ricky_hamer Henrique Carvalho

Em um futuro proximo, pós-apocalíptico, a história conta a experiência de uma jovem que se depara com estranhos visitantes que não parecem pertencer à sua época.


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O Dia em que Tudo Mudou

15 de fevereiro 2026.

Hoje escrevo mais um capítulo em meu diário. Se você está lendo essas páginas, eu provavelmente estou morta. Mas a morte é uma visitante ingrata que a maioria das pessoas aqui já recebeu em sua porta. Quando esse vírus surgiu no final de 2019 alguns países não deram a devida importância... Infelizmente vivo em um desses países. Talvez eu tivesse melhor sorte se tivesse nascido na Alemanha ou no Reino Unido. O que restou desses países ainda é muito melhor do que restou ao meu redor. Lá, ao menos, as notícias são de que as pessoas recomeçaram suas vidas. Claro que todos tivemos que reaprender a viver... Quando o total de mortos passou de 350 mil a curva ganhou proporções exponenciais para as quais ninguém estava preparado. O caos foi total. A instabilidade política, a situação precária das pessoas. A guerra... Hoje estamos vivendo um dia após o outro. Sem grandes perspectivas. Muitas pessoas perderam tudo na guerra. Os fuzis e os canhões dos tanques nas ruas só não fizeram mais vítimas que o próprio vírus. Eu vivo com um grupo de refugiados no que antes era um condomínio luxuoso da minha cidade. Hoje são destroços, mas o Thomas e os outros rapazes que tomam conta daqui conseguem nos manter seguros. Viver nesses tempos não é fácil! Uma mulher da minha idade, 26 anos, estava acostumada a viver uma vida ativa. Mas depois de tanto tempo sem as coisas que tínhamos, já nem nos lembramos mais como era tê-las. Quem iria imaginar que viveríamos sem internet... Sem informação. Nos acostumamos com os sons da guerra lá fora... Já faz 128 dias que não saímos para nada. A morte está à espreita além dos portões. Se você não morre interrogado pela milícia, pode morrer pelo contato com um dos infectados que vagam nas ruas em busca de abrigo e comida. Invadem o que encontram pela frente. Arrebentam portas, janelas... Eu devo dizer que tenho até sorte de estar onde estou. Aprendemos a viver em comunidade aqui. As pessoas tem suas funções. Cultivamos nosso próprio alimento. Cuidamos uns dos outros. E a única regra que conhecemos é: Ninguém entra. Ninguém sai. Hoje já encerrei minhas tarefas e espero ter uma noite tranquila de sono. É uma falsa esperança pois as noites nunca são tranquilas. Mesmo assim há sempre a possibilidade de sonhar.


16 de fevereiro.

Acordei assustada com uma explosão ensurdecedora. Nunca ouvi nada parecido. Nem quando a vila vizinha foi bombardeada. Minha cabeça dói. Tento me levantar mas sinto como se perdesse o equilíbrio. Há fumaça por todo o acampamento, mas não vejo fogo. É uma fumaça estranha. Sem cheiro. Densa. Como uma neblina. Aos poucos essa névoa vai se dissipando e eu vou recobrando os sentidos. Ainda está escuro mas vejo um clarão lá fora. Estou sozinha, o que é estranho. Geralmente dormem mais 12 mulheres na minha ala. Visto uma blusa, pois o clima está muito frio. Sinto algo pingar no meu pé. É sangue. Meu nariz está sangrando e eu não percebi. Inclino a cabeça para tras e pego um pedaço de pano ao lado do colchão. Caminho em direção a porta. Só o silêncio dentro do refúgio e os sons de gritos lá fora. Saindo do meu dormitório percebo que o frio é maior do que pensei. O que é realmente muito incomum. Fevereiro sempre foi uma época de calor, onde curtíamos a praia, enquanto os adolescentes mais inconsequentes comemoravam o carnaval e viviam como se não houvesse um dia seguinte. Bom... hoje vivemos sem saber se haverá um dia seguinte mas tenho certeza que não passa pela cabeça de ninguém nenhum motivo para se comemorar... Meu nariz parou de sangrar. O silêncio dentro do refúgio contrasta com o som lá de fora. Por cima dos muros vejo um clarão que indica que algo enorme está pegando fogo. Lá fora a fumaça é mais escura e sufocante. Diferente da névoa que agora já quase não se vê. Vejo destroços no pátio do que parece ser uma aeronave. Grito por Thomas e pelos nomes das pessoas com quem convivi nesse último ano. Não posso chamá-los de amigos, pois sempre fui muito reservada e apesar de me dar bem com todos que viviam aqui, nunca contei muito sobre minha vida anterior. Tive medo de me julgarem. Com tantas coisas para lidar, a última coisa que eles precisavam era conhecer a vida de uma garota estranha, e suas histórias que ninguém acreditava. Sem falar que minha última experiência em dividir com alguém as coisas que aconteceram na minha vida quase me fizeram ser internada como louca em um sanatório. Não. Aprendi a guardar algumas histórias para mim mesma e vestir minha máscara de pessoa normal. Ninguém gosta de alguém diferente... Alguém especial faz as outras pessoas lembrarem da própria trivialidade de suas vidas. Me acostumei a isso. Mesmo assim eu daria qualquer coisa para encontrar alguém agora que me explicasse o que está acontecendo. Vejo mais alguns destroços do avião. Um dos pedaços do que parece ter vindo da asa tem uma inscrição língua que não reconheço... Há alguns meses atrás eu digitaria no meu celular e pelo menos descobriria a origem desse avião... Continuo seguindo em direção à entrada do refúgio e então tenho uma visão que me faz gelar a espinha. A parte maior da frente do avião destruiu completamente a entrada do refúgio e vejo várias pessoas do outro lado removendo os escombros para tentar entrar! Corro de volta para meu dormitório apavorada. Não sei qual é a intenção das pessoas que estão tentando entrar. No desespero tropeço em um dos destroços e sinto que cortei minha perna. A dor é enorme e a fuzilagem parece enferrujada. Rasgo um pedaço do meu vestido e improviso um torniquete para estancar o sangue. Mordo outro pedaço do pano para tentar não gritar e assim não chamar a atenção dos estranhos que tentam entrar a força. Sangue sempre me deixou nervosa e sinto que estou prestes a desmaiar. Fecho os olhos e tento focar. Respiro fundo. Preciso raciocinar. Quem são essas pessoas? O que elas querem? Quando começo a prestar mais atenção na peça que tropecei ela lembra uma hélice partida. Olhando para os outros destroços como se fossem um quebra-cabecas começo a tentar formar na minha mente a imagem do avião e percebo intrigada que ele não é um avião moderno. Parece ser um avião antigo da segunda guerra. Meu irmão mais novo costumava colecionar soldadinhos e veículos antigos em miniatura e esses destroços lembram muito algumas partes dos aviões da sua coleção. Meus pensamentos são interrompidos com um grito que vem dos escombros do portão. Um soldado está gritando ordens numa língua que não reconheço e gesticulando para as pessoas entrarem . Eles conseguiram remover os últimos entulhos do que sobrou da entrada do grande muro que bloqueava o acesso deles. Uma multidão se expreme para passar pela abertura e começa a entrar. Me levanto rapidamente e retomo o rumo em direção ao meu dormitório antes que me vejam ali. Com o coração disparado e no ímpeto de fugir esqueço que minha perna está machucada mas a dor lascinante me impõe um rítmo de corrida que eu desejava que pudesse ser mais rápido. Mancando e me controlando para que a dor não selasse meu destino, consigo chegar até a entrada do dormitório. Fecho a porta e coloco a barra de madeira para evitar que entrem no barracão. Quando percebo que estão se aproximando, me lembro do esconderijo perfeito. Meu dormitório tem um acesso a uma especie de sótão não muito visível. Fica no teto e para acessá-lo é preciso puxar uma escada embutida. Subo em um dos beliches para tentar alcançar. Infelizmente minha altura não ajuda muito e quando me estico para puxar a alça que dá acesso à escada escorrego e acabo chamando a atenção das pessoas lá fora... Percebo que um dos guardas está batendo na porta e forçando a entrada. Mas quando olho para cima, vejo aliviada que meu esforço não foi em vão. Antes de escorregar consegui alcançar a alça e a escada estava mais baixa, agora ao meu alcance. Me levantei, subi as escadas e puxei de volta o acesso, que se fechou exatamente no mesmo instante em que os soldados conseguiram arrombar a porta do quarto. Eles gritam e fazem sinal para as pessoas entrarem no quarto. Encolhida no sótão, consigo observar pelas frestas a movimentação das famílias começando a se instalar ali e os soldados revirando os pertences que lá estavam. Quando começo a reparar nos civis tenho meu segundo choque de hoje. Os trajes das pessoas é o que me chama a atenção. Vejo homens com suspensórios e boinas. Mulheres com vestidos de punho rendados. Crianças com meia e sapato, as meninas com uma especie de chapéu em forma de véu na cabeça... Essas pessoas parecem definitivamente pertencer a uma outra época. Os soldados parecem confusos quando encontram uma caixa cheia de celulares que já estavam a muito tempo sem uso desde o apagão do ano passado que acabou com a internet e a comunicaçào via satélite. Eles parecem não reconhecer aqueles objetos. Como se não fizessem parte do mundo que eles conhecem. Nesse momento começo a lembrar das últimas notícias que o Thomas nos trouxe. Ele era o único que conseguia notícias do mundo exterior atraves do seu aparelho de rádio amador com o qual insistentemente tentava contado com outros sobreviventes. Todos se reuniam em volta da mesa à noite para ouvir dele as novidades. Se o foco da resistência ao sul tinha conseguido alguma vitória. Se o grupo de cientistas ao leste tinham feito algum progresso em busca de uma vacina... uma cura... uma solução... e eu me lembrei da noite em que ele reuniu todos para contar sobre algo promissor. Eu não fazia parte do grupinho deles. Como eu disse, sempre fui muito reservada. Mas enquanto cuidava de um reparo no sistema de irrigação da horta pude ouví-lo contar aos outros. Os cientistas estavam tentando algo inovador. Algo ridicularizado por muitos, mas que podia ser a chave da salvação da humanidade. Afinal todo problema tem uma origem. E se ao invés de tentar sanar as consequências do problema, fosse possível tratá-lo na sua origem? Com meu ferimento exposto, ardendo em febre, me forcei a me manter alerta e tentar lembrar... O que o Thomas contou naquela noite aos outros? E enquanto eu olhava pela fresta vi um dos meninos. Aquele de boina e suspensório, olhar para o teto. Na minha direção. E com uma expressão apática apontou o dedo diretamente para a fresta pela qual eu observava. Disse algo que não compreendi mas deduzi que estivesse chamando por alguém... Talvez sua mãe... Sinto que devo sair dali para não ser descoberta mas estou fraca. Nesse momento perco os sentidos.

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Max Rocha Max Rocha
Sufocante. Há que se respirar para acompanhar sua pena. Uma leitura angustiante, já que remete a um futuro próximo teoricamente possível, face à estupidez de muitos governantes...
March 17, 2021, 19:38
Inkspired Brasil Inkspired Brasil
Olá, Henrique Carvalho! Primeiramente, gostaríamos de agradecer a sua participação no #DistopiaBr! Ter vocês, autores, nos apoiando com suas histórias incríveis e participando ativamente deste desafio nos deixou realmente felizes. Uma Viagem no Tempo já nos deixa boquiabertos com a ousadia da proposta desde a sinopse. O que esperar de uma história que mistura um cenário apocalíptico com ficção científica; viagem no tempo, para sermos exatos? Antes de qualquer coisa, gostaríamos de dizer que gostamos muito da sua narrativa. Em especial, foi bastante interessante poder acompanhar a trajetória da personagem através de relatos em um diário. Ah, claro, não podemos deixar de citar a incerteza dela na hora de dizer o dia em que estava escrevendo; isso só mostra a confusão na mente dela diante de tantos fatos. Primeiramente, não podemos deixar de notar que você comentou sobre a possibilidade de uma continuação para sua história. Gostaria de lembrar que no edital do desafio havia a informação de que a história poderia ser dividida em capítulos, desde que publicados de uma única vez. Então, caso essa continuação futuramente exista, não poderá fazer parte deste desafio. Sua história já possui o máximo de dois capítulos e cada autor pode participar apenas com uma história, que deverá ser publicada durante o período de duração do desafio. Infelizmente sua história acaba saindo um pouco do que o edital do desafio propõe, não tendo apresentado o que foi pedido nele: o tema distopia se passando no Brasil. Não foi possível encontrar nenhum elemento que encaixasse sua história em uma distopia e o país alvo não foi o nosso Brasil, sendo apenas mencionado e tendo a Polônia como destaque. Além de sua menção a uma continuação, também vimos que esta foi sua primeira história escrita e, para alguém que está chegando agora, você de fato se saiu muito bem! Esperamos, de coração, poder acompanhar seu crescimento e sua evolução através dos desafios que estão por vir. Agora, voltando a atenção para a ambientação da sua história, apesar de você não se aprofundar muito em detalhes e descrições, conseguimos ter uma boa noção de como são os cenários onde a protagonista passa e isso nos ajudou bastante a nos situar na trama. A história pouco revela sobre os personagens além da protagonista, apesar de mencionar o nome de Thomas, cujas descrições ao decorrer da narrativa indicam ser um dos líderes do grupo que agora vive no que um dia foi um condomínio de luxo. É interessante observar que a protagonista já passou por alguns momentos bizarros em sua vida antes da viagem no tempo acontecer, e infelizmente não há menção mais detalhada desses episódios, mesmo que ela os esteja relatando em um diário pessoal. Com relação à gramática e ortografia da história, devemos dizer que você possui uma narrativa cativante e envolvente, no entanto notamos alguns pontos que podem ser melhorados, como os parágrafos muito longos e com mais de uma ideia-núcleo: eles poderiam ter sido divididos para tornar a leitura mais fluída e menos densa. Além disso, há, por exemplo, falta de pontuação para separar conjunções adversativas. São coisas pequenas, que podem ser sanadas com uma rápida revisão e que não atrapalharam no entendimento ao todo da história. Você lançou sua história para o desafio com uma proposta ousada, misturando um cenário pós-apocalíptico com ficção científica, sem contar que foi a primeira vez que publicou no Inks (seja bem-vindo!) e durante o desenvolvimento não houve uma dose sequer do tema principal: uma distopia. Apesar disso, não podemos deixar de te parabenizar pelo seu trabalho e criatividade. Obrigada pela sua participação, foi muito bom poder contar com você neste desafio e esperamos poder vê-lo em outros.
March 06, 2021, 21:46
A. G. Mars A. G. Mars
To adorando a exploração da temática atual. Acho que fica ainda mais assustador imaginar uma distopia a partir dos nossos erros atuais.
March 06, 2021, 00:35
 Silva Silva
Já indo pra o próximo capítulo porque tá bom demais! Que narrativa envolvente, deu pra sentir de perto a ambientação e os personagens. Show!
March 02, 2021, 01:01

  • Henrique Carvalho Henrique Carvalho
    Fico feliz que tenha gostado! Não deixe de comentar o que achou do desfecho quando acabar! March 02, 2021, 01:18
Isís Marchetti Isís Marchetti
Aí, credo, que conto maravilhoso hahaha Eu fiquei encantada com os detalhes e eles fizeram com que eu conseguisse imaginar tudo de uma forma muito incrível. E eu só consigo imaginar o quanto o desfecho vai me pegar desprevinida haha. Show de bola, parabéns pela participação.
February 28, 2021, 03:11

  • Henrique Carvalho Henrique Carvalho
    Que bacana! Depois me conta o que achou do desfecho! Estou pensando em uma continuação futuramente! March 02, 2021, 01:19
Alex Lorenzo Alex Lorenzo
a ideia de um futuro apocalíptico em que pessoas de outro tempo histórico aparecem nele é interessante. A ambientação desse primeiro capítulo tem uma certa apreensão.
February 19, 2021, 21:50

  • Henrique Carvalho Henrique Carvalho
    Bacana! A idéia era bem essa! Passar essa desorientação para que o leitor se sinta na pele da personagem tentando desvendar o que esta acontecendo ao redor! March 02, 2021, 01:20
Tomas Rohga Tomas Rohga
Conto tenso, mas muito bom. Parabéns
February 13, 2021, 18:24

  • Henrique Carvalho Henrique Carvalho
    Obrigado Tomas! Mas fiquei confuso agora! Lembro que fiz um comentário no seu conto Contornos na Chuva que achei fantástico! Lembro até que você respondeu esse comentário que fiz! Mas hoje vi uma notificação dizendo que você avaliou negativamente meu comentário e quando fui espiar o que aconteceu vi que ele sumiu! Tem ideia do que possa ter acontecido? March 02, 2021, 01:23
  • Tomas Rohga Tomas Rohga
    Henrique, eu peço mil desculpas por isso. Adorei seu comentário, mas acabei apertando no negativo sem querer. Na doideira de tentar reverter esse erro, não sei o que fiz e excluí o comentário. Fiquei com vergonha de vir falar com você. March 02, 2021, 15:12
  • Henrique Carvalho Henrique Carvalho
    Ahh não esquenta não! Logo imaginei que deveria ser isso! A plataforma aqui roda um pouquinho lenta e as vezes também acontece comigo! Já já faço um novo comentário lá! Abraço! March 02, 2021, 19:44
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Okumaktan zevk alıyor musun?

Hey! Hala var 1 bu hikayede kalan bölümler.
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