Короткий рассказ
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Único


Gaara observava o sangue que escorria dos cortes em seu pulso, achando belo o contraste do vermelho escuro contra sua pele alva. A dor quase não era sentida, tão acostumado estava com ela. Tudo que existia eram os cortes se abrindo e o sangue escorrendo lentamente, distraindo-o naquele lento transe: cortar, abrir feridas e vê -las sangrar.

O jovem estava prestes a fazer mais um corte com sua lâmina afiada quando passos ecoaram no corredor, levando-o a parar o que fazia imediatamente. Ele guardou o objeto cortante ao mesmo tempo em que cobria o pulso com a manga da blusa. Afinal, não queria se expor para um desconhecido.

Um garoto alegre e barulhento irrompeu no banheiro, a fuinha loira se destacando tanto quanto os cabelos ruivos de Gaara em meio aos azulejos limpíssimos e brancos do local.

Os olhos azuis miraram Gaara, e depois de uma rápida avaliação, o jovem alegre sorriu abertamente e começou a falar.

— Bom dia! Nossa, os professores estão atacados hoje, não acha? Quem entende esses adultos, são tão bipolares! — comentou, sem se constranger com o silêncio do outro. — Prazer, sou Naruto Uzumaki. E você é Sabaku no Gaara, acertei?

— Como sabe meu nome? — Gaara perguntou, surpreso ao se deparar com tanta cordialidade dirigida a si.

— Ah, estava na lista de melhores alunos do mês passado — Naruto explicou, o sorriso em seu rosto inalterado. — Você tem mesmo cara de intelectual — acrescentou, piscando um olho para o jovem à sua frente.

Gaara sentiu as bochechas corarem levemente, e sentiu-se constrangido, pois não gostava de ser notado e não sabia lidar com elogios — até mesmo porque nunca os recebia, isso devido a sua aparência diferenciada e personalidade antissocial, que o levava a se afastar de todos, isolando-se e consequentemente alimentando todo o preconceito que havia contra sua pessoa.

Frequentemente, ouvia apelidos como "satanista", "anjo caído ", "demônio", "bruxo" ou até mesmo "Lúcifer", isso graças a sua aparência peculiar. Porém, havia aprendido a ignorar tais hostilidades.

Houvera sim uma época em que tais apelidos fariam sentido, pois há uns anos, Gaara tivera tendências sociopatas. Não tinha empatia nenhuma pelas pessoas e se deliciava com a dor alheia. Foram necessárias horas de terapia intensiva para reequilibrar a mente do jovem, para recuperar a tal da empatia — que deveria ser inerente a todo ser humano, mas por vezes sufocada por diversos traumas que se passam ao longo da vida; traumas esses que, no caso de Gaara, foram demais para que ele pudesse lidar sem maiores sequelas.

E mesmo após tantas terapias, ainda existiam muitas questões não superadas, e o Sabaku tentava sufocá-las cortando-se e infligindo dor a si mesmo, para aliviar a culpa, o ressentimento, a depressão e a solidão; todos aqueles sentimentos que o afligiam.

Era isso que fazia antes do jovem simpático chegar: mutilava-se, como se estivesse se punindo por tudo de ruim que passara e fizera.

E foi perdido nesses pensamentos e lembranças que Gaara saiu do banheiro, sem se despedir de Naruto, que ficou para trás, surpreso pelo comportamento reservado e até mesmo mal educado do jovem.

Mas ao invés de julgar mal o garoto e rogar-lhe pragas — como qualquer outro faria —, o Uzumaki preocupou-se . Não era bobo e sabia bem o que aquele olhar que viu refletido nos olhos de Gaara significava.

Era um olhar triste e vazio, olhar esse que o próprio Naruto já onstentara, em sua época mais solitária. Era um pedido mudo de socorro, pedido esse que ele não ignoraria.

Fosse qual fosse o problema do jovem Sabaku, Naruto estava decidido a ajudá-lo.

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Após o ocorrido no banheiro, o jovem Uzumaki tentara diversas vezes se aproximar de Gaara, mas sem obter sucesso.

Frequentemente recebia patadas, olhares raivosos ou vácuos constrangedores. Em dado momento, pensou que nada conseguiria, porém não se deixou abater com tal ideia e continuou com seus esforços. Afinal, tinha uma personalidade obstinada e não gostava de desistir.

Gaara — que não entendia as boas intenções de Naruto — desconfiava de tamanho interesse de aproximação, tornando-se cada vez mais arisco.

Porém, como diz o ditado, "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", e assim foi. Com o tempo, Naruto conseguiu penetrar algumas defesas do jovem Sabaku.

Verdade fosse dita: Gaara se pegara gostando daquelas atenções. Por mais que no começo tivesse achado-as irritantes, com o tempo passou apreciá-las. Afinal, era bom saber que alguém se importava.

A relação dos dois melhorou a tal ponto que os garotos passaram a andar, fazer trabalhos, e até mesmo voltar juntos para casa. A amizade se construía lentamente, graças a dedicação e preocupação sinceras que Naruto tinha em relação ao Sabaku.

Apesar de tudo, o Uzumaki tinha certa dificuldade em descobrir qual era o problema de Gaara, uma vez que este último não era muito de falar sobre seus sentimentos e problemas mais íntimos. A única coisa que havia revelado era o fato de possuir apenas um parente próximo — seu tio, que era negligente e nunca estava presente.

Gaara tratava isso com descaso, dando a entender que não se importava. Porém, para Naruto, era óbvio que aquilo não passava de uma mentira. O jovem Uzumaki podia sentir que os danos causados pelo comportamento do tio eram muito maiores do que o amigo queria fazer parecer.

E não demorou muito para Naruto confirmar suas suspeitas. Certa manhã, na escola, o Uzumaki seguiu Gaara até o banheiro ao vê-lo ir em direção ao local apressadamente, pois imaginara que o amigo podia estar passando mal e precisando de ajuda.

Assim que adentrou o banheiro, viu o Sabaku com uma lâmina afiada na mão, com as mangas da blusa levantadas e inúmeras cicatrizes — algumas ainda "frescas" — à mostra.

Antes que desse conta do que fazia, Naruto já tinha arrancado a lâmina da mão do amigo com violência, cortando a si mesmo involutariamente.A palma da mão começara a sangrar em abundância, devido a profundidade do corte. O dedo polegar e o indicador também a acompanhavam, porém em menor intensidade. Mas nada disso importava para Naruto, pois ele estava ocupado demais avaliando os cortes profundos que cobriam o pulso do amigo.

— Por que fez isso? — perguntou finalmente, encarando Gaara de modo intenso — Por que causou dor a você mesmo? Isso não resolve seus problemas nem te faz mais forte! Então por quê?

— Não te interessa — o Sabaku replicou, frio como gelo. Se ver exposto e vulnerável daquele modo era constrangedor, por isso Gaara recorreu a máscara de indiferença — Aliás, por que você se importa?

— Me importo porque somos amigos. Não interessa se é retribuído ou não, tenho sentimentos verdadeiros de amizade por você, e eu sempre me importarei e me preocuparei, não importa o quanto você me afaste. — dizia, determinado, gesticulando freneticamente com os braços.

O impacto de tais palavras foram como um tapa na cara de Gaara. A sinceridade presente nelas o fez hesitar por um momento, mas tratou de se recompor.

— Nós mal nos conhecemos — replicou, com as sobrancelhas erguidas em clara demonstração de incredulidade — Você não sabe o que eu já fiz, o que posso fazer. Temos pouco menos que seis semanas de convivência, como pode dizer que se importa?

— Não é o tempo de convivência que define os meus sentimentos por alguém. Gosto das pessoas pelo caráter que elas tem, e pelo bem que companhia delas me faz. Não preciso te conhecer há dois anos pra te considerar meu amigo. — disse com um semblante sério que era raro em sua personalidade.

Diante dessas palavras, Gaara se calou de vez.

Nunca ninguém se importara ou dissera aquelas coisas bonitas para si. Era tudo novo demais para o jovem Sabaku, e a única reação que conseguiu ter foi virar as costas para Naruto e correr, fugir.

Fugir para longe daquela confusão sentimental que bagunçava suas convicções; fugir daquele poço de generosidade que era Naruto; fugir daqueles belos olhos azuis que nunca o condenavam, mas sempre o compreendiam tão bem.

Gaara precisava de tempo para reorganizar seus pensamentos. Naruto entendeu e respeitou, sem correr atrás do amigo, dando -lhe o tempo necessário.

Mas isso não significava que não se importava. Muito pelo contrário: o jovem Uzumaki sempre seria aquele que se importaria, se preocuparia — independentemente do quanto fosse afastado. Ele sempre estaria ali, de prontidão para ajudar.

E ao contrário do que muitos tendem a pensar, não era questão de se humilhar. Era questão de entender que sempre existem motivos para certos comportamentos; que por trás da máscara de super humano autossuficiente, existe alguém normal com muitos problemas, alguém que precisava de ajuda.

Naruto entendia; podia ver por trás da máscara de Gaara. Podia ver que ele precisava de ajuda, e sabia que virar a as costas — como a maioria fazia — só agravaria o problema.

O Uzumaki estava disposto a lutar pelo amigo, sem se importar com o tempo que levaria para obter algum sucesso.

"Afinal, é pra isso que servem os amigos", pensou consigo mesmo enquanto finalmente saía do banheiro. Visitaria Gaara mais tarde.

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Sozinho em casa, o jovem Sabaku refletia sobre os acontecimentos daquela manhã. Ainda sentia o calor que as palavras de Naruto lhe causaram: um calor reconfortante, que sufocava alguns dos sentimentos ruins que lhe afligiam constantemente.

Desde que se entendera por gente, Gaara estivera sozinho. Nunca tivera amigos ou familiares próximos.

Sua mãe havia morrido no momento em que nascia. O pai afundara em depressão graças a esse fatídico incidente, suicidando-se anos depois, graças ao agravamento da doença.

Tudo que lhe restara fora seu tio, porém este não era afeiçoado ao sobrinho — inclusive, o culpava pela morte da irmã.

Assim sendo, quase nunca se viam. Yashamaru trabalhava fora, e nas folgas saía com seus amigos, passando pouquíssimo tempo em casa e deixando o sobrinho por conta própria.

No começo, fora muito difícil para o jovem Sabaku, pois mal havia feito oito anos, já se deparara com inúmeras responsabilidades. Com o tempo, aprendeu a se acostumar, e agora, aos dezesseis anos, sabia cuidar de si próprio como um adulto faria.

Mas toda essa solidão em que vivera deixara suas sequelas. Gaara nunca soubera como se relacionar com outras pessoas, de modo que nunca fora boa companhia - principalmente na sua fase de tendências sociopatas, que começara aos onze anos e terminara por volta dos treze.

E mesmo assim, Naruto insistia em sua amizade. Sinceramente, Gaara não conseguia entender, mas aquilo tampouco importava. No momento, tudo que realmente importava era a preocupação que o Uzumaki tinha consigo, a amizade sincera que lhe dedicava. Mesmo achando estranho, o Sabaku não podia negar que era algo reconfortante.

Enquanto estava sozinho, Gaara não tinha parado para pensar em como sentia falta de carinho e companhia — nunca havia sequer se permitido levantar tais questões antes, pois não queria sofrer com tais questões. Mas agora, com o Uzumaki ao seu lado, sentia mais do que nunca a falta que aqueles pequenos detalhes haviam feito.

Levantando-se bruscamente da poltrona na qual estava sentado, o Sabaku dirigiu -se ao banheiro no intuito de molhar o rosto para refrescar as ideias. Assim que adentrou o cômodo, avistou-as: suas lâminas.

Sua coleção estava posta sobre o armário ao lado da pia, organizada por ordem crescente, das mais velhas e gastas para as mais novas.

Contemplando-as, o Sabaku se lembrou de quando eram suas amigas, as únicas que possuía e que o distraíam do mundo — pelo menos por alguns instantes.

Eram suas amigas, no passado, pois Gaara percebeu subitamente que não precisava mais delas. Pela primeira vez na vida, ao olhá-las, não sentiu vontade de se cortar. Não precisava mais daquelas amigas, pois agora tinha um amigo de verdade que era muito mais precioso.

Sorriu ao perceber o quanto a convivência com Naruto o mudara em tão pouco tempo. Algo quente e reconfortante aqueceu seu coração ao pensar no amigo.

Com certeza, ter alguém com quem podia contar era muito melhor do que imaginara.

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Naruto passou na casa do amigo no mesmo dia da descoberta, e se surpreendeu com a facilidade com que conseguiram se reconciliar.

Obrigou o amigo a jogar as lâminas fora — coisa que ele pareceu feliz em fazer —, além de fazê-lo jurar de dedinho que os cortes nunca mais aconteceriam.

— Quando sentir vontade de fazer isso, me chama e a gente conversa até sua vontade passar — o Uzumaki disse a Gaara, com um semblante sério e preocupado. Assim selaram o acordo.

Mesmo assim, Naruto estava sempre atento. Sempre verificava o pulso do amigo sendo — ou tentando ser — discreto. Atentava-se também a qualquer indício de tristeza e estava sempre de prontidão para ouvir desabafos e limpar as lágrimas que os acompanhavam.

Em resumo, o Uzumaki estava sempre pronto para agir como um verdadeiro amigo agiria. E mesmo não sendo psicólogo, conseguiu ajudar Gaara de várias formas: o fizera entender que a morte de seus pais não fora sua culpa, sempre ressaltando que aquele tipo de coisa acontecia e que era importante seguir em frente nunca se colocando como vítima ou culpado, mas sempre se vendo como alguém capaz de vencer adversidades e evoluir como ser humano, apesar das circunstâncias.

Também o fizera entender que sempre haveria alguém que se importaria, independentemente do que os outros pudessem dizer sobre o assunto.

E não, Gaara não tinha se curado da depressão. Porém, ter alguém que mostrava se importar o impediu de cair no fundo do poço, o impediu de agravar seu caso a ponto de fazer algo maior e irreversível contra si mesmo.

Mesmo não estando curado, o Sabaku apresentava um quadro significativo de melhora — afinal, uma amizade verdadeira pode ser o melhor dos remédios nesses casos delicados.

Tão agradecido estava o Sabaku que num súbito momento de inspiração, escreveu uma carta.

"Às vezes, um amigo sincero é o que mais precisamos para superar certas dificuldades de nossas vidas. Não precisamos passar por tais momentos sozinhos, só porque alguém disse que temos que nos virar.

A verdade é que todo mundo sabe que seres humanos precisam uns dos outros para evoluírem, para superarem as adversidades juntos.

Aqueles que pensam o contrário vivem uma vida triste, solitária e sem evolução alguma.

Portanto, sejam como Naruto: estendam a mão para quem está sozinho e precisa de ajuda."

Naruto — que acompanhava de perto a produção do amigo — se sentiu lisonjeado e impressionado com o conteúdo da carta. Pediu para acrescentar algo abaixo das palavras de Gaara, e este o permitiu.

"Sejam como Gaara também: aprendam a ter humildade para reconhecer quando precisam de ajuda, aprendam a aceitar essa ajuda.

Somente quando todos puderem agir desse modo, haverá um progresso no mundo, haverá um mundo onde todos se entendem, se ajudam e evoluem."

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Gostaram? Espero que sim, e que levem a mensagem com vocês!

Deixem seus comentários, elogios ou críticas, concordâncias ou discordâncias: aceito todos de bom grado!

Beijos e até a próxima!

7 марта 2020 г. 2:01 0 Отчет Добавить Подписаться
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Artemísia Jackson Afogando as mágoas na escrita!

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