lara-one Lara One

Um final de semana. Oito pessoas. Um chalé. Uma cidade fantasma. Eventos paranormais. Você está preparado para brincar com o desconhecido?


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S06#22 - OUIJA

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Pet Shop Boys - West End Girls]

1989

Estrada Secundária -Pensilvânia -3:33 A.M.

Luz do luar. Foco na rodovia que passa entre a imensa floresta de pinheiros. A imagem fica distorcida, como numa espiral até se revelar com o som de um estampido: no final da estrada surge uma cidade.

Close na placa de entrada, fixada acima do acesso principal: West End.

Dois carros com os faróis ligados entram na cidade.

Corte (música continua)

4:47 A.M.

A velha cidade dos anos 50 abandonada, mas tudo parece novo. Luzes acesas nos postes. Prédios comerciais de dois andares, lojas, lanchonete, hotel, delegacia, prefeitura, escola, igreja, residências. Carros estacionados. Resquícios de algo que não existe mais.

O vento faz levantar a poeira da única rua, a rua principal.

No final da rua principal, no alto da ladeira, o velho chalé.

Corte (música continua)

Câmera se aproxima rápido pela estrada de chão focando o chalé. A chaminé da lareira expele fumaça. Os dois carros estacionados, com placas de outro estado.

Corte (música continua)


Oito jovens em uma festinha. Quatro rapazes e quatro moças. Bob e Lisa se amassam no sofá. Justin dança no canto da sala. Todos em roupas típicas dos anos 80. Lauren e Amber sentadas no chão, no centro da sala, de costas pra câmera, rindo de alguma coisa. Amber veste-se como a Madonna. Billy sai da cozinha dançando e carregando latas de cerveja.

BILLY: - Alguém mais quer cerveja? A geladeira está cheia!

Ryan, com a jaqueta do time de futebol da escola, escorado na janela e observando as pernas de Amber, estende a mão pegando uma cerveja. Ashley, a gótica e calada, sentada num canto da sala, escrevendo num diário. Na capa do diário, Robert Smith do The Cure, envolto num coração feito de caneta hidrocor vermelha. Ao lado dela uma pilha de discos de bandas dos anos 80.

BILLY: - Lauren, o que está fazendo?

LAUREN: - Venha ver o que achei no armário dessa casa velha.

Billy se aproxima. Percebe então a tábua ouija no chão, sobre o tapete. Lauren e Amber brincam com ela.

ASHLEY: - Não deviam brincar com isso.

JUSTIN: - Não acredita nessas besteiras não é?

LAUREN: - Que besteira?

JUSTIN: - Essas coisas de espíritos.

ASHLEY: - Não brinque com o que desconhece! Essa tábua invoca coisas que vocês não vão conseguir se livrar delas depois!

Eles caem no riso. Lauren debochada e provocativa pega a plancheta e move sobe a tábua.

LAUREN: - (FECHA OS OLHOS / RINDO) Há alguém aqui?

Ryan cospe a cerveja, se babando, rindo alto. Billy se aproxima curioso, sentando-se ao lado das meninas. Ryan e Justin se aproximam.

JUSTIN: - Pergunta se é homem ou mulher.

Lisa e Bob se amassam no sofá, caindo por cima de Ashley. Ashley se levanta irritada.

ASHLEY: - Chega! Eu já entendi a moral desse passeio! Vocês resolveram parar nessa droga de cidade fantasma pra ficar transando! Os carros não estão estragados não!

Ashley sai porta à fora. Justin ri.

JUSTIN: - Qual o problema dela? Tem medo de homem?

AMBER: -(RINDO) Deve ser virgem ainda. Vive no mundinho musical dela, sempre carregando discos... Vai ver sonha que vai transar com o Robert Smith!

Ryan se aproxima de Amber, sentando-se ao lado dela. Passa a mão em suas pernas, a desejando.

RYAN: - Você não é virgem, certo? A líder da torcida não pode ser virgem. Eu não sou.

Amber ri, deixando que Ryan a fique bolinando. Eles sentam-se ao redor, menos Bob e Lisa, que ficam no sofá se amassando. Lauren leva a mão na plancheta.

LAUREN: - Concentrem-se...

JUSTIN: - (RINDO)

LAUREN: - Há alguém aqui?

A plancheta se move até o YES.

BILLY: - Não vale, você mexeu!

LAUREN: - Não mexi não!

Justin começa a rir. Ryan dá um safanão de brincadeira em Justin. Amber pega a plancheta.

AMBER: - Diz alguma coisa pra mim.

A plancheta se move nas letras: B.I.T.C.H.

Amber solta a plancheta.

AMBER: - Não gostei dessa brincadeira. Vadia é a sua mãe!!!

RYAN: - (RINDO) Até o tio da ouija sabe que você é uma vadia.

JUSTIN: - Pergunta se ele pode responder alguma coisa pra nós.

LAUREN: - Pode responder coisas para nós?

A plancheta se move até o YES.

JUSTIN: - (RINDO) Pergunta se Ashley é virgem.

Todos começam a rir. A plancheta se move até o NO. As risadas aumentam.

LAUREN: - Tábua mentirosa... Se ela não é virgem, eu sou a rainha da Inglaterra!

RYAN: - Pergunta aí se a Amber vai transar comigo hoje.

A plancheta se move até o NO. As risadas e a zoação aumentam. Ryan faz um sinal mal educado pra todos.

BILLY: - Pergunta se a música do futuro vai ser eletrônica!

A plancheta se move até o YES.

JUSTIN: - Sem graça, faz perguntas mais complexas. Sim e não pode significar que você está mexendo isso. Pergunta algo difícil.

BOB: - (SOLTA OS LÁBIOS DE LISA) Concordo. Pergunta aí o nome do meu avô. Esse vocês não sabem.

LAUREN: - Como se chama o avô do Bob?

A plancheta se move até a letra C.

AMBER: - Peguem um papel! Anotem!

Billy levanta-se. Pega um bloco e lápis.

LAUREN: - C.A.P.T.A.I.N. (RINDO) Capitão?

Bob levanta-se, incrédulo. Todos olham pra ele.

BOB: - Era assim que o meu pai chamava o pai dele. C-como sabiam?

Todos ficam curiosos.

LAUREN: - Qual a universidade que vai me chamar?

A plancheta se move até o A.

LAUREN: - A. N. Y... Nenhuma?

Todos começam a rir.

JUSTIN: - Porque você é burra. Vai se casar com um fazendeiro e se entupir de filhos! Aí, tio da ouija, ela vai casar né?

Lauren o fulmina com os olhos. A plancheta se move.

JUSTIN: - ... A.S.K.L.A.T.E.R... (INCRÉDULO) Pergunte depois?

LAUREN: - Viu? Ignorou você!

BILLY: - Pergunta aí quem é. Pergunta o nome dele.

A plancheta se move formando uma palavra.

LAUREN: - D.E.V.I.L.

Todos se entreolham. Justin começa a rir.

JUSTIN: - Ok, ele é o capeta. Pergunta o que ele quer. Vai capeta, diz aí o que você quer?

A plancheta se move até as letras: Y.O.U.

Amber se levanta nervosa. Desliga a música.

JUSTIN: - O que foi?

AMBER: - Não estou gostando dessa brincadeira. Não estou gostando desse lugar.

RYAN: - Deixa de ser medrosa, Amber! Isso aí é bobagem, funciona pela força mental da gente. Esses lances aí de inconsciente coletivo...

LAUREN: - Queremos saber se vamos pra universidade.

A plancheta vai rapidamente até a palavra NO.

JUSTIN: - Ah certo! Ninguém aqui vai pra universidade. Pra onde vamos então?

A plancheta se move até as letras: H. E. L. L.

Sons de pancadas nas paredes.

A porta do porão se abre. Um vento invade a casa.

A casa começa a balançar. Portas e janelas batendo. Barulhos altos. Os jovens se levantam assustados aos gritos.

Objetos começam a voar pela sala.

O disco voa da vitrola, decapitando Ryan.

A plancheta voa das mãos de Lauren para o pescoço de Justin. Justin coloca as mãos no pescoço. Olhos arregalados. O sangue começa a escorrer por entre as mãos dele.

Amber grita histérica.

Corte.

Os jovens correm para fora do chalé, entrando nos carros. Lauren tenta dar a partida e não consegue. Amber grita, Lauren chora. Ashley parada em frente a casa observa o chão começando a tremer. Ashley fecha os olhos.

Billy consegue ligar o carro. Olha para o banco do carona e percebe The Gold Coin sentado, olhando pra frente, brincando com a moeda. Coin vira o rosto pra ele, um rosto cadavérico e demoníaco.

THE GOLD COIN: -(VOZ GUTURAL) Jamais chame demônios. Eles podem escutar.

Billy grita e acelera com medo. Lápides de sepulturas vão saindo da terra, impedindo o carro de seguir. Billy dá ré, batendo em outra lápide. Então acelera desatinado e prensa Ashley contra uma lápide.

Fade to black.

Gritos de pavor.

VINHETA DE ABERTURA: DON'T TALK TO DEMONS



BLOCO 1:

2003

Estrada Secundária - Pensilvânia -3:33 P.M.

[Som: The Cure - Close to Me]

Baba dirige o carro de Mulder, se embalando com a música. Mulder no banco do carona, olhos fechados, suando, gravata frouxa e camisa aberta. Doente.

Baba olha pra trás. Victoria sentada na cadeirinha, cochilando.

BABA: - Tem certeza realmente de que isso não pode esperar?

MULDER: - (CANSADO) Preciso trabalhar... Ou vão me tirar do FBI. Skinner de férias, Kersh no comando (ESPIRRA) ... E Carter quer meu traseiro em todos os sentidos...

BABA: - Ok, se você quer se matar pela verdade...

MULDER: -Eu já encontrei a minha verdade. Eu só quero ganhar tempo... (TOSSE) Você fica com Victoria enquanto eu faço a investigação. Me ligue se ela ficar pior.

BABA: - E se você ficar pior?

MULDER: - Não estou doente! (ESPIRRA) Estou ótimo!

BABA: - Percebo... Falta mais de uma hora de viagem, isso que eu peguei um atalho. Quem sabe paramos em algum lugar pra comprar algum remédio pra você?

Mulder vira o rosto, fechando os olhos.

O carro passa pelo rapaz na beira da estrada, vagando e pedindo carona. É Billy. Ele olha pra Mulder. Baba segue. Observa a placa no fim da estrada: West End.

BABA: - Hum, tem uma cidade no meio do caminho. Deve ter farmácia.

O carro segue pela estrada. Billy segue caminhando, sumindo no nada.


West End -3:54 P.M.

Baba estaciona o carro na frente da farmácia. Desce. Olha pra todos os lados. A cidade abandonada. O chalé no alto da rua principal, uma longa subida cercada de mato alto.

Baba olha pro carro. Mulder desacordado, encharcado de suor. Baba fica nervosa. Ameaça entrar no carro, mas para ao ver Amber que corre atravessando a rua.

BABA: - (GRITA) Ei, garota!!!!!!!

Amber para olhando pra ela. Olhos fundos, coloração roxa, lábios cortados, mórbida. Estática, dobra apenas o pescoço para o lado.

BABA: - Há algum médico por aqui?

Amber sai correndo e some num beco. Baba suspira.

BABA: - Madonna mal educada! Essa juventude... Nem sabia que curtiam Madonna ainda!

Baba inclina-se pra dentro do carro. Pega o celular de Mulder.

BABA: - Não funciona? Eu digo pra esse narigudo teimoso carregar a bateria, agora estamos sem telefone!

Baba desvia a atenção para Lauren, parada no meio da rua. Lauren com a cabeça sangrando. Baba se assusta e deixa o celular cair ao chão.

BABA: - Garota, você está bem?

Lauren corre pra dentro de um prédio. Baba pega o celular e sai atrás dela.


4:11 P.M.

Mulder se acorda. Tenta se localizar, olhando pra cidade, pro banco vazio do motorista. Mulder abre a porta, quase caindo. Segura-se na porta. Baba vem caminhando, cabisbaixa e derrubando lágrimas.

MULDER: - O que houve? Por que estamos parados?

BABA: - Nada. Eu... (SECA AS LÁGRIMAS/ SORRI SEM GRAÇA) Eu pensei ter visto alguém. Senti um aperto no coração... Dor...

MULDER: - Quem?

Baba entra no carro. Mulder entra com ela.

MULDER: - (TOSSE) Aonde estamos?

BABA: - West alguma coisa.

MULDER: -Você está bem?

BABA: - Estou melhor que você. Encontrei antigripais na farmácia, mas não tinha ninguém pra atender. Deixei o dinheiro no balcão.

Baba entrega um frasco pra Mulder. Liga o carro. Dá a partida, voltando pela rua em direção à saída da cidade. Mulder pega o celular.

BABA: - Estamos sem celular.

MULDER: - Mas eu carreguei essa porcaria antes de sair!

Mulder tenta ligar, o celular não funciona.

MULDER: - Não entendo, ligamos pra Scully ainda quando estávamos na rodovia... (TOSSE) Talvez essa droga não funcione por alguma interferência.

BABA: - Vou dirigir mais rápido e chegaremos ao nosso destino. E você vai ao hospital antes de investigar qualquer coisa!

Baba põe a mão na testa de Mulder.

BABA: - Você também está com febre, Mulder. E Victoria está dormindo demais e amolada.

MULDER: -Pensei que Victoria nunca ficasse doente, mas acho que passei minha gripe pra menina. Só ela e eu ficamos doentes naquela casa. Será que foi aquela pizza que nos fez mal?

BABA: -Ah sim, uma pizza! Eu comi também e não estou doente.

MULDER: - Se Victoria não melhorar, vou até lá, pego as informações e peço para o Kersh enviar outro agente... Dane-se! Se quiser arrumar pretexto pra me exonerar vai arrumar de qualquer jeito.

BABA: - As perseguições estão ficando piores, Mulder. Eu não sei como aguenta trabalhar com gente espionando você o dia inteiro. Eu já disse, ajudo você. Também tenho umas economias, vamos colocar essa coisa da agência de investigação paranormal pra frente. Nas horas vagas você banca o psicólogo pra completar sua renda.

MULDER: - Tenho que ter alguma coisa certa todo o mês pra pagar a casa.

BABA: -Pegue apenas pessoas abduzidas como pacientes. Desconheço psicólogos especialistas nessa área.

MULDER: - Não havia pensado nisso. (DEBOCHADO) Até que você é inteligente!

BABA: - É, você tá com febre mesmo. Está até me elogiando!

Mulder leva a mão até a testa de Victoria. Victoria se acorda.

MULDER: - Faz três dias que está assim. A febre baixa e volta... Pinguinho, olha pro papai. Dá um sorriso pro papai?

Victoria nem se mexe.

BABA: - Já dei o remédio.

MULDER: - Não entendo o que ela tem. O pediatra disse que não tem nada. Mas como não tem nada se está ardendo em febre?

BABA: - Eu sei o que vocês dois têm. Peça a Scully, se ela vier, para examinar a filha. E você também.

MULDER: - Alguma virose? Mas Victoria tem imunidade a muitas doenças.

BABA: - Mas não tem imunidade a uma coisa chamada "saudade da mama"...

Baba para o carro no meio da estrada.

BABA: - (ARREGALA OS OLHOS) Mulder... Eu podia jurar que entramos por aqui.

A estrada à frente revela novamente a cidade de West End e o chalé ao fim da ladeira.

MULDER: - Eu estou com febre e você está tendo as alucinações?

BABA: - Voltamos por aqui sim! Não estou doida!

VICTORIA: - Vic tá dodói... Qué i pra casa...

MULDER: - Você pegou alguma curva e veio parar aqui de novo... Filhinha, já vamos pra algum lugar, tá?

VICTORIA: - Nah!!!!!!! Vic qué mamãe!

MULDER: - Eu também quero a sua mãe e nem por isso estou sofrendo.

Baba olha debochada pra Mulder.

BABA: - Não dê créditos ao seu pai, ele é um mentiroso compulsivo, acredita em aliens e acha que a Winona Rider foi vítima de conspiração da Macy's com o governo.

Baba engata a ré, seguindo com o carro para trás.

MULDER: - O que está fazendo?

BABA: - Voltando pra saída da cidade. Eu podia jurar que peguei o acesso principal! Deveria ter uma estrada de chão, uma placa e a saída da cidade... Bem ali.

Mulder desce o vidro do carro e olha para trás. Ri.

Mata de pinheiros.

Baba desliga o carro, coçando os cabelos rastafáris.

MULDER: - (DEBOCHADO) Certo. Você entrou pelo meio das árvores com o carro. Ou as árvores fecharam a estrada, afinal dizem que as árvores têm vida. As árvores itinerantes... Buuuuuu!!!

BABA: - Eu sei, engraçadinho que estou parecendo uma louca dizendo isso, mas eu não sou louca! Pelo menos não rasgo o seu maldito dinheiro que você me dá e tem a coragem de chamar de salário!

MULDER: - Você reclama demais, mucama! Vou te mandar pro tronco!

BABA: - Ah é? Eu devia simplesmente era deixar você sozinho nessa cidade e esperar pra ver os abutres devorarem sua carne, que por sinal anda muito flácida.

MULDER: - Eu faço exercícios!

BABA: - Não faz não! Tá frio pra nadar, tá nublado pra correr, a esteira me deprime, eu tô sofrendo, Scully, Scully!!!... Ah vá sofrer na casa da sua santa mãe!

O carro começa a andar sozinho. Mulder olha pra Baba. Baba olha pra ele. O carro desligado vai subindo a ladeira da rua principal em direção ao chalé.

BABA: - (BOQUIABERTA) Me diz agora que não tem nada de errado por aqui.

MULDER: - (IMPRESSIONADO NUM SORRISO) In...crí...vel...

BABA: - Ei, cara, tire essa empolgação do rosto! Também nunca vi um carro andar sozinho e principalmente subir uma ladeira. E não estou achando isso nem um pouco engraçado, pra dizer a verdade se você não fosse branco e feio, eu me agarrava no seu pescoço agora!!!


4:15 P.M.

Krycek dirige pela rodovia, passando pela placa "West End". Scully sentada ao lado dele.

SCULLY: - Lamento incomodar você, mas Mulder me pareceu muito doente pelo telefone. Skinner está de férias e Kersh deu o caso ao Mulder, exclusivamente pra ele. Se outro agente assumir isso será encrenca na certa. Vou ajudá-lo sem o conhecimento deles.

KRYCEK: - É, eu sei que a pressão no FBI está aumentando. Mulder cansou dessa novela.

SCULLY: - Mulder me falou que voltou a estudar. Fiquei surpresa, admito.

KRYCEK: - Ele tá se esforçando, Scully. Por vocês. Está com medo de acontecer o que já aconteceu antes e não ter como sustentar a família novamente. Mulder quer arriscar, mas com um pé no chão, o que acho compreensível.

A picape de Krycek passa por Bob e Lisa caminhando na beira da estrada.

SCULLY: - Desculpe estragar os planos de vocês dois.

Barbara sentada no banco de trás, finge mexer no notebook, mas observa os dois com olhos atentos.

SCULLY: -Ainda está zangado comigo por causa daquela situação em que meti você?

KRYCEK: - Lógico que não. Esquece aquilo. Agradeço pelo que você, Mulder e Skinner fizeram por mim, me ajudando a ficar na polícia. Encontrei alguma coisa pra fazer e sobreviver. E gosto muito do que eu faço. Mulder e você são meus amigos, não me custa ajudar você numa hora crítica. Um ajuda o outro, sabe?

Barbara com uma das sobrancelhas erguidas,olha pra Krycek.

SCULLY: - Eu acho que ainda não agradeci você o suficiente...

Barbara com a outra sobrancelha erguida, olha pra Scully.

BARBARA: - Ele já está bem de agradecimentos, não se preocupe.

Scully se cala, num beiço. Krycek olha pra Barbara pelo retrovisor e segura o riso.


4:26 P.M.

O carro de Mulder para em frente ao chalé. Mulder e Baba se entreolham.

MULDER: - Subiu e andou uns... 200 metros?

BABA: - E eu com o pé no freio.

Mulder olha para o chalé. Ao redor dele campos altos e floridos. Mulder respira fundo. Desce do carro. Baba olha pra ele pela janela.

BABA: - Ei, o que pensa que está fazendo?

MULDER: - Alguma coisa nos quer aqui.

BABA: - É, eu sei, mas não estou gostando das vibrações dessa casa. Aliás, não estou gostando das vibrações dessa cidade inteira! Volta agora pro carro! Estou todinha arrepiada!

MULDER: -(DEBOCHADO) Isso é apenas o meu sex appeal agindo em você. Eu causo isso nas mulheres.

BABA: - (DEBOCHADA) Ha-ha-ha. Vai me dizer que Scully caiu nessa?

Mulder sobe as escadas da varanda. Baba tenta ligar o carro. O carro não funciona. Mulder vira-se pra ela. Baba desce do carro.

MULDER: - O que sente?

BABA: - Um forte evento psicocinético.

MULDER: - (SORRI) Não brinca!

BABA: - Não estou brincando e você é a única pessoa que quando escuta isso consegue ficar empolgado!

MULDER: - Por que Victoria não sente isso?

BABA: - Por que está doente?

MULDER: - Vou tentar arrumar o carro.

BABA: - Ah, sim! Desde quando é mecânico? Fez curso por correspondência?

MULDER: - (DEBOCHADO) Você nem sabe quantas vezes eu banquei o mecânico "engraxadinho"...

BABA: - É, a Scully caiu nessa. Se vendeu por uma chave de roda de quinta categoria.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ela não reclama quando trocamos o óleo.

BABA: - Percebe-se porque a pobre mulher anda com os parafusos soltos! Aturar você é como tomar injeção na testa!

Mulder arregaça as mangas da camisa num olhar desafiador. Baba retira Victoria do carro. Victoria deita a cabeça no ombro dela, abatida. Mulder aproxima-se do carro. Ergue a tampa do motor.

MULDER: - Se surpreenderia em ver como entendo de carros.

BABA: -(OLHANDO PARA OS CAMPOS/ MEDO) ...

MULDER: - Não há mecânico melhor do que eu e...

Som de explosão. Mulder se afasta do carro com o rosto preto. Baba começa a rir.

BABA: -(DEBOCHADA) Sabe que você fica mais bonito como negrão? Não é um Denzel Washington ainda, mas até posso me apaixonar!

Mulder indignado abre a porta do carro e pega o celular. Tenta ligar. Atira o celular contra o carro. Começa a chutar o pneu do carro. Baba suspira.


4:32 P.M.

Mulder bate à porta do chalé. Insiste. Nada. Mulder empurra a porta, que range.

Foco na sala. Tudo limpo e arrumado. Flores numa mesinha de canto.

A vitrola ligada.

[Som: Morrisey - Ouija Board, Ouija Board]

MULDER: - Há alguém em casa?

Nenhuma resposta. Mulder caminha até o centro da sala, olhando para o corredor.

MULDER: - Alguém aqui? Eu preciso usar o telefone! Meu carro estragou!

Nenhuma resposta. Baba entra com Victoria no colo. Mulder desliga a vitrola.

MULDER: - Saíram com pressa. Esqueceram o som ligado.

BABA: - Sei...

Mulder caminha mais alguns passos. A agulha da vitrola pula sobre o disco executando a música novamente. Mulder para, fechando os olhos sem conseguir se virar.

MULDER: -Alguém aqui é fã do Morrissey além de mim.Deve estar com defeito.

BABA: - (OLHANDO PRA VITROLA) É... Deve estar. Pense assim. É melhor.

Mulder puxa a arma do coldre. Vira-se e entrega a arma para Baba.

MULDER: - Fique com isso.

BABA: -Tá maluco? Eu nem sei atirar! Aonde vai?

Mulder vai pra cozinha. Baba observa o ambiente com medo.

VICTORIA: - (DENGOSA) Vic dodói, Baba.

BABA: - Eu sei meu amor, sei que está dodói, mas vai passar, tá bom?

Victoria suspira, se abraçando no pescoço de Baba. A vitrola para de tocar.

A porta do armário se abre lentamente, rangendo. Baba mira nervosamente a arma na porta.


5:47 P.M.

Krycek dirige pela rodovia.

BARBARA: - Não entendo. Mulder não deveria estar em Harrisburg?

SCULLY: - Deveria. Mas se o xerife disse que ele não chegou, deve ter parado antes.

BARBARA: - Talvez pra comprar algum remédio.

KRYCEK: - Não tem nenhuma cidade por aqui, a não ser aquela ali.

Krycek gira o volante e passa pela placa 'West End'. Toma a estrada de chão.


Sunflower & Cinnamon Cafe - Washington D.C. – 5:49 P.M.

Ellen ajeita as cortinas da cafeteria vazia. Skinner, calças jeans e camisa xadrez vermelha com uma furadeira na mão, sentado ao lado de uma caixa de ferramentas.

SKINNER: - Promovido de diretor-assistente a marceneiro. Vamos fixar as prateleiras?

ELLEN: - (SORRI) Que tal uma limonada bem gelada?

SKINNER: - Por onde você andava que não conheci você antes?

ELLEN: - Nova Jersey! Pertinho!

Ellen serve uma copo de limonada. Entrega pra ele.

ELLEN: - Já avisei a imobiliária que estou saindo. Mas tenho mais uma casa pra vender, dei minha palavra aos proprietários que eu faria isso pra eles. Espero que venda logo... Sabe a casa na frente do Mulder?

SKINNER: - O que tem?

ELLEN: - É essa. A família está indo pro Canadá. Tenho que vender a casa. Eles estão desesperados pelo dinheiro. Essa semana vou começar a contatar possíveis compradores.

SKINNER: -Você vende até geladeira para esquimó, Ellen. Tenho certeza que logo vai vender a casa. O nome do café... Aposto que Scully escolheu. Essa coisa de girassol...

ELLEN: -Sim, representa Mulder e Scully. Sementes de girassol e cheiro de canela. E eu adorei, ficou fofo e combina com nosso negócio! Vamos ter girassóis por aqui, o paisagista virá na próxima semana. Vidros com canela na decoração... Vai ficar aconchegante, alegre e perfumado!

Skinner envolve o braço na cintura dela. Os dois olham pro ambiente. Mesas e janelas de madeira cor de canela, cortinas amarelas, as floreiras ainda vazias.

SKINNER: - Quem escolheu as cortinas?

ELLEN: - Minha sócia em capital, Dana Scully.

SKINNER: - Logo vi que não era o seu bom gosto.

ELLEN: - (SORRI) O que acha?

SKINNER: - Acho que você vai ser a empresária mais bem sucedida de Washington.

ELLEN: - Não posso concorrer com o governo, Walter querido.

Os dois sorriem e trocam um beijo.

ELLEN: - Acredita mesmo na minha ideia?

SKINNER: - Acredito. Você e Scully farão sucesso com esse lugar. É aconchegante, fica na quadra do FBI, cheio de agentes esfomeados e ... Os doces me atraem.

ELLEN: - Mantenha-se longe dos doces. Não quero você barrigudo!

O celular de Skinner toca. Ellen olha pra Skinner.

SKINNER: - (OLHANDO PRO CELULAR) ... É o Mulder. O que será que ele quer?

Skinner atende.

MULDER (OFF): - (CANSADO) Me ajuda...

SKINNER: - (AO CELULAR/ PREOCUPADO)Mulder? Mulder, aonde você está?

O telefone desliga.

Fusão no celular de Mulder caído ao chão de terra, perto do carro, com o número de Skinner no display. O celular se apaga sozinho.

5:59 P.M.

A picape de Krycek para em frente ao chalé. Ele desce, assustado, olhando incrédulo pra picape. Scully ao ver o carro de Mulder, desce da picape e corre até o chalé.

KRYCEK: - Eu não vi isso... Meu carro andou sozinho e subiu a ladeira até aqui? Como isso é possível?

BARBARA: - Ai, mi ratoncito, e ainda nos perdemos e não conseguimos sair dessa cidade! Não estou gostando nada disso!

Scully entra no chalé.

A vitrola volta a tocar: Morrisey - Ouija Board, Ouija Board.

Baba assustada vira-se mirando a arma.

SCULLY: -(GRITA) Sou eu!!!!!!

Baba abaixa a arma, soltando a respiração. Scully olha assustada pra vitrola. Olha para Victoria, que dorme no sofá, rostinho abatido.

SCULLY: - (NERVOSA) O que Victoria tem? Aconteceu alguma coisa?

BABA: -Está doente, desde que voltou da sua casa.

SCULLY: - Não pode! Ela... Ela ficou dois dias comigo, brincamos, rimos, estava bem!

Scully olha apiedada. Victoria se acorda, olhinhos tristes, segurando uma fralda de pano contra o peito.

SCULLY: - (ACARICIANDO O CABELO DA FILHA) Docinho? Você está bem?

Victoria abre um sorriso, dá os braços pra Scully rapidamente. Scully a pega nos braços e a abraça.

SCULLY: - O que você tem Docinho, hum? Tá dodói?

VICTORIA: -(FELIZ) Nah!!!!!!!!!!! Mama!!!!!!!!! Mama!!!!!!!!

SCULLY: - (RINDO) Sim, é a mama. A mama tá aqui.

VICTORIA: - (EMPOLGADA) Mama, Okie ugiu, papai coleu trás, mas Okie condeu no calo. Mama, Okie tá uinto teimoso! Aí Baba pegou a vassola e coleu o Okie, mas na fez dodói no Okie não.

SCULLY: - (SORRI) Nossa, mas que Cookie levado!

Baba desliga a vitrola. Mulder entra na sala.

MULDER: - Ninguém aqui, devem ter saído... (SORRI BOBO) Scully?

Krycek e Barbara entram.

MULDER: -(SURPRESO) Krycek, você aqui?

SCULLY: -(SE JUSTIFICANDO) Eu ia pedir ajuda pra quem?

BARBARA: - (ENCIUMADA) Para os outros amigos do seu marido?

MULDER: - Como vieram parar aqui?

BABA: - Aposto que do mesmo jeito que a gente.

BARBARA: - Eu não sei, não achávamos a saída da cidade, o carro andou sozinho e... (RI/ LEVANDO OS CABELOS PRA TRÁS) Meu Deus, me internem, acho que estou louca!

MULDER: - Não está louca, aconteceu conosco. Alguma coisa nos quer aqui.

SCULLY: - Eu não estou gostando disso.

BABA: -Nem eu. Vamos dar o fora.

MULDER: -A pé? Não chegaríamos nem na suposta entrada da cidade antes do anoitecer!

KRYCEK: - Por que a pé? Vamos ver o que tem de errado nos carros e consertar.

MULDER: - (ALIVIADO) Você entende de mecânica, amorzinho?

KRYCEK: -Claro! Não sou profissional, mas todo homem entende alguma coisa de carros.

Scully franze o cenho e a boca, segurando um riso debochado. Baba abaixa os óculos por sobre o nariz e encara Mulder.

MULDER: - O que foi? Ahn?

SCULLY: - Nada.

Mulder abre os braços, debochado, e pra irritar se aproxima de Krycek.

MULDER: - (DEBOCHADO)Ah, meu homem! Vai arrumar o carro pra mim, vai?

BABA: - Espero que não tenha nenhuma Nancy fofoqueira do além pra ouvir isso.

KRYCEK: -Sai fora, Mulder! Fala sério, eu não acredito que você não sabe mexer num carro! Aposto que nem ferramentas você carrega!

MULDER: - E vou carregar pra quê?

Barbarapega o telefone sobre o balcão.

BABA: - Desista, não tem linha. Já tentei.

SCULLY: - (OLHANDO PRO CELULAR) Não funciona...

BARBARA: - (RINDO NERVOSA) Ok, é uma piadinha de vocês né? Legal, agora eu tenho que ir...

Mulder retira a gravata. Segura-se num móvel, suando muito.

SCULLY: -Calma, não podemos ficar em pânico. Existe uma explicação racional pra isto!

BARBARA: -Tem alguma, agente 'Dana Scully ligue 0900 e obtenha respostas científicas'?

SCULLY: -No momento não, "querida", mas eu vou encontrar... Os moradores da casa devem ter saído, não vão gostar de encontrar gente estranha aqui dentro... Mulder?

Mulder cai no chão desmaiado. Scully coloca Victoria no chão e corre até ele.

SCULLY: - Me ajudem a coloca-lo no sofá!

Krycek tenta erguer Mulder, o arrastando pro sofá. Scully coloca a mão na testa de Mulder.

SCULLY: - Está febril... Desde quando Mulder está assim?

BABA: - Desde ontem, mas também, não se alimenta direito, não toma sol e fica trancado naquele sótão ouvindo o Elvis. Que por sinal, estou cheia de Elvis!!!

KRYCEK: - (OLHANDO PRA SCULLY) Por que será, não é?

Scully vai para a cozinha.

BARBARA: - Isso está tão limpinho, mais limpo que o meu apartamento. (PASSA O DEDO SOBRE O MÓVEL) Não é uma casa abandonada, alguém mora aqui.

Scully volta com um pano molhado e coloca na cabeça de Mulder. Barbara anda pela casa. Olha para os quadros, para as antiguidades. Scully fica cuidando de Mulder.

BABA: - Não há ninguém vivo por aqui. Ninguém moraria nesse fim de mundo. E quer saber? A faxineira é do além. Vamos embora. Não há coisas boas aqui dentro!

SCULLY: - Como pode dizer essas coisas?

BABA: - Eu sinto essas coisas, tá legal?

BARBARA: -(CURIOSA) Sente? Você é sensitiva, Baba? Eu não sabia disso!

A porta do armário se fecha sem que eles percebam.

BABA: - Não gosto do que eu sinto, não gosto de sentir isso, mas sinto que tem gente aqui dentro nos observando.

Krycek senta-se no sofá, colocando as mãos no rosto.

KRYCEK: - E tudo o que eu queria era simplesmente pegar a estrada, tomar umas cervejas, jogar sinuca e me divertir...

BARBARA: -Mi ratoncito, com sorte, terá diversão.

Scully olha incrédula pra Barbara. Krycek se levanta.

KRYCEK: - (IRRITADO) Não me conformo! Vou tentar consertar os carros.

Krycek sai. Barbara sai atrás dele.

SCULLY: - Aonde ela vai?

BABA: - Foi pegar na chave de fenda do garoto.

SCULLY: - (TOMANDO O PULSO DE MULDER) Detesto essa mulher!

BABA: -(OLHA DEBOCHADA PRA SCULLY) ...

SCULLY: - Sim, é ciúme sim. Eu não gosto do Alex, mas eu não admito perder nada! Ela é minha Diana Fowley de Alex Krycek.

Baba abaixa a cabeça segurando o riso. Scully ajeita a cabeça de Mulder no sofá. Mulder está inconsciente e queimando de febre.

SCULLY: -Baba, será que tem gelo na geladeira?

BABA: - Vou checar.

Baba vai pra cozinha. Victoria caminha pela sala. A porta do armário se abre lentamente. Victoria puxa a porta e entra no armário. Senta-se e olha pra tábua ouija. Engatinha até ela. Pega a plancheta levando à boca. A porta do armário se fecha. Uma suave brisa envolve os cabelos da menina. Uma luz surge, brilhando contra o rosto de Victoria, que ergue o olhar, curiosa. Ashley, rosto ferido, sorri pra ela. Victoria abre um sorriso.

Scully revira sua bolsa.

SCULLY: - Eu sei que tenho anti-térmicos aqui dentro e... Victoria?

Scully levanta-se nervosa olhando pela sala.

SCULLY: - (GRITANDO) Victoria??????????

Baba sai da cozinha com um pote de pedras de gelo. Olha assustada pra Scully. Scully branca, pálida, nervosa.

VICTORIA: - (RINDO) Nah! Gota cacholinho! Gota cacholinho ambém?

Scully olha pro armário. Solta um suspiro de alívio. Caminha até o armário, abrindo a porta.

Victoria sentada no chão, mãos sobre a tábua ouija. Olha pra Scully, rindo. Scully abre um sorriso de alívio. Olha pro armário, repleto de roupas e objetos.

SCULLY: -Docinho, com quem estava falando?

Victoria aponta pro canto do armário, sorrindo.

SCULLY: - Docinho, perde a mania do seu pai de se trancar nos armários e falar sozinha, tá certo? Ou eu vou morrer de um ataque de nervos!

Scully pega Victoria. Victoria estende a mão pra tábua ouija.

VICTORIA: - Oça! Oça!

SCULLY: - Não, você brinca outra hora.

Scully se afasta. Victoria faz beiço.

Close na tábua ouija. A plancheta se move até a palavra 'Good-Bye'.


8:46 P.M.

Mulder sentado no sofá. Scully ao lado dele, segura a caneca de chá, empurrando a franja de Mulder por sobre o cabelo. Baba sentada na poltrona.Victoria no tapete brincando com a bolsa de Scully, retirando maquiagem e espalhando tudo. Barbara sentada perto da lareira. Krycek deitado no chão com a cabeça sobre as pernas de Barbara que lhe faz carinhos nos cabelos.

KRYCEK: -Espero que não morra agora. Como vamos sair dessa sem o expert das explicações paranormais?

MULDER: - Não conseguiu consertar nenhum dos carros?

KRYCEK: - Não tem nada de errado com os carros. Quer dizer, vê se da próxima vez não mexa no carburador.

SCULLY: - A situação mais lógica é esperar amanhecer e todos irmos a pé para a cidade. Se alguém mora aqui, talvez esteja viajando ou vai ter uma surpresa quando chegar da festa.

KRYCEK: -E como vamos sair da cidade? Eu não estou louco, eu sei o que vi! Aquelas árvores não estavam lá! Elas se moveram! Não vi uma viva alma nesse lugar.

BABA: - Não estou gostando nada disso, tanto quanto vocês, mas precisamos nos acalmar. Scully tem razão, melhor esperar amanhecer. Lá fora é mais perigoso do que aqui dentro.

BARBARA: - (ASSUSTADA) Sente isso também?

BABA: - Sinto.

BARBARA: - Nunca presenciei algum fenômeno paranormal. Quando fico nervosa eu... Eu começo a rir das coisas. Eu não quero admitir, mas eu tenho que admitir que só de pensar em ver um fantasma eu vou ter um treco. Eu vou! Ficar nesse lugar está me fazendo ter sensações que eu nunca tive antes.

MULDER: - (DEBOCHADO) Isso é bom ou ruim?

Scully dá um cutucão em Mulder.

MULDER: - Au!

Victoria passa batom se borrando toda. Olha pra Mulder.

VICTORIA: - Binita?

MULDER: - (RINDO) Tá linda, Pinguinho!

Victoria sorri. Olha pro batom que se quebra. Mostra pra Scully.

VICTORIA: - Tragou...

SCULLY: - (CALMÍSSIMA) E lá se foi um Max Factor de 56 dólares.

MULDER: - (SALTA DO SOFÁ) Cinqüenta e seis dólares num batom? Pra largar na mão de uma criança? Está louca? Acha que dinheiro nasce em árvore?

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Cala a boca.

Mulder senta-se. Victoria observa Mulder com um beiço.

BABA: - É a mesma reação que ele tem quando paga meus 300 dólares mensais.

Scully salta do sofá, olhando pra Mulder.

SCULLY: - O quê?

Mulder se encolhe no sofá.

SCULLY: - Tem coragem de pagar 300 dólares pra essa pobre mulher, que cuida da sua filha, cuida de você e ainda aguenta Elvis Presley a noite toda? Quanto pagaria pra mim se eu não trabalhasse fora, incluindo os honorários sexuais?

Krycek segura o riso.

MULDER: -(PIDÃO) ...

SCULLY: - Sovina! Você é sovina Fox Mulder! Você atravessaria o Oceano Atlântico com um anti-ácido na mão e não derreteria!

Scully senta-se. Baba olha para o relógio na parede e confere a hora com o seu relógio de pulso. Percebe que ambos estão parados.

SCULLY: - (INDIGNADA) Mulder, isso é exploração, é contra os direitos humanos!

MULDER: - (ABRE A BOCA)...

SCULLY: - E não me responda! Baba, a partir de hoje ele vai aumentar seu salário. E ai dele que não o faça.

BABA: - (RINDO) Se acalma, Scully. Ele me paga mais, é brincadeira.

MULDER: - ... Posso falar?

SCULLY: - Fale.

MULDER: - Eu daria tudo o que eu tenho sem resmungar se você voltasse pra mim.

Krycek começa a rir. Mulder se levanta.

KRYCEK: - Pra um judeu dizer isso... É sério mesmo, Scully. Ou é a febre que alterou o juízo dele.

MULDER: - Fala, fala! Pode rir e debochar, você tá indo pro mesmo caminho "hermoso"! Logo vai descobrir que a princesa também vira sapo.

BARBARA: - Ei! Eu não viro sapo não! No máximo uma perereca, oras!

SCULLY: - Vão parar com isso? Mulder, sente-se aí. A noite será longa. E nenhum auxílio virá. Portanto, tratem de se entender ou pelo menos se ignorarem!

MULDER: - Nem brigar com ele eu posso? Chata!

O silêncio é completo. Baba observa o corredor.

Som de pancadas na parede. Todos se viram para o corredor.

A porta de entrada se abre. Eles se levantam assustados, olhando pra porta.

Skinner, boquiaberto e apavorado olha pra eles. Ellen atrás dele, treme inteira.

SKINNER: -Vocês não vão acreditar...

KRYCEK: - O carro subiu a ladeira sozinho?

SKINNER: - Mulder, por que me ligou pedindo ajuda?

MULDER: - Eu não liguei! Nem tem sinal nesse lugar!



BLOCO 2:

9:12 P.M.

Skinner termina de acender a lareira. Krycek observa pela janela.

KRYCEK: - Quente lá fora. Aqui dentro um frio de rachar os ossos.

SKINNER: - Prefere passar a noite lá fora?

Krycek afasta-se da janela passando através de Justin, que o acompanha com os olhos, o pescoço cortado. Krycek se atira no sofá. Baba sentada na poltrona observa discretamente o relógio que não move os ponteiros.

KRYCEK: - Bem que poderia ter uma televisão aqui... (LEVANTA-SE) Vou procurar uma revista.


9:23 P.M.

Na cozinha, Ellen bebe água, tremendo tanto que balança o copo. Scully sentada à mesa. Barbara pensativa, apoiada no notebook fechado, sob os olhos curiosos de Scully.

ELLEN: - Estou com fome.

SCULLY: - Tem os biscoitos de Victoria.

ELLEN: - São de Victoria. Abriria os armários, mas... A casa não é minha.

Scully olha para a lata sobre o balcão. Levanta-se. Coloca os biscoitos na lata.

SCULLY: - Caso Mulder se esqueça que tem filha... Por que os homens são gulosos?

ELLEN: - Não tenho resposta pra isso... Quer saber? Eu pago depois!

Ellen começa a abrir os armários. Olha incrédula pra Scully.

ELLEN: - Venha ver isso.

Scully se aproxima. Os armários repletos de enlatados e alimentos. Scully abre a geladeira. Cheia de mantimentos, frutas e verduras.

SCULLY: - Estamos morrendo de fome à toa?

ELLEN: - Quando os donos chegarem...

BABA: - (ENTRANDO NA COZINHA) Não vão chegar.

SCULLY: - Baba por favor! Conviver com Mulder transformou seu juízo. Existem pessoas que moram aqui. A casa está limpa. Os armários cheios. Tudo está organizado, acredito que tenham ido a alguma festa ou a igreja...

BABA: - Alguém estava nos esperando. Apenas isso.

BARBARA: - Quem?

BABA: - Não sei.

ELLEN: - Meninas, por favor. Eu preferia não me assustar. Existe essa opção?

SCULLY: - Quer saber? Pouco me importa o que está havendo aqui. Vamos cozinhar. Isso me ajuda a relaxar.

Baba afasta a cortina da janela. Olha para o quintal. Apenas um campo de mato alto. Baba fica observando.

ELLEN: - Hum... Vamos ver o que dá pra fazer aqui...

SCULLY: - Vou fazer sopinha pro Mulder. Ele está doentinho.

ELLEN: - (A ENCARA) Agora você está começando a acostumar mal de novo. Ele faz sopinha pra você quando você está doente?

SCULLY: - Faz.

BARBARA: - Droga mesmo, nem a bateria dessa coisa funciona. Eu queria apenas uma linha telefônica. Podíamos dar o fora daqui...

SCULLY: - Por que carrega esse notebook?

BARBARA: - Nunca se sabe aonde está a notícia. Nesse caso, a história de terror.

Scully pega uma panela do armário. Começa a preparar a sopa. Olha pro pacote de biscoitos sobre a mesa. Scully o pega.

SCULLY: - Alguma de vocês tirou isso da lata?

As quatro se entreolham. Scully coloca de volta na lata. Fica observando. Ellen continua a preparar a comida.

BARBARA: - Posso ajudar? Ficar sem fazer nada me deixa mais nervosa ainda.

ELLEN: - Pode. Barbara, não é? Então você é a sortuda que capturou o "gostosão da jaqueta de couro e brinco na orelha".

SCULLY: - Ellen!!!

BARBARA: - (RINDO) Não sei, capturei? O gostosão da jaqueta de couro e brinco na orelha é tão arisco!

ELLEN: - Não se preocupe, Dona Rata. Eu sou a Dona Girafa e a Scully é a Dona Raposa.

Elas riem. Scully séria e envergonhada.

ELLEN: - Ô Dona Dana Raposa, vai ficar corada aí ou vai fazer a sopa para o Raposo?

SCULLY: - Espere. Eu quero ver como os biscoitos saíram da lata.

ELLEN: - Dana, isso não saiu daí. Você pensou que colocou, mas não colocou.

BABA: - Ela colocou, mas alguém não quer os biscoitos aí.

Baba sai da cozinha. Scully volta a preparar a sopa. Olha pra lata. Olha pra panela. Passa a faca no dedo.

SCULLY: - Droga!

Scully leva o dedo aos lábios.

ELLEN: - Machucou muito?

SCULLY: - Não, mas dói...

Scully olha pra lata. Os biscoitos estão fora dela novamente.


9:39 P.M.

Quarto 3.

Mulder deitado na cama, suando muito, observa o teto da casa. Olha para os móveis antigos do quarto limpo. As fotos desfocadas sobre a cômoda com os vidros quebrados dos porta-retratos. Mulder senta-se na cama, recostado nos travesseiros, abrindo completamente a camisa. Tira a camisa e fica de camiseta.

Som de pancadas.

Mulder observa o quarto. Scully entra com um prato de sopa. Senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Não se acostume com isso.

MULDER: - Eu tô mal... É sério. Sem palhaçada.

SCULLY: - (COLOCA A SOPA NA BOCA DE MULDER) Coma, vai se sentir melhor.

MULDER: - Aonde arrumou sopa?

SCULLY: - ... Eu fiz pra você.

MULDER: - (A OLHA APAIXONADO) ... Começo a me sentir melhor. Acho que estou até curado.

SCULLY: - As pílulas que dei à você já estão fazendo efeito.

MULDER: - Eu acho que sei o que está me curando... Saudade e solidão não precisam de pílulas.

SCULLY: - ... Mulder, como um objeto que está dentro de outro, simplesmente aparece em outro lugar? Victoria não estava na cozinha, já aviso.

MULDER: - Aconteceu isso?

SCULLY: - Sim, com os biscoitos que coloquei na lata. Surgiam sobre a mesa.

MULDER: - Sempre?

SCULLY: - Nas duas vezes que observei. Acabei deixando sobre a mesa.

MULDER: - Acontecia enquanto você observava?

SCULLY: - Não, quando desviava a atenção.

MULDER: - Certo. Quem estava com você?

SCULLY: - Baba, Barbara e Ellen. Nós quatro. Depois aconteceu quando Baba não estava. Pra quê quer saber desses detalhes?

Mulder levanta-se. Scully o empurra pra cama.

SCULLY: - Não. Precisa comer e descansar pro remédio fazer efeito. Eu comunico se algo acontecer.

MULDER: - Sabe aonde estamos? Eu nem sei que lugar é esse.

SCULLY: - West End. O nome da cidade é West End.

Mulder fica incrédulo. Scully sai do quarto. Mulder põe as mãos no rosto, tenso.


9:43 P.M.

Krycek entra na casa, carregando uma revista. Atira-se no sofá. Abre a revista revelando ser uma Playboy. Scully sai do quarto e olha pra ele. Incrédula.

KRYCEK: - O que foi?

SCULLY: - Você também? Mas são todos iguais mesmo! Você é outro tarado!

KRYCEK: - Eu? Encontrei isto no carro do seu marido!

Scully cerra o cenho e vai pra cozinha. Esmurra o balcão.

SCULLY: - Por que todos os homens são porcos?

ELLEN: - Defeito genético?

BARBARA: - O que houve?

SCULLY: - Seu 'namoradinho' está no sofá lendo uma revista adulta. Acho que me entende.

Barbara sai da cozinha.

ELLEN: - Por que fez isso?

SCULLY: - Porque me deu vontade de atear fogo em Roma.

ELLEN: - Dana, seja sensata. A garota nunca fez nada pra você, pra que tanta raiva? Ela é legal.

SCULLY: - ... (PICANDO CENOURAS)

ELLEN: - Gosta de Alex?

SCULLY: - Não. Acabou. Era apenas demência.

ELLEN: - Então deixa o cara viver a vida dele. Deixa os dois serem felizes.

SCULLY: - Me irrita ver os dois felizes. Eu não estou feliz.

ELLEN: - Volta pro Mulder.

SCULLY: - ...

Barbara entra na cozinha.

BARBARA: - Eu estava falando com Alex e concluímos que essas mulheres têm que fazer lipo, dieta, muita ginástica e ter uma vida de privações para terem um corpo daqueles! Ou é Photoshop mesmo!

Scully olha pra Ellen.

SCULLY: - Sobre 'aquele assunto', entendeu por que eu me irrito?

ELLEN: - Por que 'aquela pessoa' é mais light que você? Encara as coisas na boa? Não é uma ciumenta louca e obsessiva?

Scully cerra o cenho.

SCULLY: - E eu não encaro? É isso?

ELLEN: - Não, você não encara. Você faz tempestades por causa de idiotices e por isso mesmo não consegue viver bem com Mulder.

SCULLY: - ... Acha mesmo?

Barbara abre os armários.

BARBARA: - Vou fazer a sobremesa.

ELLEN: - Claro que eu acho. Você tem que levar as coisas no bom humor e não como uma afronta. Lembra-se daquele flagra que não era flagra. Depois ficou sentindo-se culpada por ter pensado mal dele. Sabe as manias de Mulder, sabe que ele é palhaço, é debochado, gosta de implicar e irritar como qualquer libriano. Jogue com ele.

Barbara olha para o corredor. Boquiaberta, inclina a cabeça para o lado, observando as bolas de luz que flutuam, brincando. Ellen e Scully conversam sem perceber. Barbara se aproxima do corredor. As bolas de luz desaparecem na parede. Barbara toca a parede, curiosa. Atrás dela, a porta do porão se abre lentamente sem ranger. Barbara continua examinando a parede. O vento por trás dela move delicadamente seus cabelos. Barbara para. Lentamente vira-se para trás. A porta do porão se fecha numa batida forte. Barbara aproxima-se com cautela. Toca a maçaneta.

KRYCEK: - O que tem pro jantar?

Barbara solta um grito alto, levando a mão ao peito. Ellen e Scully se aproximam assustadas. Barbara começa a dar tapas em Krycek, com raiva.

BARBARA: - (PRA KRYCEK/ AOS GRITOS) Faz isso de novo e eu te mato!!!

Barbara sai nervosa pra sala. Krycek ergue os ombros diante dos olhares femininos inquisidores.

KRYCEK: - Eu não fiz nada, juro! Só perguntei do jantar...


10:03 P.M.

Victoria correndo pela sala, brincando. Baba a observa. Mulder sai do quarto.

BABA: - Melhorou?

MULDER: - Minha cabeça parece querer explodir.

Victoria corre até Mulder. Mulder dá as mãos pra ela.

MULDER: - Ei, vejo que voltou ao pique.

VICTORIA: - Papai tá dodói?

MULDER: - Não, papai tá melhor.

Victoria corre pro sofá. Bate as mãos nele brincando. Cai sentada no chão. Mulder senta-se no sofá. Põe as mãos nos olhos. Baba observa a sala.

MULDER: - Está muito frio aqui... Ouvi "rips" no quarto.

BABA: - Estou ouvindo batidas também. Na sala, no banheiro. Parecem vir do corredor, mas cessam quando me aproximo. Os relógios pararam.

MULDER: - Objetos que se materializam em outro lugar.

BABA: - Exatamente. Portas e janelas se abrem, lá fora está mais quente do que aqui e seja o que for, pouco se importa se ficarmos aqui dentro ou lá fora. O que me faz pensar que o lugar todo é um complexo único. Pouco importa aonde ficarmos. Estamos vulneráveis.

MULDER: - Não sei se é maligno, brincalhão, se é apenas uma assombração ou um poltergeist... Não vamos causar alarde, mas algo nos trouxe até aqui porque precisa de nós... Seja o que for, trouxe os outros para cá e não consigo entender porque motivos fez isso. Eu não liguei para Skinner. Você mesma viu que o celular aqui não funciona e o telefone está sem...

As luzes piscam.

MULDER: - (OLHANDO PRO LUSTRE) Sem linha e sem bateria.

BABA: - Acha que essa coisa quer o quê?

MULDER: - Não sei, mas se alimenta de energia de uma maneira impressionante. Baterias, pilhas, nem a lanterna funciona. Viu o carro. Está tentando se alimentar. Acho que se tivéssemos mais fontes de energia essa coisa se materializaria.

Mulder olha sutilmente para a direita. Percebe o vaso de flores deslizar pelo balcão. Mulder olha pra Victoria que observa o vaso. Victoria olha pra ele, acenando negativamente com a cabeça.

VICTORIA: - Nah foi Vic, papai.

MULDER: - ... Eu sei, Pinguinho... Essa coisa vai se manifestar. Parece estar apenas nos sondando. Sente algo muito ruim?

BABA: - Nessa sala principalmente, embora esteja por tudo.

As luzes piscam novamente. Mulder observa o lustre.

MULDER: - Conto pra eles agora ou depois?

BABA: - O que vai contar a eles?

MULDER: - Onde estamos. Deveria ter me acordado antes de entrar em West End.

BABA: - Sabe algo sobre esse lugar?

MULDER: - Uma das coisas é que ele não fica no estado da Pensilvânia.

As luzes piscam.

BABA: - Como não, se estamos na Pensilvânia?

MULDER: - As luzes estão piscando em intervalos regulares. Seja o que for é uma consciência inteligente.

Baba observa o lustre.

BABA: - O que ia falar sobre West End?

MULDER: - West End é uma espécie de Atlântida perdida. Muitos ouviram falar da cidade, mas nunca ninguém pode dizer exatamente aonde West End ficava. É uma cidade que 'se move'.

BABA: - Está brincando comigo...

MULDER: - Estou falando sério. Tenho relatos de que West End foi vista na Carolina do Sul, outras em Ohio, Texas e até na Califórnia.

BABA: - Isso explica porque o ponteiro daquele relógio não se move desde que Skinner chegou. Vácuo de tempo e espaço? Dimensão paralela? Por que parou de mover quando Skinner chegou?

MULDER: - Tenho mais perguntas do que você. E não gosto de imaginar as respostas.

Barbara entra na sala.

BARBARA: - Vamos jantar?

MULDER: - Estamos indo.

Barbara sai. Mulder olha pra Baba.

MULDER: - O que não estou gostando é que Victoria parece não funcionar aqui.

BABA: - Acha que... Os dons dela sumiram?

MULDER: - Não, acredito que por ser criança se distraia com o novo mundo ao seu redor. É um alívio saber disso, mas ao mesmo tempo tenho medo. Porque é ela quem me alerta do mundo invisível.

BABA: - Está ficando racional feito a mãe?

MULDER: - Sorte dela se ficasse. E azar o meu.

As luzes piscam novamente. Skinner entra na casa segurando uma lanterna.

SKINNER: - As luzes da cidade toda estão acesas. Mas não há nenhum movimento. Nem minha lanterna funciona.

MULDER: - (DEBOCHADO) Já tentou os comprimidinhos azuis?


10:25 P.M.

Todos sentados à mesa. Victoria sentada no colo de Scully, boca lambuzada de comida, brincando com uma colher. Scully faz aviãozinho com a colher, colocando comida na boca de Victoria. Ellen observa num sorriso.

SCULLY: - Que fome! Gosta da comida da tia Ellen? Hum?

VICTORIA: - Tá gotoso!

Baba e Mulder tensos, observando o lugar, disfarçadamente enquanto comem. Krycek segura um copo de suco apoiado na mesa, brincando com ele, olhos no copo. Barbara leva sua mão até a mão de Krycek, a acariciando. Skinner serve salada para Ellen, que quebra o silêncio.

ELLEN: - Sócia, a cafeteria está pronta para inauguração... (PARA SKINNER) Obrigada, amor, pelos serviços de marcenaria.

SCULLY: - Estou tão feliz por estarmos juntas nisso!

MULDER: - A coisa tá ruim pro meu lado. Tem marceneiro, mecânico e tudo o que sei fazer é procurar alienígenas... Estou me sentindo o último dos homens.

KRYCEK: - Ah você sabe cozinhar, limpar, lavar, passar, tomar conta de criança...

MULDER: - Rato, isso não tá me ajudando...

Skinner começa a rir.

ELLEN: - Quem disse que perdi minha vida como dona de casa? Vou usar meus dotes culinários. Mulder, quando você estiver com tédio do FBI, passe por lá e me ajude no balcão.

SKINNER: - Ou faz um bolo...

KRYCEK: - Lava a louça.

MULDER: - Olha aqui seus engraçadinhos, vocês dois ficam aí brigando pela minha amizade e me disputando quase no soco. Não podem insinuar nada. Posso não ser marceneiro nem mecânico, mas tenho meus talentos que me recuso a dizer quais são.

SCULLY: -Ellen, eu tenho que pagar o aluguel do seu apartamento, já que você casou e não mora mais lá.

ELLEN: - Quando deixar de ser louca, não vai mais precisar morar naquela espelunca. Poderá entregar as chaves. Você tem casa.

Ellen pisca pra Mulder, mas Mulder está observando a gosma que cai do teto para o chão, perto da porta de acesso ao corredor.

SCULLY: - Byers mandou um cartão postal. Está na Suíça com a Susanne. Sem previsão de voltarem tão cedo.

ELLEN: - Casaram?

SCULLY: - Sim.

BARBARA: - Que Byers seja feliz. Ele merece muito.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Foram colegas de faculdade não? Namoraram também, querida?

Apenas Mulder e Baba percebem a colher que treme sobre o balcão da pia.

BARBARA: -(INDIGNADA) Eu fui pra faculdade estudar, não pra namorar, querida.

ELLEN: - Colegas? Barbara você já tem 40 com essa cara de menina? Me diga o creme que usa!

BARBARA: - (SORRI) Não, eu tenho 32 anos.

Krycek olha incrédulo pra Barbara. Mulder olha debochado pra Krycek.

MULDER: - Corruptor de menores. Eu avisei!

KRYCEK: - Sério que você tem 32 anos? Eu pensei que era palhaçada do Mulder.

BARBARA: - Por quê? Prefere uma de 21?

KRYCEK: - Só prefiro envelhecer dignamente pra não perder a mulher, só isso!

SKINNER: - Você reclamam, mas são uns garotos, a vida começa depois dos 50.

ELLEN: - Dona Rata, temos o mesmo problema. Se eles não envelhecerem dignamente, a gente troca de jaula no zoológico, afinal não existe apenas ratos e girafas.

MULDER: - Ah! Agora meninas, vocês estão falando com o especialista. Posso não ter vocação pra marceneiro e nem mecânico, o meu talento é dar prazer às mulheres, sou um amante quente e insaciável. E fiquem tranquilas, as raposas são bem ágeis até depois de velhas.

SCULLY: - Mentira, não são mais ágeis que meu golpe de esquerda na fuça da atrevida. Propaganda enganosa dá cadeia, Mulder.

Mulder faz beiço. Eles riem.

BABA: -(PISCA PRA MULDER) Bom, se é enganosa ou não, eu sei que a propaganda corre à solta lá no bairro. Mulder é o Terror da Virgínia, pega todas, de acordo com a Nancy. E você sabe que ela vive cuidando da vida do seu marido, não é? Acho que no fundo, ela quer fazer parte da lista.

Scully faz um beiço de ciúmes. Baba e Krycek disfarçam o riso.

MULDER: -Skinner, como está a sua situação com a Casa Branca?

SKINNER: - Estou mantendo meu apoio com certos senadores. Já há um indicado para a presidência. Se ele vencer, eu assumo a diretoria do FBI.

MULDER: - Me convide para a festa dos democratas. Estarei bem longe de lá até isso acontecer.

KRYCEK: - Vai se demitir mesmo?

MULDER: - Vou provocar minha exoneração. Acho que não é mais novidade que nós todos aqui e mais os Pistoleiros formamos um grupo de oposição ao Sindicato das Sombras. Como acho que também não é novidade que vou sair do FBI em alguns meses e trabalhar por minha conta, na minha própria agência de investigação paranormal.

SKINNER: - Está decidido?

MULDER: - Estou. Sem um distintivo vou poder fazer mais do que posso fazer dentro dos canais legais de investigação e da burocracia... Espero que você seja o nosso informante no governo.

SKINNER: - Continuarei ao lado de vocês.

MULDER: - Susanne é cientista, entende de análise laboratorial. Não vou ter problemas para obter escutas e vigilância, os Pistoleiros vão prestar esse serviço pra mim. Os rapazes estão montando um furgão de monitoramento. Vamos ter uma unidade móvel pra fazer o serviço. Baba vai ficar comigo. Byers é jornalista, também entende de filmagens.

BABA: - É. Eu fui promovida de babá para sensitiva e bruxa.

MULDER: - Krycek?

KRYCEK: - Estou tentando entender porquê precisa de mim.

MULDER: - Para as mesmas coisas que tem feito. Pra limpar nossa barra, seremos civis normais. Vou precisar da sua ajuda e da sua participação nisso. Você é policial, vai ter acesso a informações, casos estranhos... As fichas dos envolvidos. Barbara também nos manterá informados, é a nossa moça da imprensa.

ELLEN: - Eu não posso me oferecer pra ajudar vocês, não entendo dessas coisas, sou apenas uma dona de casa. Mas não quero ficar de fora. Posso patrocinar as comemorações.

Scully solta a colher no prato. Victoria desce do colo dela. Scully, cabisbaixa, serve uma salada e começa a comer. Mulder olha pra ela, chateado. Scully permanece cabisbaixa.

MULDER: -(TRISTE) É bom saber com quem eu posso contar. Vai ser duro começar do zero. Agradeço a vocês pelo apoio, meus amigos.

Silêncio. Todos observam Scully.

SCULLY: - ... Vai precisar de uma médica, Mulder. De uma legista. Sabe disso. E sabe que eu não posso deixar o FBI. Não é uma decisão fácil pra ser tomada.

MULDER: - Eu sei. Só que vai ser difícil encontrar uma nova parceira.

SCULLY: -...

MULDER: - ...

SCULLY: - E vai precisar de alguém que puxe você pra realidade... (SOLTA O GARFO) Como vou deixar você sozinho por aí fazendo besteira, Mulder? Ahn? Quem vai contestar suas teorias?

MULDER: - (SORRI ALIVIADO) ...

O alívio nos rostos é geral.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Vou deixar um cargo público e um salário certo para me tornar 'caça-fantasmas'. Aviso: Não vou usar 'macacão laranja cheguei'!

MULDER: - Não vamos caçar nada. Nem exorcizar espíritos ou demônios. Tudo o que faremos é procurar uma resposta para fornecer às pessoas que enfrentam problemas que desconhecem. Dar alento e provar que elas não estão loucas. Ou expor algum engraçadinho eventual que resolveu brincar de alien no quintal do vizinho ou o próprio governo que pega criancinhas e famílias para justificarem suas experiências. O trabalho será o mesmo, mas fora do FBI. Teremos nosso próprio Arquivo X.


11:27 P.M.

Barbara termina de guardar a louça. Scully sentada à mesa, séria, olhos perdidos no nada.

BARBARA: - Quer um chá?

SCULLY: - Não.

Barbara sai da cozinha. Passa pelo corredor, bem longe da porta do porão, olhando assustada. Entra no quarto 1.

Câmera de acompanhamento. Scully vai para o banheiro. Liga a torneira, passando água no rosto. Olha-se no espelho. Seca o rosto. As cortinas do box movem-se. Scully vira-se. Caminha até o box. Abre a cortina. Nada. As gotas de água pingam do chuveiro. Scully solta um suspiro e fecha a cortina do box. Sai do banheiro.

Close no box. Manchas de sangue espirram pelo lado de dentro, contra a cortina. O vaso sanitário dá descarga sozinho.


11:31 P.M.

Baba entra na cozinha. Para, olhos arregalados. Baba aproxima-se lentamente, observando impressionada, as louças todas que Barbara guardou, que agora estão sobre a mesa, separadas por utensílios, metodicamente. Cadeiras jogadas no chão. Uma das cadeiras gira no centro da cozinha, ao redor de si mesma, equilibrada em apenas uma perna. O fogão acende as bocas sozinho. Geladeira aberta. A porta dos fundos aberta. Baba sai correndo da cozinha. Volta com Mulder. Mulder arregala os olhos.

MULDER: - Tem vontade própria... Poltergeist?

BABA: - Ainda acho cedo pra dizer.

MULDER: - E numa hora dessas, mesmo que tivesse uma câmera pra filmar, não conseguiríamos.


11:34 P.M.

Quarto 2.

Ellen desfaz a cama. Skinner vestido apenas de calças, bate com os dedos no relógio de pulso.

SKINNER: - Acho que a pilha acabou. Os ponteiros não se mexem.

Skinner tira os óculos e coloca sobre o criado-mudo.

ELLEN: -Fiquei tão aliviada quando Dana disse que vai deixar o FBI e seguir com Mulder. Mesmo que seja profissionalmente, mas fiquei aliviada.

SKINNER: - Eles vão voltar. É apenas questão de tempo, de deixar o orgulho e a birra de lado. Sabe que Scully sente-se culpada, mas também sabe que Mulder muitas vezes não facilita as coisas a pressionando por uma volta. Ninguém gosta de ser pressionado. E Mulder pressiona sempre, seja profissionalmente ou na vida pessoal.

Skinner deita-se. Ellen deita-se ao lado dele. Skinner a envolve nos braços.

ELLEN: - Eu sei, amor, mas Dana parece que esquece que o tempo também afasta as pessoas. Percebe como Mulder está cansado? Homens não são como mulheres. Se ela demorar muito, ele vai acabar desistindo. Ele não acredita mais numa volta. Você pode perceber pelas atitudes dele.

SKINNER: - Como assim?

ELLEN: - Há um tempo atrás ele sabia tudo pelo olhar dela. Hoje ele olha pra ela, sem saber o que ela vai dizer. Um exemplo, durante o jantar de hoje. Havia expectativa nos olhos dele. Ele não sabia a resposta dela, como saberia algum tempo atrás. Ele só soube quando ela disse que deixaria o FBI. Viu a expressão de alívio no rosto dele? Mulder vive tenso. Ele não sabe o que esperar da vida e nem da Dana. Está andando pra não parar, mas não sabe mais o rumo. Acha que essa gripe dele foi apenas gripe? Ele melhorou quando ela começou a se preocupar com ele. É carência, Walter. Pura carência. A solidão acaba com uma pessoa e eu sei bem disso.

SKINNER: - ...

ELLEN: - Quando meu marido me deixou, a minha vida passou a ser apenas um dia depois do outro. Sem nenhum objetivo. Planos na cabeça, mas a execução deles nunca vinha. A depressão faz isso. Eu estava apenas levando a vida até que ela me levasse. E é assim que pessoas deixadas por seus parceiros ficam, deprimidas. Até que um dia a gente reage, desiste daquela pessoa e começa a viver de novo. E isso me dá medo, porque o Mulder parece estar saindo da fase do levar a vida.

SKINNER: - É verdade, Ellen. As coisas são assim mesmo, eu sei por experiência própria com a Sharon... Mas não tinha observado isso em Mulder. Talvez porque eu esteja obcecado pela direção do FBI e tenho me esquecido dos amigos.

ELLEN: - Não se culpe, Walter. Mulder cansou. E eu sinto por Dana. Mas ele cansou e está exposto no rosto dele que ele vai reagir, afinal, é a defesa do inconsciente... Ele nem mais apela para aquelas cantadas descaradas na frente de todos, que fazia até pouco tempo atrás. Lembra?

SKINNER: - Ele não me falou nada, Mulder não fala mais nada pessoal comigo. Parece ter se trancado dentro de si mesmo. Mas sim, até semana passada, Scully me reclamava que Mulder não dava duas frases sem uma delas envolver uma cantada barata. Que estava insuportável trabalhar com ele, sem que ele a visse como mulher.

ELLEN: - E você falou algo sobre isso com ele? O repreendeu?

SKINNER: - Não, achei melhor não o fazer. Pensei que se isso continuasse, quem sabe ela cedia e os dois voltassem.

ELLEN: - Mas ela não cedeu. E agora ele desistiu. Está vendo como estou certa?

SKINNER: - O que podemos fazer por eles?

ELLEN: - Não depende de nós, meu Girafão. Depende da Dana.

Skinner desliga o abajur. Cobre Ellen. Os dois trocam um beijo.

ELLEN: - Amor, deixa a luz acesa... Eu vou dormir com um olho aberto!

SKINNER: - Eu não estou preocupado. Mulder sabe lidar com essas coisas.

ELLEN: - Mulder sabe investigar essas coisas, mas afugentá-las eu não sei.

Skinner senta-se na cama, liga o abajur e coloca os óculos.

ELLEN: - O que foi?

SKINNER: - Durma você. Perdi o sono.


11:37 P.M.

Quarto 3.

Scully deitada ao lado de Victoria. Victoria dormindo. Scully faz carinhos nela. Fecha os olhos. A mão de Ashley projeta-se sobre os cabelos de Scully, lhe afagando. Scully sorri. Mas toma consciência de que algo está errado e vira-se para trás. Não vê nada. Apenas uma rosa sobre o criado-mudo.

SCULLY: - (SORRI) Mulder, você não tem jeito...


11:38 P.M.

Quarto 1.

Barbara só de camiseta e meias deitada de bruços na cama, lendo a Playboy. Krycek entra no quarto. Anda de um lado pra outro. Barbara finge não perceber.

KRYCEK: - Não vou conseguir dormir hoje. O que está fazendo?

BARBARA: -Lendo uma matéria interessante sobre política internacional.

KRYCEK: - Desculpe, não sabia que estava trabalhando.

BARBARA: - Não tô trabalhando, tô tentando não pensar na nossa situação nesse lugar bizarro. É sério, hermoso, eu tenho medo dessas coisas. Eu gosto desse assunto, mas não de fazer parte desse assunto!

Krycek senta-se na cama. Barbara larga a revista e senta-se. Krycek leva a mão ajeitando o cabelo dela pra trás da orelha.

KRYCEK: - Não precisa ter medo. Tenha medo dos vivos, eles são bem piores que fantasmas. Tenta dormir um pouco. Eu vou ficar acordado. Fazer companhia pro Mulder.

BARBARA: - Hermoso, me diz a verdade. Mulder fez alguma coisa pra magoar tanto a Scully? Eu não posso acreditar que isso tudo tenha a ver apenas com aquele diabo separando eles. Acabou, por que ela não volta? Por que dá desculpas? O que ela está esperando? Quem sabe Mulder a magoou, porque se eu me magoasse com você, eu agiria assim como ela está agindo.

KRYCEK: - Malyshka, Scully é diferente de você, ok? Ela é meio eu nessa coisa. Enquanto não se sentir segura, não enterrar os fantasmas, a vergonha do que fez, a culpa... Ela não vai conseguir encarar o Mulder, por mais amor que exista no coração dela. Eu consegui encarar você? Só depois de abrir meu baú de maldições, depois de quase um mês me recuperando e avaliando minha vida. Scully precisa sim desse tempo.

BARBARA: - Sei lá, você consegue enxergar a Scully de uma maneira que eu não enxergo.

KRYCEK: - Eu conheço Scully há mais tempo que você. Existe uma mulher ali, apaixonada, doida pra voltar pra casa, para o marido e para a filha, mas uma mulher com uma culpa enorme de ter feito o que fez, mesmo não sendo culpada.

BARBARA: - Tipo você? Ela foi jogada a fazer o que fez.

KRYCEK: - Não. Tipo ela mesma. Scully é uma mulher que se cobra demais. Eu posso entender a confusão na cabeça dela. Pense assim, por mais engraçado que pareça. Scully é o homem e Mulder a mulher naquele relacionamento.

BARBARA: - (SORRI) Tem razão. Agora faz sentido.

Krycek beija Barbara na testa. Se levanta e abre a porta.

KRYCEK: - Durma um pouco. Amanhã vamos tentar sair desse lugar.

Krycek sai fechando a porta. Barbara se deita.


11:45 P.M.

Quarto 3.

Batidas na porta. Scully senta-se na cama. Victoria dormindo.

SCULLY: - Entra.

Krycek entra, fechando a porta atrás de si. Scully abaixa a cabeça. Krycek senta-se ao lado dela.

KRYCEK: - Eu estou preocupado com o Mulder, mas estou mais preocupado com você.

SCULLY: - Não deveria. Coloquei até mesmo você no meio daquela encrenca. Quase causei uma desgraça, poderia ter matado Mulder, ele poderia ter matado você. Por mais que eu saiba que você foi cavalheiro, amigo e... Eu tenho vergonha de olhar pra você.

KRYCEK: - Encare assim, foi uma paixão curiosa e recíproca. Você sabe disso. Mas como toda paixão, é apenas pele e fugaz. Passa. Vai embora. Não vale a pena perder um amigo e uma amiga por uma tolice dessas. Nem um casamento sólido, baseado no respeito e na confiança.

SCULLY: - Ainda assim tenho vergonha de você.

KRYCEK: - Talvez sua vergonha seja maior porque Mulder e eu ficamos amigos. Quer que eu desapareça? Vai se sentir melhor se eu me afastar? Eu me afasto, é sério.

SCULLY: - Não, claro que não. Você tem ajudado muito o Mulder. Tem cuidado dele por mim.

KRYCEK: - Não vamos exagerar... Você já maculou minha imagem pública o bastante, não acha?

Scully começa a rir. Krycek ri com ela.

KRYCEK: - Scully, é sério. Entendo que precise de tempo, mas não deixa esse tempo ser longo demais, entende?

SCULLY: - Mulder falou alguma coisa pra você?

KRYCEK: - Não. Eu como homem é quem estou falando pra você. Ele tá sofrendo, Scully. E não é piadinha sexual não. A solidão é uma porcaria, eu sei disso. E fico imaginando que deve ser uma porcaria maior ainda, depois que você se acostuma a viver com alguém e perde essa pessoa. Mulder é maluco por você. Ele desaprendeu a viver sozinho.

Scully enche os olhos de lágrimas.

SCULLY: - Eu sei, Alex. Como eu sou maluca por ele e desaprendi a viver sozinha. É que depois de tanto feri-lo com mentiras eu... Eu mal consigo encarar o meu parceiro de trabalho, quanto mais o meu marido, o pai da minha filha... Voltar pra casa, conviver com ele como se nada daquilo tivesse acontecido... Aquele homem que nunca me traiu e eu tanto fiz sofrer.

KRYCEK: - Nem você o traiu, e se não se lembra, eu posso garantir que não. Pelo menos não comigo.

SCULLY: - Eu sei que não, mas eu traí a nossa causa. Eu traí nossa relação, nosso amor, nossa confiança... Sei que não foi minha culpa, mas também foi, porque eu deveria ter pedido ajuda pra ele quando comecei a me sentir deprimida. É esse meu maldito orgulho feminista, sabe? Essa coisa de não admitir perder para o mundo masculino, pedir ajuda a um homem, eu fui criada vendo homens se impondo, machões, eu... Eu não queria perder pra eles por ser uma mulher.

KRYCEK: - A sociedade é uma merda mesmo, Scully. Ela categoriza os sexos por rótulos. Eu sei, eu também peco bancando o machão enquanto queria mesmo era chorar. Acho que você e eu temos que aprender a deixar esses conceitos do lado de fora da porta da casa, entende? Nem são conceitos que criamos, mas que abraçamos inconscientemente. Você é uma mulher forte, decidida, você é quem comanda as coisas porque realmente Mulder ficaria perdido. Mas não porque você seja feminista, é porque as mulheres são mais fortes mesmo. Nós ficamos perdidos, esmurrando tudo e enchendo a cara, enquanto vocês tomam a frente e resolvem a coisa toda. Tenha piedade dos homens, Scully. Lute pelos seus direitos nesse mundo machista, mas não deixe de ser mulher, entende? Seu marido não é machista. Nem machão. Aliás, é um dependente chorão completo de você.

Scully sorri.

KRYCEK: - Não vai afetar seu orgulho pedir ajudar pra ele quando precisa. Isso é dever dele ajudar você, como é seu dever ajudá-lo. Deixa ele ser homem, Scully. O seu homem. Mulder precisa disso. Todo homem precisa disso. Colocando o sexismo de lado, a natureza masculina é proteger e cuidar a mulher e a feminina é proteger e amparar o homem. E você como médica e mais inteligente do que eu sabe disso. No final das contas, as naturezas são iguais numa relação. E aí ficam vocês dois sofrendo, separados, enquanto querem estar juntos. Acaba com essa culpa. Vou dizer pra você o que Mulder me diz sempre: se perdoe. Você não é a pior pessoa desse mundo. E depois lembre-se do Strughold, e vai se sentir um anjo.

Krycek se levanta, abre a porta.

KRYCEK: - Pensa com carinho. Já perdeu tempo demais na sua vida com as pessoas erradas. Agora que encontrou sua metade, todo o tempo do mundo é pouco para estar perto dela.

SCULLY: -(SORRI) Você tá apaixonado pela Barbara.

KRYCEK: - (SORRI/ TÍMIDO) Tá tão na cara assim?

SCULLY: - Tá. Não sei o que ela fez, mas todas as coisas que você me falou, apenas me provam que agora você entende as coisas do coração. Fico feliz por você ter se dado a chance de mudar. Embora tenhamos um passado conturbado e rancoroso, as coisas mudam, não?

KRYCEK: - O nome disso é medo da velhice, Scully. Depois da metade da vida fazendo idiotice, que a outra metade seja melhor. Ou menos pior. Você não quer na sua sepultura "aqui jaz um cretino que só ferrou todo mundo".

Scully sorri. Krycek sai fechando a porta.



BLOCO 3:

11:55 P.M.

Mulder sentado no sofá, observando a vitrola. Krycek observa a cidade lá embaixo pela janela. Skinner entra na sala, vestindo a camisa.

SKINNER: - Ellen dormiu.

MULDER: - (DEBOCHADO) Vai dormir Girafão. Deixa o serviço de vigilância para os jovens.

SKINNER: - Sou mais jovem que vocês dois juntos.

Mulder se levanta.

MULDER: - Vou até a cidade. Alguém topa?

SKINNER: - Mulder, enlouqueceu de vez?

KRYCEK: - Vou com você. Estou enlouquecendo preso nesse lugar.

SKINNER: - Lanternas não funcionam. Eu sei que tem luz lá embaixo, mas e se as luzes apagarem?

MULDER: - Walter você anda vendo muito filme de terror. Cuide das mulheres. Se não voltarmos em duas horas, aí comece a se preocupar.

Mulder abre a porta. Krycek sai atrás dele. Skinner vai até a janela e fica observando.

Corte.


Mulder e Krycek descem a ladeira.

MULDER: - Com sorte encontramos um bar.

KRYCEK: - Com sorte um bar cheio de gente. Viva.

MULDER: - Não vamos encontrar gente.

Algo corre se espreitando pelo meio do mato alto ao lado da estrada. Mulder e Krycek param.

MULDER: - Você viu aquilo?

KRYCEK: - É, eu vi. Quer verificar?

MULDER: - Mas é lógico!

Os dois entram no mato alto, puxando as armas. Começam a vasculhar.

MULDER: - Não se afaste, ok?

KRYCEK: - Nem você. Não vejo nada aqui...

MULDER: - Seja o que for, foi embora.

Os dois saem pra estrada, guardando as armas. Continuam indo em direção a cidade.

KRYCEK: - Eu sei que tem uma teoria. Quando quiser dividir...

MULDER: - Quando tiver mais elementos para concluir, eu falo.

KRYCEK: - Só me diga que não são alienígenas. Estou cansado de alienígenas.

MULDER: - Não são alienígenas.

KRYCEK: - Ótimo. Algo novo pra variar a minha rotina!

Os dois chegam na cidade. Param na frente do hotel. Mulder olha pro chalé no alto da ladeira, com as luzes acesas.

MULDER: - Ainda estamos na visão do Skinner.

KRYCEK: - Hotel... Quem se hospeda nesse lugar? Cara, aquilo ali é um Cadillac Eldorado?

MULDER: - Legítimo.

Krycek aproxima-se do carro. Passa a mão na lataria, empolgado.

KRYCEK: - O famoso conversível rabo de peixe... Modelo 1953, foi um dos primeiros, só saíram de fábrica 532 unidades e estou diante de uma delas! Quer dar uma volta, amorzinho?

Krycek entra no carro. Tenta ligar, não funciona. Krycek brinca com o volante. Mulder coloca as mãos na cintura.

MULDER: - Pronto, o garoto agora encontrou um brinquedo!

KRYCEK: - Cara, esse carro é demais! É um clássico! Três marchas! Olha o estofamento!

Krycek desce do carro, abrindo o capô.

KRYCEK: - (EMPOLGADO) Motor V8 de 5,4 litros e uma potência de 210 cavalos! Isso era luxo na época!

MULDER: - E hoje umacarroça que bebe mais do que corre.

KRYCEK: - Fala sério, Mulder, isso aqui é uma raridade! Tenha respeito! Não curte carros antigos?

MULDER: - Prefiro fantasmas.

Krycek fecha o capô. Mulder se aproxima da varanda do hotel. Leva a mão na porta.

MULDER: - (DEBOCHADO) E se for propriedade do Norman Bates?

Krycek se aproxima. Olha para o chalé no alto da ladeira.

KRYCEK: - Se for "psicose" você deixa comigo. Se for "o iluminado" o problema é seu.

MULDER: - Podemos encontrar o dono do carro. Talvez você possa negociar com ele.

Mulder gira a maçaneta. A porta se abre. Krycek olha pra ele. Mulder sorri.

MULDER: - Cidade pequena, ninguém tranca as portas.

Mulder entra. Krycek o segue. Tudo escuro. Apenas as luzes da rua iluminam o local através do vidro da janela.


12:18 A.M.

Skinner anda pela sala. Barbara entra na sala.

BARBARA: - O senhor viu o Alex?

SKINNER: - (SORRI) Não me chame de senhor. Me sinto um velho.

BARBARA: - Desculpe, é que você é um diretor-assistente do FBI...

SKINNER: - Krycek e Mulder foram investigar a cidade. Estou começando a ficar preocupado.

BARBARA: - Aqueles dois juntos? Pode ficar descansado! Estão aprontando. Se duvidar acharam uma mesa de sinuca num bar e com sorte encontram o caminho de volta. Se quiser ir dormir eu espero por eles.

SKINNER: - Não, tudo bem...

Ellen entra na sala.

ELLEN: - Eu perdi o sono, tô com medo de ficar sozinha naquele quarto.

SKINNER: - Vou esperar Mulder e Krycek voltarem.

ELLEN: - Dona Rata, vamos tomar chá?

BARBARA: - Desde que bem longe da porta do porão.

Barbara vai pra cozinha. As luzes da sala piscam. Ellen olha pra cima.

ELLEN: - Amor, q-quer chá?

SKINNER: -(OLHANDO PRA CIMA) Preciso é de uísque!

ELLEN: - Tem cerveja, serve?

Barbara dá um grito. Ellen e Skinner correm pra cozinha. A cozinha ainda bagunçada. A figura humanoide e negra atravessa a parede, saindo para o corredor e atravessando a porta do porão. Ellen desmaia.


1:51 A.M.

Mulder atira-se no sofá. Krycek fecha as cortinas da janela. Senta-se na poltrona, reclinando a cabeça, fechando os olhos.

MULDER: - Acho que o Girafão ficou frustrado porque não encontramos nada.

KRYCEK: - É... Nada mesmo.

Mulder começa a rir. Krycek ri com ele. Os dois têm um acesso de riso ao mesmo tempo.

KRYCEK: - (RINDO) Mulder!!! Para!!!

MULDER: - (RINDO) Me deixa rir! Eu preciso rir!

KRYCEK: - (RINDO) Mulder, por favor!!!

MULDER: -(RINDO) Fala sério, Rato! Essa situação é muito engraçada! Quando eu ia trocar fantasmas por diversão? Eu era chato mesmo, tenho que concordar!

Krycek se levanta.

KRYCEK: -(RINDO) Vou dormir. Investigar fantasmas com você me deixou com sono!

Mulder começa a gargalhar. Baba entra na sala.

BABA: - Qual a graça? Ou é mais um código secreto de vocês dois?

KRYCEK: - Nada.

Mulder ri mais ainda. Krycek sai da sala rindo.

BABA: - Foram mesmo até a cidade? Encontraram alguém?

MULDER: - Sim. Um hotel vazio com uma mesa de bilhar e um bar cheio de bebida. Aí ficamos seriamente pensando se deveríamos investigar fantasmas ou as garrafas e a mesa de bilhar. Optamos pela segunda alternativa.

Baba suspira.

BABA: - Vocês dois são uns moleques mesmo! Um sem juízo, o outro sem razão!

MULDER: - Tem casas, lojas, tudo impecavelmente organizado e limpo, assim como essa casa. E nenhuma alma viva. Pensei que poderia presenciar algum fenômeno, mas nada. A cidade é como um cenário de um filme vazio esperando pelos atores.

BABA: - Eu vi duas garotas quando chegamos. Uma Madonna esquisita e... Deixa pra lá. Não quero falar, não aconteceu coisa boa com essas meninas aqui. Notou as fotos?

MULDER: - Todas as fotos nos porta-retratos da casa estão desfocadas com os vidros quebrados. O mesmo no hotel. Alguma manifestação enquanto eu não estava aqui?

BABA: - Ellen desmaiou na cozinha. Barbara, Skinner e Ellen viram um vulto negro atravessando a parede e indo para o porão. Depois recomeçaram asbatidas. E aquela sensação de gente andando aqui dentro. Ainda bem que não vejo. Apenas sinto. Tentei entrar no porão com o Skinner, mas nem ele conseguiu abrir a porta.


2:33 A.M.

Mulder toma o corredor, sem perceber a substância gosmenta que escorre pelo papel de parede, em frente a porta do porão. Entra na cozinha. Tudo organizado. Baba de óculos, sentada na cadeira, lendo um livro. Baba ergue os olhos.

BABA: -Perdeu o sono?

MULDER: - Você que deveria estar dormindo com Scully.

BABA: - Eu? Eu não! Quem deveria estar dormindo com ela é você. Tá me estranhando?

Mulder sorri. Abre o armário.

MULDER: - Quer café?

BABA: - Aceito. Arrumei tudo e estou aqui pra ver se mais alguma coisa bizarra acontece.

Mulder retira duas xícaras. Coloca água na chaleira.

MULDER: - Eu devia estar feliz por tudo estar rumando para uma vida profissional melhor e mais light. Por ter mais tempo pra minha filha. Por sair do covil de cobras peçonhentas...

BABA: - ... (FECHA O LIVRO E PRESTA ATENÇÃO NELE)

Mulder não percebe que a água que sai da torneira torna-se de cor vermelha.

MULDER: - Mas não estou...

BABA: - Pelo menos sabe o por quê disso?

Mulder olha pra torneira. Solta a chaleira e se afasta. Baba se levanta.

Água comum e clara sai da torneira.

MULDER: - Podia jurar que havia sangue na água. Não quero mais café.

Mulder abre a geladeira. Pega uma embalagem de suco. Senta-se. Baba senta-se também. Mulder brinca com a embalagem de suco.

MULDER: - Se ofenderia se eu perguntasse algo a você?

BABA: - Eu? Você me ofende 24 horas por dia e agora se preocupa com isso?

MULDER: - (SORRI) ... Por que nunca mais se casou? Você podia ter se casado, tido mais filhos.

BABA: - Perdi meu marido e minha filha. Eu não tenho ideia se estão vivos ou mortos e tudo que eu queria saber é isso. Se alguém me dissesse que estão mortos, eu pelo menos ficaria aliviada porque saberia aonde estão e que não estão sofrendo.

MULDER: - Você devia se dar uma chance. A vida continua.

BABA: - Mulder, você mesmo devia ouvir suas palavras. Você também não se dá uma chance.

MULDER: - Estou pensando que tudo que importa realmente na vida, não é o amor. O amor vai embora. O que fica é a convivência. Você não precisa amar alguém pra ser feliz. Você pode viver com alguém de quem goste, contanto que esse alguém saiba tratar bem de você, da sua filha... A vida é assim. Amor é ilusão. Casamento significa companhia. Pra viver bem junto com alguém, não precisa amar.

BABA: - Não. Você não acredita nisso. Só está se justificando porque está sofrendo.Não que o amor vá embora ou que não se precise dele. O casamento se torna mesmo uma companhia, as pessoas se acostumam, o fogo intenso da paixão um dia abranda. É comum, normal. Acontece com todos.

MULDER: - Eu não espero mais nada. Só tenho medo de ficar sozinho. Porque eu não gosto mais da solidão...

BABA: - Eu entendo o seu desespero emocional. Você quer alguém do seu lado. Sejamos adultos, Mulder. Quem não quer alguém do seu lado? Quem não quer uma boa companhia? Alguém pra conversar quando perde o sono, um calor no inverno, alguém que divida as preocupações? Todos querem Mulder. E todos têm o direito de buscar isso. É o El Dourado do ser humano. As coisas não dão certo para quem fica sonhando com a pessoa ideal. E eu agradeço que agora você perceba isso, que não há pessoa ideal. Há pessoas e você se apaixona por uma. E como existe amor, mesmo nas diferenças, ainda assim você se acerta com ela e tenta viver uma vida juntos. Você se apaixonou e se acertou com Scully, mesmo com todas as diferenças. Então lute por ela.

MULDER: - Não quero mais lutar por ela. Eu desisti.

BABA: - Mulder você está desesperado com a solidão. Mas isso não significa que qualquer pessoa sirva pra você. Tome cuidado com isso para não cair em armadilhas e sofrer mais ainda. Sempre há uma espertalhona de plantão para pegar um otário. Você é um homem inteligente, honesto, tem uma profissão que gosta, uma boa casa... Abra seus olhos pra qualquer 'eu te amo'.

MULDER: - Baba, eu não quero procurar alguém. Eu quero a Scully. Mas se ela não voltar... Eu nem sei o que fazer da minha vida, sabe? Acho que vou voltar a ser o velho Mulder e baixar a cabeça no trabalho pra não pensar muito nas coisas. Logicamente, não vou deixar a minha filha de lado, essa mudança toda em partes é por ela. Ela precisa mais de um pai do que as pessoas precisam de um agente do FBI. Pouco antes de você bater em minha porta, eu já ia largar tudo por Victoria. Você só me deu mais tempo pra fazer a coisa do modo correto. Estou cansado daquele porão, Baba. Não quero passar a minha velhice sentado naquela cadeira, sendo humilhado e perseguido. Quero liberdade de ação. Quero viver, entende?

Scully entra na cozinha. Os dois se calam. Scully pega um copo. Mulder oferece suco.

MULDER: - Não confie nessa água. Quer um suco?

SCULLY: - Obrigada.

Scully sorri, coloca o copo na mesa. Mulder vai virar o suco, mas o copo voa da mesa e se espatifa na parede. Baba fica imóvel. Scully leva a mão à boca, assustada. Mulder levanta-se. Observa os cacos no chão. Olha pra Scully.

MULDER: - Você está bem?

SCULLY: - Estou. Mulder, não sei qual a sua teoria, mas eu acredito que é algum tipo de consciência inteligente. Não sei explicar se uma consciência de pessoa viva ou morta, porque não tenho como provar nada sobre a existência de consciência pós-mortem. Talvez um demônio, porque sabemos que eles não podem ser vistos quando não querem.

Scully sai da cozinha. Mulder e Baba se entreolham.

BABA: - Ela não deu explicações científicas? Ou meus ouvidos estão sujos?

MULDER: - (SORRI) É, Dana Scully finalmente viu a verdade.

BABA: - E agora que ela viu, vai realmente deixar essa mulher escapar?

MULDER: - E o que posso fazer? Não depende mais de mim, Baba. Depende dela.


3:33 A.M.

Câmera de acompanhamento. Nenhum som ou movimento na casa.

Foco na cozinha. Vazia.

Foco no corredor. A porta do porão se abre lentamente. Um vento ecoa pelas paredes.

Foco no quarto 1. Barbara dorme contra Krycek com o cobertor por cima da cabeça. Krycek com o braço e a perna por cima dela.

Foco no quarto 2. Skinner e Ellen dormem abraçados.

Foco no quarto 3. Baba dorme na cama. Scully de olhos abertos observa o teto. Victoria dorme entre elas.

Foco na sala. Mulder sentado no sofá, enrolado num cobertor. Observa a lareira sem conseguir dormir. Treme de frio. Pega a embalagem de suco e leva ao copo.

Close nos dejetos podres que saem da embalagem caindo no copo. Mulder solta o copo assustado. Agacha-se observando. Leva a mão ao nariz, com nojo.

A vitrola começa a tocar:Morrisey - Ouija Board, Ouija Board.

Mulder olha pra vitrola. Percebe o vento que balança as chamas da lareira. Mulder se levanta. As luzes piscam. Mulder desliga a vitrola da tomada. A vitrola continua funcionando.

Mulder retira o disco. Coloca sobre o balcão. Olha para o corredor escuro. Aproxima-se pelo corredor. Percebe a porta do porão aberta. Mulder aproxima-se da porta, ela se fecha num soco.

Vozes que murmuram, algumas risadas.

MULDER: - Quem está aí?

Som de pancadas fortes. Mulder procura o foco do som. As pancadas aumentam. Todos saem pra fora dos quartos.

SKINNER: - O que está havendo?

Mulder tenta abrir a porta do porão, mas ela não abre.

SCULLY: - Mulder, o que é isso? De onde vem?

MULDER: - (IRRITADO) Eu não sei! Não tenho respostas pra tudo!

O vento aumenta de intensidade. As luzes piscam. Barbara, só de camiseta corre pra sala, olhando pras janelas fechadas, sem entender. O vento aumenta mais. Barbara segura-se na parede, os cabelos voando.

O disco voa do balcão em direção ao pescoço de Mulder. Mulder arregala os olhos. Como se uma força invisível estive ali em defesa, o disco muda a direção se quebrando contra a parede, acima da porta da cozinha.

O vento cessa. As luzes param de piscar.

Todos observam atentos. Silêncio.

Mulder olha para o teto.

MULDER: - Foi embora. Por enquanto.

Ellen, catatônica, se abraça em Skinner.

SKINNER: - Mulder, pode ao menos nos dizer o que é isso?

MULDER: - Eu ainda não sei. Pra saber preciso que fiquem isolados uns dos outros.

Barbara se agarra em Krycek, quase subindo nele de tanto medo.

BARBARA: - Brincou! Brincou que vou ficar sozinha em alguma parte dessa casa!

ELLEN: - Meu Jesus! Estávamos dormindo...

BABA: - Vocês estavam todos dormindo?

Todos afirmam, menos Scully.

MULDER: - (OLHA PRA SCULLY) Você estava acordada não estava?

SCULLY: - (IRRITADA) O que importa isso?

MULDER: - (GRITA) Eu quero saber se você estava acordada!

Scully volta pro quarto, batendo a porta. Baba olha pra Mulder.

BABA: - ... É um poltergeist mesmo, Mulder.

MULDER: - E Scully é o epicentro.


3:44 A.M.

Todos sentados na sala, menos Scully, que está lá fora, recostada no carro.

KRYCEK: - Tá legal, por que é um poltergeist? Por que não uma velha casa assombrada?

MULDER: - Por que isso não é assombração. Essa coisa não está presa nesse lugar. Ela me atraiu pra cá para atrair a Scully. É uma inteligência, não um fantasminha obcecado pela suas coisas materiais. Se sairmos daqui, ela nos segue. Essa coisa irá pra qualquer lugar aonde Scully vá. Se prendeu a ela.

ELLEN: - Então por que me atraiu pra cá?

MULDER: - Você é amiga da Scully. Essa coisa sabe que Scully adora você e quer perto de si qualquer pessoa que Scully ame.

BABA: -Poltergeist... Palavra alemã que significa 'espírito brincalhão'.

MULDER: - Um poltergeist é um conjunto de forças paranormais de natureza objetiva. Isso significa que cada ação do poltergeist é intencional, seletiva e espontânea, enquanto que numa assombração, o espírito geralmente ligado a casa, estaria fazendo coisas bestas pra nos assustar e darmos o fora daqui. E acabaria. Mas poltergeists não. Eles estão apegados a alguém, e nesse caso é Scully. Chamamos a esta pessoa de epicentro. Scully é o epicentro do poltergeist. E poltergeists costumam ser violentos.

BARBARA: - Como tem certeza de que Scully é o epicentro?

MULDER: - As manifestações de poltergeists estão associadas sempre a um epicentro. Este epicentro geralmente são pessoas jovens com fortes crises psíquicas.

SKINNER: - Scully não é jovem. Barbara é a mais jovem aqui.

MULDER: - São ligados a jovens pois há um turbilhão de emoções neles. São facilmente irritáveis, histéricos, tolerância a frustração baixa. Agressivos. E é como Scully está.

ELLEN: - Ok. Então é Scully quem está exteriorizando suas emoções nos objetos e fazendo estas coisas?

MULDER: - Isso é a explicação que os céticos dão aos fenômenos de poltergeist, mas isso não explica como essas emoções são exteriorizadas. A explicação paranormal disso são espíritos que se atraem pela confusão emocional dessa pessoa. Talvez Scully esteja mais acessível ao poltergeist, aos espíritos que estão aqui. Talvez ela tenha algo que eles querem.

KRYCEK: - Talvez, talvez... Eu acabo de sair do banheiro e tinha uma garota lá me olhando! Isso não é talvez! Ela estava lá, era uma adolescente com uniforme de torcida de escola!

BABA: - Melhor falar pra eles que isso não é apenas um poltergeist.

Krycek se levanta.

KRYCEK: - Como assim? O que está havendo aqui? O que está escondendo de nós?

Mulder senta-se.

MULDER: - Estamos na cidade de West End. Era uma cidade próspera na época do ouro. Mas quando os exploradores foram embora, a cidade estacionou. E com o tempo começou a falir. Na virada do século 20, alguns começaram a dizer que a cidade era amaldiçoada, sem futuro, falavam que o povo de West End teria feito um pacto satânico para resgatar sua riqueza. O fato é que o que se plantava no solo de West End não nascia. O comércio falia rapidamente. E de uma hora pra outra a cidade se ergueu novamente.

Krycek põe as mãos no rosto.

MULDER: - Riqueza e abundância. Mas as pessoas velhas e crianças começaram a morrer de doenças estranhas e só restaram jovens na cidade. Baderna. Confusão. Brigas. Em 1955, um comerciante que vinha para a cidade entregar mercadorias, não encontrou ninguém. Todos os jovens, únicos moradores de West End desapareceram. Aturdido ele foi buscar ajuda na cidade próxima dizendo que o Diabo estava cobrando o preço pela ajuda. Quando voltou com ajuda, West End havia desaparecido.

SKINNER: - Como assim desaparecido? Uma cidade não desaparece!

MULDER: - Como toda a população, a cidade desapareceu do dia pra noite. Muitas pessoas afirmam verem placas da cidade pelo país todo.

KRYCEK: - Uma cidade que se move?

MULDER: - Como talvez os habitantes invisíveis dela.

BARBARA: - Ele está falando a verdade.

Todos olham pra Barbara.

BARBARA: - Li sobre West End nos arquivos do jornal.

MULDER: - Acontece que estamos numa cidade que não deveria existir.

Scully entra. Senta-se na poltrona.

MULDER: - E num chalé com um poltergeist. Eu tenho uma teoria. Creio que o chalé não pertença a West End.

BABA: - Como assim?

MULDER: - West End se move no tempo e espaço. Se moveu para cá. Justamente em cima de uma propriedade aonde ocorreu um fenômeno poltergeist antes ou depois da locomoção de West End. Agora imaginem a força que se acumulou aqui por dois fenômenos. E estamos no centro disso. Existem dois Arquivos X aqui interligados. E eu não sei o que pode acontecer com um poltergeist dentro de uma casa que está dentro de um tempo perdido. Se ao menos soubéssemos o que esse poltergeist quer.

SCULLY: - Ele me quer, não é isso? Vão embora que eu fico aqui, pois não faço falta alguma mesmo.

Scully abre a bolsa e pega seu diário. Vai para o quarto, batendo a porta.

MULDER: - Aconselho vocês a irem dormir. Essa coisa não vai ir embora. Sei que é difícil, mas tentem ignorar. Isso não vai parar e se ficarmos estressados, será pior pra nós, pois é o que essa coisa quer: nos dividir e criar ódio. Quando amanhecer, vamos tentar dar o fora daqui.


4:37 A.M.

Silêncio na casa.

Mulder sozinho na sala. Tosse. Enrola-se no cobertor com frio. O suor lhe escorre do rosto. Fisionomia abatida.

A porta do quarto se abre rangendo. Mulder ergue o rosto. Scully sai do quarto, fechando a porta. Aproxima-se dele.

SCULLY: - ... Por que não foi dormir no quarto?

MULDER: - Está bom aqui.

SCULLY: - Mulder, não pode dormir sentado.

MULDER: - Tá bom aqui. É sério.

Scully entrega um vidro de cápsulas.

SCULLY: - Vou buscar água. Tome outra dessas.

Scully vai pra cozinha. Mulder abre o vidro, levando duas cápsulas a boca. Scully se aproxima com a água. Mulder bebe. Ela senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Importa-se se o epicentro ficar aqui?

MULDER: - ... Preciso de agitação mesmo.

SCULLY: - ... Precisamos conversar.

MULDER: - De novo?

SCULLY: - Mulder, não começa.

MULDER: - Eu não vou começar. Não quero mais bater de frente nesse assunto. E não vou mais insistir, dei minha palavra pra você desde a semana passada. Você sabe o caminho de casa.

SCULLY: - E o que quis insinuar me presenteando com aquela rosa?

MULDER: - Que rosa?

SCULLY: - Certo. Esquece isso.

Scully se ajeita no sofá. Recosta-se em Mulder. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Não tem quem aguente isso, percebe?

SCULLY: - Definitivamente nem amigos podemos ser. Você não admite que eu chegue perto!

MULDER: - Nunca mais vamos ser amigos do mesmo jeito que éramos antes de dividir as meias, Scully! Eu não vejo apenas a amiga, eu vejo a mulher. Nada vai mudar isso. Eu amo você, entende?

Scully se afasta. Mulder leva as mãos ao rosto. Os dois afastados e cabisbaixos.

SCULLY: - Quer transar?

MULDER: - Não! A questão não é sexo!

SCULLY: - O que quer então, Mulder?

MULDER: -Eu quero seus pezinhos frios pra que eu possa esquentá-los nas madrugadas de inverno por toda a minha vida! É isso o que eu quero! Quero você do meu lado, acordando comigo, dormindo comigo, vivendo comigo. Quero sua presença na minha vida, Scully! Você do meu lado!

O silêncio permanece, quebrado pela porta do armário que se abre. Os dois olham para o armário. Mulder se levanta. Caminha até o armário. A luz acesa. Mulder olha pro chão. Ergue a tábua ouija.

MULDER: - Olha o que achei...

SCULLY: - Victoria estava brincando com isso.

MULDER: - Victoria? Como deixa isso nas mãos de uma criança?

SCULLY: - O que tem? É uma brincadeira como qualquer outra.

MULDER: - Isso aqui não é brincadeira. Isso aqui é mais perigoso que deixar facas na mão de um suicida!

SCULLY: - Mulder, o tabuleiro seleciona consciente ou inconscientemente o que é lido. Para comprovar isso, simplesmente tente fazê-lo de olhos vendados por algum tempo, enquanto um assistente neutro toma nota das letras selecionadas. Geralmente, o resultado serão maluquices incompreensíveis. O movimento da plancheta não se deve a forças paranormais, mas a movimentos imperceptíveis daqueles que controlam o ponteiro, conhecidos como efeito ideomotor.

MULDER: -Já começou com as explicações científicas. Cética.

SCULLY: - Crédulo.

MULDER: - Não sou crédulo. Eu quero acreditar. Por que então proibiram a venda disso? Ahn?

SCULLY: - Por causa de malucos como você, Mulder. Eu não sou mais cética, mas isso não significa que não haja explicações científicas também e nesse caso, eu tenho uma bem plausível... O que significa Ouija?

MULDER: - Não sei. Ninguém sabe. Uns afirmam que deriva da palavra 'oui', sim em francês e 'ja', sim em alemão. Outros dizem que um espírito invocado deu nome ao tabuleiro durante uma invocação.

SCULLY: - Acho que é o brinquedo mais antigo.

MULDER: - Não é brinquedo e ao contrário dos filmes de terror, isso não é antigo e nem vem da cultura egípcia. É quase desconhecido quem inventou o Ouija. Talvez tenha sido um cara chamado Elijah Bond que consta como inventor em registro. Charles Kennard e sua companhia em 1891, patentearam e passaram a fabricar tabuleiros Ouija, o que virou moda.

Mulder coloca a ouija no chão. Senta-se.

SCULLY: - O que vai fazer?

MULDER: - Descobrir coisas. Acho que algo aqui quer que saibamos o que está havendo. Ou não nos mostraria isso.

Scully curiosa senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Não tem medo?

MULDER: - Tenho medo. Mas vou fazer do jeito certo, muita gente desconhece como usar isso e acaba atraindo coisa pra dentro de casa. Aposto que foi assim que atraíram algo nessa casa. Pior do que está não fica. Agora... Silêncio, por favor.

Mulder fecha os olhos, fazendo o sinal da cruz. Scully olha pra ele, incrédula.

MULDER: - (REZANDO) Em nome de Deus, Jesus Cristo, da Grande Irmandade da Luz, dos Arcanjos Michael, Rafael, Gabriel, Uriel e Ariel, por favor protejam-nos das forças do mal durante esta sessão. Façam com que não haja nada além de luz envolvendo este tabuleiro e seus participantes, e permita que nos comuniquemos somente com forças e entidades da Luz. Protejam-nos, protejam esta casa, as pessoas presentes nela, e façam com que haja somente Luz e nada além de Luz, amém!

Scully observa Mulder impressionada.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Amém digo eu que nunca vi você rezar! Aleluia irmão!

Mulder coloca as pontas dos dedos sobre a plancheta. Começa a deslizar em círculo pelo tabuleiro. Scully num ar cético o observa, quase rindo. Mulder faz isso de olhos fechados.

MULDER: - Há alguém aqui?

SCULLY: - (SEGURA O RISO) Serve eu?

MULDER: - Se vai me atrapalhar, volte para o quarto, engraçadinha.

SCULLY: - Vou ficar quieta, prometo que tentarei.

MULDER: - ... Há alguém aqui?

A plancheta se move até o YES. Scully boceja.

MULDER: - Pode me dizer seu nome?

A plancheta se move nas letras A.S.K.L.A.T.E.R.

MULDER: - Qual o seu nome?

A plancheta move-se até a palavra NO.

MULDER: - Quantas pessoas há nesta casa?

A plancheta se move até o número 8.

MULDER: - Viu Scully? Somos em 8, ela acertou.

SCULLY: - Isso não me prova nada. Prova tanto quanto um gato preto numa sexta-feira 13 causa azar.

MULDER: - Quer me dizer algo?

A plancheta se move nas letras G.O.A.W.A.Y.

MULDER: - Por quê? Você é perigoso?

A plancheta se move nas letras N.O.

MULDER: - Há mais alguém com você?

A plancheta se move nas letras B.E.C.A.R.E.

MULDER: - Devo ser cuidadoso com você?

A plancheta se move na palavra NO.

MULDER: - Há alguém perigoso com você?

A plancheta se move nas letras O.U.T.

Scully suspira.

MULDER: - O que tem lá fora?

A plancheta se move nas letras D.E.M.O.N.S.

MULDER: - O que você quer de nós?

A plancheta se move nas letras H.E.L.P.U.S.

Scully olha pra Mulder. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Qual o seu nome?

A plancheta se move nas letras A.S.H.L.E.Y.

A plancheta se move desordenadamente. Mulder observa tenso. Scully olha pra ele, o censurando.

SCULLY: - Para com isso! Você tá me assustando!

MULDER: - Não estou fazendo nada! Se move sozinha!

SCULLY: - Eu não acredito nisso!

Scully levanta-se irritada indo pro quarto. As luzes piscam.

A plancheta se move nas letras D.A.N.A.H.E.L.P.M...

Mulder observa.

A plancheta se move nas letras: F.U.C.K.Y.O.U.

MULDER: - Quem está com você, Ashley?

Nenhum movimento.

MULDER: - Ashley? Ashley, ainda está aqui?

Um vento toma intensidade. Som da porta do porão se fechando num golpe.

A plancheta se move até as letras: H.E.L.L.O.F.O.X.

MULDER: - É você, Ashley?

A plancheta se move nas letras M.O.M.F.U.C.K.E.R.

MULDER: - Quem é você?

A plancheta se move nas letras S.U.C.K.M.E.

Mulder olha pra porta. Olha pra plancheta.

MULDER: - Quem é você?

A plancheta se move nas letras W.E.L.C.O.M.E.

MULDER: - ???

A plancheta se move nas letras T.O.M.Y.H.E.L.L.

Corte.


Mulder acende uma vela. Está nas escadas do porão. Mulder desce lentamente os degraus de madeira.

MULDER: - Seja o que for, eu não tenho medo de você.

A porta do porão se fecha numa batida. Mulder leva um susto. Ergue a vela iluminando o porão enquanto caminha. Muitas coisas velhas amontoadas e prateleiras.

MULDER: - Quem está aí? É você, Moedinha? Ahn? Não vai mesmo deixar Scully em paz? É assim que quer toma-la é?

Mulder assustado, deixa a vela cair ao chão. Pressente algo atrás dele. Tira uma caixa de fósforos do bolso e acende um palito. Vira-se nervoso para trás. Arregala os olhos ao ver sua mãe.

TEENA MULDER: - Filho querido, quanta saudades eu sinto de você.

MULDER: - (EM LÁGRIMAS) Mãe?

TEENA MULDER: -Deixe-me abraçá-lo, meu filho amado.

Mulder recua, acenando negativamente com a cabeça.

MULDER: - Você não é a minha mãe. Ela nunca me chamou de filho querido e nem amado!

Barulhos. Mulder vira-se rapidamente. Depois volta a olhar pra frente. Teena sumiu. Uma risada grotesca ecoa no ambiente escuro. Mulder solta o palito que quase queima seu dedo. Acende outro fósforo. As luzes acendem.

THE GOLD COIN: -Está com medo?

Mulder vira-se rapidamente. Coin escorado no aquecedor o observa.

MULDER: - Era você naquela tábua!

THE GOLD COIN: - Não. Não era eu. Eu sou um sujeito refinado e educado. Detesto palavras chulas.

MULDER: - Quem era?

THE GOLD COIN: - Ashley? É esse o nome dela?

MULDER: - Estou falando daquela outra coisa que entrou na conversa!

THE GOLD COIN: - Eu não fui, porque converso com você frente a frente, não preciso de tábuas ouija, copos ou jogos de cartas pra isso.

MULDER: - Diabos! Você mente!

THE GOLD COIN: - (ERGUE A MÃO) Presente!

MULDER: - O que quer de mim?

THE GOLD COIN: - Eu já disse, nunca pergunte isso ao demônio. Ele pode responder.

MULDER: - ...

THE GOLD COIN: - O povo de West End me devia. Fizeram um pacto e ele foi pago. O que há nessa casa não é problema meu. Não posso me responsabilizar pelos que não são meus... Entretanto, eu posso ajudar você.

MULDER: - Não me venha com essa. Você não ajuda de graça.

THE GOLD COIN: - Se eu não ajudar, Scully pagará.

MULDER: - Não acredito em você!

THE GOLD COIN: - Tenho um precinho barato pra você. Se mudar de ideia, me chame. Eu sempre escuto quando alguém me chama.

As luzes se apagam.


6:47 A.M.

Barbara sai do quarto. Entra na cozinha. Mulder sentado, pensativo.

BARBARA: - Ainda não dormiu?

MULDER: - Estou sem sono.

BARBARA: - (ABRE AS CORTINAS) Pensei que já tivesse amanhecido.

MULDER: - Não acredito que vá amanhecer. Tudo permanece escuro lá fora, o tempo parou nesse lugar no momento em que Skinner e Ellen chegaram. Estamos presos aqui. Há alguém aqui que precisa de ajuda, mas há outra força que impede isso.

BARBARA: - Como sabe?

MULDER: - Alguém brincou com uma tábua ouija e invocou algo pra dentro dessa casa.

BARBARA: - (SENTA-SE) E é esse algo que é o poltergeist?

MULDER: - Acredito que esse algo e mais o espírito que quer ajuda sejam o poltergeist. Mas Baba diz que sente coisas ruins aqui dentro. Pode haver mais alguém além de Ashley.

BARBARA: - Ashley?

MULDER: - O espírito que falou comigo.

BARBARA: - (SORRI) Se alguém visse você falando diria que é louco.

MULDER: - Já recebi tantos nomes que louco é algo inofensivo.

BARBARA: - (LEVANTA-SE) Quente aqui dentro. Posso abrir a janela?

MULDER: - Abra.

Barbara aproxima-se novamente da janela. Abre a cortina. Põe as mãos no rosto, recuando aos gritos. Mulder aproxima-se da janela olhando pra fora. Fica boquiaberto. Mulder sai correndo da cozinha, quase derrubando Skinner que vinha entrando.

SKINNER: - O que houve?

MULDER: - Algo aconteceu. West End revelou sua face.

Mulder corre pra fora da casa. Skinner o segue.

Câmera circulando os dois, incrédulos, olhando pra alguma coisa.

SKINNER: - (PASMO) Meu Deus!!!!

MULDER: - (BOQUIABERTO) ...

Câmera alta revelando Skinner e Mulder parados na frente do chalé. Ao redor deles as centenas de lápides que ainda brotam da terra cercando o lugar.

Scully sai da casa aos gritos.

SCULLY: - (GRITA/ QUASE CHORANDO) Mulder, Victoria sumiu!

Mulder entra correndo feito doido. Scully desesperada, chorando, em nervos.

MULDER: - (DESESPERADO) Victoria!!!!!!!!!!!!

Scully chora, abraçada em Ellen. Mulder entra no porão, caindo pela escada. Krycek sai do quarto, aflito, correndo pra fora da casa. Skinner anda por entre as lápides gritando por Victoria. Krycek puxa a arma, também gritando pela menina.

Dentro do chalé, Baba abre a porta do armário. Victoria sentada no chão, mexendo entre os objetos atirados no armário. Baba ergue os olhos, suspirando. Pega Victoria no colo. Victoria segura um diário.

BABA: - (GRITA) Achei!!!! Estava dentro do armário!!!! Bem que seu pai diz que você não é uma criança, é um exterminador!

Scully entra correndo na sala. Atrás dela, Skinner, Ellen, Barbara e Krycek. Scully, fora de si, puxa o diário das mãos de Victoria e atira no sofá. Puxa Victoria dos braços de Baba.

SCULLY: - (GRITA HISTÉRICA) Não faz mais isso!!!!!!!

Victoria se encolhe, franzindo o cenho pra chorar, assustada com o grito. Mulder entra na sala.

SCULLY: - (NERVOSA/ AOS GRITOS) Tá me entendendo? Se fizer isso de novo eu vou ter que dar umas palmadas em você!!!

Scully solta Victoria no chão. Scully treme de nervosa e tensa, ainda não recuperada do choque. Ellen a ajuda a sentar-se. Scully parece que vai ter um surto. Victoria corre pra Mulder, chorando nervosa, se abraçando na perna do pai. Mulder cruza os braços.

MULDER: - Não, Pinguinho. Não vou contestar sua mãe, nem tirar a autoridade dela, embora conteste os métodos. Mas ela tem toda a razão de ficar furiosa. Se ela fez isso é porque ama você e se preocupa com você.

VICTORIA: - (CHORANDO) Ox...

MULDER: - Não é o fim do mundo não. Nunca gritamos com você, mas sempre tem uma primeira vez pra tudo. Ação e reação. Agora vai brincar, mas aonde possamos ver você. Você é nossa vida, amamos você demais e ficamos nervosos quando você some.

Mulder se agacha. Seca as lágrimas de Victoria. Beija-a na testa.

MULDER: - Vai brincar, vai.

SCULLY: - E não mexa mais no meu diário!!!

VICTORIA: -(CHORANDO) Naaaahhhhh!!!!!!!!! Oia oia!!!!!!! Vic na fez nada elado!

Mulder e Scully se interrogam com o olhar. Scully pega o diário.

SCULLY: - Mulder... Não é o meu diário.

Os dois olham pra Victoria. Ela seca as lágrimas com a mãozinha.

VICTORIA: -Vic achou no málio. Oça deu. Vic qué ajudá.

Ellen pega Victoria no colo.

ELLEN: - Vem com a tia Ellen. Seus pais estão nervosinhos demais... Vamos tomar um suquinho.



BLOCO 4:

Todos espalhados pela sala. Mulder sentado no sofá, lendo o diário de Ashley. Victoria sentada no colo de Scully, de frente pra ela, recostada em seu peito. Scully a embala.

MULDER: -(LENDO) ... Algo nos chamou até a casa. Todos estavam bêbados e felizes, não ligaram para o fato do carro andar sozinho subindo a ladeira. Como eu não bebia, não sabia dirigir e precisava esperar por eles, tive de entrar na casa. Amber me detesta. Está dando em cima de Ryan. E eu que pensei que ele me amava, mas Ryan, o cara mais lindo da escola, conseguiu tudo o que queria e depois me deixou, rindo da minha cara... Digo pra mim mesma, Ashley, essas pessoas não são suas amigas. Ryan não gosta de você, ele é um jogador com um futuro pela frente e você a gótica e feia. Você está sozinha, confusa com sua vida e é melhor mesmo ficar sozinha no seu mundo ouvindo seus discos.

Scully abaixa a cabeça, beijando os cabelos de Victoria.

MULDER: - (LENDO)Queria que minha irmã mais velha estivesse aqui. Dana era a única pessoa que me entendia, mas a morte a levou pra longe de mim. Agora os idiotas resolveram brincar com uma tábua ouija que encontraram no armário. Riram quando eu disse que era perigoso. Eles me detestam mesmo! Eles não sabem da minha tristeza e confusão. Não sabem o quanto eu choro calada, o quanto é triste viver confusa e sozinha, sofrer pela perda da minha irmã. O quanto dói ter sido enganada e traída por Ryan. Não ser bela como as outras garotas. Eu não vejo o meu futuro.

Scully começa a chorar. Ellen olha pra ela, entendendo.

MULDER: - (LENDO) Estão rindo de mim. Vou sair da casa. Vou tentar sair daqui, embora não faça diferença alguma se eu conseguir ou não. Tudo o que eu queria era morrer para encontrar Dana novamente. Um dia, eu vou encontrar minha irmã, seja onde ela estiver e vou deixar esse planeta infeliz, cheio de gente predadora de si mesmo, como diria o Morrissey...

Mulder fecha o diário. Todos quietos. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Scully... Como Ellen e eu, você sabe porque Ashley está perto de você. Os sentimentos e experiências adolescentes de vocês são mútuos. Talvez Ashley pense que você é a irmã dela. Ela gosta de você, Scully. Você é uma luz pra ela que está perdida aqui dentro, sem encontrar o caminho da verdadeira luz.

SCULLY: - E o que eu faço?

BABA: - Ela não sabe que morreu. Ainda tenta sair daqui, é apenas uma alma triste e sozinha perambulando por essa casa. Mas há outras forças fortes aqui dentro que não querem que ela se vá. E eu acredito que são os colegas dela. Estão iludidos por algum espírito muito forte, talvez um demônio. Ele não os deixa irem. Acredito que quando eu entrei nessa cidade com Mulder, Ashley tenha sentido a sua energia em Mulder e Victoria e assim, fez de tudo pra trazer você pra cá. E sua amiga Ellen, pois sabia que você gostava de Ellen.

SKINNER: - Oito jovens, presos ainda nessa casa...

ELLEN: - Perdidos...

MULDER: - Oito. O mesmo número que nós somos aqui.

KRYCEK: - O que está pensando?

MULDER: - Somos oito. Há oito espíritos desencarnados aqui. Um pra cada um de nós. Eu já sei qual a promessa.

BABA: - Que promessa?

MULDER: - Se esse demônio os segura aqui, teria que fazer alguma promessa em troca da permanência desses jovens nessa casa. Talvez tenha prometido tirá-los da casa, fazendo uma troca por outras pessoas. Talvez nem Ashley saiba que foi usada pra isso.

Mulder levanta-se do sofá.

MULDER: -Ninguém ande sozinho aqui dentro. Seja o que for, pode nos fazer mal. Ashley sozinha não vai conseguir contê-los. Eles querem vida. Se atraem pela nossa luz. Vão querer toma-la de qualquer forma.

ELLEN: - Pelo amor de Deus! O que vamos fazer?

MULDER: - Estou pensando. Estou pensando. Temos Ashley do nosso lado, que por algum motivo quer nos ajudar. A única forma de mostrar que eles estão mortos é conseguindo que um deles encontre a luz. (OLHA PRA SCULLY) ... Nossa salvação está nas suas mãos. Não podemos fazer nada sem a sua ajuda.

SCULLY: - Eu? Como eu farei isso?

MULDER: - É só começar a deixar sua razão de lado e deixar seu coração e sua mente abertos para a paranormalidade.

ELLEN: - O quê? Dana deixar a mente aberta ao paranormal? Estamos mortos! Já vi!

SKINNER: - Scully é cética, Mulder.

MULDER: - Não... Não depois de tudo o que já viu. Eu confio nela.

Mulder sai da sala. Todos se olham sem entender nada. Krycek entende. Levanta-se e passa por Scully, afagando seu ombro.

KRYCEK: - Confio em você. Conheço sua força, sua luz e o tamanho da sua fé. Você vai nos tirar dessa.


8:27 A.M.

Escuridão lá fora. Na cozinha, todos sentados à mesa. Um copo de água no centro. Baba de olhos fechados, sentada ao centro da mesa. Scully entra. Mulder sorri. Puxa a cadeira pra ela. Scully senta-se entre Ellen e Mulder. Ellen sorri pra ela. Beija a amiga no rosto. Victoria sentada numa cadeira entre Skinner e Mulder.

VICTORIA: - Brincar?

MULDER: - É, vamos brincar. É um jogo, mas você tem que ficar quietinha.

VICTORIA: - (BATENDO PALMAS) Vic fica papai.

SCULLY: - Precisamos envolve-la?

BABA: - Temos de envolve-la. São 8 para 8. De todos nós, ela é a mais forte. E é uma criança, um espírito puro. Me dê a mão, Ellen.

MULDER: - Pinguinho, dê a mão ao tio Skinner. Não solte a mão dele e nem a do papai. Vamos fazer mágica, mas você não pode fazer mágica também, ok? Tem que ficar quietinha mesmo, sem se mexer. Estátua, tá?

VICTORIA: - Sim! (OLHA PRA SKINNER/ SORRINDO) Gilafão!

Todos se entreolham rindo.

SCULLY: - Filha! Não chame o tio Skinner assim!

ELLEN: - Todo mundo chama, por que ela não vai chamar?

Mulder cochicha com Baba.

MULDER: - Tem certeza de que sabe fazer isso? Já fez isso antes?

BABA: - Eu sei o que estou fazendo, cara. Se duvida senta aqui e faz você.

KRYCEK: -Não creio que estou aqui numa sessão mediúnica com vocês.

SKINNER: - Se o Carter suspeita que participo de invocações espirituais, ele me interna junto com o Mulder.

ELLEN: - Gente, por favor. É sério. Vamos fazer o que Baba disser.

BARBARA: - Eu posso fazer um artigo sobre isto? Omitirei nomes.

Scully olha pra ela, incrédula.

BARBARA: - Desculpe. Mania de jornalista.

BABA: - Quero que todos deem as mãos. Fechem os olhos e mantenham suas mentes livres de qualquer pensamento, principalmente sentimentos ruins. Coisas irão acontecer, mas mantenham suas mãos unidas. Permaneçam de olhos fechados se quiserem. Não importa o que acontecer, não soltem as mãos. Não devem quebrar a corrente.

KRYCEK: - Por quê? O que vai acontecer?

BABA: - Acredite, não vai querer saber a resposta.

KRYCEK: - Baba, às vezes você me dá medo, sabia?

Eles se dão as mãos. Skinner toma a mão de Victoria que olha pra ele.

VICTORIA: - Gande! Mão gande!

MULDER: - Psiu, tagarela. Acabou a conversa.

Victoria recua a cabeça, olhando pra todos com um beicinho de 'shiii, falei besteira'. Todos fecham os olhos. Victoria deixa os olhinhos semi-abertos observando curiosa.

BABA: - Mantenham os olhos fechados. Limpem suas mentes... Não há o que temer, não tenham medo. São pessoas como nós, apenas não possuem matéria. Precisam ir para seu mundo, para seu descanso... Sintam pena delas, não medo...

Silêncio entre eles, de mãos dadas e olhos fechados. Scully está trêmula. Mulder de mão dada com ela, afaga a mão de Scully com o polegar, a acariciando. Scully parece relaxar com a presença dele.

BABA: - Concentrem-se no silêncio. Em si mesmos. No ar que respiram. Respirem bem devagar, sentindo a vida que entra em vocês, o ar que aos poucos entra nos pulmões... Relaxem seus corpos... Sintam seu corpo relaxar começando pela cabeça, rosto, músculos faciais... Vocês estão relaxando mais ainda. Continuem deixando essa sensação descer pelo corpo todo... Aos poucos... Visualizem uma luz de coloração lilás... A luz da transformação...

SCULLY: - (MURMURA) Vejo uma luz vermelha.

Mulder sorri, apertando a mão dela.

BABA: - (SORRI) Concentre-se em sua luz vermelha, Scully. Os outros na luz lilás...

Scully de olhos fechados, mãos dadas com Mulder e Ellen. Concentrada.

BABA: - Ashley, queremos falar com você. Manifeste-se, Ashley. Precisamos de sua ajuda.

Os armários abrem a portas. As louças começam a cair dos armários e se quebrarem ao chão.

BABA: - Não soltem as mãos. Pensem em alguém que amam, o amor sempre é a força contra o mal. Ignorem qualquer evento... Ashley, manifeste-se. Se estiver aqui nos dê seu sinal. Queremos falar com Ashley, não com outro.

A mesa começa a tremer. Ellen cerra os olhos, pra não ver nada.Victoria abre os olhos procurando alguma coisa com o olhar.

BABA: - Ashley???

Scully abre os olhos. Num misto de emoção ergue o rosto pra cima, vendo a pequena bola de luz que flutua sobre a mesa. Scully enche os olhos de lágrimas.

BABA: - Ashley, queremos falar com você. Nos responda Ashley.

Silêncio. A bola de luz voa por sobre Scully. Barbara observa impressionada. Scully fecha os olhos, envolta em paz. A bola de luz desce sobre ela.

BABA: - Ashley, você está aí? Quem está com você?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) ... Ryan e os outros.

Mulder abre os olhos, olhando incrédulo pra Scully. Os outros olham pra ela. Ellen continua de olhos fechados. Victoria observa atenta algo que só ela vê.

BABA: - Ashley, quem são os outros?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Amber... Justin... Lauren... Bob... Lisa... Billy... (DERRUBA LÁGRIMAS) Mas estou tão só...

BABA: - Por que está só, Ashley?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) (TRISTE) Eles não falam comigo.

BABA: - Quem mais está com você?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Muitas pessoas... Homens, mulheres, jovens... Todos estão chorando lá fora... Eles nos observam, mas não entram aqui... (MEDO) Tenho medo deles... Ele está aqui conosco.

BABA: - Quem está na casa com vocês, Ashley?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Ele é muito mau.

BABA: - Está na casa?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Sim. Ele vive aqui... Diz ser um anjo. Tem outro.

Mulder olha incrédulo pra mão de Scully. Ela sua muito nas mãos. Mulder olha pra Victoria. Victoria observa Scully, curiosa.

BABA: - Que outro?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Há outro lá fora. O que está conosco tem medo dele, pois aquele mantém os que estão lá fora com ele e parece desafiar o que está conosco... Eles nos observam agora... (PÂNICO/ GRITA) Está escuro, eu quero fugir dessa cidade!!!!

BABA: - Afaste-se deles, Ashley, eles são maus. Fique na casa. Precisa dizer isso a seus amigos. Precisam ficar na casa. Não saiam pra fora dela. Existem pessoas ruins lá fora.

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Ele está aqui...

BABA: - Qual deles? O chefe?

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Não, o que está conosco... Quero ir embora!!!!

BABA: - Ashley ele não pode fazer mal a você. Ele é trevas, você é luz. Está conosco agora. Não saia da casa.

SCULLY: - (VOZ DE ASHLEY) Eu tenho medo dele! ... Dana? Dana me ajuda!

BABA: - Ashley fique calma. Dana vai ajuda-la, escute Dana! Fique perto de Dana, não saia da casa!

Scully começa a tremer. Baba abra os olhos. Scully treme. Mulder e Ellen seguram as mãos dela firmemente. O copo voa da mesa, espatifando-se na parede. As portas dos armários começam a se bater. Victoria arregala os olhos. A porta da rua se abre e um vento forte sopra por sobre eles. Victoria olha pra porta.

VICTORIA: - (ASSUSTADA) O Iço!!!!!!!!! Iço!

MULDER: - Fique calma, o papai tá aqui. Segura a mão do papai e do tio Skinner!

Victoria olha pro lado e vê Ashley sumindo na parede. Atrás dela, os outros sete amigos. Victoria olha para Coin.

O tempo congela.

Coin aproxima-se da porta do porão. Bate.

THE GOLD COIN: - Sei que está aí. Não sei qual a sua intenção em desrespeitar o nosso tratado. E não vou repetir novamente: Cai fora do meu território!

Victoria observa Coin.

THE GOLD COIN: -Está vendo, coisinha híbrida? Eles não respeitam nada. Deveria haver um sentinela nesse planeta-prisão para fazê-los respeitarem os limites de suas celas. Fora do meu território, Azazyel!!! Não pode morar aqui!!! Você não pertence ao meu exército!!!

A porta do porão se abre, rangendo. Coin voa contra a parede, caindo no chão. Victoria arregala os olhos.

Os pés com botas de couro cano alto de fivelas saem do porão. Calças de couro justas. Camiseta e jaqueta de couro. Azazyel (aparência do Tom Cruise), brincos na orelha e tatuagens pelos braços, olha pra Coin num sorriso debochado.

AZAZYEL: - Ora, General... Se eu quero morar na América, eu tenho esse direito, afinal, dividimos o mesmo planeta. Estou me divertindo mais desse lado do mundo. E estou aqui a convite, me invocaram e eu vim.

Coin se levanta, limpando o terno.

THE GOLD COIN: - Ora, seu "Lestat" de quinta categoria, eu vou ensinar você a ter bons modos diante de um general!

AZAZYEL: - Podemos resolver nosso problema depois? Porque agora eu tenho outro problema pra resolver. Esses idiotas querem tirar a minha companhia dessa casa.

Azazyel estende a mão. Objetos começam a voar dentro da cozinha.

Tempo descongela.

Os objetos voam pela cozinha. Um deles passa rente a Baba.

BABA: - Segurem as mãos. Não soltem as mãos!!!

A mesa ergue-se do chão. Krycek aperta firmemente a mão de Barbara. Mulder mantém firme a mão de Scully.

Azazyel corre para o porão. A porta bate. Scully abre os olhos num grito.

Os objetos caem ao chão. O barulho cessa. O vento cessa. Scully, nervosa, tenta se soltar. Mulder olha pra Baba. Baba assente que sim. Mulder solta a mão de Scully. Scully solta-se de Ellen e sai pela porta dos fundos, chorando. Mulder olha pra sua mão. Mostra a palma pra Victoria.

MULDER: - Papai tem meleca na mão?

VICTORIA: - Sim! Mama não lavou a mão. Nem a Baba. Orquinhas!

Mulder sorri. Baba olha pra ele.

BABA: - Eu disse. Ela tem o dom.

MULDER: - Eu sabia. Não é a primeira vez que algum espírito baixa na Scully.

KRYCEK: - O que Victoria está vendo que não vemos?

MULDER: - Ectoplasma. Médiuns liberam essa energia enquanto estão em transe.

ELLEN: - Por que ela viu uma luz vermelha?

BABA: - A luz vermelha significa mediunidade.

MULDER: - Ok, agora sabemos o que está aqui. Lá fora está aquele Moedinha com um exército de almas vendidas. Aqui dentro um demônio mantendo os jovens presos.

BABA: -O que aqueles jovens invocaram na tábua era um demônio. Não podemos salvar os que estão lá fora, foram por sua própria escolha. Mas precisamos salvar os que estão aqui dentro, eles não pediram para ficar vagando presos nessa dimensão.

Ellen fica parada na porta, observando com dó a amiga. Scully entre os túmulos, chorando.

SKINNER: - E como faremos?

BABA: - Como eu disse, não podemos fazer. Só há um espírito aqui que pode guiar os garotos: Ashley. E ela apenas responde pra Scully. Scully vai ter que guiar Ashley pra luz e os outros a seguirão. Vamos tentar fazer um ritual pra afastar esse demônio daqui de dentro, enquanto Scully tenta guiar Ashley.

Mulder coloca Victoria no chão. Eles saem da cozinha. Victoria observa Coin que se aproxima dela. Coin se agacha aproximando os lábios da orelha dela.

THE GOLD COIN: - (SUSSURRA)Eu não sei que droga você é coisinha, então, para sua segurança, não chame atenção, entendeu? Nada de mágica. Compreende?

Coin aponta para a porta do porão, depois para a orelha e pede silêncio com o dedo sobre os lábios. Victoria olha assustada pra ele. Coin ergue as sobrancelhas esperando resposta. Victoria afirma com a cabeça.

THE GOLD COIN: - Boa menina.

Coin se ergue, coloca as mãos nos bolsos e se recosta na porta do porão.

THE GOLD COIN: - Azazyel, vamos conversar!!! Vai ficar pior pra você!!! Se mandarem você ir embora, terá que ir. Ou vai esperar Miguel vir chutar seu traseiro? A escolha é sua! Meu pontapé vai doer menos! Vou esperar você lá fora!


10:09 A.M.

Escuridão lá fora. Mulder se aproxima de Scully. Scully sentada na terra, entre lápides, olhando pro céu, olhos em lágrimas. Mulder agacha-se ao lado dela, acariciando-lhe os cabelos.

SCULLY: - ... Pensei que não podia. Que eu não podia acreditar.

MULDER: - ... Todos podem, Scully. Quanto mais você que tem fé.

SCULLY: - São muitos Mulder... (DERRUBANDO LÁGRIMAS) Muitos...

MULDER: - Eles optaram por isso, Scully. Venderam seus corações, seus sentimentos, suas vidas em troca de alguma coisa. Eles estão com seus iguais. Como você se dá melhor com certas pessoas do que outras. Você se atrai pelos iguais. Não há nada a fazer pelo povo de West End.

SCULLY: - Dinheiro? Fama? Luxo? Poder? Mulder o que é isto diante da grandeza da luz interior que temos? O que é trocar isso pelas coisas passageiras, que ficarão aqui? Hoje estamos vivos, banqueteando e rindo. Amanhã podemos estar mortos. Num piscar de olhos. E o que ficou? Um pedaço de carne apodrecendo sob a terra. Uma luz que deveria estar brilhando junto a outras luzes, mas que se apaga junto a sombras?

MULDER: - Você não vende a alma ao diabo o invocando e assinando um papel. Você vende pedaços de sua alma aos poucos. Quando deixa de ajudar seu próximo, quando sua ganância é maior que sua piedade, quando odeia, quando as coisas que sentimos como corretas são trocadas pelas coisas fúteis e erradas... De fato, alguns aprendem que não é bom fazer isso. Se corrigem. Errar é humano. Mas outros o fazem pela vida toda. Isso é se vender, se vender a algo que não deveria ser da consciência humana.

SCULLY: - Como pode alguém trocar a luz pela escuridão eterna? A única coisa real que temos e que nos pertence é nossa alma, Mulder. Nossa luz, nossa verdadeira luz.

MULDER: - Lembro-me da vez em que você falou para aquele fazendeiro no México: Você é a pessoa mais triste que eu já conheci na vida. Porque pensa que tem tudo e não tem nada... Eles pensam que tem tudo, Scully. Mas eles não têm nada.

SCULLY: - ... Estou tentando me perdoar todos os dias pelo que eu deixei se abater sobre mim. Por aquela coisa ruim que eu atraí. Eu vendi pedaços da minha alma, Mulder. Estou tentando recupera-los de volta.

MULDER: - Você viu o outro lado, Scully. Eu também vi. Sabemos que a única coisa que levamos conosco é o amor e a saudade dos que amamos.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Esquece. Não é hora e nem lugar, me desculpe.

Scully levanta-se. Mulder olha pras estrelas.


10:34 A.M.

Câmera rápida sai da cozinha pelo corredor. Foca a porta do porão. Segue em frente, foca o banheiro. Cada quarto vazio. Termina na sala, onde todos estão reunidos. Foca a porta da frente.

Pancadas. A porta força pra dentro como se algo empurrasse. Ellen pega Victoria no colo. Victoria se abraça nela. Mulder, Skinner e Krycek se encostam na porta, forçando-a pra trás.

BABA: - Scully, preste atenção. Precisa chamar por Ashley. Precisa perguntar da luz. Mande-a pra luz, entendeu?

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS) ...

BABA: -Skinner, preciso que dois de vocês fiquem atentos a porta do porão. É lá embaixo que ele habita.

BARBARA: - Vou com ele!

BABA: - Ellen, sente-se no sofá com a menina. Victoria deve nos ajudar.

Ellen senta-se.

BABA: - Victoria. Olha pra Baba. Quero que me diga se o Iço aparecer. Preciso que me diga. Entendeu?

VICTORIA: - (AFIRMA COM A CABEÇA) ...

BABA: - Precisa ajudar a mamãe e a moça, ok? Pode nos dizer onde a moça está?

VICTORIA: - Na tá qui não...

BABA: - Quando ela aparecer, nos diga onde está. Mamãe e Baba não podem vê-la, você precisa ser os olhos da mamãe e da Baba.

Baba corre até a vitrola. Coloca o disco. Scully em pé no centro da sala. Baba aproxima-se dela. As batidas aumentam. As janelas batem. Tensão. Barulho.

BABA: - Scully, chame por ela.

SCULLY: - Ashley. Ashley, me escute. Sou eu, Dana. Sua amiga.

BABA: - Insista!!!!!

SCULLY: - (GRITA) Ashley!!!!!!!!! Ashley me responda!!!!!!!! É Dana!!!!!!! Vim pra ajudar você!!!!!!!!

A vitrola começa a tocar [Morrisey: Ouija Board, Ouija Board]

Victoria olha para a vitrola. Ashley ao lado dela.

VICTORIA: - (APONTANDO) Lá! Oça lá!

BABA: - (SORRI) É ela! Fale com ela!

Scully vira-se para a vitrola.

SCULLY: - Ashley me escute!!!!! Venha pra mim!!!! Quero ajudar você a ir até sua irmã!!!!!!

BABA: - Pergunte da luz!

SCULLY: - Ashley, olhe para a luz! Há uma luz dentro dessa casa!!!!!

Victoria aponta pro canto da sala, perto da porta, ao lado de Krycek. Krycek arregala os olhos, assustado.

VICTORIA: - Lá!

Ashley olha para a luz. Acena negativamente. Recua olhando para o corredor. Os objetos começam a tremer sobre os móveis. O vento forte toma conta da casa.

SKINNER: - (GRITA) Algo saiu do porão!!!!!!!!!!!

Barbara voa pelo corredor, contra a parede. Ellen, vira o rosto, apavorada.

BABA: - Mande-a pra luz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

SCULLY: - Vá para a luz, Ashley! Vá para a luz! Dana está na luz!

BABA: - (PRA VICTORIA) Ela está indo?

VICTORIA: - Nahhh!!!!!!! Indo pra mama!!!!

BABA: - Ela está indo pra você Scully! Diga a ela que não é sua irmã! Ela precisa ir pra luz.

VICTORIA: - Naaahhh!!!!!!!!!! Outo outo!!!!!!!!

BABA: - Que outro?

Mulder se desespera. Solta a porta e se bate contra algo invisível. Baba arregala os olhos.

MULDER: - Deixa eles em paz!!!!

Mulder voa contra a parede.

SCULLY: - Eu não sou sua irmã, Ashley!!!!!!!!!!! Não sou!!!!! Sou sua amiga!!!!! Sua irmã está na luz! Precisa correr pra luz! É a saída de West End!!!!!! Vão embora!!!!! Vão para a luz!!!!!!

O vento aumenta, as pancadas aumentam. A casa treme. Algo empurra Scully contra a parede. O corpo de Scully começa a subir de costas pela parede, prensada contra ela.

SCULLY: - A luz!!!!!!!!!!!! Amiga, vá pra luz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Vá pra Dana!!!!!! Dana está na luz! É a saída de West End!!!!!!

Ashley olha para a luz. Corre. Uma mão se estende pra fora da luz, segurando a mão de Ashley. Ashley entra. Os outros a seguem.

O barulho continua.

BABA: - Ela foi pra luz??

VICTORIA: - Entou!!!!!!!! Entou eles!!!!!

BABA: - Vá embora daqui desgraçado!!!!!

A porta se arrebenta.

Apenas Victoria vê o que está realmente acontecendo. Coin entra pela porta e com as mãos estendidas.

Krycek voa por cima de Baba. Scully tenta sair da parede, mas não consegue, Azazyel a mantém prensada contra a parede com as mãos estendidas numa força invisível.

Skinner tenta puxar Scully, mas não consegue.

Ellen aperta Victoria contra si a protegendo dos objetos que voam. Barbara senta-se ao lado dela, protegendo Victoria com o corpo.

Azazyel estende uma das mãos para a cozinha. Krycek caído ao chão sobre Baba, olha pras facas que voam pelo corredor em direção a Mulder, que arregala os olhos, sem se mover. Krycek levanta-se e puxa Mulder, caindo por cima dele. As facas cravam na parede.

MULDER: - Sai de cima de mim! Não bastou levar tiros? Vai querer beijo na boca?

KRYCEK: - Não. Você não escovou os dentes!

THE GOLD COIN: - Vou acabar com você, seu traidor de acordos!!!

Coin estende as mãos na direção de Azazyel. Ele revida. Victoria observa curiosa. Os dois se empurram por forças invisíveis. Um vento sopra no ambiente. Coisas continuam voando e se quebrando. O chão começa a tremer. Mulder se levanta, correndo pra janela.

MULDER: - As lápides estão entrando na terra! Está se movendo! West End está se movendo!!!!!!!!!

BABA: - Talvez tenha vindo aqui buscar o que lhe pertence!!!!!

Victoria se agarra no pescoço de Ellen e no pescoço de Barbara, olhando curiosa para a briga de Azazyel e Coin.

THE GOLD COIN: - Vou acabar com você, seu traidor de acordos!!!

AZAZYEL: - Não quero ir embora daqui! Eu gosto da companhia deles!

VICTORIA: - (CHORANDO ASSUSTADA) Naaaaahhhhh!!!!!!!!!!!!!!!

BABA: - É o Iço????????

A porta abre-se. O vento vai derrubando tudo e empurrando todos.

VICTORIA: - Naaaaahhhh!!!!!!!!!!!!!!! Na Iço!!!! Outo, outo!!!!

THE GOLD COIN: - Cai fora do meu território! Volte agora pro seu deserto ou vamos começar uma guerra que vocês não têm como ganhar! Saia agora dessa casa!

AZAZYEL: - Nunca!!!

Victoria aponta pra direção de Azazyel. Baba calcula a distância, toma impulso contra o vento e joga-se contra algo invisível o empurrando em direção a porta. Coin termina de empurrar Azazyel com as mãos, que voa porta à fora. Coin sai pela porta, virando-se pra Victoria e levando o dedo aos lábios pedindo silêncio.

A porta fecha-se num estrondo. Scully cai da parede em cima de Skinner. Krycek põe a mão no rosto, catatônico. Barbara olha pra porta. Baba sorri, limpando as mãos.

BABA: - Ao inferno o que é dele. West End levou o que lhe pertencia.

VICTORIA: - Nah!

BABA: - Como assim?

VICTORIA: - Vic nah pode falar.

Ellen começa a chorar. Victoria afaga os cabelos dela.

VICTORIA: - Na chola, tia. Cabou.


11:21 A.M.

Sol. Campos floridos ao redor do chalé.

À frente do chalé os carros. Uma estrada de terra que termina na rodovia.

Passarinhos nas árvores. Uma suave brisa.

Skinner parte com Ellen de carro. Krycek e Barbara saem da casa. Mulder e Scully atrás deles.

KRYCEK: - Da próxima vez... Não me chame. Mulder só me põe em encrenca.

SCULLY: - E ainda quer beijo na boca. Tá vendo como Mulder é folgado?

Os quatro riem. Krycek entra no carro com Barbara. Coloca o cinto.Dá a partida e toma a estrada.

BARBARA: - Tenho uma pergunta.

KRYCEK: - Qual?

BARBARA: - ... Quando Baba disse pra pensarmos em alguém que amamos... Pensou em quem?

KRYCEK: -Em alguém.

Barbara abaixa a cabeça.

BARBARA: - (TRISTE) Pensou na Scully, não foi?

KRYCEK: - Acho melhor voltar pra Washington. Quero tomar um banho e dormir.

BARBARA: - ... É. Melhor. Eu... Eu preciso ir pra minha casa, tenho uma matéria pra fazer sobre poltergeist.

KRYCEK: - ...

BARBARA: - ...

KRYCEK: -(SORRI) Sua boba. Pensei em você.

Barbara vira o rosto pro vidro, esboçando um sorriso.


11:39 A.M.

Scully passa pelo corredor. Percebe a porta do porão aberta. Com cautela se aproxima. Desce as escadas. Mulder perto do incinerador.

SCULLY: - O que está fazendo?

Mulder coloca a tábua ouija no incinerador.

MULDER: - Sou da companhia de telecomunicações. Não pagaram a conta, vão ficar sem comunicação.

Scully sorri. Mulder fecha o incinerador.

MULDER: - O que ia me dizer?

SCULLY: - ???

MULDER: - Quando estávamos lá fora conversando?

SCULLY: - Continua não sendo a hora e o lugar certo.

MULDER: - Sei...

SCULLY: - Sobre aquele assunto... Pode continuar com suas gracinhas. Elas não me aborrecem.

Scully sobe as escadas rapidamente. Mulder olha pro incinerador. Dá tchau pra ele.

Corte.


Baba ajeita as coisas de Victoria na sacola. Victoria sentada tomando mamadeira. Scully sentada ao lado dela.

SCULLY: - Docinho, não queria gritar com você. Sei que se assustou, mas mamãe ficou furiosa. Não faz mais isso. Promete que primeiro fala o que vai fazer pra depois fazer? Hum?

VICTORIA: - (AFIRMA COM A CABEÇA) Nah guita mais, mama. Susta neném!

Scully e Baba riem. Victoria olha pra elas e ri também, mostrando os dentinhos.

SCULLY: - Baba, admirei sua coragem.

BABA: - Admirei a sua também.

SCULLY: - Como sabia que aquela coisa estava aqui esperando ser resgata por West End?

BABA: - Não sabia... Engraçado... Parece que alguém me soprou isso no ouvido.

SCULLY: - Ashley?

BABA: - Acho que não. Talvez Dana, a irmã dela.


12:16 P.M.

Mulder entra pela porta da frente.

MULDER: - Já coloquei babá e bebê no carro. Vamos? Te deixo em casa.

Scully observa a porta do armário. Mulder aproxima-se.

MULDER: - O que foi?

Scully aponta para o escrito na porta em hidrocor vermelha: Friends forever. Mulder sorri. Scully sorri aliviada. Guarda seu diário e o de Ashley em sua bolsa.

SCULLY: - ... É de uma velha amiga. Que se foi. Pra um lugar melhor que este.

Mulder sorri. Scully lhe retribui o sorriso. Os dois saem da casa, Mulder com o braço sobre ela. Fecham a porta.

Close na vitrola.


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07/02/2003

8 декабря 2019 г. 18:04 0 Отчет Добавить Подписаться
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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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