Padre Подписаться

O hábito que cobria-lhe o rosto trazia e levava as partículas do meu medo. A criança em meu ventre agitara-se e um calafrio percorreu minha espinha.

O padre tomara a dianteira iluminando o caminho estreito com um candeeiro. A Lua tinha sumido, como se estivesse com medo da própria luz.

Gritos serpenteavam à nossa volta, seguidos por risos macabros. O padre parou diante de um mulher de cera com a cabeça pendida para o lado. O sangue espalhava-se pelo chão como finos e longos filamentos gordurosos, secos, como se já estivesse lá há muito tempo.

— Padre, ela já está morta.

Minha aia falou olhando fixamente para mim, num tom de perigo. Dei um passo para trás, sentindo a vertigem, a criança agitada provocara uma pontada de ferro em meu útero.

— Oh! Deus tenha piedade de sua alma! Vamos, irmãs, cantemos louvores ao Senhor.

O padre puxava violentamente minha aia pelo braço. Ela desvencilhou-se num rompante ficando na minha frente numa postura protetora.

— Desculpe, padre. Minha ama está grávida e temo que resfrie-se permanecendo ao relento.

— Uma criança! Que esplêndido, minha jovem.

Ele ameaçou um passo para frente erguendo a mão toda ensanguentada em direção à minha barriga.

— Deus esteja convosco, padre — minha aia disse e empurrou-me para trás num gesto que incitava a correr.

O padre ainda murmurou algumas palavras que não consegui entender. Depois virou-se para o corpo e começou a cantar, sua voz soava como uma mortalha em meu peito.

Minha aia saiu correndo e puxando-me pelo braço. A esta hora eu já tinha perdido a noção da realidade, pois a violência que vira abalara-me profundamente. Será que meu filho sofreria por meu erro?