ouvindo as teorias do meu pai. Vocês sabem disso. Me disseram que sou metade humana, metade anjo, os próprios anjos tomavam conta de mim. Mas agora, não sei mais o que sou. Se Lúcifer não sabe, como eu vou saber?

DARIUS: - (SURPRESO) Como assim Lúcifer não sabe?

VICTORIA: - Quando aquele Davis me sequestrou, Lúcifer me salvou. E me tocou pra ver se eu era real, se eu era humana, me cheirou pra ver se eu tinha alguma coisa de anjo.

MEGAN: - Salvou você? Mas ele é o diabo! Ele só faz maldade.

VICTORIA: - Eu sei e também não entendo porque ele fez aquilo. Por bondade não foi.

DARIUS: - Minha nossa, eu detestaria o chifrudo no meu cangote!

VICTORIA: - Ele não tem chifres, Darius. Nem tridente, nem essas besteiras todas que inventam. Ele é igual a nós.

MEGAN: - Tá, ele tocou você, e aí?

VICTORIA: - Ele disse algo que não tiro da cabeça: "Tem cheiro de anjo, mas o que você é?" Foi assim que descobri que tenho cheiro de anjo. Ele deve ter visto algo que não vi em mim ainda, e age desconfiado, sempre me observando como se me estudasse, sem entender o que vê, tá ligado? Eu o estudo também, mas não posso ler o que ele pensa, porque ele me bloqueia.

DARIUS: - Tory, mas eu pensei que você tivesse a certeza de que era tipo meio anjo, meio humano, maninha. Por isso ele queria pegar você. E por isso a tal conspiração também quer você, pra saber essa coisa de genética...

VICTORIA: - Sim, mas eu acho que Lúcifer não quer mais me pegar. Ele está me estudando, confuso. E eu tô mais confusa ainda com isso!

DARIUS: - Valha-me Deus! Agora quero ver como vou conseguir dormir!

MEGAN: - Acho melhor a gente ir dormir mesmo. Não podemos ajudar, Tory. Eu não entendo nada dessas coisas. E eu tenho muito medo delas.

VICTORIA: - (SORRI DESANIMADA) Eu sei. Mas já ajudam quando me escutam e não pensam que sou louca.

DARIUS: - Somos seus amigos Tory e além disso estamos envolvidos nessa coisa juntos, que nem sabemos que droga é, porque raios o céu despenca se ficarmos os cinco no mesmo espaço e por que representamos tanto perigo pra essa gente. Dá pra entender que eles queiram pegar você, mas nós somos meros mortais!

MEGAN: - Concordo com o Darius, Tory. Também não entendo. Mas pelo menos tenho a segurança do meu pai, ele tem influência nesses meios...

DARIUS: - Aí, outra coisa que não entendo! O pai da Megan e o pai do Chad. Eles estão envolvidos com essa tal Ordem que seu pai vive falando. Então por que tentariam machucar os próprios filhos?

MEGAN: - Fala pelo pai do Chad. O meu pai daria graças se me levassem!

VICTORIA: - Sabe que não é verdade, Megan. Seu pai ama você, do jeito dele, mas ama. Ele nunca entregaria você. Também não entendo isso ainda.

DARIUS: - Por que não falamos com o Professor Serling? Ele sabe muita coisa. Ele é o único que conseguiu entender essa droga toda de profecia, mas ele se cala por algum motivo. Algum motivo ele tem pra ficar calado e eu queria saber qual é. Ou estou paranoico?

MEGAN: - Por que ele sempre tá de olho na gente? Já notaram? O professor fica sempre de olho na gente, com aquela cara de preocupação, com medo de que alguém entre na escola e nos leve. O que ele sabe?

DARIUS: - Aliás, do que ele foge? O cara já trabalhou até pra NASA e fica lá dentro daquela escola de criança? Já se perguntaram qual é a do Serling? Se eu entendesse física quântica eu estaria atrás do Nobel! E ele? Ele fica lá, brincando de diretor de escola, fazendo caridade...

VICTORIA: - Darius... Eu sei qual é a do Serling e um dia eu conto pra vocês, quando vocês estiverem mais maduros, são coisas de adultos, ok? Ele sabe até mais que o meu pai. Mas eu só quero uma resposta agora: A que cadeia biológica eu pertenço!

MEGAN: - (OLHAR PERDIDO NO NADA) Eu não sei, Tory. Mas você é o melhor ser humano que eu já conheci, amiga.

Victoria sorri, dá um abraço e um beijo em Megan.

DARIUS: - E lá vai a nossa Megan "Cabeça de Vento" sempre surpreendendo!


Motel Silver State – Quarto 7 – 02:21 AM

Scully colocando uma camiseta pra dormir. Mulder deitado na cama, olhando para o teto, pensativo. Bryan dormindo ao lado do pai e Dimi dormindo ao lado de Bryan. Scully deita-se na cama.

SCULLY: -Hum... Hoje a coisa vai ficar apertada por aqui. Temos mais um filho, Mulder.

Mulder sorri.

SCULLY: - (DEBOCHADA) É, quem diria que isso aconteceria! Tem um Krycek de novo entre nós?

MULDER: - Esse aí pode ficar. Por mim nem devolveria mais. Tocou xilofone pra mim, você ouviu?

SCULLY: - (RINDO) Ouvi do banheiro. Ele leva jeito...

Scully deita-se. Ajeita o edredom sobre os meninos.

SCULLY: - Juro que pensei que ele ia chorar na hora de dormir e querer a Barbara ou o Alex e eu teria que voltar rapidinho pra Virgínia.

MULDER: -Já está acostumado a ficar comigo. E tendo o Bryan perto, o Elvis nem lembra de mãe ou pai, quer é brincadeira.

Scully vira-se de lado olhando os meninos. Mulder fica pensativo.

SCULLY: - (SORRI) A vida é engraçada, Mulder... Olho para esses dois, lembro do passado e penso que jamais imaginaria essa cena, o filho do Krycek aqui com a gente. O filho de quem era nosso inimigo, é nosso afilhado. Ele nos confia cegamente seu bem mais precioso...

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Pensando no Elvis, Mulder?

MULDER: - ... Scully, sabe quando a lógica diz algo a você, mas o seu instinto diz outra?

SCULLY: - (SORRI) Estamos brigando dentro de você, Mulder?

MULDER: - Não quero começar nenhuma discussão, mas Victoria falou de novo sobre querer investigar as coisas comigo.

SCULLY: - (CERRA AS SOBRANCELHAS) ... Ela é uma criança, já falamos disso.

MULDER: - ... A lógica diz isso, mas o instinto não.

SCULLY: - Não pode estar convencido de que Victoria está madura o suficiente para sair por aí fazendo as coisas que você faz. Ela está querendo agradar o pai dela, o espelho dela. Isso é sua busca, Mulder, não a da sua filha. Ela tem entendimento natural dessas coisas e nós dois não.

MULDER: - Aquela conversa que tivemos com ela... De certa forma me angustiou, porque sou curioso e porque ela é minha filha. Eu queria saber as coisas que ela sabe, que são reveladas pra ela e...

SCULLY: - Ela não fala, porque não pode falar, os anjos a proíbem. Não pense que eu também não gostaria de saber muitas coisas, mas quando ela diz que não pode dizer, eu respeito. Sei que Victoria não fala para não ser desobediente. Lógico que isso me deixa aflita, como mãe eu quero estar por dentro das coisas a respeito da minha filha. Contudo, não quero que ela desobedeça aos céus.

MULDER: - A lógica me diz isso, o instinto continua gritando, Scully. Tem coisa errada. Victoria parece perdida algumas vezes, como se não tivesse respostas pra tudo. E eu pensei que ela as teria, pelo fato de ser um pouco anjo. Mas começo a achar que Victoria precisa de respostas.

SCULLY: - E o meu coração de mãe começa a ficar nervoso com esse assunto...

MULDER: - Também estou nervoso com isso, Scully. Observe o comportamento dela. Logicamente ela sempre sabe das coisas antes da gente. Mas veja que algumas vezes ela parece ter dúvidas do que está falando.

SCULLY: - Crianças são assim.

MULDER: - E anjos são assim? Scully, olha a nossa responsabilidade! Já parou pra pensar que podemos estar dando o menos pra ela, enquanto ela precisa de mais? Talvez censurando a liberdade dela de conhecimento, sob o medo de que ela cresça, enquanto ela já cresceu?

SCULLY: - Fala sobre a escola?

MULDER: - Não apenas sobre isso, não aguento mais o Serling insistindo que a coloquemos numa universidade! Eu falo das coisas pessoais, particulares dela. O que sente, o que pensa, o que vive? Imagino que há certa angústia dentro dela em não se encaixar nas coisas normais. Nós somos até normais, Scully. Ela é o alienígena dentro de casa, entende? Talvez ela precise de respostas que nem nós podemos dar. Ela tem amigos, espero que se abra pra eles, afinal de contas, somos pais, tem assuntos que a gente não conversa com os pais. Mesmo que você dê a liberdade toda. São coisas íntimas.

SCULLY: - Eu não sei, Mulder, e não quero parecer omissa dizendo que nem quero saber. Mas a verdade é que não posso saber. É isso que eu penso. Que ela é nossa filha, mas antes disso, ela é filha dos céus. E quem sou eu pra questionar a responsabilidade de Deus sobre minha filha? Eu preferia que ela pensasse em ser líder de torcida, no clube de leitura, em que roupa vestir, em maquiagens e atores de cinema... Mas sabemos que não será assim. Ela cresce rápido. Não física, mas mentalmente mais rápido que uma criança comum. E eu tento fornecer o máximo de infância que posso pra ela, entende? Acho justo.

MULDER: - (SUSPIRA) Queria que Deus desistisse da nossa filha.

SCULLY: - ... Queria que o Sindicato e a Ordem desistissem dela. Penso todos os dias... E quando o Fumacinha morrer? Quem vai proteger nossa filha? Somente Deus, Mulder. E sabendo que ela pertence a Ele, estou mais tranquila. Ainda não me sinto digna desse presente.

MULDER: - Presente? Olha, sinceramente, tem vezes que fico matutando na cabeça a história do tal José. Que fardo!

SCULLY: - Não é a mesma coisa. E não é fardo. É confiança. Deus nos confiou ela. Isso é um presente sim.

MULDER: - É que você olha pela ótica religiosa da coisa, Scully. Eu olho pela ótica alienígena.

SCULLY: - Mulder... E não é a mesma coisa?

MULDER: - Olhando de maneiras diferentes, sensações diferentes Scully. Da sua maneira é menos dolorido e mais tranquilo, me acredite. Da minha, o medo me atormenta.


Stephen's Cyber Cafe - 3:23 AM

Victoria caminha triste pela rua. Para em frente ao cyber café. O lugar vazio e fechado. Victoria aproxima-se da porta. Observa se não há ninguém por perto. Coloca a mão na maçaneta. Fecha os olhos, se concentrando. A porta abre. Victoria vai até um dos computadores. Liga-o. Observa o lugar parcialmente destruído. Dirige a atenção para o computador. Ajeita a webcam. Verifica o microfone. Digita alguma coisa. Suspira olhando pra tela.

VICTORIA: - Preciso de você. Preciso realmente muito de você.

Nenhuma resposta.

VICTORIA: - Ei, acorda!

Do outro lado da tela surge um Kevin, todo arrumadinho, com fisionomia de preocupação. Ajeita a webcam e o cabelo estiloso tipo Justin Bieber.

KEVIN: - Já tô acordado, são 7:24 aqui no Brasil. Tô me arrumando pra ir à escola. (BOCEJA) Tenho prova de Geografia... Tory, onde você tá? O que está acontecendo com você? Estou preocupado, sabia? Nem dormi essa noite, nem estudei. Tive pesadelos a noite toda com você fugindo de alguma coisa. Eu tentei e-mail, redes sociais, até o telefone da sua casa arriscado a levar uma bronca do seu pai e nada de você!

VICTORIA: - Estou em Nevada. Meus pais estão investigando um caso. Darius e Megan estão aqui também. Kevin, eu preciso falar com você. Não sei o que está acontecendo comigo... Me sinto triste, estranha...

KEVIN: - Sabia que tinha coisa errada.

VICTORIA: - Pode me dizer se alguma coisa estranha está acontecendo com você?

KEVIN: - Fora o fato de que eu tenho premonições por sonho quando você precisa de mim? Nada. Nada mesmo. Lúcifer ainda tá observando você?

VICTORIA: - Agora não. Me diz, como você sabe que preciso de você?

KEVIN: - Sei lá. Você aciona o meu alarme. Pesadelos... É batata, não falha nunca! Viu? Você tá com problemas e precisa de mim.

VICTORIA: - Eu tenho o Darius, tenho a Megan. Mas eles não sentem isso. Por que você é o único que sente?

KEVIN: - (SORRI) Sou o seu "anjo" da guarda, meu anjo?

VICTORIA: -Acho que você é mais um "humano da guarda". Ou por que somos almas gêmeas? Sei lá...

KEVIN: -Quando vamos crescer, alma gêmea? Pra que eu possa finalmente passar o resto da minha vida do seu lado e me livrar desses pesadelos? Viver um sonho, um lindo sonho... Dar o fora pra bem longe com você.

VICTORIA: - (RINDO) Ah, se liga moleque! (SÉRIA) Estou triste que não vai vir no meu aniversário. Justo você... Kevin... Eu sei que somos umas crianças bobas, mas eu queria tanto você aqui... Eu tenho a Megan e o Darius, mas... É diferente. Tem vezes que me sinto tão sozinha e quando falo com você... Sei lá. Você parece me entender só com o olhar, eu nem preciso dizer nada.

KEVIN: - O dia fica mais iluminado quando falo com você. Eu esqueço dessa loucura que vivo aqui, dos meus pais malucos... Das coisas idiotas que eles fazem e que me deixam preocupado... Tory... Você disse, somos umas crianças bobas, mas na verdade, eu sou uma criança boba, você é muito mais adulta... E eu me sinto bem com você. E sinto sua falta. Você escuta os meus problemas, mesmo que os adultos achem que não temos problemas.

VICTORIA: - Eu também sinto sua falta. E não Kevin, você não é criança. Na verdade você teve que amadurecer muito cedo, tanto quanto eu, mas por motivos piores. Eu lamento que não estejamos mais próximos para que eu salvasse você. Kevin, não entre por favor nesse tipo de vida que seus pais...

KEVIN: - Nunca, Tory. Eu... Eu tenho vontade de chorar quando vejo as coisas por aqui, porque amo demais os meus pais e penso que essa loucura deles vai acabar os matando, sabe? Eles fazem tudo escondido, mas eu sei que fazem.

VICTORIA: - (OLHOS EM LÁGRIMAS) Me preocupo com você, Kevin. E nem consigo esconder isso.

[Som: Michael Jackson - You Are Not Alone]

KEVIN: -E eu me preocupo com você, Tory, mas pelo menos você não tem uma família disfuncional... Seus pais são caretas, pra sua sorte. Você nunca viu sua mãe deitada no chão do banheiro por causa de uma overdose e teve que chamar a ambulância porque seu pai também estava viajando e vendo elefante cor de rosa... Sabe que se eu pudesse, se não fosse pelos meus pais, eu estaria aí do seu lado... Mas Tory, você só tem dez anos e eu onze! Não podemos ser independentes... O Chad foi convidado?

VICTORIA: - Lógico, mas os pais dele não deixam. Além de que os cinco juntos não podem estar no mesmo espaço ou aquelas trovoadas malucas começam e o céu parece querer despencar.

KEVIN: - Acho ótimo isso, porque ele é completamente dispensável desse nosso espaço. Não suportaria a concorrência.

VICTORIA: - O Chad e eu? Nada a ver!

KEVIN: - Tudo a ver. Falo com ele toda a semana e me irrito quando ele fala sobre como sente saudades de você, que devia ter ficado aí, que os pais voltaram pra Inglaterra e...

VICTORIA: - (RINDO) Olha que estranho, juro que alguém está ouvindo Michael Jackson, porque tá bem alto o som.

KEVIN: - (SORRI) Espero que esteja ouvindo You are Not Alone...

Victoria cerra as sobrancelhas.

VICTORIA: - Por que disse isso? Tá ouvindo a música?

KEVIN: - Não. Eu disse porque... Eu penso em você quando escuto essa canção. Saiba que você nunca vai estar sozinha enquanto eu viver. Eu estou aqui com você, mesmo que você esteja tão distante de mim... Lembra dessa canção. Sempre que pensar em mim. E quando eu crescer, vou voar tão rápido quanto puder pra estar aí do teu lado.

Victoria vira o rosto pra Kevin não perceber que seus olhos estão enchendo de lágrimas.

KEVIN: - Tory, você sabe, eu sou canceriano, não fere os meus sentimentos, sua capricorniana egoísta... Eles são sinceros.

VICTORIA: - Ok, canceriano ferido... (PERTURBADA/ OLHANDO PRA FORA) Vou desligar, tenho que ir. Fugi do motel, Megan e Darius estão dormindo. E se papai ou mamãe acordarem e não me encontrarem, vai ser o caos!

Victoria desliga o computador puxando da tomada, secando as lágrimas.

VICTORIA: - (SUSSURRA/ OLHANDO PARA O MONITOR DESLIGADO) ... Dói demais tanta distância... Caramba, será que isso é estar apaixonada? Será que até nisso eu amadureço mais rápido que os outros?

Victoria caminha até a porta, secando as lágrimas que insistem em brotar de seus olhos. Sai para a calçada.

Na calçada, cabisbaixo, Michael canta com emoção, enquanto dança a música, com as mãos no bolso. Ergue os olhos pra ela, chorando. Parece alheio ao mundo.

Victoria começa a chorar. Ele lhe sorri, entre lágrimas, cantando. Abre os braços pra ela.

MICHAEL: - You are not alone... I am here with you... Though we're far apart... You're always in my heart...

Victoria se aproxima de Michael e se abraça nele. Ele fecha os olhos, sem se importar, e continua cantando com uma dor profunda perceptível na voz. Os dois se embalando na música.

MICHAEL: - You are not alone... Alone, alone... Why? ... Alone...

Michael caminha cantando pra Victoria. Victoria ao lado dele, estende sua mão e toma a mão dele, em cumplicidade. Os dois caminham pela calçada de mãos dadas embalando as mãos. A névoa se aproxima. Ambos entram na neblina.



BLOCO 3:

Café do Ben – 8:29 AM

[Som: Elvis Presley - The Wonder Of You]

O café cheio de imitadores de Elvis e Michael que entram e saem. Mulder e Scully sentados à mesa com as crianças. Darius com outra roupa de Michael Jackson. Megan parecendo uma princesa, observando o cardápio. Victoria alheia ao grupo, mordendo a manga do casaco, olhando pela janela num olhar vazio. Bryan e Dimi brigando pelo cardápio, Scully puxa o cardápio e os censura com o olhar. Mulder observa os sósias.

MULDER: - Não vi nenhum fisicamente parecido com os originais ainda...

SCULLY: - Nenhum suspeito pra mim também...

MULDER: - E precisariam ser muito iguais pra enganar aquelas pessoas... (DEBOCHADO) Enquanto isso, o comércio local achou um filão: Venha para a cidade de Cactus, Michael Jackson e Elvis Presley vieram!

Mulder se levanta pra pegar um jornal. Scully distraída dando cereais a Bryan.

BRYAN: - Eu já tenho cinco anos! Posso comer sozinho, mãe! Já sou um homem!

SCULLY: - (RINDO) Ok, "homem". Então coma sem fazer bagunça! Dimi, quer aviãozinho?

DIMI: - Eu já tenho "quato" anos! Sou homem "tamém", dinda!

Scully segura o riso.

SCULLY: - Ok, homens. Bom apetite!

Darius e Megan observam Victoria. Preocupados. Darius aproxima os lábios da orelha de Victoria.

DARIUS: - (COCHICHA) Não sei onde esteve a noite toda, maninha. Não vamos falar nada. Mas estamos preocupados.

Victoria continua alheia. Mulder senta-se, olhando para o jornal. Coloca o celular na mesa.

MULDER: - Nenhuma notícia nova sobre Elvis e Michael... Hum, o prefeito da cidade vai organizar um festival e inaugurar duas estátuas em homenagem ao Rei do Rock e ao Rei do Pop... Impressionante, tudo é motivo de exploração financeira! (FECHA O JORNAL) Acho que vou aproveitar e comprar uma jumpsuits do Elvis, que tal?

DARIUS: - Isso aê, seu Mulder! Dou o maior apoio! Fã é fã! (OLHA PRA UM MICHAEL QUE PASSA) Nossa, olha a roupa do cara! Eu mataria por uma jaqueta dessas de Thriller!!!

Mulder segura o riso.

MULDER: - Scully, nunca ninguém falou isso, mas como psicólogo, eu vou palpitar.

SCULLY: - E o que vai palpitar, psicólogo?

MULDER: - Michael Jackson tinha Síndrome de Peter Pan.

MEGAN: - O que é isso, pai?

MULDER: - Quando um adulto recusa-se a crescer. Ele quer ficar perto das crianças, porque ele pensa ser uma criança, não aceita que é um adulto. Isso explica sua Neverland, sua Terra do Nunca, como ele próprio batizou em homenagem a obra de J. M. Barrie. Todo aquele parque de diversões, animais, excentricidade, crianças pela casa, cirurgias plásticas, casamentos fracassados e nenhuma insinuação "adulta", entende Scully? Mente infantil, completa. De qual lado ele "jogava"? Ele até podia jogar, mas não queria jogar. Ele era uma criança. Um dia teve as suas crianças, mas pelo que sabemos, sem contatos físicos. Quer prova maior?

SCULLY: - Entendi. Verdade, nunca tinha pensado nisso. Talvez nem ele soubesse.

MEGAN: - Mas que jogo é esse? Eu não entendi.

SCULLY: - Porque não é pra entender, mocinha. Tome seu café.

Victoria atenta no assunto, Megan e Darius atentos nos sósias que entram e saem.

MULDER: -Casar com Lisa Presley foi o mesmo que arrumar uma companhia pra brincar. Lisa ficou muito afetada com a morte do pai, ela teve vários problemas psicológicos por isso. Era uma encrenqueira irresponsável. Os dois se acharam.

Scully segura o riso.

MULDER: - J.M. Barrie, autor de Peter Pan. O nome dado ao distúrbio justamente porque Peter Pan dizia que não queria crescer. O próprio Barrie provavelmente tinha essa síndrome. Ele era uma criança, era o próprio Peter Pan, tanto que a sociedade ficou chocada quando ele resolveu ajudar a viúva mãe de quatro filhos, a sua "Wendy", na cabeça dele uma irmã mais velha, nada além disso, mas na cabeça dos outros, um pedófilo ou um aproveitador de viúvas. A esposa de Barrie foi embora porque não tinha homem em casa, entende? Ele preferia ficar no parque brincando com as crianças da viúva. E vou ter que admitir, incrivelmente interpretado no cinema pelo Johnny Depp.

MEGAN: - Alguém falou Johnny Depp?

DARIUS: - Dá um tempo, Megan!

SCULLY: -Não, ninguém falou, tome seu café... Mulder, amo aquela cena das portas. A porta do quarto da esposa dele revela um quarto escuro. A do quarto dele é iluminado e colorido... Isso não seria um indício de que ele gostava de crianças daquela outra maneira... Entende?

MULDER: - Não, Scully, as pessoas confundem, mas é totalmente diferente. Não há insinuação adulta, certo? Quem gosta de criança daquele outro jeito não perde tempo brincando as brincadeiras delas, infantis. Ele até pode começar sugerindo brincar, mas leva a criança a brincar a brincadeira adulta dele. Já quem tem a Síndrome de Peter Pan brinca como se fosse criança mesmo e adora estar com elas porque se sente livre pra ser uma. Isso acontece por vários motivos, talvez no caso do Michael, por ter sido adulto cedo demais. O pai não deixou ter uma infância, queria os filhos fazendo sucesso e trazendo dinheiro pra ele.

DARIUS: - Nem fala daquele pai dele, fez até o enterro dele virar comércio! Todo mundo, até a família, todos queriam tirar dinheiro do Michael.

VICTORIA: - Ele teve infância. Ele brincou muito. Ele só esqueceu de crescer e perceber que o mundo dos adultos não é o colorido da inocência.

MULDER: - (SURPRESO) Forte isso, Pinguinho.

SCULLY: - O que sugere, Mulder? Por onde começamos?

MULDER: - Sugiro que primeiramente vamos conversar com os envolvidos nos dois incidentes. Vamos saber se mentiram para conseguir publicidade. Liguei pro Langly conseguir uma lista de todos os covers de ambos que moram nos Estados Unidos. Também pode ser um golpe publicitário de alguma empresa, ou simplesmente, dois caras fanáticos que combinaram de zoar uma cidade inteira. Primeiro a lógica, "agente" Scully. Depois vamos ao paranormal.

DARIUS: - Quando vamos ver o Michael Jackson?

SCULLY: - Darius, já conversamos sobre isso no avião. São boatos, não sabemos o que é. Estamos aqui pra descobrir, mas não se magoe se isso for uma mentira, ok? Michael Jackson está morto, é uma grande perda, eu sei, também gostava dele.

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu também gostava, bem longe de crianças.

Victoria esmurra a mesa numa atitude que espanta todos. Levanta-se e sai do restaurante, revoltada. Mulder e Scully se entreolham pasmos.

SCULLY: - O que aconteceu aqui? Nunca vi minha filha agir desse jeito quando você faz piada!

MULDER: - (BRAVO) Não sei, mas eu vou descobrir. Não foi essa a educação que eu dei pra ela!

SCULLY: - Mulder... Por favor. Pega leve, tá?

Mulder vai atrás de Victoria.

SCULLY: - Crianças, o que aconteceu? Hum? Sabem por que Victoria agiu assim?

MEGAN: - Juro que não. Ele está estranha assim desde cedo.

SCULLY: - Aconteceu alguma coisa ontem à noite que eu deva saber?

DARIUS: - Só Victoria pode lhe dizer.

O celular de Mulder toca. Scully atende.

Corte.


[Som:Michael Jackson - Don't Stop 'Til You Get Enough]

Victoria emburrada, sentada na calçada, abraçando as pernas. Mulder sentado ao lado dela.

MULDER: - Pelo menos me faz entender por que está revoltada com a minha piada.

VICTORIA: - ...

MULDER: - Desculpe. Não queria ofender o Michael Jackson. Também acredito que ele não era um pedófilo. Síndrome de Peter Pan, hum?

VICTORIA: - ...

MULDER: - Pinguinho... Essa não é a minha filha.

VICTORIA: - É sim, só que você ainda não conhecia esse lado.

MULDER: - Estamos falando sobre pré-adolescência, rebeldia e essas coisas?

VICTORIA: - Estamos falando sobre justiça. Estamos falando sobre maldade, sobre mentiras, sobre desejos, aspirações e sonhos, e gente capaz de tudo pra destruir quem consegue atingir seus sonhos. Gente que enlouquece as pessoas e depois apontam o dedo dizendo que elas são loucas.

MULDER: - ...

VICTORIA: - Gente que quebra suas pernas. Mata você em vida. Gente que explora você. Gente que diz eu te amo, e por trás lhe acerta uma facada. Gente que só se aproxima pelo que você tem, não pelo que você é. Gente que se aproxima pelo que você é, só pra tirar proveito da sua ingenuidade.

MULDER: - Confesso que não estou entendendo. Alguém magoou você?

VICTORIA: - ... Papai, desculpe pela grosseria, não foi nada contra sua piada, até porque as pessoas nunca terão essa certeza, o estrago foi feito mesmo pela maldade e interesse financeiro... Assim como o Elvis que era um bêbado drogado sem gostar de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. E me desculpe, porque agora eu não posso fazer você entender nada do que tô dizendo, mas as pessoas julgam as outras sem conhecimento de causa.

Scully sai do café.

SCULLY: - Mulder, Baba ligou. Disse que a senhora Archer vai nos receber.

MULDER: - Fica com as crianças, vou alugar um carro.

Mulder se levanta. Respira fundo e olha preocupado pra filha.

MULDER: - Bem vinda ao mundo dos adultos, Pinguinho. Sabia que um dia chegaria, mas esperava que demorasse muito.

Scully observa os dois.

MULDER: - E Pinguinho... Quando digo que não entendo é que não estou entendendo o que houve pra você ficar dessa maneira. Mas o que você está me falando, eu entendo muito disso. Entendo bem desse assunto. Ou você cria calos e aceita, ou você passa sua vida se questionando sem aceitar. E isso, só você pode decidir.

VICTORIA: - Sou filha de Mulder e Scully, se esqueceu? Eu não aceito. Sou geneticamente propensa a nunca aceitar injustiças.

Mulder e Scully sorriem. Mulder bagunça o cabelo dela com a mão. Victoria sorri.

MULDER: - Vamos com seu pai alugar um carro... Hum?


Fazenda dos Archer – 9:12 AM

[Som: Elvis Presley - Return to Sender]

Darius, Megan, Dimi e Bryan correm brincando de pega-pega pela fazenda. Na varanda, a Sra. Archer serve café para Mulder. Scully e Victoria sentadas à mesa.

SRA. ARCHER: - Foi como eu disse para os repórteres. Na verdade, eu não queria dizer nada, mas pensei nos fãs dele e, eu sou uma... Quem não gostaria de saber que Elvis está vivo? Mas ninguém da imprensa acreditou em mim, até porque ele está bem conservado pra idade. Depois começou a vir gente de todo o lugar e acabou que virou uma bagunça. Meu marido está louco comigo. Desde essa confusão ele dorme no celeiro... Por causa das músicas altas.

Mulder olha em direção à entrada da fazenda. Um aglomerado de gente acampada, com camisetas, pôsteres e faixas do tipo "Elvis não morreu" "Amamos Você, Elvis". Alguns sósias cantando e dançando a música.

MULDER: - Entendo, Sra. Archer. Também sou fã do Elvis. E Michael Jackson?

SRA. ARCHER: - Esse eu não vi. Estão dizendo por aí que Michael forjou a morte por conselho da Lisa, que já tinham planejado isso desde o casamento deles, e que depois foi morar numa ilha com o Elvis. E desistiram da coisa toda da ilha e vieram pra Cactus, afinal isso aqui é o fim do mundo mesmo!

Scully morde os lábios, segurando o riso.

MULDER: - Ok. Elvis pediu milk-shake de morango? Foi isso?

SRA. ARCHER: - Sim, mas eu o convidei pra comer uma torta de morangos e ele aceitou.

MULDER: - É importante que me diga todos os detalhes. Ele comeu sua torta de morangos?

SRA. ARCHER: - Pra dizer a verdade ele comeu só o recheio. Acho que não gostou da massa...

MULDER: - E o recheio estava mais para líquido do que para sólido, tipo, cremoso?

SCULLY: - Isso não é irrelevante, Mulder?

MULDER: - Não. Preciso saber o que ele comeu.

SRA. ARCHER: - Bem, estava mais pra cremoso. Ele comeu o recheio. Bebeu um chá gelado. Elvis é muito educado, gentil, ficamos até tarde conversando sobre família, sobre religião, eu também me criei na igreja evangélica Assembleia de Deus, falamos muito sobre música gospel... Depois ele perguntou se eu não poderia fazer um sanduíche de banana com bacon e pasta de amendoim.

MULDER: - (SORRI) O favorito dele! Sua avó sempre fazia.

SRA. ARCHER: -Até que me agradeceu por tudo, foi embora levando o sanduíche e desapareceu por onde veio. Me disse que voltaria, mas até agora...

VICTORIA: - Falaram sobre a vida pessoal dele? Coisas tristes? Ele sentiu necessidade em algum momento de falar coisas íntimas das quais ninguém poderia saber? Como se sentisse uma cumplicidade na senhora, alguém em quem pudesse confiar segredos?

Mulder e Scully olham surpresos pra Victoria.

SRA. ARCHER: - ... Sim. Ele falou sobre o racismo que existia na época, que ele era um branco cantando música de negros. Falou da pobreza em que vivia quando criança, do quanto sofreu quando o pai foi preso por estelionato e do quanto sentiu a falta dele. Falou da morte da mãe, que foi uma perda enorme, de Priscila e Lisa que eram as duas coisas mais importantes da vida dele e que ele havia perdido pelo erro em ter se metido no mundo da luxúria de Hollywood. Também falou do excesso de festas em Graceland e do quanto se arrependia amargamente de ter se viciado em medicamentos sem nunca ter questionado seu médico... Mas era muita dor que ele sentia por causa das enfermidades que tinha no cólon e no fígado... Que eu lembro foi isso.

VICTORIA: - Estava falando com quem quando ele apareceu? Estava pensando em alguém em especial? Ele cantou para a senhora?

Mulder fica desconfiado. Scully preocupada.

SRA. ARCHER: - Estava fazendo tricô, pensando no meu irmão, que está doente. Meu marido assistia tevê e... É estava pensando no meu irmão. E ele cantou pra mim sim, porque veio até com um violão. Quando bateu na porta eu podia ouvir nitidamente Johnny B. Goode, a música favorita do meu irmão, ele sempre preferiu na voz do Elvis. Era como se o disco tocasse e ele estivesse ali, fazendo uma performance, sabe? Um playback, acho que é assim que se diz ainda.

Mulder abre a boca, mas Victoria continua o interrogatório.

VICTORIA: - Seu irmão é seu gêmeo?

SRA. ARCHER: - Sim, somos gêmeos. Como sabe?

VICTORIA: - Palpite.

Victoria sai da mesa e vai pra perto das crianças. Mulder a observa intrigado.

SRA. ARCHER: - Então? O que acham? Não pensam que estou louca?

SCULLY: - Acho que a senhora passou por uma experiência da qual ainda não consigo explicar.

MULDER: - Uma última pergunta, Sra. Archer. Elvis estava velho? Ele teria... Estamos em 2011... Ele teria 76 anos agora.

SRA. ARCHER: - Qual nada! Parecia estar nos seus 42 quando morreu!

MULDER: - Obrigado pelo café.

SCULLY: - Desculpe tomar seu tempo. Sei que é dia de Ação de Graças e deve ter mais o que fazer.

SRA. ARCHER: - Pra dizer a verdade, vou pra cozinha como faço todo ano, só que esse ano... Não será um bom dia porque meu irmão não vai poder estar aqui... Filhos e netos na Europa... Ficaria lisonjeada se quisessem passar o jantar de Ação de Graças comigo e meu marido. Essa casa precisa de crianças e os filhos de vocês são ótimos.

Scully segura o riso. Eles se afastam.

MULDER: - (DEBOCHADO) É, os nossos cinco filhos são ótimos! Por falar nisso, Scully, você nunca me explicou porque um deles é escurinho e a outra tem olhos puxados. E tem um ali que parece russo. E um louro irlandês. Acho que só a Victoria é minha filha verdadeira.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Todos são seus, Mulder. É que um você fez de noite, outro quando assistia um filme do Bruce Lee, o outro quando estava bêbado de vodka e o louro irlandês quando estava bebendo cerveja.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você não foi nada convincente, Dana Scully.

SCULLY: - Claro que fui! São todos judeus, você que precisa de óculos, Mulder!


Stephen's Cyber Cafe – 11:23 AM

[Som: Michael Jackson - Beat It]

O som alto. Mulder estaciona o carro. Um aglomerado de sósias e fãs de Michael Jackson reunidos no local. Mulder tira o cinto de segurança. Olha pras crianças no banco de trás.

MULDER: - Quero que fiquem aqui dentro, ok? Eu e a Scully precisamos...

Darius olhando encantado para os sósias dançando a música. Mulder suspira.

MULDER: - Megan, você pode ficar no carro e tomar conta do Bryan e do Dimi?

MEGAN: - Claro, pai. Sem problemas. E se eles brigarem?

MULDER: -Se eles brigarem, você pode arrancar as orelhas deles e depois atirar os dois pela janela. Vamos, Scully. Victoria, você vem junto. E você, Michael Jackson, "vaza"! Pode ir se juntar aos seus clones e dançar com eles, desde que não saia de perto do carro.

Darius abre a porta e sai correndo feliz da vida. Dimi e Bryan se ajoelham no banco, observando os sósias dançarem.

BRYAN: - Quero dançar!

DIMI: -"Tamém"!

MULDER: - Vocês dois vão dançar rapidinho se não se comportarem aí. E vão dançar na ponta do meu chinelo, fui claro? Um vai dançar balé russo e o outro a hornpipe irlandesa.

Mulder fecha a porta do carro. Os dois ficam olhando e dançando de joelhos no banco. Scully segura o riso. Mulder, Scully e Victoria entram no cybercafé.

MULDER: - Admito, Pinguinho, você sabe como conseguir um emprego na persuasão.

VICTORIA: - Que legal trabalhar com vocês dois!Estou contratada então?

SCULLY: - Depois que eu estiver louca e numa camisa de força.

Eles se aproximam. Stephens conserta um computador.

MULDER: - Oi. Eu sou Mulder e essa é a Scully, somos detetives estamos investigando...

STEPHENS: - Eu não sei quem era o cara. Não acredito que Michael Jackson está vivo. Já olhou lá fora quantos existem?

Scully espia pra rua. Darius imitando Michael no meio dos outros. Scully mexe os ombros no ritmo da música. Mulder a cutuca. Ela para.

STEPHENS: - Eu sei que o filho da mãe, sabe-se lá como, acabou com quase todo o meu cybercafé!

MULDER: -(INCRÉDULO) Ele fez esse estrago todo? Sozinho?

STEPHENS: - Pra mim ele não era desse mundo. E não era Michael Jackson. Ele só ergueu a droga da mão e as coisas começaram a voar tão rápido aqui dentro quanto os meus clientes correndo pela porta dos fundos. Sabe, né? Estamos perto de Dreamland, sabe lá o que aqueles militares fazem naquele lugar, de repente são alienígenas que fugiram disfarçados...

Scully tenta não rir, numa fisionomia de deboche. Mulder encara Victoria.

MULDER: - Não vai fazer suas perguntas, "detetive"?

VICTORIA: - Não.

SCULLY: - Sr. Stephens, por que alguém destruiria esse lugar? Algum concorrente, alguma pessoa com as quais o senhor tenha problemas...

STEPHENS: - Acho que ele se irritou porque eu não deixei o garoto entrar.

MULDER: - Que garoto?

Mulder observa Victoria, alheia a tudo.

STEPHENS: - Billie. É filho de um indigente beberrão que anda por aí. Tá eu sei, mas eu não tenho culpa se o garoto foge dos assistentes sociais, se tem fome e aquele dia eu estava de saco cheio mesmo, sabe? Já botei a correr daqui um monte de vezes, o moleque sempre volta...

SCULLY: -(CURIOSA) Billie? Como... Billie Jean?

Mulder agora desvia a atenção pra Scully.

STEPHENS: - Não tinha pensando nisso... Acha que esse garoto ou o pai dele arrumaram um cara parecido com Michael Jackson só pra me sacanear?

MULDER: - Creio que não, Sr. Stephens. Ele, o tal Michael Jackson, cantou alguma coisa para o senhor? Ouviu algum tipo de playback?

Victoria desvia o olhar pra Mulder. Scully respira fundo, quase rindo.

STEPHENS: - Ele entrou cantando e eu ouvia Bad. Nitidamente. Parecia que ele fazia um show. Até achei que era palhaçada, fui grosseiro ao abrir a porta. Pensei que alguém tinha ligado o som num carro lá fora e resolvido me sacanear. Aqueles telegramas ao vivo, sabe?

MULDER: - E ele comeu ou bebeu alguma coisa?

Victoria sai do cyber café.

STEPHENS: - Lógico que não, depois do que fez aqui? Acha que eu ia servir um jantar? ... Mas ele levou uma Coca e um sanduíche.

Scully morde os lábios querendo rir de Mulder e disfarça limpando alguma coisa inexistente da blusa.

MULDER: - Não chegaram a conversar?

STEPHENS: - E acha que eu ia querer conversa com aquele cara? Ele já chegou bagunçando tudo por aqui. E o papelão que eu passei diante da polícia quando pediram para eu descrever o sujeito que fez isso na minha loja? Virei a piada da cidade! Os tiras começaram a rir!

MULDER: - Sabe onde encontro esse menino, o Billie?

STEPHENS: - Pelas ruas, em qualquer lugar, mas bem longe da minha loja!

MULDER: - Só mais uma pergunta. Ele era o Michael Jackson preto ou branco? Uma idade aparente...

Scully olha incrédula pra Mulder.

STEPHENS: - ... Branco. Sim, era a versão branca dos últimos tempos. Vocês estão atrás de um cara branco, não é um negro. Puxa, esqueci de dizer isso pra polícia... Podem estar atrás do cara errado.

SCULLY: - Só por curiosidade... Viu o Elvis Presley?

STEPHENS: - Quê???

Corte.


[Som: Michael Jackson - Billie Jean]

Mulder e Scully caminham em direção ao carro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Só por curiosidade, viu o Elvis Presley?

SCULLY: - Não acho irrelevante a pergunta, tendo em vista que você usou todas as perguntas da sua filha!

Mulder abre a porta do carro.

MULDER: - Onde estão Darius e Victoria?

MEGAN: - No meio do povo.

Mulder fecha a porta e anda entre as pessoas, procurando Darius e Victoria. Scully vai atrás dele. Os dois nervosos, procuram com os olhos, até avistarem um bolo de gente e sósias de Michael aplaudindo e assoviando. Mulder e Scully passam entre as pessoas. No meio da roda, Darius, dançando Billie Jean pra Victoria, com direito a chapéu e luva. Scully segura Mulder.

SCULLY: - (EMPOLGADA) Espera, Mulder! Eu quero ver isso!

MULDER: - ... Admita, Scully, você é fã do Michael Jackson.

SCULLY: - Lógico que sou! E a Angela tem um verdadeiro dançarino dentro de casa! (RINDO) Meu Deus, dança igualzinho!

MULDER: - Se eu tivesse um terço do molejo desse garoto, teria feito mais sucesso entre as mulheres...

SCULLY: - (EMPOLGADA) Desista Mulder... Estou em outra!

Scully fica se embalando com a música e admirando. Darius vem dançar pra ela. Scully sorri aplaudindo, impressionada.

DARIUS: -(CANTANDO) People always told me: - Be careful what you do! And don't go around breaking young girl's hearts...

MULDER: - Ok, seu "partidor de corações de meninas". Pra onde foi Victoria?

DARIUS: - (DANÇANDO/ APONTA) Sentada ali na calçada conversando com um moleque... Vou fazer o moonwalker em sua homenagem, Sra. Mulder. Espera aí que já tá chegando a parte que dá pra fazer... Billie Jean it's not my lover...

Darius faz o passo. Scully aplaude, empolgada. Começa a dançar junto com todos. Mulder revira os olhos e suspira. Vira-se e vê Victoria conversando com Billie. Mulder afasta-se, indo em direção aos dois. Billie quando vê Mulder, sai correndo. Mulder coloca as mãos na cintura.

MULDER: - Acho que tem alguma coisa pra me dizer.

VICTORIA: - Eu não estava namorando. Juro!

MULDER: - Não tenta me fazer de palhaço. Era o Billie, não era?

Victoria acena positivamente com a cabeça.

MULDER: - Quando foi que você viu Michael Jackson? E não minta pra mim, porque eu posso ficar muito, mas muito furioso!

VICTORIA: - ...

MULDER: - Vamos embora. Depois do almoço vou ter uma conversinha ao pé do ouvido com você, garota.

Victoria arregala os olhos.


Motel Silver State – Quarto 7 – 02:14 PM

Mulder entra no quarto. As crianças vendo TV. Scully na cama, respondendo e-mails. Mulder fala com Scully, mas de olho nas reações de Victoria.

MULDER: -Eu tenho uma teoria. Doppelgänger.

SCULLY: - Ahn? Só um pouquinho, eu estou terminando de orientar um aluno...

MULDER: - Podemos estar lidando com doppelgängers.

Victoria continua vendo TV, com os ouvidos atentos em Mulder.

MULDER: - É uma lenda germânica. Um ser fantástico que possui o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar. É um imitador. Imita até mesmo as particularidades mais íntimas do imitado.

SCULLY: - E pode imitar os mortos?

MULDER: - Acho que não. Quanto aos vivos é sinal de mau agouro, um presságio de morte. E se Michael e Elvis estão vivos realmente e seus doppelgängers estão se manifestando?

Victoria está calada. Mulder bate palmas.

MULDER: - Ok, todo mundo pra fora! Preciso trabalhar. Quero que fiquem no quarto de vocês, comportadinhos, assistindo TV, brincando, pintando, dançando Michael Jackson, cochilando, sei lá o quê. Eu prometo que depois vou recompensar.

BRYAN: - Posso ir junto, pai?

MULDER: - Deve. E leva o Elvis com você.

BRYAN: - (FELIZ) Êêê!!!!!!!! Vem Dimi!!!!!!!!!!

Os cinco vão saindo pela porta.

MULDER: - Você fica, Victoria Mulder.

Victoria morde os lábios, fechando os olhos.

VICTORIA: - (MURMURA) Ele me chamou de garota. Agora de Victoria Mulder. Isso nunca é um bom sinal... Nunca...

Eles saem, Mulder fecha a porta. Victoria com olhar de cachorrinho pidão, senta-se na cama, ao lado de Scully. Bem colada em Scully.

MULDER: - Primeiro lugar. Esse olhar de cachorro pidão não vai me convencer porque ele já era meu antes de você nascer, ok? Segundo lugar: Não adianta correr pra perto da sua mãe que isso não vai aliviar a sua situação, a mamãe não vai safar você dessa bronca. Terceiro lugar: Por que não confia mais em mim? Acha que vou gritar com você, bater em você ou seja lá o tipo de reação que pensa que eu teria com você. Alguma vez eu fiz isso?

Scully observa Victoria.

VICTORIA: - Primeiro lugar, ok. Segundo, entendi. Terceiro, eu confio em você, só não gosto quando fica bravo. Fico assustada. Sei que não vai me bater, pode até me dar um castigo, mas você eleva a voz sim.

MULDER: - Quarto lugar: Por que me escondeu o que aconteceu?

VICTORIA: - Porque ainda não tinha certeza do que tinha acontecido e não adiantaria dizer pra você. Precisava comparar com a coisa do Elvis, ter mais respostas... E você ia ficar bravo comigo. Eu desobedeci. Eu saí do quarto de madrugada e fui até o Cyber Café.

SCULLY: -(ASSUSTADA) Você saiu do quarto? De madrugada? Sozinha por aí? Por que, filha? Por que fez isso?

VICTORIA: - ... Mamãe, é que... Tem coisas que eu ainda não posso falar pra vocês... Mas eu não fui procurar o Michael Jackson eu fui conversar com o Kevin. Precisava de um computador, eu tinha que falar com ele umas coisas e foi aí que o Michael apareceu.

MULDER: - Falar sobre o quê com o Kevin?

VICTORIA: - Isso eu não posso dizer. Vamos falar sobre o Michael Jackson e o Elvis.

Mulder puxa uma cadeira, senta-se e cruza as pernas debochado.

MULDER: - Não quero saber de Elvis e Michael. Quero saber do resto. Tenho todo o tempo do mundo até você abrir a boca e começar a desembuchar. Fui agente do FBI, reconheço um suspeito quando vejo, tenho técnicas para extrair a verdade de você e sinceramente, muita, mas muita paciência pra ficar aqui encarando a minha filha até que ela abra a boca.

SCULLY: - Mulder, está assustando a nossa filha! Ela não é nenhuma criminosa...

MULDER: - Scully, quer ir ver TV no quarto ao lado? Hum? Então fique quieta.

Scully se levanta da cama.

SCULLY: - (INDIGNADA) Quem você pensa que é pra me mandar ficar quieta? Ahn? Está agindo feito um doido, Mulder!

MULDER: - Ah, eu sou doido? Quer discutir isso na frente dela?

VICTORIA: - Por favor! Por favor! Mamãe, papai tem razão. Eu fiz uma coisa que não devia. Não sei se mereço punição, o que sei é que não posso contar agora o que tá havendo, porque nem eu sei ainda!

MULDER: - Agora me chama de doido. Ouviu o que ela acabou de falar? Nem ela sabe ainda! O que falamos ontem, Scully? Sobre lógica e instinto?

Scully senta-se na cama, angustiada.

MULDER: - Ok, mocinha. Se quiser trabalhar comigo, tem que haver confiança. Se não houver confiança, discussões de teorias, a coisa toda não anda. Um atrapalha o outro quando deixa o outro na cegueira. Pergunta pra sua mãe se estou mentindo.

SCULLY: - Não, não está mentindo, mas eu não estou gostando do rumo dessa conversa, Mulder.

MULDER: - Por isso sua mãe e eu trabalhamos juntos no FBI por anos! Porque confiávamos um no outro. Ser parceiro é dar confiança e não ficar descobrindo as coisas por fora sem dizer ao outro.

VICTORIA: - Estamos falando como "profissionais"?

MULDER: - Pode ser. Mas nunca se esqueça que o meu profissional termina onde começa o seu pai.

VICTORIA: - (SUSPIRA) Eu tenho mesmo que contar tudo? Tudinho?

SCULLY: - O que puder contar, Docinho. (OLHANDO COM CENSURA PRA MULDER) Porque a mamãe sabe que tem coisas que são verdades que não podemos aceitar como humanos, nem como pais. E vamos questionar e abater você com isso. São coisas que pertencem ao seu dom, e a algum tipo de missão divina que você tem aqui e que não pode nos contar. E mesmo seu pai sendo um cabeça dura, louco pra descobrir toda e qualquer verdade, você deve seguir suas ordens do Céu e não as nossas.

VICTORIA: - ... Tem uma coisa acontecendo comigo. Eu não posso falar sobre isso ainda, porque não tenho certeza e não quero preocupar vocês com incertezas, tá bom? Não posso falar, não quero mentir, ainda não sei a verdade sobre isso. E se me forçarem a falar, eu terei de falar e o que posso dizer não significa a verdade, porque eu ainda não tenho nenhuma teoria sobre isso. Quando eu puder falar, quando eu tiver a certeza, eu vou falar, porque não quero esconder nada de vocês, eu os amo muito. Não é da minha natureza mentir.

SCULLY: - Não quero que minta. Você nunca fez isso. Se não pode falar, não fale. Fale quando puder.

MULDER: - Ah e eu vou dormir de que jeito, preocupado?

SCULLY: - Tome um Rivotril, Mulder. E durma à vontade. Mas sua filha não vai falar o que não pode falar.

VICTORIA: - Não quero que briguem por minha causa. Estou protegida. Talvez doa o que vou dizer a vocês, mas não estou dizendo pra magoar, estou sendo apenas lógica: antes de ser filha de vocês, eu tenho um outro Pai lá no Céu. E se pra obedecer vocês eu terei que desobedecer ao meu Pai, então teremos um problema.

SCULLY: - Tudo bem, filha. Não quero que desobedeça nenhum dos seus pais.

Mulder sai batendo a porta. Victoria abaixa a cabeça, começa a chorar.

VICTORIA: - Não queria magoar ele! Por isso tem coisas que não podem ser ditas!

Scully enche os olhos de lágrimas e abraça Victoria.

SCULLY: - Ele é turrão e teimoso, mas... Ele vai entender.

VICTORIA: - Ele vai ficar é se culpando por eu ser assim. Amaldiçoando a genética dele... (CHORANDO/ SOLUÇANDO) Ele deve olhar pra mim e lembrar das coisas ruins que fizeram com ele. Ele se culpa que eu seja assim por causa dele... Mãe, me abraça forte, porque eu tô desmoronando... É muita coisa, mamãe, eu só queria ser uma garotinha como as outras... Mas eu nem sei mais o que eu sou, e eu me sinto perdida aqui...

Scully a abraça com força, apoia o queixo na cabeça da filha, chorando com ela.

VICTORIA: - ... Perdida, entende?

Scully beija a cabeça da filha.

SCULLY: -Entendo.

VICTORIA: - Jogada nesse planeta sem saber que droga eu sou. Lembrando da minha casa em Sião, que eu nem sei se conheci mesmo, se estive lá. Meus anjos se foram sem me dar resposta de nada. Eu não sei ser anjo, mãe. E não consigo ser humana.

SCULLY: - Docinho, você é humana. E você é um anjo. E eu tenho certeza que na hora certa, seus anjos vão aparecer e darem todas as respostas que precisa. Enquanto isso não acontece, tente apenas ser você mesma. Não ficar pensando muito nas coisas, mas viver as coisas. Isso é ser um humano. Humanos são falhos. Anjos também são. Mas sua mãe aqui não entende nada da natureza dos anjos, mas entende alguma coisa da natureza humana. Permita-se falhar, filha.

Victoria se agarra mais nela, soluçando de tanto chorar.

SCULLY: - Permita-se ser uma garotinha. Permita-se chorar, ficar brava, cometer erros. Os erros nos ensinam. E acima de tudo, nunca, mas nunca se revolte com Deus por ele não dar as respostas que você quer na hora que você quer. Você, melhor que eu, sabe que o tempo de Deus é diferente do nosso. Aprenda a esperar pelas coisas, não faça como eu, que atropelava tudo. Só há desgosto e dor nisso, ok?



BLOCO 4:

3:47 PM

[Som: Elvis Presley - Sylvia]

Mulder sentado no carro em frente ao quarto do motel, ouvindo música. Come sementes de girassol. Tenso, culpado, angustiado e distante. Scully entra no carro e senta-se no banco do carona.

SCULLY: - Precisamos ter uma conversa, Mulder.

MULDER: - ... Não precisamos não.

SCULLY: - Precisamos sim.

MULDER: - Estou pensando nas minhas teorias.

SCULLY: - Foda-se suas teorias, Mulder, seus Arquivos X e o caramba! Pare de mentir! Como se você ainda se importasse com essa droga toda! Você só está aqui porque quer ter a certeza de que Elvis não morreu! Não é um detetive agora, é um fã!

Mulder solta um longo suspiro.

SCULLY: - Você acusa nossa filha de ocultar as coisas. E quando ela se abre, você, Fox Mulder, fica se sentindo ofendido e culpado! Deus, você não enxerga mesmo? Você não pode por um minuto tirar essa máscara de que pouco está se importando? Quem calejou você desse jeito, Mulder, hum? Você não era assim. Nunca foi assim. Não reconheço mais você!

Silêncio. Até que Mulder o quebra.

MULDER: - ... Eu vi hoje naquele quarto, sentada ao seu lado, uma verdade que eu não queria ver.

SCULLY: - ...

MULDER: - Dois pais... Eu me vi sentado ali. Eu vi o meu passado, só que não era eu, era minha filha. E enquanto ela falava, eu me via ali. E senti medo. Eu era sozinho. Um dia você apareceu pra mudar isso, mas eu era sozinho. Eu sofri demais. Ferraram minha vida. E como quem vê o passado ali, sentado na cama, sabendo do futuro, do que me tornei, eu fiquei com medo, Scully. Medo pela minha filha. Porque eu não quero que ela sofra, e se ela continuar a buscar esse desconhecido, ela vai sofrer, como eu sofri. Vai ser sozinha, motivo de risadas, se escondendo no trabalho porque não existe mais nada. Eu prefiro que me cortem em pedaços, mas poupem a minha garotinha.

SCULLY: - ... Mulder... Não vai adiantar ficar aí remoendo passado e sentindo pena de si mesmo. Ninguém foge à sua sina. Cruel? Não. Chama-se viver. E ela tem o direito de viver. E você não tem o direito de ignorá-la, achando que com isso vai poupá-la. Os filhos crescem, nunca são da gente. Eles tomam seus caminhos, Mulder.

MULDER: - (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Não quero ser pra ela o pai que tive, os pais que tive. Um bando de omissos que aceitaram a minha "sina". Que me traíram, esconderam a verdade. Mentiram sobre o que eu era. Mentiram sobre tudo. Mentiram até que se importavam comigo. E hoje, o que me dá mais ódio de mim mesmo, é que eu parecia o Canceroso querendo arrancar o que ela sabia. Mentindo pra ela sobre uma teoria da qual eu não acreditava, só pra ver a reação dela, se ela sabia a verdade me contestando.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Me odiei, Scully... Fiz com ela o que faziam comigo, ao invés de dizer a verdade, semeei uma mentira pra ver se ela aceitava ou negava, pra ver até onde ela poderia me dizer a verdade.

SCULLY: - Você teve dois pais diabólicos, Mulder. Ela tem dois pais amorosos, um pai Divino e outro que é um ser humano. Então, vá lá dentro e peça desculpas pra sua filha. Porque você não é o seu pai, Fox Mulder. Nenhum deles. Você não precisa ficar se martirizando que é sua culpa que ela seja assim. Ela é assim porque tem que ser assim. Você é assim porque ela tinha que nascer de você. Seu pai foi assim, seu avô assim, porque havia um plano e não era do governo da Terra. Ela não é você. Ela é Victoria Mulder. E até pode ir pelo mesmo caminho que você, só que ela tem um pai de verdade pra ajudá-la de verdade. Sem mentiras, sem ocultações. Mas com beijos, abraços, palavras de sabedoria e muito carinho.

MULDER: - (OLHA PRA ELA EM LÁGRIMAS) ... Você é o meu lado humano, sabia?

SCULLY: - Ah, como eu sei. Já ouvi isso de outro Mulder hoje. Anda, seu jumento! Vai lá falar com sua filha. Ela tem teorias pra discutir com a gente. E não toque nunca mais naquele assunto que ela não pode falar, entendeu?

O celular de Mulder toca. Ele atende.

MULDER: -(AO CELULAR) Mulder... Sra. Archer? (OLHA PRA SCULLY/ INCRÉDULO) Como assim Elvis está aí e quer falar comigo???

Scully sai do carro, cabisbaixa e decepcionada. Entra no quarto do motel. Mulder a acompanha com os olhos.

MULDER: -(AO CELULAR) Sim... Sra. Archer eu... Olha, tudo o que eu mais queria era falar com o Elvis, Sra. Archer. Mas eu não posso agora... Diga ao Elvis que... Minha filha vem em primeiro lugar.

Mulder desliga o celular. Respira fundo, dando um sorriso.

Corte.

Mulder entra no quarto. Scully sorri ao vê-lo. Victoria, ainda com os olhos vermelhos de tanto chorar, está deitada na cama, olhando pro nada.

MULDER: - (CULPADO) Pode me perdoar, Pinguinho? Esse é o meu lado cretino que fere as pessoas...

Victoria pula da cama e se abraça nele com força. Mulder a ergue num abraço forte, a enchendo de beijos, ambos derrubando lágrimas. Scully sorri, saindo do quarto.


Happy Place - 4:23 PM

Uma lanchonete com brinquedos e lotada de sósias. Mulder e Scully sentados à mesa. Dimi sentado ao lado deles brincando com o xilofone. Victoria entre os pais, observa Darius, Megan e Bryan brincando na piscina de bolinhas.

VICTORIA: -... Então foi isso. Eu pensei no Kevin e ouvi a música que o Kevin mais gosta do Michael e saí pra fora. O Michael estava triste cantando a música. Eu estava triste. Depois saímos caminhando e ele sentou-se na calçada e começamos a conversar.

MULDER: - Ah, então quer dizer que aquele moleque descarado já arrumou até canção de amor pra vocês? Acho que vou ligar pro Ivan e...

Scully começa a rir.

VICTORIA: - Papai concentre-se na investigação! Foi o mesmo com a Sra. Archer. Ela estava pensando no irmão. Estava triste e Elvis apareceu cantando a música favorita do irmão dela, assim como Michael apareceu cantando a música que Kevin mais gosta. Eles apareceram cantando as músicas mais queridas dos dois. E no caso de Kevin... Eu era o motivo da dor dele. Eu estava ali e... Também estava me sentindo sozinha como o Kevin estava.

MULDER: - (ENCIUMADO) Vou ignorar esse comentário e tentar ser profissional...

SCULLY: - (CENSURANDO) Mulder! ... Faz sentido, filha.

VICTORIA: - Elvis se aproximou pela dor que ela sentia pelo irmão gêmeo doente. E fez isso por quê??? Você sabe, papai.

MULDER: - Elvis também teve um gêmeo que morreu no parto. Ele fez porque sentia a dor dela em estar perdendo seu irmão gêmeo. Pinguinho, você foi muito feliz fazendo aquela pergunta sobre gêmeos para a Sra. Archer.

SCULLY: - Então a tristeza chamou os dois pra perto de você e a Sra. Archer?

VICTORIA: - Não, mamãe. Cumplicidade de sentimentos. Porque aí explicamos porque Michael foi violento com o Sr. Stephens. Ele estava magoando uma criança carente.

MULDER: - Ok, sabemos então que nossos "suspeitos" são sentimentais e solidários, características bem humanas. E a coisa do playback? Da onde vem as músicas? Do nada?

VICTORIA: - Já vamos chegar lá...

SCULLY: - Não devia estar com o seu irmão e seus amigos?

VICTORIA: - Nah...

SCULLY: - Dimi, não quer ir brincar com o Bryan? Vocês brigaram?

DIMI: - Não.

MULDER: - Esse garoto é obcecado por música como oSchroeder do Snoopy. Um não larga o xilofone e o outro o piano. E aí, Elvis? Vai tocar alguma coisa pra nós?

Scully sorri, fazendo carinho nos cabelos de Dimi.

SCULLY: - A dinda vai dar de aniversário pra ele um pianinho de brinquedo, né amor?

Dimi olha pra Scully num sorriso.

MULDER: - (ENCIUMADO)Fala sério, você tá apaixonada pelo rato pai ou o rato filho? Se é que tem diferença porque um é a cara do outro, embora o camundongo sorria e seja mais simpático.

Victoria solta uma gargalhada.

SCULLY: - Estou apaixonada pelo meu afilhado, Mulder. Eu ajudei Dimi a vir ao mundo, ajudei a mãe dele, auxiliei no primeiro banho, nos primeiros cuidados e é o único afilhado que eu tenho, já que o filho da Ellen nunca me procura. E pelo que eu sei, só a Barbara mesmo pra ter a coragem de convidar você pra padrinho de uma criança. Cuide bem porque é o seu único afilhado, não tem muito corajoso por aí disposto a entregar uma criança nas suas mãos.

Mulder faz cara de pânico. Victoria começa a rir.

VICTORIA: - Posso tomar um pouco do seu café, papai?

MULDER: -Café? Não quer um sorvete?

Victoria acena negativamente com a cabeça. Mulder empurra a xícara pra ela. Victoria dá um gole. Faz uma cara feia.

MULDER: - Falei.

VICTORIA: - Isso tá horrível! Não tem açúcar.

MULDER: - Claro que tem!

Victoria pega uns seis sachês de açúcar e abre um por um, colocando no café.

SCULLY: - Pegue leve nesse açúcar... Victoria!

VICTORIA: - Ainda tá ruim. Precisa de mais.

Mulder e Scully se entreolham. Scully afasta o potinho com os sachês de açúcar. Victoria bebe todo o café.

VICTORIA: - Agora aceito um doce.

SCULLY: - Não mesmo, já comeu açúcar demais por hoje.

VICTORIA: - ... Elvis estava a um passo de você. E você o perdeu, papai. Deveria ter ido atrás dele.

MULDER: - Não importa. Você é mais importante que tudo.

VICTORIA: - Não são doppelgängers.

MULDER: - Eu sei.

VICTORIA: - Eu sei que sabe. Sempre sei o que você sabe. Mas não vamos mais falar sobre isso. Só quero que saiba, que nem de longe, você é aquele sujeito que fuma. Nem querendo vai ser... Agora vamos falar das suas teorias? O que pensa que são?

MULDER: - Juro pra vocês que eu vim pra cá pensando serem alienígenas ou alguma experiência de Dreamland. Enquanto sua mãe ria de mim porque eu perguntava sobre o que eles comeram e se comeram, eu descartava as possibilidades.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Os alienígenas supostamente presos em Dreamland só se alimentam de coisas líquidas ou cremosas, talvez pela fisiologia deles. O fato de Elvis ter comido apenas o recheio da torta, me fez ficar na dúvida. Mas o sanduíche...

SCULLY: - Ei, Michael comeu um sanduíche também.

VICTORIA: - Não, Billie disse que Michael pegou o sanduíche e uma Coca e deu pra ele, porque ele estava com fome.

SCULLY: - Pode parecer bizarro, mas por que uma Coca?

VICTORIA: - Porque acho que Michael ficou magoado demais com a Pepsi.

Mulder e Scully começam a rir.

VICTORIA: - É sério. Foi aquele acidente que ele teve na gravação do comercial que desencadeou a dependência de remédios para dor. Ele ficou meses com um balão inflando sob o couro cabeludo pra poder expandir a pele dele e assim poder fazer uma correção plástica.

SCULLY: - Faz sentido. Realmente é um procedimento doloroso.

MULDER: - O que Michael e você conversaram?

VICTORIA: - Sobre muitas coisas. Algumas das quais vocês até imaginam. Outras são segredos e eu prometi segredo.

MULDER: - Alienígenas descartados... Lidamos com alguma coisa que é sentimental, regida pelo coração. E não são anjos se passando por famosos.

VICTORIA: - Não, porque eu sentiria o cheiro deles.

SCULLY: - Não podem ser fantasmas? Aparições, essas coisas...

MULDER: - Ecos, Scully. Podem ser Ecos. Mas ecos não interagem. Ecos ficam presos no lugar onde morreram. Vivendo aquele momento da morte eternamente... A pergunta de Victoria sobre se havia alguma música. O tal playback...

VICTORIA: - O lance do playback... Eles interagem da maneira que melhor conhecem: através da sua música.

MULDER: - Mas e se forem algum tipo de eco que ainda não conhecemos? Confesso que ainda não tirei da ideia o fato de serem covers dos reais. Pra que e por que estão fazendo isso, eu não sei.

VICTORIA: - Não sei como chamar, nem sei se tem nome isso, ecos, fantasmas, sei lá. Mas eles são humanos. E lamento, mas estão mortos. E sabem disso. E sabem também que deixaram coisas por fazer. E não conseguem descansar por isso, por estarem magoados demais com as injustiças que sofreram e que terminaram na morte de cada um deles. Quase que da mesma maneira: remédios em excesso e médicos negligentes.

MULDER: - (EMPOLGADO) Então acha que...

VICTORIA: - Não acho. São eles. Eles são quem são. Eu vi e conversei com Michael Jackson. Agora eu tenho certeza porque quando fomos na casa da Sra. Archer eu perguntei coisas sobre Elvis pra comparar com o que vi do Michael. Era Elvis. Certamente era.

Mulder abre um sorriso de empolgação. Eles não percebem que Dimi dirige a atenção para uma mesa ao longe, com um violão em cima. Dimi sai da mesa, levando o xilofone.

SCULLY: - Confesso que ver você interrogando uma testemunha com tanta autoridade me deixou orgulhosa, Docinho, mas com medo de que se apaixone pela profissão.

VICTORIA: - Nah! Não herdei isso de vocês, fiquem despreocupados. Nunca tomaria uma arma na mão porque eu poderia ter que usar contra uma pessoa. Não posso fazer isso.

MULDER: - (MATUTANDO) ... Já se perguntaram por que logo Elvis e Michael? Por que não Jimi Hendrix e Janis Joplin?

VICTORIA: - Porque ambos deixaram assuntos pendentes? Porque ambos morreram por overdose de medicamentos? Porque ambos foram explorados sem piedade e roubados sem piedade alguma das pessoas que confiavam? Por que ambos eram pessoas boas e até ingênuas?

MULDER: - Elvis dava dinheiro e carros se qualquer um pedisse. Uma vez uma garota parou e ficou olhando o carro dele. Ele perguntou se ela gostava. Ela disse que sim. Ele disse "esse eu não posso dar, mas vou dar um carro igual pra você". Entrou na concessionária e comprou o carro pra garota.

VICTORIA: - Michael. Michael confiava demais nas pessoas. Colocava qualquer um dentro de Neverland. Doava dinheiro a quem pedisse, principalmente para causas de defesa de crianças.

MULDER: - Como o Elvis em Graceland.

SCULLY: - Ambos vieram da pobreza.

MULDER: - Ambos evangélicos.

SCULLY: - Ambos astros por natureza, inquestionavelmente. O Rei do Rock, o Rei do Pop.

MULDER: - O sogro e o genro?

VICTORIA: - (RINDO) Acho que Elvis nem deve saber disso. Eles não se encontraram. Estão presos nesse tipo de eco, tentando fazer alguma coisa.

SCULLY: - Acham mesmo que isso tem a ver com espíritos que se foram cedo demais, deixando coisas para trás? Por que agora? Por que em Nevada? Elvis foi muito feliz em Las Vegas, mas Michael? Michael nasceu em Gary, na Indiana. Elvis em Tupelo, Mississipi. Estão bem longe de casa!

MULDER: - Um era negro, o outro amava a música negra. O negro virou branco. O branco virou negro. Eu sei lá, tô divagando.

VICTORIA: - Foi o vitiligo. E outro tanto o medo de um negro ser discriminado pela sua música branca. Sei lá, não entendo esses rótulos racistas nesse planeta, sobre divisão de raças e cores. Eu conheço é a raça humana.

SCULLY: - ... (PENSATIVA)

VICTORIA: - O que foi, mamãe?

SCULLY: - ... Se eles sabem que morreram... Quem vai mandar eles de volta?

VICTORIA: - ... É. Como eu já previa, o serviço sujo sempre vai ficar pra mim nessa vida...

MULDER: - Posso chamar a Baba. Ela tem aqueles rituais dela...

VICTORIA: - Não são espíritos maus... Não tenho medo deles. Não precisam disso, eles necessitam de alguma coisa que os faça compreender que já fizeram o que tinham de fazer e precisam agora descansar... E acho que sei como podemos fazer isso.

MULDER: - Como?

VICTORIA: - Precisam confiar em mim, sem muitas perguntas. Quero que vocês vão pra casa da Sra. Archer. Vamos ter nosso jantar de Ação de Graças em companhia dela. É o dia perfeito pra fazer isso.

SCULLY: - E você?

VICTORIA: - Preciso que confiem em mim, esqueçam que tenho dez anos e essas coisas de crianças andarem sozinhas por aí. Eu vou estar lá depois. Mas antes... Preciso fazer uma coisa, e preciso fazer isso com o Darius e a Megan.

Mulder e Scully se entreolham preocupados.

VICTORIA: - Por favor... Se precisar, juro, eu vou chamar vocês pelo celular... Mas me deem esse voto de confiança. Estaremos seguros, eu garanto... E eu preciso de alguns dólares para o táxi.

SCULLY: - (TENSA) E-eu não sei se posso fazer isso, e-eu...

Mulder puxa a carteira e entrega o dinheiro pra ela.

MULDER: - Nosso voto de confiança. Se algo acontecer com vocês, saiba que nunca vou me perdoar por isso.

VICTORIA: - Nada vai acontecer. A gente se encontra na casa dos Archer.

Victoria corre até a piscina de bolinhas e chama Megan, Darius e Bryan.

SCULLY: - (PREOCUPADA)É a coisa certa, Mulder?

MULDER: - Se não for, você pode me culpar pelo resto da vida. A decisão foi minha.

SCULLY: - Onde está o Dimi???

Mulder e Scully viram-se pra trás. Dimi sumiu.

Corte.


Mulder e Scully procuram pela lanchonete, ambos nervosos e angustiados.

MULDER: - Krycek e Barbara vão nos matar se alguma coisa acontecer com o filho deles! O xodó do Krycek! Tô morto! Pode apostar que o Rato vai acabar com a minha raça!

SCULLY: - Ele não deve ter ido pra longe... Meu Deus, Dimi nunca saiu de perto da gente, nem vai com estranhos... Ai, eu tô nervosa, Mulder! E se sequestraram o menino?

MULDER: -Ele deve ter se perdido, Scully, alguma coisa deve ter atraído a atenção do moleque.Você vai por ali e eu por aqui.

Mulder vai para um lado e Scully para o outro. Muitas crianças, alguns sósias de Elvis e Michael. Distante, Dimi parado, com o xilofone debaixo do braço, olhando encantado para o violão sobre uma das mesas.

ELVIS: - Ei, sabe tocar?

Dimi vira-se. Elvis aponta para o xilofone. Dimi acena que sim com a cabeça. Elvis senta-se no banco.

ELVIS: - Toca uma música pra mim?

Dimi coloca o xilofone no banco e com a baqueta faz umas notas. Elvis pega o violão e começa a tocar as notas de Dimi, que olha pra ele num sorriso tímido.

ELVIS: - Ei, não é que você sabe as notas mesmo? Você é bom de ouvido, garoto. Estamos fazendo uma música?

DIMI: - (SORRI) "Góto" de música.

ELVIS: - Gosta de rock?

Elvis acelera a batida e Dimi acompanha no xilofone.

ELVIS: - (RINDO) É, você gosta de rock. Eu gostei do seu topete, parece com o meu. Qual o seu nome?

DIMI: - Mikhail Dimitri Krycek. Dimi.

ELVIS: - Eu sou o Elvis Aaron Presley, Elvis. Muito prazer.

Elvis estende a mão. Dimi o cumprimenta.

ELVIS: - Seu nome é russo, Dimi?

DIMI: - Sim. Meu papa é russo, mama é... Num "lembo".

ELVIS: - É um bonito nome, mas bem complicado pra um músico. Um nome de artista pra você... Que tal Dimi Russo? Gosta de violão, Dimi Russo?

Dimi afirma com a cabeça.

ELVIS: - E sabe tocar?

Dimi faz que não com a cabeça.

ELVIS: - Nem um pouquinho?

Dimi passa a mão nas cordas, encantado.

DIMI: - Papa toca e Dimi vai "apender" com papa.

ELVIS: - Ah, seu pai vai ensinar você?

DIMI: - Sim.

ELVIS: - Ele é músico?

DIMI: - Não. Policial, mas ele "sempe" quis ser músico.

Elvis sorri. Coloca o violão ao lado e passa a mão na cabeça de Dimi.

ELVIS: - Seja um bom músico, Dimi Russo. Não se envolva nunca com drogas e bebidas. Mantenha sempre Deus no seu coração, seja humilde e nunca escravo do sucesso e do dinheiro. Promete?

Dimi, sem entender nada, afirma com a cabeça.

ELVIS: - (SORRI) Tem minha bênção, Dimi Russo. O rock vai sorrir pra você. Toma. Esse violão é seu agora. Faça as pessoas felizes com sua música.

Elvis se levanta, beija a cabeça de Dimi e entrega o violão. Dimi, mal consegue segurar, num sorriso. Elvis vai embora.

Mulder se aproxima, enlouquecido.

MULDER: - Ok, agora você deixou o tio Mulder nervoso. O que é isso?

DIMI: - Violão.

MULDER: - Eu sei que é um violão, mas de quem é?

DIMI: - Do Dimi.

MULDER: - Como assim? Deram um violão pra você? Quem?

DIMI: - Elvis.

Dimi aponta pra saída, onde existem vários Elvis. Mulder coça a cabeça intrigado.

MULDER: - Me dá esse violão, "Elvis". Pega o seu xilofone e vamos embora, sua madrinha está louca atrás de você. Seu pai me cortaria em pedacinhos se você sumisse, Dimi.

DIMI: - Dimi Russo.

MULDER: - Quê?

DIMI: - (SORRI) Artista.

MULDER: - Era o que me faltava, filhote de rato arrumando nome artístico! Na próxima eu prendo você pelas fraldas numa ratoeira, entendeu, "Dimi Russo"?Agora vamos sair daqui e comprar nossas jumpsuits. Seu pai levou o meu filho pro futebol, eu vou levar o dele pro Elvis!


Stephen's Cyber Cafe – 5:59 PM

[Som: Michael Jackson - Remember the Time]

O burburinho de fãs e sósias de Michael continua na frente do cyber café. Dançam, se enturmam, trocam memorabílias do ídolo. Victoria e Megan entram numa loja de doces ao lado.

VICTORIA: - Finalmente alguém botou a música certa! Agora precisamos comprar doces. Muitos doces...

MEGAN: - Oba!!!!!!!!!!

VICTORIA: - Remember the time... Remember the time...

MEGAN: - Que tempo? Relembrar o quê, Tory?

VICTORIA: - Me ignore. Remember the time, Michael. Remember the time...

MEGAN: - (RINDO) Ah! É a uma das suas músicas favoritas dele?

VICTORIA: - Também. E é a que o Darius se atrapalha pra dançar ainda... Remember the time...

Corta pra calçada. Darius, ainda vestido de Michael Jackson, sentado na calçada ao lado de Billie.

DARIUS: - Não tem criança aqui, bem que a Tory falou... Billie Jean não é nome de mulher?

BILLIE: - Acho que serve pra homem. Pelo menos minha mãe achou, ela era fã do Michael.

DARIUS: - Minha mãe nunca teve essa criatividade... Me deu um nome persa que significa algo como "o nobre", um "césar". Muito nobre que eu sou!

Corta pra loja de doces. Victoria arregala os olhos, pega o saco cheio de doces das mãos do atendente e puxa Megan pela mão.

MEGAN: - Tory, o que tá havendo, você tá estranha demais!!!!!!!

VICTORIA: - Vem, Megan! Depressa!!!!!!!! Não tá ouvindo a música? O Michael Jackson tá vindo!

Corta pra calçada. Darius e Billie observam os sósias, as roupas deles, fascinados. Um deles se aproxima cabisbaixo, usando um manto com capuz, ficando perto deles e de costas pra eles, se embalando na música.

BILLIE: - (RINDO) Olha esse cara de costas com um capuz! Figurino perfeito pra essa música!

DARIUS: - (RINDO) Verdade!

BILLIE: - Você dança legal, Darius. Não vai nessa?

DARIUS: - Acho a coreografia mais difícil do Michael. Já vi o clipe umas trocentas vezes, mas tem que ser muito ágil, são muitos movimentos rápidos e o pescoço... Tá ligado naquela parte em que ele dança com os bailarinos? Ali é onde eu me enrolo todo.

Megan e Victoria se aproximam trazendo um monte de doces. Sentam-se com os meninos. Victoria começa a comer algumas jujubas. Procura algo com os olhos. Então vê o sujeito de costas com o capuz.

VICTORIA: - Vai dançar, Darius.

DARIUS: - Eu? Mas eu me...

VICTORIA: - Vai dançar!

DARIUS: - Você me prometeu que eu ia ver o Michael Jackson...

VICTORIA: - Então não discute e vai dançar. Confia em mim.

Darius começa a dançar.

VICTORIA: - Você tá vendo, Michael? Viu quantas pessoas amam você? Viu o que deixou com sua música?

O sujeito do capuz vira-se pra ela, deixando o capuz cair. Michael olha para Darius entretido, imitando ele. Megan arregala os olhos. Billie fica surpreso.

VICTORIA: - Você se lembra, Michael? Do garotinho que dançava ouvindo o som da máquina de lavar roupas e fazia sua mãe rir com isso? Que ganhava seus cachês e corria pra comprar doces? Quer jujubas?

Michael derruba lágrimas. Victoria se levanta e sinaliza pra Billie e Megan. Começa a dançar na frente dele. Megan e Billie dançam juntos.

VICTORIA: - Do you remember? É o que você é. E sempre será. Então seja pra sempre, garoto!

Michael sorri olhando pra Darius com carinho. Deixa o roupão cair e começa a dançar e cantar. Toca no ombro de Darius que está tentando se concentrar nos passos. Darius olha pra ele. Fica catatônico. Michael o chama pra dança. Darius, meio tímido, tenta acompanhar. As pessoas ao redor percebem e se juntam na dança. Michael faz um gesto, espera Darius repetir. Faz outro, como se o ensinasse. Darius abre um sorriso e repete. Os dois começam a dançar em sincronia.

Um sósia de Michael se aproxima de Victoria.

SÓSIA DE MICHAEL: - Quem é esse cara? Ele é o melhor e mais parecido sósia que já vi na vida!

VICTORIA: - Ele é um amigo meu, veio de Indiana. Fez um tanto de plástica, o que não aconselho...


Fazenda dos Archer – 6:31 PM

O Velho Archer sai pelo portão acelerando a camioneta quase atropelando os fãs e sósias de Elvis e quase batendo no carro de Mulder.

Mulder entra na fazenda e estaciona o carro. Desce, colocando os óculos escuros de Elvis Presley.

MULDER: - Era o marido da senhora Archer?

SCULLY: - Na certa.

Scully tira Bryan do carro enquanto segura um embrulho. Depois tira Dimi, vestido de Elvis Presley, com direito a óculos escuros.

MULDER: - Vamos, Elvis. (BEIÇO) O meu filho não curte Elvis.

Dimi corre atrás de Mulder, Scully segura o riso.

SCULLY: - Aposto que uma roupa de Michael Jackson você usaria.

BRYAN: - Não. Quero ser astronauta!

MULDER: - (BEIÇO) Legítimo Scully, sempre do contra! Milagre é não querer ser marinheiro!

Scully morde os lábios pra não rir. Mulder fecha o portão da fazenda. Scully caminha até a varanda, segurando Bryan pela mão e o embrulho na outra.

SCULLY: - Bate na porta, filhinho.

Bryan bate à porta.

SRA. ARCHER: - Está aberta, entre!

[Som: Elvis Presley - Suspicious Minds]

Scully entra com Bryan. A Sra. Archer os recebe, vindo até eles de muletas. A mesa está arrumada para uma ceia.

SRA. ARCHER: - (SORRI) Fico feliz que aceitaram meu convite.

SCULLY: -(SORRI) Uhm, ouvindo Elvis? ... Desculpe, deveria ter vindo mais cedo para ajudá-la.

SRA. ARCHER: - Ah, não! Nem se preocupe. Tive uma ótima ajuda hoje. Onde estão todas as crianças? Fiz uns biscoitos especiais pra elas.

SCULLY: - Elas virão depois... Eu trouxe uma torta. Posso colocar na mesa?

SRA. ARCHER: - Claro, querida.

SCULLY: - Eu não queria ser indiscreta, mas... Seu marido passou por nós...

SRA. ARCHER: - Ele foi embora. Em pleno Dia de Ação de Graças...

A velhinha tenta sentar-se. Scully vai ajudá-la.

SCULLY: - Deixe que lhe ajudo.

SRA. ARCHER: - Obrigada... É, Tom se foi. Mas é melhor assim. Agora vou pra Portland, ficar com meu irmão. Não há mais empecilhos. Imagina que brigou comigo por causa do Elvis. Ter ciúmes de mim com o Elvis? Pobre do Elvis!

SCULLY: - (SORRINDO) Homens são inseguros por natureza...

BRYAN: - Vovó, o que a senhora tem nas pernas?

SCULLY: - Bryan, não é educado perguntar...

SRA. ARCHER: - (RINDO) Não me importo. É uma coisa chamada osteoporose. Vai comendo seus ossos...

BRYAN: - (PÂNICO) ... Dói?

SRA. ARCHER: - Bastante...

BRYAN: - Acho que vou ser astronauta e médico, mãe.

SCULLY: -(SORRI) Nossa, agora você fez a sua mãe feliz!

SRA. ARCHER: -E seu marido, Sra. Mulder?

SCULLY: - Pode me chamar de Dana. Foi segurar os fãs do Elvis do lado de fora da sua propriedade... Sei que ele ficou aborrecido por não poder atender seu chamado sobre o Elvis... É que temos uma filha e...

SRA. ARCHER: - Não se preocupe em me explicar. Posso entender.

Mulder entra na sala, rindo. Dimi atrás dele.

MULDER: - Tinha um cara que queria me vender uma jumpsuits do Elvis, dizia ser legítima. Tem de tudo nessa cidade. O que eu ia fazer com um macacão temático do Elvis?

SRA. ARCHER: - Cover?

Eles riem.

MULDER: - Me acredite, eu fui o pior cover do Elvis na escola da minha filha.

SCULLY: - Ele é modesto. Fez o maior sucesso... Estou impressionada com sua mesa de Ação de Graças, Sra. Archer.

SRA. ARCHER: - Como eu disse, tive ajuda... (OLHA PRA DIMI/ SORRI) Ei, temos um mini Elvis? Ah, senhor Mulder, poderia ir na cozinha e trazer a limonada?

Mulder vai pra cozinha. Pega a jarra. Percebe o sujeito vestido de Elvis de costas pra ele, tentando decorar biscoitos numa bandeja. Mulder começa a rir.

MULDER: - Como entrou aqui? Eu botei todos eles pra correr. Não é certo importunarem uma senhora.

Elvis se vira pra Mulder.

ELVIS: - Concordo. E concordo que é certo deixar qualquer coisa pra depois. Minha filha também é a coisa mais importante pra mim...

MULDER: - (CATATÔNICO) ...

ELVIS: - Entende alguma coisa de decoração de biscoitos? Nunca fui bom na cozinha, sabe?

Mulder abre um sorriso, empolgado. Amolece as pernas e cai desmaiado no chão.

Corte.


[Som: Elvis Presley - Amazing Grace]

Mulder sentado na poltrona. Scully abanando ele com uma revista.

SCULLY: - ... Mulder?

MULDER: - (FORA DE LOCALIZAÇÃO) ...

SCULLY: - Mulder!

MEGAN: - Ser fã é dose!

VICTORIA: - (PRA MEGAN) Eu que o diga!

Megan cruza os braços, ignorando o comentário. Mulder abre os olhos, vendo tudo embaciado. Um monte de pessoas na sala.

DARIUS: - Eu não desmaiei, não é?

MICHAEL: - (SORRI) Não precisa, não é?

BILLIE: - Também não desmaiei.

DARIUS: - Isso é coisa de adulto.

MICHAEL: - (RINDO) Muito! Acho que agora ele tá acordando...

ELVIS: - Devem ter sido os biscoitos... Ele se assustou com minha decoração.

VICTORIA: - (RINDO) Provavelmente, Elvis...

Mulder dá um salto da poltrona. Alterna o olhar entre Elvis e Michael.

MULDER: - É um sonho, certo? Vou acordar.

SCULLY: - Mulder... Não me peça explicação. E não é um sonho.

SRA. ARCHER: - Bem, certamente vamos ter o melhor Dia de Ação de Graças de nossas vidas. Por favor, meninos e meninas sentem-se à mesa. Crianças, podem abusar dos doces! Elvis, você serve o peru.

ELVIS: - Certamente, Mama. Depois vamos cantar alguma coisa ao piano. Acho que suas pernas ainda podem aguentar um pouco de blues.

Elvis ajuda a senhora Archer a sentar-se. Senta-se ao lado dela e coloca Dimi em seu colo. Michael senta-se no meio das crianças, fazendo bagunça com elas, rindo e brigando por doces e biscoitos. Scully senta-se com Bryan em seu colo que faz bagunça junto com os outros. Mulder continua em pé, olhando pra mesa sem entender nada.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Fox Mulder, venha sentar-se. Vamos fazer uma oração.

MULDER: - ...

VICTORIA: - Papai, não foi o senhor mesmo que disse que preferia passar o Dia de Ação de Graças com o Elvis e o Michael do que com a família da mamãe? Então? Seu desejo se realizou!

MULDER: -(PÂNICO) Agora sou eu quem vai perder o mais importante nessa droga de seriado...

Mulder cai desmaiado no sofá.


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09/09/2012


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25 Nisan 2021 10:10 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
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Son

Yazarla tanışın

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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