Короткий рассказ
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Engrenagens Melancólicas

Soojung sentia o puxar da lua todos os dias.

Era exaustivo.

Por vezes ela apenas desejou que o satélite natural simplesmente desaparecesse do céu, mesmo que para isso a noite se tornasse um completo breu. Ela não se importaria. De qualquer forma, nas profundezes do mar onde ela vivia não havia luz. Ela apenas desejava que a corrente marítima se acalmasse, que a lua desse uma trégua, mesmo que ainda estivesse envolta a ela e a escuridão que era um oceano inexplorado; cheio de mistérios.

Com muito pesar ela se levantou da cama, não queria sair do calor que eram os braços de Jongin. Beirava a tortura ter que empurrá-lo para o lado, para longe. Ela bocejou e passou as mãos pelas mechas negras de seu cabelo, que não há muito tempo foram cortadas e agora terminavam no fim de seu queixo. Nunca se esqueceria da expressão perplexa de Jongin quando a encontrou no banheiro, a tesoura na mão e metade do cabelo no piso frio. Sorriu da melhor maneira possível, Ficou bonito? porém ele apenas a abraçou e sussurrou para ela que tudo ficaria bem, que ele estava lá.

Levantou completamente nua, os olhos a procura de seu sutiã. Jongin tinha a péssima mania de arremessar as roupas dela pelo quarto quando transavam. Você deveria andar nua, Soojung, sua beleza é demais para ser coberta.

Desistindo de encontrar a peça, abriu a gaveta e pegou uma lingerie nova. A cor da calcinha não combinava com o sutiã, mas não era como se ela se importasse. Passou a se vestir e apenas naquele momento sentiu um par de olhos a vigiando.

“Para de olhar pra minha bunda.” Ela franziu o cenho, um riso preso na garganta. Terminou de vestir o sutiã e tratou de procurar pela calça.

“Não posso mais olhar?” a voz rouca, recém acordada, soou forte pelo pequeno cômodo. Jongin se espreguiçou na cama e bocejou.

“Não, tá proibido.”

Ele apenas riu soprado e continuo a observá-la se movendo pelo quarto, com a luz da manhã se projetava no corpo esguio, despertado a alma dela. Entretanto, era superficial. Talvez os olhos dela pudessem ver os filetes de luz que brincavam entre seus dedos, mas ele sabia que nem a luz de mil sóis penetraria Soojung naquele momento, no âmbito onde ela se escondia.

Mas ele conseguia.

Jongin sabia.

Ela vestiu o jeans de lavagem clara e as meias claras de pares diferentes. E Jongin notou que era o quarto dia seguido onde ela usava aquela mesma calça. Em seguida, Soojung se enfiou no banheiro minúsculo para escovar os dentes e tentar despertar com a água fria jogada no rosto. Penteou o cabelo e tentou se lembrar quando foi a última vez que fizera tal ação. Voltou para o quarto e parou. Lembrou-se que a blusa branca que usara durante quase toda a semana estava suja de glacê de chocolate. Por segundos não soube o que fazer.

“Sabe uma coisa que te deixa mais bonita?” Jongin disse, ainda enrolado nos cobertores, o rosto amassado contra o travesseiro, “Quando você usa alguma roupa minha.”

E algo dentro dela pipocou.

Foi até o guarda-roupas que compartilhava com o namorado e tirou de lá um dos moletons dele. O vestiu, satisfeita.

Jongin sempre sabia o que dizer quando ela precisava. Ele enxergava tudo o que ponderava em torna dela, lia todas as entrelinhas e as apagava, mostrava o óbvio que Soojung não podia ver. Certas vezes ele precisava berrar, estourar a garganta até que algum resquício de sua voz chegasse aos ouvidos dela. Cedo ou tarde ela ouvia, voltava a realidade.

“Você pode levar minhas roupas na lavanderia hoje?” ela começou, “Talvez eu fique até mais tarde na confeitaria e não dê tempo.”

“Eu fiz isso ontem, meu bem. Eu sou muito eficiente, sabia?” Sorriu divertido, enquanto Soojung colocava suas coisas dentro da mochila e lhe expressava um sorriso torto, achando graça no quão convencido o namorado era.

Mas Jongin, de fato, era muito eficiente. Notou uma peça de cada vez ser jogada em um canto do quarto em dias diferentes, até que um bolo de roupa se formou e Soojung precisou usar a mesma camiseta branca todos os dias porque não havia mais roupa limpa que pudesse usar. Tratou de juntar e dobrar as peças delicadamente, absorvendo o cheiro dela no ato, enquanto pensava que tudo estava se repetindo outra vez e que ele precisava fazer algo. Levou a roupa suja não a lavanderia, mas sim para a mãe solteira que morava ao lado e fazia uns bicos lavando roupas. Porque ele sabia que a lavagem seria mais rápida e que Soojung não surtaria ao abrir o guarda-roupas e notar que mais uma vez negligenciou a si própria ao ponto de esquecer de lavar a própria roupa.

“Eu trago bolo pra você por ser tão bonzinho comigo.” ela disse e sorriu para a bagunça que era o namorado na cama, preguiçoso.

Ajeitou a mochila nas costas e se pôs a andar para fora do quarto.

“E meu beijinho de despedida?” pediu manhoso.

Ela riu soprado e andou até a cama, sendo rapidamente envolvida pelos braços de Jongin, que beijou não somente sua boca, mas também as pálpebras fechadas, o queixo, as maçãs do rosto saltadas pelo sorriso e seu coração.

“Bom trabalho.” ele sussurrou ao pé do ouvido dela e a beijou no rosto pela última vez.

Jongin não disse uma palavra de despedia, não havia necessidade. Aquele era o jeito dele de dizer que estaria esperando por ela em casa, que ela deveria voltar como fazia todos os dias.

E Soojung entendeu.

{...}

Havia dias em que Soojung estava bem e outros não tão bem.

Mas ela se esforçava.

Ela entendeu desde muitos antes de perceber o que se passava consigo que precisava dar o seu melhor, ser a Soojung que todos queriam que ela fosse. Então ela se levantava cedo e ia para o trabalho, mesmo que por dentro ela quisesse gritar quando entrava em um transporte público lotado. Depois de um tempo ela passou a jogar o estresse para o lado e fazer o que precisava fazer, sem pensar. Assim todo o trajeto lhe parecia um borrão e ela apenas voltava a si quando via a fachada da confeitaria a qual trabalhava como atendente.

Ela abria seu melhor sorriso todas as vezes que algum cliente entrava. Era prestativa e ajudava no que pudesse na escolha dos sabores, mesmo que ela não sentisse o gosto de nada há muito tempo. Sempre ria com os colegas de trabalho, mesmo que por diversas vezes mal prestasse atenção do que diziam.

Soojung podia entender o que suas ações causavam nas pessoas, mas não podia sentir de fato o que era. Sabia que sorrir para uma criança tímida que olhava a vitrine de bolos com os pais encheria o coraçãozinho dela de alegria, e então dos pais também. Mas o que era de fato a alegria? O que aquela criança ingênua sentia em seu âmago quando lhe dizia que tinha olhos lindos e negros como duas amoras? Ela não sabia responder, havia se esquecido. Como quem abre a geladeira e se esquece do que precisava tirar de lá.

Em dias como aquele ela se trancava no banheiro e tentava respirar, colocar os pensamentos no lugar. Havia algo dentro dela que a incomodava e ela não sabia bem o que era. Entendia muitas coisas sobre si mesma, outras já nem tanto. E aquele sentimento de letargia por diversas vezes a assustou, mas ela não sabia explicar o porquê. Era fundo, tão fundo que ela não alcançava mesmo que esticasse bastante o braço. Demorou, mas entendeu que nunca alcançaria; Porque era o infinito, impreenchível.

E naquele dia doía muito forte. Doía de um jeito que ela não aguentava. Forçar as engrenagens mortas dentro de si a produziram qualquer sentimento que fosse a estava esmagando. Ela não queria correr para o banheiro e chorar ou largar o trabalho e se esconder debaixo dos cobertores, ela queria apenas deixar tudo fluir normalmente; não se forçar a sentir.

Mas ela não podia.

Ninguém queria a imagem do vazio cortando um pedaço de bolo decorado, era grotesco. Preferiu que naquele dia a tristeza tivesse tomando conta de si, porque ao menos demonstraria algo mesmo que não fosse o melhor sentimento possível. E talvez alguma senhora simpática percebesse e perguntasse se estava tudo bem. Mas ninguém sabia lidar com a falta de emoção, o vazio, a lacuna sem vida. Era assustador demais, aterrorizante. Era como flutuar no espaço envolto ao vácuo, sozinha enquanto observava as estrelas se afastarem.

As pessoas precisavam de alguém que se importasse com elas, que tornasse a venda de um pedaço de bolo algo especial. E quando nem o menor dos gestos fazia sentido na cabeça de Soojung, ela tentava se lembrar de que precisava estar ali para alguém tão vazio quanto ela se sentir menos pior ao receber um sorriso amplo.

Ela precisava preencher, mas não era preenchida. Ela precisava estar presente para quem necessitasse dela, quando na verdade ela não necessitava de ninguém. Ela precisava a cada segundo de sua vida fabricar um sentimento a ser distribuído quando nem ao menos ela sentia o que expressava. E isso a matava aos poucos, a sufocava.

Controlou a respiração e prendeu o cabelo atrás da orelha, antes de cortar um pedaço de bolo de chocolate com cereja. O escondeu no fundo da geladeira criando uma nota mental de não esquecer de Jongin naquele dia.

{...}

A lua naquele dia era cheia e a corrente estava forte, levando Soojung para todos os lados naquele oceano. Implorou para quem pudesse ouvi-la em pensamento que precisava dormir. E quando nem ao menos os remédios fizeram efeito, ela se levantou e se trancou no banheiro.

A madrugada era o pior dos momentos.

Suspirou aliviada ao se lembrar que naquele dia não precisaria trabalhar, mas ainda assim não conteve o choro e logo o abafou com a mão. Naquelas horas era difícil se conter, quando ela se lembrava que estava sozinha no mundo e não havia nada que pudesse ser feito. Soojung sabia que havia um homem dormindo em sua cama que a amava com todo o seu coração, mas ela não podia sentir. Não sentir o amor de Jongin era pior do que qualquer coisa no mundo. Ela procurava quase que desesperadamente enxergar através dos olhos dele todo aquele amor o qual ele sempre declarava, mas ela não podia ver. Já há muito tempo se esqueceu da imagem que representava o amor a ponto de não o reconhecer mais. Nem aos menos nos toques ela podia sentir.

Entretanto, Jongin estava lá, Soojung podia sentir. Era a única coisa que ainda conseguia segurar entre seus dedos. Era turvo, mas a imagem do namorado sempre permeava seus sentidos, gritando no ouvido dela, dando chacoalhões para que ela acordasse. Soojung se apegava àquela sensação com todas as forças de lhe restava, porque era tudo o que tinha.

Jongin era a única coisa a qual ela ainda podia sentir, mesmo que não entendesse tal sentimento. Ela se permitia ser vista por ele, deixava ele entrar. Porque assim Soojung poderia repousar a cabeça no ombro dele e apenas descansar as engrenagens melancólicas que a compunham.

E mesmo que de manhã tomasse o café aguado de Jongin e dissesse o quanto estava bom, ela sabia que ele a enxergava como ela realmente era e que não se assustaria caso algum dia ela acordasse e dissesse que não estava com fome mesmo não tendo comido há dias.

Jongin via o vazio de Soojung e ao mesmo tempo o infinito que ela carregava nas costas. Soojung era tudo e nada ao mesmo tempo, e Jongin precisava ser tudo para preenchê-la e ao mesmo tempo o vazio para comportar todo aquele oceano caótico o qual ela vivia.

E quando ouviu a porta do banheiro ser destrancada e Soojung deitar o seu lado, ele preferiu o silêncio.

Respirou o cheiro do shampoo no cabelo dela e a envolveu em seus braços, sentindo a respiração dela bater leve contra seu pescoço. O abraço era seu aviso mudo de que ela não deveria sair daquele aconchego, que ela não tinha permissão para deixá-lo.

Ela estava calma e Jongin preferia o contrário. Uma maré calma é um aviso de que em breve haverá um maremoto. Forte, rápido e destrutivo.

E quando Soojung enfim pegou no sono naquela noite, Jongin permaneceu acordado embalando em um caixa de sapato os objetos cortantes que encontrou pela casa e os escondendo em cima do armário.

{...}

Havia dias em que Soojung não estava bem, mas ela se esforçava.

Naquele dia ela comeu na cama com Jongin o que restou da fatia de bolo que trouxera, enquanto ria de alguma bobagem que ele falava. Ela não queria sair da cama naquele dia, de seu casulo. Não porque o mundo lá fora parecia grande demais e assustador, mas sim porque ela queria emergir o máximo que podia e sentir um pouquinho dos filetes de sol que Jongin emanava.

Porque não havia nada pior do que sentir o nada quando se é amada. Mas Soojung queria sentir, queria descobrir o que aquelas palavras carregadas de tanta paixão significavam, porque Jongin transbordava toda vez que a tocava e porque seus olhos negros a envolviam em um plano fora daquela terra.

E naquele dia ela se permitiu descansar no ombro dele e ouvir as batidas de seu coração. Jongin estava vivo, então Soojung se deixou viver também.

17 ноября 2019 г. 6:36 0 Отчет Добавить Подписаться
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