Do barro fez-se o homem
E da mulher, fez-se toda a existência.
Aatos pisava no chão com muita cautela.
Não conhecia aquela floresta. Não conhecia nada daquelas terras, na verdade. Não sabia - e nem ousava prever - que tipos de criaturas demoníacas poderiam estar à espreita.
Nem ao menos podia rezar pela proteção de Odin - duvidava que seus poderes tivessem alcance no território de outros deuses.
Cruzara o Mar do Norte com seu pai, comerciante, pela a primeira vez. Não o fizera antes pois, como o primogênito, tinha a obrigação de se encarregar dos negócios do pai enquanto este se ausentava. Seu pai Birger já estava envelhecendo, e portanto, fazia questão de inverter os papéis enquanto ainda estava vivo para auxiliá-lo.
Viera única e exclusivamente por suas obrigações. Nada das terras do sul o atraía - não importava o quão mais desenvolvidos se mostrassem ser, ou o quão menos frio fizesse. Era um homem desconfiado. Ao seu ver, aventuras eram boas apenas se tivessem curta duração.
E sua viagem de volta para as terras escandinavas, sua casa, estava prevista para dali a alguns meses.
‘Mal cheguei e já quero voltar.’ Concluiu mentalmente.
Lembrou-se de Astride, mulher com quem convivera durante toda sua infância: de seus cabelos dourados, sempre trançados, de suas risadas agudas, das sardas de seu rosto. Suas famílias tinham laços próximos, sabia que esperado dele um pedido de casamento em breve.
Não tinha nada contra Astride, era bonita e de companhia agradável - embora ridiculamente baixinha. O que Aatos não tinha era pressa em consolidar um noivado tão cedo.
Uma brisa úmida bateu em seu rosto. Assustado, olhou ao seu redor com o triplo de atenção. Não sabia explicar o quê ao certo, mas algo naquele lugar lhe dava a impressão de que deveria fugir o mais rápido possível. Uma energia densa, talvez. ‘Tudo aqui me dá arrepios.’
Apressou-se, para que pudesse sair dali de uma vez. Tinha de pegar mais folhas secas para embalar os perecíveis do comércio de seu pai - em breve, seu comércio.
Haviam aqueles que vendessem folhas para este fim na feira, mas segundo o velho Birger, “Para quê comprar algo que posso ter de graça?”
Aatos revirou os olhos. ‘Diz isto porquê não é você que tem que se embrenhar nesta floresta sinistra.’ E para seu desespero, a proximidade com o litoral o obrigava a explorar mais o interior da mata para encontrar as folhas secas.
O Sol começava a se pôr, limitando ainda mais a claridade já rara entre altas árvores. Aguçando seus ouvidos, Aatos conseguiu ouvir o barulho do fluxo de um rio ali perto - a água batendo contra as rochas eram música aos seus ouvidos. Suspirou aliviado, pois estava morto de sede.
Andou a passos largos, aproximando-se da fonte de água.
Foi quanto ouviu uma voz feminina cantando.
Sentiu a adrenalina percorrer por todas as suas veias. Apertou seus ouvidos com violência, fechando os olhos. “Sereias! Maldição!”
‘Não posso morrer agora!’ Convenceu-se. ‘Meu pai precisa de mim! Minha família! Astride será mantida por quem?’
Tampar os ouvidos, entretanto, não fora o suficiente para abalar o som completamente. Aos poucos, foi-se permitindo prestar mais atenção na tal voz. Era doce, afinada e suave.
Sentiu seus passos serem guiados em direção à beira do rio - se não por feitiço, por curiosidade. Agachou-se e se escondeu dentre as plantas, para que a tão linda canção não fosse interrompida.
Avistou, na altura da outra margem, uma mulher virada de costas. ‘Provavelmente celta.’ Concluiu. Estava de pé e com os braços erguidos aos céus, em frente ao que parecia ser um altar montado por ela. Os longos cabelos castanhos cacheados da moça percorriam-lhe por completo a extensão das costas. Não enxergou mais ninguém acompanhando-a.
Haviam várias velas acesas no altar - o que Aatos julgou levemente perigoso, considerando que estavam em uma floresta. Mas talvez esta fosse tão úmida que nem tochas arremessadas conseguiriam incendiá-la...
‘E as malditas folhas secas... Direi ao meu pai para desistir e comprá-las de uma vez...’
Do alto do altar, Aatos enxergou um crânio de cervo. Suas galhadas eram grandes e ramificadas, o que indicava que pertenciam a um macho alfa quando em vida.
Aatos coçou a nuca. ‘Deuses celtas são definitivamente esquisitos.’
A mulher virou-se, surpreendendo-o. Seu vestido de seda branco translúcido não cobria o que devia estar coberto - além de estar aberto na frente.
Aatos sentiu seu rosto queimar ao ver a nudez da mulher - embora vergonha não tenha sido a única coisa que sentiu.
Teve que fazer um esforço consciente para subir seu olhar para o rosto da celta.
E de lá seus olhos não conseguiram se desprender tão cedo.
Aquela talvez não fosse uma sereia, mas encantado estava.
E com grande facilidade, esqueceu-se completamente de Astride.
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