rareri39 Rafa Ribeiro

Um caminho normal, mas na chuva. Uma música estranha vem de todos os lados e uma aparição castanha te guia até sua ruína.


Kısa Hikaye Tüm halka açık.

#239 #natureza #pesadelo #música #etéreo #341 #332 #fantasia
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Ruína

"That the cloud and those jeans you have on

And you gaze unafraid as they sob

From the city ruins..."


Hozier. Wasteland, baby!


Era manhã.

É de consenso geral que ninguém tem muito medo pela manhã, mas chovia e o ônibus estava relativamente vazio. Naquele fim de mundo, ou antes, naquele fim de cidade onde ficava o outro campus era difícil não se sentir abandonado.

Ele estava com pressa, precisava resolver tudo e voltar antes do meio dia e a chuva não melhorava seu humor de universitário na correria de cidade grande.

Sua impaciência o distraiu por um instante e por um infeliz equívoco o fez descer do transporte antes do que deveria. A entrada para o campus devia ficar pelo menos um quilômetro a frente.

O frêmito de irritação fez seu corpo sacudir e o aluno (importa a alguém que não seja ele saber o próprio nome agora?) armou o guarda-chuva para começar a caminhar com pressa.

Do seu lado da rua casas esparsas, velhas e abarrotadas de plantas, do outro lado uma mata fechada que já pertencia ao terreno da universidade, sem construções, estradas ou entradas à vista... a não ser por aquele portãozinho torto de arame aparentemente enterrado na terra.

Ele deveria entrar? Provavelmente não conseguiria se orientar ali sob a chuva e o caminho seria muito mais tortuoso. Mas o tempo de cogitar a ideia correspondeu ao tempo de ver uma figura molhada em castanho surgir da parca entrada.

Um calafrio o percorreu, amolecendo seus músculos e desligando seus nervos por um segundo em que o coração falhou e a visão se desfocou o suficiente para que se convencesse de que enxergara uma pessoa normalmente encharcada.

"Se for por aí ficarei como ela". Portanto, recomeçou a andar com pressa sentindo a canela em fogo pelo esforço de subir a via íngreme e deserta, lutando contra o tempo e a persistência do clima alheio à sua correria.

Andou menos de 50 metros quando um zumbido alto invadiu seus ouvidos e a força deixou suas pernas. Caiu com um baque surdo no chão e viu a bolsa rolar para a enxurrada e o guarda-chuva seguir o vento, sem a mínima compreensão do que lhe havia ocorrido.

Perdeu os sentidos.

Pode-se dizer que despertou algum tempo depois, se isso significa voltar a utilizar esses sentidos que perdeu.

Viu mata, sentiu o corpo descarregado e leve, molhado e quase fundido à terra escorregadia da chuva, cheirou natureza pura ilhada do resto fedorento do mundo e ouviu... ouviu chuva tocando o chão em ritmo ímpar, pássaros se chamando, folhas roçando umas nas outras, insetos ignorando o próprio tamanho na altura de seus chiados e algo mais:

Um som melancólico fazia tremelicar o ar da mata e ressoar a terra fofa sob seu corpo. A melodia vinha de todos os lados e ainda assim poderia estar apenas em sua mente. Sons articulados seguiam sons etéreos e se misturava formando uma língua em poesia. Seria uma língua conhecida? Ele não saberia dizer nem se fosse a própria, afinal de contas, palavras e nomes servem para se comunicar e disso ele não necessitava mais, tampouco sabia que um dia tivera palavras na boca e um nome para defini-lo.

Levantou-se entorpecido na música que incutia a cada músculo a sensação do limbo e soltou a respiração, que parecia tão intrusa naquele Bosque entre Dois Mundos.

Uma figura tímida e esguia, morena, com o cabelo cacheado pregado ao rosto molhado e invisível na sombra da árvore em que se apoiava, encarou-o em silêncio. Tinha uma roupa castanha desbotada, imunda desde a barra até o joelho, e oscilava com lentidão junto com a música.

Ele imitou o movimento.

Quando ela se afastou, ele a seguiu. Não passaram por estrada ou por qualquer coisa que sinalizasse a origem da música, mas apenas por um prédio feio, velho, inacabado, tragado por teias, plantas e insetos.

Entraram, gingando com a música, que começava a acelerar.

Viram um corpo.

Ele não poderia saber que era o dele, mas a música se tornou frenética e o fez sacudir-se com força. A calmaria deixou seus nervos e o pânico o encheu. Chilreios tornaram-se gritos e ele sentiu-se nu, livre como sempre, escravo como nunca.

Começou a se lembrar com uma clareza horripilante e entendeu: não havia chegado ao destino.

Virou-se com terror e olhou bem enquanto a castanha se aproximava para devorá-lo.

15 Ağustos 2020 20:27 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
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Son

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