O som do caixa se abrindo, fez Matias acordar de seu transe. Estava distante nas últimas semanas.
— Ei, menino... Tá dormindo com o caixa aberto? – Sérgio gritou do outro lado da farmácia, com a vassoura na mão.
— Foi mal... – O menino trocou as cédulas e as entregou ao cliente – seu Sérgio... – ele começou com sua formalidade mesmo tendo 25 e seu chefe 28 anos – posso sair mais cedo hoje?
Matias estava envergonhado o suficiente para não conseguir olhar nos olhos de seu chefe. Já era a quarta vez no mês que ele saía antes do expediente acabar.
— Algum problema? – Sérgio ficou sério.
— Não, eu só preciso acompanhar minha avó na consulta novamente...
— Sua vozinha está vivendo bem?
— Minha meta é fazê-la feliz todos os dias... – ele abaixou a cabeça.
— Vai garoto – o homem sorriu compadecido – não se preocupa com a demora... vai cuidar da sua vozinha...
— Obrigado, seu Sérgio... vou recompensar todos estes dias... – Matias apertou fortemente a mão de seu chefe.
— Já te disse que pode me chamar somente de Sérgio... E não se preocupa com isso no momento.
Na sala de espera, o silêncio tomava conta do ambiente. Dona Nena inquieta, tricotava seu novo cachecol. A agilidade de suas mãos impressionava qualquer um, mesmo depois que seus movimentos foram reduzidos pela doença.
— O que acha que o doutor dirá para nós? – começou Nena ainda com a atenção no cachecol.
— Ele dirá que está bem... – sua voz falhou entregando seu nervosismo. Na mesma hora a lã caiu no chão e as mãos de dona Nena tremeram sem controle.
— Dona Nena, por favor – o médico a chamou.
Já em casa, Matias procurava soluções para suas dívidas e problemas. Quieto, as palavras do médico martelavam na sua cabeça: "como suspeitávamos, sua avó está na fase inicial do Alzheimer"... Em suas mãos estava o preço dos remédios e em cima da mesa, as dívidas se multiplicavam a cada minuto. Em sua mente, uma confusão de pensamentos o atordoava. Matias estremeceu, colocando suas mãos na cabeça, sem solução.
Então, alguém chamou no portão impaciente.
— Oi dona... – disse sem muita vontade, observando o grupo de senhores em sua frente.
— Jovem... – disse chegando próximo a ele – ficamos sabendo da sua vozinha... – agora ela sussurrava.
Os olhares de julgamento do grupo transpassavam o garoto que estremecia numa mistura de raiva e incredulidade.
— Sua avó está doente! – gritou friamente.
O garoto sorriu num tom de sarcasmo e encostou no portão impaciente.
— Minha senhora, diga logo o que quer...
— Tirar ela daqui.
— O quê? – voltou a olhar o grupo, agora com os seus olhares vidrados na sua casa – estão malucos? – fechou o portãozinho brutalmente logo atrás de si.
— Esta senhora está velha, doente, logo vai começar a vegetar... vai dar trabalho. Quem aguentaria uma velha chata assim? Logo, você a largará sozinha para morrer com os ratos imundos desta casa! Leva sua avó para um asilo!
Suas palavras atravessaram seu peito como uma flecha. Ouvir alguém falar algo tão rude sobre quem Matias tanto amava era um pesadelo horrendo. Seu coração acelerou.
— Saiam daqui... – sussurrou o menino tentando controlar sua raiva, com a cabeça baixa – saiam logo daqui... CAIAM FORA! – gritou ferozmente.
— Se prefere sofrer sozinho, problema é seu! – a mulher saiu levando o grupo de senhores consigo.
Matias encostou no portão chorando, transbordando todo a dor que seu coração estava sentindo. A raiva o mandava fugir daquele lugar, deixar tudo para trás. Seus olhos decididos fixaram no final do beco. Então, saiu determinado.
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