monilovely Sai Daqui

Ser o estudante estrangeiro em um país xenofóbico não é a melhor das situações para se estar em plena metade do terceiro ano do Ensino Médio. Mas quem disse que a vida algum dia foi fácil para eles em South Park pra começo de conversa? "Prefiro o paraíso pelo clima, o inferno pela companhia." - Mark Twain.


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#dip #gregstophe #rebstella
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Capítulo 1

Os Estados Unidos é um país com forte propagação de xenofobia. Independente do país de onde você vem, provavelmente não será bem recebido por lá se estiver de mudança. Em um país onde preconceito é permitido e incentivado, é preciso ficar sempre esperto.

E essa situação não era diferente em South Park. Os habitantes daquela pequena cidade da montanha não iam muito com a cara de estrangeiros, apelando sempre para insultos, gozações e o proletariado se revoltando pelos estrangeiros terem roubado seus trabalhos, por mais que as acusações fossem falsas.

Concluindo, é mais do que óbvio que os “intercambistas” de South Park High School sofriam preconceitos semelhantes. Alguns propositalmente os taxavam de estereotipados, os exilavam e chegavam até a praticar violência física. Era tratados bem entre o vão da tortura e inexistência.

Ninguém sabia exatamente o que é que os mantinha na cidade. Se era falta de dinheiro ou porque eles eram apenas muito burros. Se perguntassem à Pip - o que nunca fariam, pois todos o odeiam - ele diria que era por causa da cultura. Europeus eram incrivelmente determinados e se recusavam a se render facilmente. Além de que foram criados para serem sempre bem educados e respeitar a opinião alheia, o que incluía seus vizinhos de South Park. E também, não é como se a Grã-Bretanha não tivesse sua bela porcentagem de xenofobia também. Julgar os americanos seria hipocrisia de sua parte em respeito à sua amada nação.

Enquanto caminhava em direção ao colégio, Pip imaginava como estaria seu tão amado país. Depois da notícia do Brexit, e dos rumores do possível retorno para a União Europeia, sentia-se um pouco mais confortável por estar nos Estados Unidos, onde, embora tivesse muita violência, ele ao menos não tinha que se envergonhar dos problemas políticos que ali ocorriam, afinal, não era sua casa.

Soltou um suspiro pesado, apertando as alças da mochila em suas costas com força. Às vezes era difícil ser um dos únicos garotos britânicos da escola. Não ter com quem compartilhar as mágoas pessoais sobre seu país de origem e onde morava agora era uma situação difícil, mas uma que ele tinha que aceitar se quisesse seguir em frente.

Um dia de cada vez, Phillip. Um dia de cada vez.

- Pip!

O britânico deu um grito e um pulo ao ouvir seu apelido ser gritado em seu ouvido e mãos geladas beliscarem sua cintura. Virou-se para a figura culpada por seu susto com espanto em seus olhos, suas pupilas contraídas.

- Deus do céu, Damien, você quase me mata do coração! - gritou ele, se esforçando para recuperar o oxigênio pedido pelo susto.

O anticristo riu e beliscou suavemente uma das bochechas do britânico. Um de seus passatempos favoritos era provocar seu namorado, seja com sustos, mordidinhas em seu pescoço ou beijos súbitos em lugares públicos. Ele sempre se alegrava ao ver a expressão de surpresa no rosto de Pip. Ele era uma graça.

- Eu só estava brincando com você, Pip. - disse após puxar o namorado para um selinho rápido. - Você não devia ter deixado sua guarda tão baixa.

Como era de se esperar, Pip não era imune ao bullying que a maioria dos alunos sofria no colégio, embora as partes agressivas viessem de outras turmas além da sua, a qual apelava mais para ataques verbais ao invés de físicos.

Damien, preocupado com o namorado, insistia que ele mantivesse a guarda alta e os olhos atentos para evitar ser encurralado por valentões ou qualquer outra coisa, mas os resultados - e isso não é de apenas hoje - não estavam sendo muito positivos. Pip ainda era muito passivo quanto às investidas que seus colegas faziam para lhe perturbar, o que significava que o trabalho pesado sempre ficava com Damien, não que ele se importasse. Ele adorava ter uma desculpa para dar uma lição naqueles que não gostava, mas se preocupava com o britânico. Não gostava quando ele se sentia mal e, se ele não queria se defender, ele não ia deixar que ele simplesmente levasse surras de graça.

Mas o fato de que era Damien quem o defendia não o impedia de encher o saco de Pip sobre como era importante que ele ficasse atento.

O britânico riu e beijou a bochecha do maior. Ele sabia o quanto ele se preocupava com ele e o tempo que dedicava a mantê-lo seguro. O mínimo que podia fazer era aceitar suas brincadeiras, conquanto fossem inofensivas, e rir ao seu lado.

Sua cauda de demônio balançava de um lado para o outro em movimentos pendulares. Ele amava receber atenção do namorado, por menor que fosse o gesto.

Tomados mão em mão, seguiram em direção ao ponto de ônibus, onde encontrariam mais dois membros de seu grupinho.

Sendo dois dos poucos garotos estrangeiros, nenhum deles tinha tanta gente com quem conversar - embora Damien tenha apenas recusado a companhia do grupinho de Stanley Marsh -, então acabaram por se socializar melhor com os outros garotos estrangeiros, formando sua própria panelinha. No total, eram quatro membros: um francês, dois ingleses e um demônio. Não se deram tão bem no início, mas, com o tempo, aprenderam a conviver e acabaram por se tornar grandes amigos, apesar dos pesares. Afinal, todos tinham algo em comum: o desprezo por seus colegas americanos.

Não é que o fato de eles serem americanos os incomodasse. É que eles eram um bando de bosta mesmo.

Ao chegarem no local de sempre - de forma bem semelhante ao grupinho de Stan - cumprimentaram Christophe e Gregory, o último um pouco mais exaltado do que de costume, e isso era dizer muita coisa. Ele articulava com as mãos e virava a cara para o céu como se estivesse tentando invocar uma mensagem de Deus - e Damien podia confirmar que isso não ia acontecer tão cedo.

- Por que ele tá tão estressado hoje? - perguntou Pip com a voz rouca para o francês.

- Tem um boato correndo de que tem gente nova entrando hoje. - estreitou o olhar na direção do outro loiro. - Ele tá enchendo o saco que enquanto tem mais porco entrando no chiqueiro, ninguém reconhece o diamante bruto que ele é.

Gregory franziu o cenho na direção de Christophe, queimando-o com o olhar. Ele teria dito que retirasse o que disse e parasse de distorcer suas palavras, pois ele não havia dito nada semelhante ao que ele dizia que ele tinha, mas não teve tempo antes do outro britânico mudar de assunto.

- E já sabem alguma coisa sobre esse aluno? - perguntou Pip, genuinamente curioso sobre o novo estudante.

Christophe tragou um pouco de seu cigarro e soltou a fumaça pelo canto dos lábios rachados antes de responder:

- Não se sabe muito sobre ele, só que está vindo da Europa.

- Só falta ser outro inglês. - resmungou Damien enquanto desviava o olhar.

A dupla de ingleses virou a cara em sua direção ao mesmo tempo, ambos com olhares que praticamente gritavam “perdão, mas você pode repetir pra eu dar um soco na sua cara?”.

- Qual o problema de ser outro inglês? - questionou Pip.

Tentando engolir o estresse e se explicar melhor, para os dois não entenderem seu comentário como um bola fora, Damien cruzou os braços e deu de ombros.

- Nenhum, a não ser que vocês queiram controlar o mundo. Vão acabar roubando meu trabalho. - brincou.

- Eu iria contra aquele Deus de merda e suas merdas de anjos a qualquer hora. - disse Christophe enquanto tragava seu cigarro.

- Pelo menos, se fôssemos contra o céu, você teria uma desculpa para transformar eles em pudim amassado. - disse Gregory para Pip, que soltou um riso baixo.

Enquanto subiam no ônibus, os olhos carmim de Damien queimavam as costas do metido de Yardale. O anticristo estava com um humor instável naquele dia, pois não conseguiu dormir direito por certos problemas em sua casa. Estava parecendo até uma garota de TPM, de tão irritado que estava. Coisas simples pareciam ter mais importância do que deveriam e uma simples gozação já parecia o fim do mundo. O que era irônico, pois quem deveria trazer o fim do mundo era ele. Não gostava quando as pessoas faziam piada com seu namorado, em especial sobre aquele dia, e hoje, como seu humor estava péssimo, podia quase senti a fumaça saindo por suas orelhas pontudas.

Ele odiava ficar bravo daquela forma tão rápido, mas fazer o que se ele tinha os impulsos nervosos de um adolescente na puberdade - o que ele era.

Phillip, que seguia logo atrás de Damien, cutucou-lhe o ombro de leve para chamar a atenção, tomando muito cuidado para não deixá-lo mais irritado do que ele parecia estar.

- Hum, Damien, você tá esmagando a minha mão.

O moreno olhou para suas mãos interligadas e notou a forma como suas unhas apertavam a palma da mão de Pip, quase perfurando a epiderme. Antes que perdesse a cabeça, murmurou um rápido “desculpa” e, soltando de sua mão, dirigiu-se ao seu lugar, encarando para fora da janela enquanto o britânico acariciava a pele machucada para aliviar a dor e tomava o assento disponível ao seu lado.

Enquanto fitava o anticristo com seus olhos azuis, Pip não podia evitar de sentir que havia algo de errado com Damien. Ele parecia mais estressado que de costume, e quando ficava calado, era sinal de que tinha algo errado. Ele não era do tipo que ficava quieto, a não ser que estivesse bravo ou chateado com alguma coisa. Sua mão nem estava doendo tanto para que se sentisse tão cabisbaixo assim.

Tomando um certo risco, o britânico suspirou e repousou a cabeça no ombro do moreno, cujos músculos tensionaram ao sentir o contato repentino. Podia sentir os olhos carmim o encarando por cima do ombro enquanto seus braços abraçavam o braço onde se apoiava e escondia o rosto na blusa de cor carvão. O coração do loiro voltou a bater em ritmo normal, desapegando do medo inicial, ao sentir Damien deslizar pelo assento e acariciar seus cabelos com os dedos gelados da mão disponível.

Pronto. Tudo de volta em seu devido lugar.

O ônibus deu partida e o ponto logo ficou para trás. A conversa paralela tomou rapidamente o lugar do som do motor, envolvendo todo o ônibus. Enquanto o casal se isolava do mundo em meio às carícias e chamegos - ignorando completamente os resmungos dos colegas próximos -, Gregory participava das reclamações enquanto Christophe efetivamente o deixava no vácuo.

- Eu não entendo como eles conseguem ficar juntos assim, sinceramente. - bradou enquanto colocava as mãos na cintura.

- Greg, literalmente ninguém se importa. - rebateu o francês e de uma tragada em seu cigarro, cujo cheiro chamou a atenção do motorista do ônibus.

- Nada de fumar no ônibus!

- Ô porra. - resmungou e rapidamente jogou o cigarro pela janela, erguendo a cabeça para fitar o teto do ônibus com raiva. - Isso foi coisa sua, né, seu vagabundo? Fazendo o motorista do ônibus saber que eu tô fumando porque tá com medo que eu te dê uma surra?

- Chris, para de arrumar treta com Deus e presta atenção em mim, fazendo o favor? - o francês revirou os olhos e encarou o loiro de soslaio, passando-lhe a palavra. - Obrigado. Então, como eu estava dizendo antes de ser rudemente interrompido, como é que eles conseguem ficar grudados assim em público? Tem literalmente o terceiro ano inteiro aqui olhando e eles com essa falta de vergonha na…

Cansado de aguentar as reclamações do loiro engomadinho, Christophe revirou os olhos e puxou seu rosto pelas bochechas para selar seus lábios em um beijo que, apesar de rápido, teve o efeito desejado e calou Gregory por completo.

- Se você tá carente de atenção é só pedir, idiota. - insultou o moreno entre dentes enquanto apoiava o queixo sobre a palma da mão.

A relação que Gregory e Christophe tinham era um tanto complicada e confusa, tanto que os próprios Pip e Damien, que deveriam ser as pessoas mais próximas deles, não faziam ideia se eles estavam juntos ou não. Às vezes eles agiam como amigos, às vezes brigavam e às vezes eram vistos se pegando no canto do corredor, como se não tivesse mais ninguém na escola. E Gregory ainda tinha a audácia de reclamar do casal oficial do grupinho deles. Pelo menos eles tinham as bolas pra assumir o relacionamento, por mais controverso que pudesse ser entre os alunos mais religiosos da escola.

O loiro trilhou os lábios com a ponta dos dedos, podendo ainda sentir a sensação da boca do francês sobre a sua debaixo de suas digitais. As bochechas tomaram um tom rosado sutil, quase imperceptível sobre a pele clara, e o coração batia forte em seu peito, assemelhando-se às batidas do tambor de um desfile. Aquela podia não ser a primeira vez que o francês o beijava, mas ele nunca falhava em pegá-lo de guarda baixa.

Christophe, que encarava o companheiro de soslaio, resistiu à tentação de acender outro cigarro ao ver o típico sorriso esnobe puxando os lábios de Gregory em uma curva.

- Pff! Você chama isso de beijo? Oh, Mole, você me mata de rir! - ah, pronto, ele usou o codinome dele, ele só fazia isso quando queria se mostrar superior ou atrair atenção para alguma coisa (que certamente envolvia ele sendo melhor que alguém em alguma coisa). Eles podiam ser amigos, mas Christophe não escondia o fato de achar Greg incrivelmente esnobe e metido. Todos pensavam assim, e não estavam exatamente errados. O inglês tomava cada chance que podia para mostrar como era melhor que os outros, até mesmo dentro do próprio grupo, mas os alunos do ensino médio de South Park sabiam melhor do que dar bola para ele quando ele ficava assim. O moreno soltou ar entre os dentes, já que não tinha como fumar dentro do ônibus, o que fez com que não tivesse oxigênio em seus pulmões quando Gregory virou seu rosto em sua direção, forçando-o a encarar seus olhos azuis e o sorriso travesso de orelha à orelha que estampava em seu rosto. - Aquilo não era um beijo de verdade. Isso é um beijo de verdade.

As mãos enluvadas agarraram-se às bochechas levemente sujas de Christophe e trouxeram seu rosto de encontro ao dele, ambos os lábios encaixando-se perfeitamente enquanto sua língua se aproveitava de tê-lo pego de guarda baixa e fazia seu caminho para dentro de sua boca, clamando cada pedacinho daquele espaço para si.

Ao passo que Christophe perdia suas forças para lutar contra os avanços do inglês, todos do ônibus já haviam se calado e se encaravam desesperadamente a procura de algum assunto. Aqueles dois não sabiam que o lugar pra ficar se agarrando no ônibus é nos bancos do fundo e não nos do meio, justamente onde todos podiam vê-los e ouvi-los? Incrivelmente rude, mas não é como se alguém fosse falar alguma coisa, já estavam acostumados a esse ponto.

- Eles realmente não têm vergonha nenhuma, huh? - sussurrou Damien, os olhos carmim fuzilando o casal de soslaio, apenas parando a bisbilhotagem ao perceber que Pip não havia respondido, nem concordando, nem discordando, sequer um único som. - Pip? - cutucou o menor, mas ele apenas soltou um resmungo e prendeu os braços mais forte ao redor do anticristo. Tirando as mechas loiras da frente de seus olhos, percebeu que os mesmos estavam fechados, adormecidos.

Pip dormiu apoiado no ombro de Damien.

O anticristo soltou um riso baixo e usou o outro braço para aproximar o corpo do britânico de si para deixá-lo mais confortável, encostando a bochecha sobre o topo de sua cabeça e encostando os lábios delicadamente sobre o topo, os cantos do mesmo curvando-se para cima em um sorriso.

- Ah, legal, agora tem mais dois. - alguém no banco de trás sussurrou, para a infelicidade do indivíduo, alto o suficiente para o anticristo escutar.

Ainda mantendo o sorriso no rosto, sem deixar o incidente o abalar, Damien estalou os dedos sutilmente, deixando o indivíduo enxerido em chamas.

(...)

Chegando na escola, todos os alunos foram chamados para o ginásio para um anúncio importante. PC Principal insistiu que ninguém cabule o evento, pois, de uma forma ou outra, ele iria descobrir e a pessoa pega seria severamente punida; oito meses de detenção - isso era até o final do terceiro ano! Então o ginásio estava mais cheio que o normal, mas a maioria continuava sentada da mesma maneira e organização de sempre.

Os garotos estrangeiros sentavam lado a lado, todos entediados por terem que esperar o diretor e a vice-diretora terminarem de organizar tudo para começar a falar e eles continuarem esse dia chato de escola.

- Atenção, estudantes, muita atenção. - o diretor chamou no microfone, imediatamente conseguindo silêncio no ginásio. - Como alguns de vocês sabem, estaremos recebendo uma nova aluna hoje. E, como ela é estrangeira, eu e a vice-diretora sentimos a necessidade de dar um aviso à vocês quanto ao seu preconceito com gente de fora. - os quatro estrangeiros se entreolharam, não sabendo se deviam se sentir contentes por estarem recebendo algum destaque ou se deveriam estar nervosos por estarem recebendo algum destaque.

A vice-diretora Strong Women recebeu o microfone de seu colega de trabalho e se pôs a dizer a sua parte do recado.

- Precisamente. Temos percebido uma falta de consideração da grande maioria dos alunos para com aqueles vindos de fora, não importa se eles são de outro estado, outro país ou outro plano astral. - Damien riu. - Então vamos pedir que vocês sejam mais acolhedores com seus colegas de fora, não importa de onde eles vieram.

- Vai pegar mal pra gente. - cantarolou Christophe em tom baixo, mas alto o suficiente para os outros colegas ouvirem.

- O primeiro que for pego fazendo alguma gracinha vai tomar detenção de duas semanas. - ameaçou PC Principal após receber de volta o microfone. - Essa escola não vai tolerar preconceito com qualquer tipo de minoria, seja por sua sexualidade, nacionalidade, religião ou qualquer outra coisa. Estejam avisados! Podem ir para suas classes agora.

Os alunos se dispersaram, alguns trombando com outros durante a saída. A panelinha de estrangeiros não sabia o que pensar do ocorrido no ginásio, o que acabou contribuindo para o ar constrangedor entre seus membros. Por um lado, era bom que trouxessem atenção ao descaso que sofriam, mas pelo outro só os colocaria na luz de mais problemas ainda.

De qualquer forma, não tinham tempo para pensar nisso agora. Christophe tinha aula de geografia, Gregory de história e Damien e Pip tinham educação religiosa - que ambos odiavam. Rapidamente se despediram uns dos outros, combinando de se encontrarem novamente na hora do intervalo, e cada um seguiu para um lado diferente.

Damien odiava educação religiosa. Não só era uma matéria da qual ele sabia tudo - ou seja, perda de tempo - mas a professora também era uma bela piranha, sempre pegando no seu pé. Oras, que culpa ele tinha se ele era filho de satanás? Não é como se ele tivesse pedido pra nascer ou algo assim. E o que era pior, sempre achavam um jeito de envolver Pip em suas reclamações, dando indiretas durante a aula para como a relação que eles mantinham era pecaminosa e ele arderia no inferno após sua morte.

Poxa, tia, condenando o britânico ao inferno? Logo na casa de Damien? Isso não era o inferno, era o paraíso.

Outro motivo de ele não gostar dessas aulas era isso: sua professora era burra pra caralho. As aulas de educação religiosa deveriam ser para estudar todas as fés, não só a cristã. A maioria dos alunos era cristão, mas também havia judeus, budistas, ateus e até misoteístas, e nenhum deles recebia destaque nessa aula - o que explicaria o fato de ela estar bem mais vazia do que as demais. Damien só ia às aulas porque era fácil e porque seu pai o obrigava a saber tudo sobre o apocalipse, mas, fora isso, era completamente inútil.

Na verdade, o anticristo sequer olhava para a lousa quando a aula começava. Quando a professora entrava, ele fazia questão de segurar a mão de Pip na sua e ignorar sua existência durante todo o período, às vezes até perdia o horário das aulas com tamanho desinteresse que ele tinha naquela aula.

Chegando à aula, sentou-se ao lado de Pip e apressou-se a roubar-lhe a palma da mão, entrelaçando seus dedos. O loiro, já sabendo de suas artimanhas, encostou a cabeça em seu ombro, bisbilhotando o celular que ele tinha em mãos. Quando a professora entrou na sala e viu os dois naquela posição, imediatamente fez cara feia.

E tudo que Damien fez foi sorrir.

(...)

A experiência nos Estados Unidos até agora não estava sendo tão ruim, mas isso não significava que estava boa. As coisas eram muito diferentes da Grã-Bretanha, e os estereótipos sobre americanos que circulavam em seu amado país só se provavam cada vez mais verdadeiros quanto mais tempo ela passava com os pés naquela nação imunda.

Por mais que insistissem que aquilo faria bem à sua educação, Estella Havisham acreditava já possuir toda a educação que julgava necessária. Não havia nada fora de sua amada nação que já não pudesse aprender por lá, sem precisar ir à um lugar onde as pessoas são mal-educadas, nojentas e cobertas de gordura.

Mas, fatidicamente, havia de cumprir as ordens da mãe adotiva. E ela lhe ordenara que ficasse nos Estados Unidos até que completasse seis meses de intercâmbio para seu currículo profissional, o que ela sabia que nada mais era do que uma desculpa para mandá-la àquele país estranho para formar sua própria vida lá. Só queriam se livrar dela.

Às vezes ela odiava sua mãe postiça. Seu jeito incrivelmente controlador estava estragando sua vida por completo, como evidenciado pela sua atual presença na suposta “terra dos livres”. Que, vamos combinar? Livres o caralho. A América não era metade do que dizia ser e isso é fato.

A britânica empurrou os pensamentos contra o país de lado ao ouvir o sinal tocar, indicando o horário do intervalo, e dirigiu-se à cafeteria. No espírito da união, uma garota chamada Wendy Testaburguer a convidou a sentar-se com ela e suas amigas, mas Estella duvidava que ela estava interessada em qualquer coisa a ver com inclusão, apenas queria tirar a suspeita de si caso algo acontecesse envolvendo estrangeiros, o que parecia algo pertencente à uma situação comum naquela cidade da montanha.

- Seja bem-vinda, Estella. - cumprimentou a morena com a sua chegada à mesa com uma bandeja em mãos. - Espero que goste do tempo que passar aqui.

Mas ela não iria. Disso tinha certeza.

As garotas, chatas e superficiais, sequer repararam que ela existia durante todo o intervalo, ficavam apenas falando de garotos e sapatos, coisa típica do estereótipo de garota americana. Mas Estella não era americana.

Seus olhos entediados, ao invés de prestarem atenção na conversa, percorriam o refeitório em busca de algo interessante para se entreterem, e acabaram parando em um grupo de quatro garotos, dos quais um lhe parecia familiar.

Ninguém olhava na direção deles, ignoravam-os como se não existissem. Pela forma que se comportavam, pareciam dois casais, ambos formados entre um garoto loiro e outro moreno, igual à alguns desenhos estranhos que viu algumas garotas asiáticas fazendo mais cedo. Eles pareciam se dar muito bem. Só de olhar, já podia dizer que dois deles eram ingleses, um deles talvez queer se puxasse para estereótipos. Um deles parecia um cachorro sujo, carregando uma pá em suas costas e com uma das bochechas suja de barro, não sabia dizer se ele era um estudante ou o operário de uma fábrica da época da revolução industrial. O último era o mais interessante dentre os quatro, parecia o mais normal. A única coisa que saltava em sua aparência eram os olhos escarlate, brilhantes como o fogo de uma lareira envolto por um completo breu. Tais olhos, intensos e quentes, não tardaram em perceber seu encarar, a expressão do dono mudando de uma prazerosa para uma desconfortável.

Imediatamente após conectarem seus olhares, cortou o contato e dirigiu-o ao britânico ao seu lado, sutilmente tomando a mão na sua enquanto sussurrava em seu ouvido. Namorados. Os olhos carmim, desviando poucos segundos em sua direção, concentravam-se nos azuis do loiro de uma forma que deixava isso bem claro, por mais que os desviasse em sua direção para saber se ela estava o encarando - dica: ela estava. O menor também olhou em sua direção, ao contrário do moreno, estreitando o olhar em sua direção como se tentasse ler seu rosto. A verdadeira surpresa, no entanto, foi quando ele resolveu arriscar e chamá-la pelo nome.

- Estella? - chamou, sua voz apenas audível por estar sentado na mesa logo atrás dela. Ela travou ao ouvi-lo, sua mente começando a delirar e entrar em pânico com as possibilidades do que aquilo significava. O loiro trocou algumas últimas palavras com o suposto namorado e deixou a mesa, aproximando-se dela a passos largos e um sorriso educado no rosto. - Estella, é você?

Hesitante, a britânica olhou para os dois lados, como se se certificasse de que ninguém estava olhando. E poderiam culpá-la? Aquele momento poderia acabar de forma muito constrangedora.

- Sim… Perdão, mas eu te conheço? - o loiro sorriu e ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha, como se adiantasse alguma coisa. Contudo, antes que ele pudesse abrir a boca para falar, algo no formato de seu rosto aumentou a sensação de familiaridade. Aquele garoto tinha um sorriso tão idiota, imbecil e inocente em seu rosto que não tinha como confundir com outra pessoa. - Espere um segundo. Eu conheço essa cara de pamonha… Phillip Pirrup?

Pip fez que sim com a cabeça, seu sorriso crescendo de orelha à orelha. Em pouco tempo, começaram a conversar, atraindo a atenção do resto dos garotos estrangeiros e das demais garotas da mesa.

- Pip, você conhece essa garota? - questionou Gregory, parando logo atrás do britânico.

- É claro que conheço. Nós costumávamos namorar.

O depoimento provocou choque entre os amigos do britânico, que se entreolharam em confusão.

- Pera aí, como é que é? - Damien questionou, completamente confuso.

- A Estella foi minha primeira namorada. - explicou ele. - Ficamos algum tempo juntos quando eu ainda morava na Inglaterra.

Ficar espantado ou ficar com raiva? Damien não sabia qual era a melhor opção a escolher. Sua cauda de demônio estava agitada atrás de si, da mesma forma que os humanos ficam sem saber o que fazer com as mãos em situações de nervosismo. Em momento algum ele acreditou ter sido o primeiro amor de Pip, até porque o próprio já o havia contado sobre a primeira namorada, mas ele não esperava que teria que encarar algum de seus antigos pretendentes cara a cara, muito menos essa garota em específico! Damien tinha ouvido falar muito daquela garota, e é óbvio que não gostou nadinha do que ouviu.

- Só pra avisar, ele é gay. - apontou para o britânico com o polegar, seu rosto mostrando o máximo de indiferença possível, a fim de esconder a raiva borbulhando dentro de si.

- Damien! - protestou Pip, o rosto tingido de vermelho pelo constrangimento.

- Tô mentindo?

- Não, mas não precisava ser tão direto! - rebateu. - Ela acabou de chegar, dê um tempo pra ela se acostumar com o país.

O anticristo virou a cara e empinou o nariz, sua cauda enrolando-se na panturrilha do loiro como que para mantê-lo por perto, da mesma forma que uma mãe protege sua criança atrás de suas pernas.

- Uh-oh, parece que tem competição pelo coração do francesinho. - provocou Cartman, um pouco alto demais do que pretendia.

- Britânico. - corrigiu Gregory, cortando a cena por completo.

Como já era norma naquela escola, vários reviraram os olhos para o comentário de Cartman e todos o ignoraram.

- Estella, espero que você seja muito bem-vinda à South Park. - sorriu Pip, também ignorando o balofo. - Se você quiser, pode se sentar conosco amanhã caso não se sinta confortável com estar em uma escola nova.

Antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa a mais, o sinal soou, indicando o fim do intervalo, e Pip puxou Damien e seus amigos para o corredor assim que o barulho acabou.

Estella encarou a porta por onde passaram com olhos curiosos e um riso seco deixando seus lábios. Que país curioso.

22 апреля 2020 г. 10:35 0 Отчет Добавить Подписаться
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