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Bekuhyon era apenas um jovem de 12 anos que vivia no interior do Japão, ciente e ao mesmo tempo alheio a guerra que rondava o mundo, já que seu pai e irmão mais velho foram obrigados a servir ao exército e ele ficou para trás para cuidar da mãe. Mas a guerra era cara, em muitos sentidos, e por esse motivo tornou-se cada vez mais difícil viver ali e tudo piorou quando houve o bombardeio. Sozinho, perdido e órfão, ele se apoia em alguém que se encontrava na mesma situação e que jura protegê-lo já que o mesmo é menor do que si, apesar de ser um ano mais velho. Juntos, Bekuyon e Chanyoru tentam sobreviver no cenário pós-apocalíptico até conseguirem ajuda, ou fugir para a capital, enquanto passam a aprender sobre si mesmos e seus sentimentos.


Hayran Kurgu Gruplar/Şarkıcılar Yalnızca 21 yaş üstü (yetişkinler) için.

#japão #segunda-guerra-mundial #gatilho #yakuza #Nagasaki #tokyo #chanbaek #exo #yaoi #survival
Kısa Hikaye
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okuma zamanı
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Lótus

Kogashimamachi, Omura, Nagasaki 1944

Yuzo Bekuhyon brincava no lago que ficava consideravelmente perto da casa em que vivia, agachado encarando seu reflexo nebuloso alheio a mãe que estava no templo fazendo mais uma oração ao pai e ao irmão que serviam na guerra, ao lado dele estava uma outra criança um pouco mais nova, sua mãe fazendo a mesma coisa que a outra. Todos os homens tinham ido servir o exército, exceto mulheres e crianças, e desde que isso aconteceu a situação na cidade começou a ficar complicada, viviam da pesca e do plantio, mas por alguma razão os peixes estavam ficando escassos e as plantações não viviam mais do que alguns dias, talvez fosse pressão da guerra ou até mesmo um aviso da natureza. A criança virou-se para ele e sorriu, ele fez o mesmo e começaram a jogar água um no outro enquanto riam. Ele era novo demais para entender a situação toda, apenas sabia que talvez seu pai e seu irmão não voltariam e que isso era culpa dos estrangeiros, mas por ser uma criança tinha esperança deles aparecerem assim que a guerra acabasse.

— Bekuhyon, vamos! — a mãe o chamou e ele ergueu o olhar para a mais velha, era uma bela mulher apesar da expressão de tristeza que estava estampado no rosto desde que seu irmão e pai partiram, mas a tristeza não era apenas por isso, ele só não conseguia entender o porquê.

Despediu-se do novo amiguinho e correu até a mãe, que apenas pegou em sua mãe e o levou para a casa. Todas as noites ficavam trancados em suas casas, e todas as tardes a mãe o deixava brincar enquanto ia para o templo. Mas em alguns dias ela não ia para o templo, ficava em casa e pedia para o filho ir brincar longe dali, e por ser um filho obediente ele ia e apenas voltava no finalzinho da tarde. Nesse período ele se aventurava na cidadezinha, aproveitando a infância e tudo o que ela podia proporcionar.

— Mamãe, acha que o papai e o Minsoku vão voltar? — ela suspirou e abaixou-se ficando na frente do pequeno de 11 anos, olhando no fundo dos seus olhos.

— Oro todos os dias por isso, meu filho, mas o melhor que fazemos é sair daqui o quanto antes, mamãe está juntando um pouquinho de dinheiro pra conseguir ir para fora. — respondeu e ele sorriu.

— E vamos pra onde?

— Ainda não sei. — respondeu e sorriu fraco. — Mas vamos voltar antes que escureça, você precisa tomar banho.


1945


Agora com 12 anos o pequeno revezava-se para pescar e plantar junto a sua mãe, infelizmente todo o dinheiro que juntaram acabou sendo usado, a situação na cidade estava cada vez pior e pelo que diziam os vizinhos, tudo dependia do Imperador, ele ceder e levantar a bandeira branca, mas a família imperial era orgulhosa demais para simplesmente ceder aos estrangeiros. Já naquela idade, ele começou a entender o que a mãe fazia, mesmo que superficialmente e não a julgava, até porquê outras ali faziam o mesmo, e assim era o único jeito de conseguirem ter o que comer. Quem tinha um pouco mais de dinheiro saiu o quanto pode, quem não tinha ficou para trás, outros porquê recusavam-se a sair da terra de seus familiares, antepassados.

Naquela noite, Bekuhyon terminava de guardar o plantio para vender cedinho no mercado e conseguir ao menos o mínimo para comerem, sua mãe estava em casa já dormindo cansada do dia longo e cansativo, assim como todos os outros moradores, foi então que ele viu algo no céu, trancou a porta e olhou atentamente para o estranho brilho que invadiu, como se de repente a noite tivesse virado dia e um enorme cogumelo formava-se da cidade vizinha. Foi uma visão que ele jamais esqueceria, e sequer sabia expressar o que sentia, mas logo uma onda vibratória o derrubou no chão assim como varreu as casas por onde percorria, por um segundo ele não ouviu absolutamente nada. Assim que conseguiu levantar, sem pensar duas vezes ele correu atrás da mãe, conseguindo ouvir uma onda se aproximando da cidade, apertou ainda mais o passo e viu que a casa estava destruída e a mãe debaixo dos escombros, ele tentou resgatar a mãe enquanto via horrorizado a onde gigante engolindo parte da cidade junto aos destroços, um verdadeiro conto de horror.

— Bekuhyon… Vá! — ela disse e cuspiu sangue, mas o pequeno não a soltava e insistia em puxá-la enquanto chorava desesperado.

De repente alguém apareceu e o puxou, e ele protestou enquanto tentava se soltar, mas a pessoa continuava o puxando para longe dali, e o levou para o alto, com vista panorâmica para a cidade e o horror que acontecia. Bekuhyon então olhou para o rapaz que o salvou, um pouco mais alto do que si e até parecia mais velho, um pouco machucado.

— Por quê não deixou eu salvar a minha mãe?

— Porquê ela estava como a minha mãe, e eu a vi morrer na frente… — olhou para ele sem saber o que dizer, o mesmo com ar sombrio olhando para o longe, e o menor começou a chorar de novo, o maior então o abraçou de lado.

Nas primeiras horas apenas ficaram ali, em silêncio ainda sem saber o que sentir ou como reagir, tudo parecia surreal. E agora o que fariam? Pra onde iriam? Teria mais bombardeio? Viram então ao longe um pequeno grupo de sobreviventes, a maioria crianças e decidiram juntar-se a eles, a maioria machucado e não passavam da idade do menor. O maior então ajudou o menor a descer, enquanto seguiam em direção ao grupo, não sabiam se já era dia ou ainda era noite, na verdade não sabiam absolutamente nada. Bekuhyon tropeçou em um corpo, e mesmo totalmente carbonizado ele jurou ser o mesmo do ano passado, isso o fez paralisar, ainda mais vendo que um pouco atrás dele tinha uma mulher muito machucada, gemendo e chorando de dor, mas o maior logo o pegou pela mão e o levou dali. Por um segundo o Yuzo pensou em sua mãe o levando de volta para a casa, e doía pensar nisso, assim como doía não ter mais uma casa.

— Qual o seu nome?

Sentia-se desconfortável, tanto por tudo quanto por estar sozinho com um desconhecido, no fundo ele só queria criar um vínculo, ter alguém.

— Takeo Chanyoru. — respondeu e parou olhando para o lugar que deveria ser sua casa. — E o seu?

— Yozu Bekuhyon. — apertou um pouco a mão dele quando o mesmo voltou a andar.

O grupo estava um pouco mais a frente, mas estavam visíveis para que pudessem seguir, mesmo que não soubessem pra onde estavam indo, até eles pararem em frente ao lago, o que permitiu que se juntassem a eles. Ao todo estavam em oito pessoas, uma menina maiorzinha e os garotos menores. Era nítido o horror, o pânico e a incerteza, além da exaustão em tantos sentidos, então sentaram ali cheios de sede e ingeriram um pouco da água do lago.

— Quem são vocês? — perguntou o Yozu, todos os olhares voltaram-se para ele.

— Sakurai Yumi. — respondeu a garota que sorriu para ele. — E esses são os meus amigos do vilarejo, Chiba Akira, Takahashi Ken, Yamamoto Hiroshi, Yamada Miyako e Mori Nobuyuki. — apontou para cada um, que apenas piscaram quando foram citados, o maiorzinho Chiba então olhou para Chanyoru.

— Acho que já te vi no nosso vilarejo, com uma mulher. — disse Akira.

— Qual o seu vilarejo? — a frieza do Takeo era curiosa e misteriosa.

— Kubara. — respondeu.

— Fui pra lá com a minha mãe pra conhecer o meu pai. — sorriu de canto. — Mas ele já tinha ido pra guerra.

— Andamos bastante de Kubara pra Kogashimamachi… — respondeu Yumi.

— Vocês viram a explosão? — perguntou Bekuhyon.

— Sim, e estamos tentando chegar em Tokyo… — respondeu Ken. — Levamos um tempo pra chegar aqui, não aguentavamos mais toda aquela miséria.

Bekuhyon fez bico, doía tanto ver o quanto seu povo sofria por egoísmo de outros, então começou a chorar de novo e Chanyoru teve de consolá-lo.

— São irmãos? — perguntou Hiroshi.

— Não, mas somos do mesmo vilarejo. — respondeu o maior e então notou que o mesmo adormeceu em seus braços. — Vamos tentar descansar e andar até Tokyo, não acho que vão nos atacar de novo.

— Por quê tudo isso tá acontecendo? — perguntou Miyako.

— Acho que é porquê estavam tentando invadir o nosso país, ou podem ter provocado o nosso imperador. — respondeu Yumi, pela sua forma de falar e portar parecia que vinha de boa família. — Só espero que tudo isso acabe.

Depois disso decidiram tentar descansar, a água já tinha varrido bastante e bagunçado tudo, mas agora tinha voltado para o lago. Aquele lugar que antes parecia tão alegre e movimentado agora encontrava-se irreconhecível, mas ao menos nos sonhos deles estava como era, assim como todos seus entes queridos.

Acordou depois do pesadelo com a mãe, chorando assustado e desesperado acabando por acordar os demais também, mas acalmou-se quando Chanyoru o abraçou. Ele não sabia, mas o rapaz sentia que devia protegê-lo mesmo que sequer se conhecessem e estava aos poucos apegando-se a ele, tanto quanto ele parecia estar apegando-se a si.

— Acho melhor irmos agora. — disse Yumi.

— Você tem quantos anos? — perguntou Bekuhyon quando notou como ela agia de forma materna, e estava muito óbvio que nenhum deles era parente.

— 15. — respondeu. — Estava prestes a noivar com um soldado. — a lembrança a deixou com um ar sombrio, enquanto começavam a caminhar para longe dali. — Idade ideal pra casar, ainda mais quando esse soldado era de boa família e logo iria subir no exército.

— Mas por quê não queria casar? — ela olhou pra ele.

— Porquê eu não queria ter que perder o pouco de liberdade que eu tinha, já que quando eu casasse teria que servir a ele o tempo todo e dos nossos filhos. — respondeu e pulou a árvore caída, ajudando o Nobuyuki a fazer o mesmo, e assim por diante.

— Eu vou querer ter muitos filhos quando sair daqui. — disse Bekuhyon todo empolgado.

— Também vou. — Hiroshi disse e logo os demais também, exceto Chanyoru e Yumi.

Aquela conversa os deixou animados, era um enorme contraste o quanto estavam radiantes comparado ao cenário em que viviam, quase como se nada daquilo tivesse os afetado, mas tinha e estava nítido em seus olhos. Mas logo a fome bateu e junto a ela a realidade, onde estavam não tinha nada pra comer e sequer sabiam o que fazer pra driblar isso, então Bekuhyon decidiu usar da imaginação, assim como a mãe fazia consigo, transformando algo simples em incrível.

— Vamos fazer caça ao tesouro, quem achar um peixe ganha!!! — disse ele todo animado e acabou os animando também.

— Tem um ótimo humor Yuzo, lembra o meu irmãozinho mais novo… — ela sorriu fraco enquanto os demais iam procurar o tal peixe, mas Chanyoru continuava ao lado dele firme como um Akita Inu. — E um coração imenso.

— Só quero animar eles. — disse e então apontou para Nobuyuki. — GANHOU!!!

O peixe não estava em suas melhores condições, totalmente sujo de lama, mas com um pouco de água do lago estava bom para comer, mas como não tinham como fazer fogo, comeram cru como estava, Chanyoru preparou o peixe e o corpo em partes pequenas usando um pedaço de pedra, ele tinha aprendido com a mãe a como cozinhar um bom peixe.

Infelizmente, quando voltaram a andar outra vez e estavam próximos a Kunimicho Hijikuro, já que tinham parado em Kunimicho Kojiro quando um dos meninos começou a passar mal vomitando e tendo diarreia, todos eles entraram em pânico sem saber o que fazer, temiam que ele acabasse morrendo mas o máximo que puderam foi deixá-lo o mais perto da água pra tentar se hidratar, já que ali ficava o oceano Ariake, infelizmente a água salgada apenas o deixou pior e não demorou até ele não acordar mais. Foi um choque tão grande pra todos, que até Chanyoru ficou abalado, então acharam melhor irem embora dali.

— Sabem nadar? — perguntou Yumi.

— Sim. — responderam ao mesmo tempo.

— O jeito mais rápido é atravessando o Ariake, mas podemos nos apoiar nessas tábuas, tomem cuidado, ok? — pediu ela e pegou alguns pedaços de madeira, entregando para cada um. — Chanyoru, pode ficar atrás? Assim fica de olho, eu vou na frente.

— Hum. — assentiu e ela sorriu fraco.

Ela torcia que assim que chegassem do outro lado tudo fosse diferente, mordeu o inferior e fez uma breve oração a Buda, nunca foi lá muito religiosa, mas em um momento desses achou necessário, principalmente porquê o Bekuyon segurou em sua mão e começou a fazer a oração que a mãe dele fazia. Oraram pelo Chiba Akira que acabou não resistindo, e depois para que passassem pelo mar com segurança.

— Prontos? — Ken perguntou enquanto olhava para o mar, em um dia qualquer seria um bom dia para um mergulho, um banho de mar, ainda mais com o sol forte sobre eles.

— Prontos, vamos ser peixinhos!! — Yuzo tentou animá-los outra vez, e até conseguiu arrancar sorrisos.

Mas no fundo ele tinha medo, e muito, nunca nadou fora do lago e não sabia se conseguiriam chegar ao outro lado, mas ele confiava neles. Um a um foi entrando na água, e começaram a nadar em direção ao outro lado, sendo guiados pela mais velha. Repentinamente o mar ficou agitado, e eles começaram a se preocupar já que acabaram sendo levados pelas ondas para longe uns dos outros, Bekuhyon gritava tentando localizá-los, mas não conseguia ouvir e estava começando a se afogar quanto mais tentava lutar contra a natureza, começou a entrar em pânico quando Chanyoru o pegou por trás o assustando e passou a puxá-lo para longe dali.

— Chanyoru… — ele chamou e começou a ver o Hiroshi nadando também.

— Não se esforce. — respondeu e continuou a nadar.

Deixou-se ser levado e logo sentiu a terra firme, mas permaneceu deitado ainda tentando assimilar tudo, então ouviu Yumi discutindo com Chanyoru, ela parecia nervosa e desesperada e ele não queria deixá-la voltar para a água, viu então quem estava ali com eles na terra firme, totalmente exaustos, Hiroshi, Miyako e Nobuyuki. Não precisou de muito para entender, só queria que todo aquele pesadelo terminasse e agora mais do que nunca temia perder mais alguém, logo Takeo foi até ele e sentou ao seu lado.

— Tenta descansar, assim que possível vamos sair daqui. — disse ele, mas o pequeno sequer conseguia fechar os olhos.

— Promete que não vai partir também? — ele olhou nos olhos do menor, não podia mentir pra ele mas sabia que se não o fizesse, o menor não conseguiria dormir.

— Só prometo se você prometer que vai ser um bom garoto, corajoso e que vai dar o seu melhor pra cuidar de todo mundo aqui junto com a Yumi e eu. — forçou um sorriso de incentivo e o menor sorriu de volta.

— Prometo, sereio Chanyoru. — ele riu com o comentário e bagunçou os fios dele.

— Descansa, hum? — tentou então fechar os olhos, as cenas voltando a sua mente, mas logo acalmou-se quando sentiu o abraço e não demorou até adormecer.

Estavam em Nagasu, pelo menos era o que dizia a placa, Bekuhyon acordou e notou que estava nas costas do Takeo, olhou ao redor e notou que todos estavam caminhando, Yumi carregando nas costas o Miyako e os outros dois iam a pé calmamente, já que Miyako ainda estava adormecido. Pararam então em Orisaki para comer, e assim como nos locais anteriores ali também estava destruído e parecia ter sido atacado pelo Tsunami, consequência da bomba lançada em Hiroshima e Nagasaki. Não tinham escolha, então pegaram a primeira coisa que acharam para se alimentar, nesse caso teve de ser um cachorro que parecia morto já fazia um tempo, não era a comida mais agradável, mas Yuzo conseguiu fazê-los imaginar que era uma galinha mágica, mesmo que de mágica aquilo não tivesse nada e menos ainda galinha.

— Onde acha que estão todo mundo? — perguntou o Takeo baixo para a Sakurai.

— Minha sincera opinião? — respondeu tão baixo quanto. — Mortos.

Olharam então para Yuzo que usou os ossinhos para fingir que era um vampiro, fazendo a dupla de pequenos rir.

— Você não parece ter 11 anos. — disse ela e ele continuou observando o mesmo.

— Algumas coisas afetam pessoas de formas diferentes, e também eu não vim daqui. — respondeu e ela o olhou curioso. — Meu pai é japonês e minha mãe o que chamaram de… porca coreana? Então passei por coisas que não espero que ninguém passe.

— Por isso é tão protetor com ele.

— Hum.

— Como é lá?

— Muito pior que aqui. — respondeu. — Não podia falar a minha própria língua, e vi minha irmã ser mandada pra ler histórias nojentas de tentáculos estranhos. — a garota engoliu em seco, lembrando de si mesma.

— É uma tradição japonesa, que admito que não é das mais agradáveis. — ele olhou pra ela. — Vamos voltar a andar.

Aproximou-se do trio e gesticulou para andarem e assim eles fizeram, e como sempre Bekuhyon de mãos dadas ao Chanyuro enquanto o mesmo seguia na frente, era cômico como o menor dava mais passos que o maior para tentar acompanhá-lo, mas em momento algum mesmo aos tropeços o maior o soltava, e isso não passou despercebido pela Yumi que achava o Yuzo sortudo. Eram a personificação de yin e yang, já que um era totalmente tagarela e radiante e o outro sombrio e quieto, e mesmo assim se davam tão bem que até pareciam um só. Estavam então em Koshi, e pela primeira vez viram pessoas, não mortas e sim vivas, mas nada amigáveis.

— ME SOLTA! — gritou Yumi enquanto o grupo tentava saqueá-los, mas quando viram que não tinham nada ficaram bravos e deram um soco no rosto dela e os largaram ali.

Aquilo enfureceu Chanyuro, que sem pensar duas vezes pulou em um dos homens e começou a desferir vários socos nele, os outros homens que estavam com ele antes apenas o deixaram ali aparentemente assustados com a cena, o Takeo estava fora de controle e totalmente cego de ódio, parando apenas quando Yuzo tocou em seu ombro e o chamou chorando.

— C-Chan… Chanyuro… — fungou e ele pareceu voltar a si, vendo o homem desmaiado a sua frente, ele então levantou-se afastando do maior.

— Desculpa. — disse baixo e o menor o abraçou apertado olhando nos olhos dele, aquele simples gesto o desmontou por inteiro e ele sentiu vontade de chorar por vê-lo daquele jeito, além de estar um pouco machucado.

Eles então notaram porquê os homens tinham fugido, Hiroshi não estava mais ali, provavelmente o levaram, Yumi achou melhor não ficarem mais naquela região já que tinham sido atacados e mais uma vez sentiu-se culpada por ter pedido mais alguém, assim como Chanyoru que depois disso não disse uma palavra sequer e agora levava Bekuhyon nas costas. Miyako e Nobuyuki estavam mais atentos dessa vez, por isso armaram-se de pedaços de madeira e seguiram caminhando, Yumi também estava armada.

Aso era seca e montanhosa, além de meio vazia mas segura comparada a antes, mas ao menos ali encontraram um teto para ficar e uma bela vista das estrelas.

— O Hiroshi… Tá vivo? — perguntou Miyako.

— Torço que sim. — respondeu Bekuhyon olhando as estrelas pelo buraco no teto.

— Mas senão estiver também, pelo menos não está mais tendo que passar todo esse sofrimento. — respondeu Yumi, ela estava tão esgotada emocionalmente que parecia que a qualquer momento ela apenas desistiria de tudo.

— Yumi… — o Yuzo fez bico e foi até ela a abraçando apertado, ela o abraçou de volta.

— Infelizmente não teremos o que comer hoje, e nem sei se encontraremos ajuda, conseguem ficar sem comer mais um pouco? — disse a mais velha fazendo carinho nos fios do Yuzo.

— Acho que sim. — respondeu Miyako, ele andava meio cansado e pálido, mais que os demais e isso era preocupante, principalmente porquê não conseguiram comer nada desde a penúltima parada, tudo estava muito incerto e sequer estavam perto.

Quando acordaram na manhã seguinte, Miyako não acordou mesmo quando Chanyoru o chacoalhou, e mesmo com muita dor no coração e o nó na garganta, decidiu ir em frente, deixando um beijo na testa do eterno adormecido. Bekuhyon, Yumi e Nobuyuki ficaram para trás, os pequenos chorando enquanto a mais velha os consolava. Seguiram então em frente, agora sem parar e acabou chovendo sobre eles, como estavam a um bom tempo sem comer e ingerir nada, apenas abriram a boca e consumiram o que caía do céu mesmo que as gotas parecessem várias agulhas os perfurando, mas não se comparava ao que sentiam por dentro. E disfarçado pela chuva, Chanyoru permitiu-se chorar pela primeira vez, mas apenas Bekuhyon viu a cena e ficou surpreso, já que ele parecia impenetrável como uma montanha, então o olhar de ambos se encontrou e naquele momento ele viu que o Takeo estava tão quebrado quanto ele, talvez até mais e que ele era o único que conseguia ao menos colocar curativos ali, já que ele apenas se desarmava para ele. Lembrava-se que perguntou para a mãe o que era o amor, e ela respondeu que era quando duas pessoas eram unidas por uma linha do destino, que nunca poderia ser cortada, e que ele saberia quem seria essa pessoa quando sentisse o puxão dela. E por mais estranho que parecesse, já que nunca no vilarejo soube da história de dois garotos unidos por uma linha, ele estava com a impressão que levou mais de um puxão pelo maior, que nunca o soltava, que sempre o puxava, sempre o protegia, mas era tudo bem confuso, já que sequer amou antes além de sua família. Puxou-o então para um abraço apertado e deixou que ele chorasse ali, e fechou os olhos.

Completamente exaustos pararam pra descansar na floresta de Oita, ao menos lá conseguiram comer como nunca antes, alguns pequenos macacos até os atacaram, mas nada grave, então voltaram a andar depois de dormir um pouco. Pararam quando viram que teriam de nadar até Itaka, mas só de pensarem em entrar outra vez na água deu um arrepio na espinha.

— Podemos dar a volta e… — começou Yumi.

— Não, vamos atravessar. — disse ele e ela olhou pra ele preocupada.

— Eu não vou entrar na água. — disse decidida. — Nem o Nobuyuki, não vou perder mais ninguém.

— Chegamos até aqui, não chegamos? Então por quê parar agora por medo? Quem sabe o que podemos encontrar se dermos a volta? Eu não vou por outro caminho! — disse o Yuzo tão decidido quanto.

— Escuta aqui, — o puxou pelo gole da camisa, mas logo Takeo tomou a frente a empurrando. — o que pensa que está fazendo?

— Protegendo ele. — respondeu sério.

— Ok, querem entrar na água? Então façam isso, estão por conta de vocês, vamos Nobuyuki. — o pequeno olhou para a dupla, Yuzo olhava para Takeo que o protegia como uma muralha e o mesmo encarava a Sakurai que afastava-se puxando o Mori de volta para a floresta.

A única pessoa que ele tinha de visão materna agora o abandonava, doía mas ele não estava disposto a voltar atrás, e surpreendeu-se mesmo que no fundo soubesse que o maior ficaria consigo.

— Consegue nadar até lá? — virou-se para o menor sorrindo para ele.

— Consigo, e se eu não conseguir sei que vai me ajudar. — sorriu de volta e o maior beijou a testa dele. — Obrigado.

— Pode ir na frente. — assentiu e então olhou para aquele azulzão, entardecendo, logo escureceria e teriam de dormir para voltar a andar, mas ele não sabia se ainda queria sair andando por aí e encontrar morte e destruição. — Estarei sempre aqui, não se preocupa. — disse quando notou que ele parecia inseguro de entrar na água, então tocou no ombro do mesmo.

Fechou então os olhos, as lembranças o invadindo e ele apenas começou a nadar, abrindo os olhos e vendo que Chanyoru estava bem ao seu lado o guardando como um Akita Inu, e isso o acalmou mais, dessa vez as águas estavam mais calmas e ele sentiu-se mais confiante para chegar ao outro lado. E logo chegaram a terra firme, Ikata, a lua cheia no céu enquanto eles respiravam ofegantes deitados ali, o pequeno perguntando a si mesmo se eles estavam bem e se ainda estavam vivos.

— Chanyoru, por quê me salvou? Podia apenas ter se salvado. — perguntou e o mesmo sorriu com a pergunta, o menor o olhando curioso.

— Porquê eu me vi naquela cena da sua mãe, e queria que alguém tivesse me tirado antes que eu a visse ser esmagada. — respondeu. — Até hoje essa cena me perturba… Assim como todas as outras na minha terra natal.

— Não é de Nagasaki?

— Não sou do Japão. — respondeu e ele arregalou os olhos. — Eu nem devia estar vivo ainda, se o imperador me visse me mandaria de volta.

— Então por quê veio?

— Porquê onde eu vivia estava pior, e nem eu nem a minha mãe aguentavamos mais. — olhou para o céu. — Queria ter levado minha irmã também, mas ela acabou tendo que ficar porquê não tinhamos tanto dinheiro para comprá-la do Senhor Yoshikawa. — ele ainda sorria apesar de contar algo triste, mas era porquê estranhamente sentia-se bem apenas por estar com ele.

— Quando formos para Tokyo, você vai conseguir muito dinheiro pra resgatar a sua irmã. — disse empolgado e ele olhou para o menor, o invejava por ainda ter esperança.

— Não deixe que apaguem sua luz, nunca. — disse e deixou um beijo na pontinha do nariz dele, que fez o mesmo sentir o coração bater mais forte e um sorriso bobo se formar.

Eram gestos simples mas que bagunçavam tudo no pequeno.

— Quer voltar a andar?

— Vamos. — levantaram-se e o pequeno segurou firme na mão do maior, mesmo que não tivesse mais necessidade, mas ele sentia que precisava.

Logo o sono começou a vir e ele bocejava enquanto coçava os olhinhos, parando quando viu vários gatinhos correndo para lá e para cá, mas não haviam pessoas ali, era como se tivessem fugido as pressas, e tudo ali estava tão destruído que sequer parecia ter sido habitado antes. Era uma cena tão triste, que Bekuhyon quase chorou, mas ele apenas paralisou onde estava e os gatos começaram a esfregar-se neles.

— Acha que jogaram algo aqui?

— Uhum. — respondeu o pequeno fazendo bico. — E-eu não quero ficar aqui.

— Vamos sair, calma. — olhou ao redor, procurando qualquer coisa que pudessem usar pra sair.

O Tsunami e a bomba fizeram um belo estrago, o pequeno então sentou-se deixando os gatos o inundarem, e a cena fez Takeo rir e automaticamente Yuzo riu também. Em meio a tanta destruição e morte, a vida. Alguns gatos até o lamberam, eles ainda tentavam entender como tantos gatos estavam ali e sobreviveram ao ataque, até o maior ver um barco.

— Acho que alguém amava muito seus gatinhos. — o menor ao ouvir aquilo tirou os gatos de cima de si e levantou-se indo até o maior. — Me ajuda a levar pra água?

Concordou com a cabeça, e os dois começaram a empurrar o barco, enquanto os gatos miavam e outros se lambiam, assim que a embarcação chegou na água, subiram e procuraram por remos, mas não acharam, então usaram pedaços de madeira.

— Pode deixar que eu remo. — disse o maior.

— Mas e se você cansar?

— Aí você tenta, mas não vou cansar. — disse decidido e confiante, então começou a remar.

Bekuhyon não sabia, mas Chanyoru conhecia cada caminho como a palma da mão em alto mar, pelo menos a rota próxima a Coréia, já que veio diretamente por ali.

— Eu vim de Taebaek e fomos para Kogashimamachi, tudo de barco… Lembro que algumas pessoas vieram junto, mas no meio do caminho acabaram passando mal como o Akira, então jogaram no mar. — disse e o menor olhava a destruição da cidade bombardeada ao longe, Hiroshima. — Foi tão ruim, abracei a minha mãe e me recusei a soltá-la até chegarmos, mas aí alguns soldados apareceram e tivemos que dar a volta. — os olhares se encontraram. — Demos a volta no mar do Japão, passamos entre Sapporo e Sendai… Podiamos ter parado em Tokyo, mas era muito arriscado e por isso fomos o mais longe possível, e foi assim que chegamos no vilarejo.

— Em 1944, mas nunca o vi. — respondeu e o mesmo assentiu.

— Precisavamos ser reservados e passar despercebidos. — remou um pouco mais. — Mas a minha mãe teve que fazer coisas, mesmo que eu trabalhasse dobrado e todo o vilarejo falava de uma porca coreana que seduziu um japonês, mas não sabiam que era a minha mãe. — paralisou, já tinha ouvido a mãe falar sobre aquilo. — Agora estou aqui fugindo de novo, de barco.

— Se eu casar com você, você se torna japonês?

— E podemos casar?

— Daremos um jeito, mas como teremos bebês?

— Eu não sei. — respondeu e eles riram. — Espera, por quê iria querer ter bebês comigo?

— É como a Yumi falou, depois do casamento tem bebês. — e parando para pensar, fazia sentido pra eles.

— Quando formos grandões a gente casa, e tem muitos bebês, não deve ser difícil.

— Será que vem do céu?

— Acho que vem do mar.

E mesmo com tanta experiência e trauma, haviam coisas que permaneciam intactas. Chanyoru uma vez perguntou a mãe de onde ele teria vindo, mas antes que ela pudesse responder tiveram que partir as pressas, então nunca mais ousou perguntar. Tudo ali parecia irreconhecível, melancólico, os restos do que já tinha sido um dia, e Bekuhyon pensou na frase que o maior disse para si, de nunca deixar sua luz se apagar, mas como quando só o que viria era apenas aquilo? Logo Chanyoru mostrou sinal de cansaço, e mesmo com muito protesto o pequeno assumiu seu lugar e passou a remar, ao menos aquilo o poupava de olhar mais tanta destruição.

— Se visse os americanos, o que diria pra eles?

— Por quê mataram a minha mãe, se ela não estava na guerra. — respondeu e ele assentiu. — E você?

— Eu não sei. — ele sequer pensaria em chegar perto deles, mas tudo aquilo o fez pensar se depois de atacarem o Japão se eles salvariam seu povo.

Chanyoru pensava na possibilidade de ter ficado com a mãe na Coreia, e Bekuhyon pensava na possibilidade de ter partido do Japão, com certeza estariam bem e não passariam por nada daquilo, mas também não iriam se conhecer, ou iriam? Os olhares se encontraram no exato momento que a pergunta veio a mente, e só o que fizeram foi sorrir fraco e depois voltar ao que faziam, um descansando e o outro remando.

Durante a noite o vento ficou mais forte repentinamente, o que despertou Bekuhyon e deixou Chanyoru assustado, então o máximo que puderam fazer foi segurar firme no barco e torcer que o mesmo não virasse. O menor chorava desesperado, e o maior não sabia como acalmá-lo, então apenas o puxou para perto de si e ficou por cima dele, protegendo-o como uma tenda enquanto a água respingava nele violentamente. E depois disso repentinamente bateram em algo e o barco virou em cima deles.

Quando acordaram, notaram que estavam em Yokohama, Bekuhyon lembrava bem dali já que foi onde seu avô o levou para conhecer, dizendo que foi onde conheceu sua avó, estavam perto de Tokyo. O barco ainda estava bom, Chanyoru foi o primeiro a acordar e por isso logo o tirou de cima deles, dando tempo do pequeno reconhecer ali.

— Podemos usar ele pra chegar em Tokyo. — disse apontando para o barco.

— Ainda quer andar nisso mesmo depois do que aconteceu?

— Hum, porquê aí não vou mais precisar entrar na água. — respondeu decidido, o maior olhou ao redor.

— Vamos tentar comer antes de seguir em frente, não sabemos o que vamos achar lá.

— Acha que tá destruído?

— Sim. — respondeu e o pequeno fez bico.

— Então vamos ficar aqui.

— Tem certeza?

— Não sei se quero ver mais coisas ruins.

— Vamos fazer assim, vamos até lá e aí vemos se tá tão ruim e podemos decidir. — assentiu e sem pensar muito, apenas o abraçou apertado.

— Obrigado por me proteger, Chanyoru.

— Não precisa agradecer. — disse e o menor olhou nos olhos dele, quando iria dar um selinho na ponta do nariz, o menor acabou levantando um pouco a cabeça.

Foi uma sensação diferente porém boa, viu tanto a mãe fazer aquilo com o pai que pensou que aquilo só poderia ser feito com quem amava, que no caso era o marido dela, o maior ficou um tempo parado em um misto de confusão e alegria mas deixou que aquilo continuasse. Poderia ser um simples selinho, mas era muito mais do que isso e mudaria dali em diante toda a relação dos dois. Afastaram-se um pouco vermelhos, mas logo o pequeno começou a rir.

— Posso fazer de novo?

— Melhor irmos logo.

— Por favor Chan… — fez bico e o maior suspirou, dando um selinho rápido.

— Pronto. — ele riu de novo, o que o fez sorrir também.

Era como se Bekuhyon fosse o sol, e ele a lua, pelo menos era assim que ele se sentia. Comeram alguns peixes, e logo voltaram para a água com o barco.

— Agora estamos casados?

— Acho que sim. — respondeu enquanto remava.

— Eeeeeh! — o maior riu da empolgação do menor, que estava tão feliz e acabou ficando feliz também.

Dois pontinhos iluminados no meio das cinzas, embaixo do pôr do sol.

— Eu te amo Chanyoru.

— Eu te amo Bekuhyon.

Chegaram em Tokyo e o que viram foi apenas destruição, mas dessa vez viram um grupo de garotos e no meio deles um com uma cicatriz na testa, parecendo de faca.

— Quem são vocês? — perguntou o Takeo, enquanto o Yuzo escondia-se atrás dele, sentindo-se ameaçado pelo olhar do grupo.

— Somos a Yakuza.

— E o que é isso?

— Somos uma gangue, estão com fome? — o pequeno concordou com a cabeça. — Podem se juntar a nós, mas terão que ser totalmente leais a nós e contra os americanos.

— Nós seremos. — disse o pequeno tomando a frente. — Sou o Yuzo Bekuhyon e ele Takeo Chanyoru, meu marido.

Os meninos entreolharam-se confusos, e ele sentiu medo outra vez, mas se tentasse atacá-lo, o maior o defenderia. Os Yakuza começaram a discussão entre si, e então o rapaz que falou com eles o tempo todo saiu indo atrás de alguém, um garoto que estava sem um dos olhos apareceu então e os olhou atentamente em silêncio, até dar a decisão.

— Sou o pai, você deve ser coreano, não é? — apontou para Takeo e o mesmo assentiu. — Tantos motivos pra odiar os japoneses e mesmo assim decidiu vir pra cá, poderia ter fugido já que está com o barco e preferiu vir e com ele. — apontou para Yuzo. — Vocês dois tem muita coragem, bem vindos a família.

A dupla se entreolhou surpresos, pensaram que seriam atacados, os meninos de trás gesticularam para a dupla se curvar e assim eles o fizeram, enquanto o tal pai sorria, ele não parecia ter mais do que 12 ou 13 anos, mas a sua forma de falar e as vestes mostravam que ele vinha de uma boa família. Eles então saíram do barco e foram levados pelo grupo, a sua nova família até a sede que eles estavam, que no caso era uma escola abandonada.


Tokyo, Tokyo, Saitama 1958


Sentou-se olhando para os seus irmãos mais novos, todos ali de cabeça baixa nervosos com o que ele iria dizer, ao seu lado o marido em pé e impenetrável como sempre, frio como o monte Fuji e tão grande quanto.

— Como vocês devem saber, vai chegar um novo carregamento de Lótus pra cá, então tratem-nas muito bem e as levem para o Dr. Suzuki. — disse e tragou seu charuto. — Mas se o pai aparecer me avisem, preciso tomar banho.

— Sim, irmão mais velho. — disseram juntos, se curvaram e saíram deixando o casal a sós.

— Por quê insiste em transformá-las em bonecas, amor? — perguntou ao menor que estava sentado de perna cruzada, a maquiagem bem feita.

Ele era o único entre todos os Yakuza que tinha permissão de fazer isso, e foi designado para comandar o prostíbulo mais importante de Tokyo, já que a sua ideia os fez triplicarem a fortuna.

— Porquê o povo gosta disso, até pensei em colocar cabelos de tentáculos nelas, perucas mas aí eu cobraria mais caro do cliente. — respondeu encantado.

Mesmo que o pai os aceitasse, eles ainda mantinham-se discretos em público, apenas trocando afeto quando estavam sozinhos, no máximo mantinham o velho hábito de ficarem de mãos dadas.

— Nem parece o pequeno desapegado e mágico que eu conheci, será que casei com o japonês certo?

— Chan… — fez bico e olhou pra ele, que riu.

— É, casei sim. — beijou o bico dele.

— Idiota. — ficou resmungando, mas logo foi calado pelos lábios do marido outra vez.

Mesmo com tanto luxo e riqueza, eles continuavam os mesmos, só que agora mantinham a máscara de sanguinários impiedosos fiéis a família, quem ousasse insultar Yuzo conhecia a fúria de Takeo. Não tiveram muitos filhos, na verdade enxergavam os irmãos mais novos que trabalhavam para eles e as prostitutas Lótus como seus filhos, por isso os tratavam bem mesmo que as vezes tivessem de manter as aparências para o pai.

— Odeio quando trazem crianças pra cá, amor… Eu já tentei falar com o pai mas quase perdi meu mindinho por isso. — o maior beijou seu mindinho após ouvir a falar do menor.

— Eu sei disso, infelizmente não podemos fazer muita coisa. — disse e o abraçou apertado.

Concordava com o marido, se pra eles tudo foi tão traumático, imagina para Lótus tão pequenas, por esse motivo os dois dificultavam o acesso a elas ao máximo, como fazendo leilões luxuosos ou as mantendo servindo as bebidas, foi o máximo que conseguiram depois da discussão com o pai. Por vezes Yuzo quis sair da Yakuza, por não aguentar as situações horríveis que as mulheres passavam, já que os únicos membros eram os homens e as mulheres sempre ficavam abaixo deles, o que incluía que as filhas deles fossem usadas pela máfia. Infelizmente não tinham como sair, a não ser com a morte. E por esse motivo eles preferiram não ter filhos, porquê se fosse menino ele seria um Yakuza e se fosse menina passaria pelo mesmo que as demais, e nenhum deles se perdoaria se isso acontecesse, por mais fiéis que fossem aqueles que o acolheram.

— Vamos beber um pouco e sair daqui, hum? — assentiu e saíram de mãos dadas para a boate.

Beberam e logo o Yuzo estava bêbado cantando junto aos seus irmãos, livre das preocupações e da realidade, sua única felicidade real era o marido, já que depois da guerra ele nunca mais foi feliz e viviam constantemente em guerra por estarem naquela máfia.

A tríade chinesa invadiu o prostíbulo depois que um de seus homens foi morto por Takeo, já que o mesmo foi homofóbico com Yuzo durante um jogo de cartas, mas nenhum deles sabia que o mesmo fazia parte da mafia e se soubessem sequer o deixariam entrar. Começou então um tiroteio lá dentro, e como sempre Takeo comandava toda a situação protegendo Yuzo que era o alvo da máfia rival, mas um dos tiros atingiu Bekuhyon perto do coração, o que encheu Chanyoru de mais ódio e o mesmo assassinou quase todos, exceto os que fugiram. O pequeno ria com aquela situação, enquanto o maior o olhava desespero o segurando em seus braços.

— Tá doendo pra um caralho, Chan, e pensar que sobrevivemos a segunda guerra mas não aguentei um tiro. — ele riu mas o maior chorava negando com a cabeça.

— Você vai ficar bem, ok? Vai sobreviver a isso também.

— Chanyoru, admita, você me salvou por quê me achou bonito.

— É claro que achei. — ele tentou sorrir.

— Eu sabia, precisava saber disso antes de partir.

— Você não vai partir! — quase gritou.

— Obrigado por me proteger nesses 13 anos, e por me amar tanto quanto te amei em 13 anos, e… — ele começou a sentir dificuldade pra falar, já que começou a sofrer hemorragia, e cuspiu um pouco de sangue. — Por casar comigo.

— Bekuhyon…

— Eu te amo Chanyoru.

— Eu te amo Bekuhyon. — o pequeno sorriu sentindo as lágrimas saindo, e o maior o apertou um pouco mais.

Com as últimas forças restantes, o japonês deu um selinho no coreano que correspondeu, foi tão longo quanto o primeiro, e acabou da mesma forma com o pequeno afastando-se agora sem vida. E pela primeira vez, todos ali presenciaram um Takeo Chanyoru totalmente destruído, que gritou com todas as forças que tinha o nome do amado, a montanha tinha sido penetrada, na primeira pelo amor que sentia pelo pequeno e a segunda com a sua partida. E como na primeira vez, embaixo de um pôr do sol.

15 Temmuz 2020 03:03 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
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Son

Yazarla tanışın

𝕤𝕞𝕚𝕝𝕖 𝕠𝕟 𝕞𝕪 𝕗𝕒𝕔𝕖 ⁹⁹ Gosto de escrever, ouvir música e apreciar fanarts. ♥

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