lara-one Lara One

Lembram-se do sobrinho de Scully? O que ele poderá estar aprontando dessa vez? Na companhia de duas garotinhas tão danadas quanto ele? Adivinhem se não vai sobrar pro ‘tio Mulder’ resolver o problema... Mais uma reunião da família Scully...


Фанфикшн Сериалы/Дорамы/Мыльные оперы Всех возростов.

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S05#11 - CORRA QUE O FBI VEM AÍ

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Fade in]

[Som do tema da Warner Cartoons]

[A tela se abre como uma cortina de um palco]

Disney – Anahein – Califórnia - 2:49 P.M.

Um dia ensolarado. Pais e avós caminhando pelo parque com as crianças que querem parar pra conversar com os personagens da Disney, enquanto se melecam de sorvete e algodão doce.

Corta para o loiro Piloto de Caça de Star Wars, num uniforme laranja bem chamativo, com o rosto exposto, sorrindo para as crianças que passam e apontam pra ele. O Piloto possui uma cicatriz visível no rosto, bem perto do olho direito.

Ele distribui pacotes de jelly beans em forma de Mickey, enquanto observa todos os lados. Sorri para as crianças, mas sua atenção parece estar voltada pra algo ou alguém que procura na multidão.

Seu sorriso vai diminuindo aos poucos. Ele percebe o Homem de Preto, parecido com Will Smith, que está ao lado do carro de pipocas, olhando pra ele.

O Piloto volta a atenção para a menina que lhe pede balas. Sorri pra ela e entrega um pacote.

Olha novamente para o homem. Este acena a cabeça negativamente, enquanto afasta o paletó mostrando-lhe uma arma automática na cintura.

O Piloto olha pro outro lado. Percebe a movimentação de homens suspeitos, aproximando-se dele por entre a multidão.

WILL: - Ei!

O Piloto sai de sua concentração, olhando pro menino ruivo à sua frente, Will, que lhe puxa pelo uniforme. Junto com ele, duas amiguinhas gêmeas: Samanta e Bruna. Bruna segura um sorvete enorme na mão. As meninas, usando bolsinhas azuis feitas de tricô, olham indignadas pro piloto. Bruna com as mãos na cintura.

BRUNA: - (IRRITADA) Não vai nos dar balas?

WILL: - (ENCARANDO-O) Isso é uma cicatriz feita em combate espacial?

SAMANTA: - (MEIGA) Eu quero balinha!

O Piloto olha pro Homem de Preto. Olha pras crianças que o fitam, impacientes. Então retira do bolso um pacote de balas e entrega pra Will.

PILOTO: - Guardem isto. Dividam entre vocês.

O Piloto sai às pressas, correndo entre a multidão, deixando pacotes de balas caírem no chão. O Homem de Preto parte atrás deles, quase derrubando Bruna, que deixa o sorvete cair em cima do tênis. Samanta fica furiosa e gesticula. Will fica observando e percebe que outros homens saem correndo também atrás do Piloto.

SAMANTA: - Você está bem?

BRUNA: - Estou.

SAMANTA: - O que deu nele?

BRUNA: - Só pode ter ficado chateado com a pergunta do Will. Menino, você não sabe que é feio perguntar essas coisas pras pessoas? Sua mãe nunca lhe disse que não se pode encarar as pessoas desse jeito?

SAMANTA: - Vou contar pra mamãe. Ele vai ver só.

Corta pro Piloto. Ele continua correndo, até chegar no estacionamento. Procura o carro com os olhos.

PILOTO: - (DESESPERADO) Droga!

Ele vê o conversível vermelho estacionado ao longe. Corre até ele. Pula pra dentro do carro e procura as chaves, nervosamente.

PILOTO: - Onde as coloquei? Onde as coloquei?

Ele encontra as chaves no porta luvas. Liga o carro.

[Fade in.]

Som de explosão.

[Fade out.]

O Homem de Preto e os outros param de correr.

Corta para o carro em chamas. Não restou muito para ser identificado.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA. COMENDO JUJUBAS


BLOCO 1:

Prédio de Mulder – 5:11 A.M.

Na garagem, Mulder termina de colocar a mala no bagageiro do carro. Scully aproxima-se trazendo várias sacolas.

SCULLY: - Acho que é só isso. Pronto.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tem certeza? Não quer levar o cachorro, o peixe, a cama, alguns móveis, coisinhas básicas pra passar um final de semana...

SCULLY: - Debochado. Coloque esta sacola no banco. É o presente do Bill. Vou buscar o Cookie. E tome cuidado com essa sacola, Mulder. Não quebre o presente dele.

Scully sai. Mulder fecha o bagageiro do carro. Suspira. Atira a sacola dentro do carro, que faz um barulho de algo se quebrando. Mulder faz uma careta, mordendo os lábios.

MULDER: - (PÂNICO) Shiiiiii...

Ele ajeita a sacola no banco, observando pelo vidro do carro se Scully não está vindo.

MULDER: - Não vi nada, não fui eu, quebrou no meio do caminho, culpa dos quebra-molas da estrada...

Mulder recosta-se no carro e cruza os braços. Olha pro relógio. Passa as mãos no rosto. Mulder começa a cantarolar debochadamente a música da Família Addams, enquanto estala os dedos.

MULDER: - They're creepy and they're kooky... Mysterious and spooky... They're all together ooky... The Scully's Family. Their house is a museum... Where people come to see 'em... They really are a scream... The Scully's Family... tan tan tan tan... tan tan tan tan... tantantan, tantantan, tantantan...

Scully aproxima-se trazendo Cookie pela guia.

SCULLY: - O que está fazendo?

MULDER: - (CÍNICO) Nada.

SCULLY: - Pensei que estivesse cantando.

MULDER: - Ah não, estava estalando os dedos, dançando twist.

Scully abre a porta de trás do carro. O cachorro entra. Scully senta-se no carona, coloca o cinto. Olha pra Mulder, que ainda está parado.

SCULLY: - O que está fazendo aí?

MULDER: - Pensando.

SCULLY: - No quê?

MULDER: - Tem certeza de que não esqueceu nada? Eu não vou voltar.

SCULLY: - Não esqueci.

MULDER: - Por via das dúvidas, vou dar mais cinco minutos para o seu cérebro fazer uma releitura da lista de utensílios básicos para viagens à casa de seu irmão Popeye, o marinheiro, num final de semana incrível como esse. Se ele começar a bancar o militar comigo eu vou fazer xixi no tapete da sala e culpar o cachorro.

Ela fica emburrada. Mulder continua parado. Ela solta o cinto e sai do carro.

SCULLY: - Esqueci!!!!!!!! Esqueci o necessaire.

Ela sai apressada. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Mulheres...


Residência de Bill Scully – San Diego – Califórnia – 8:02 A.M.

Bill desce as escadas, vestido de pijamas. O pijama tem os mesmos tons de um uniforme camuflado de fuzileiro. Bill coça a cabeça, cabelos revirados, sono estampado no rosto. Não percebe o carrinho de brinquedo na escada.

Corta para a cozinha. Meg faz o café.

Som de um grito e algo se estatelando no chão.

Meg não liga. Bill entra na cozinha, esfregando o traseiro.

BILL: - Filhos... Vou colocar meu traseiro no seguro... Terceiro tombo numa semana...

MARGARET: - Bom dia!

BILL: - Está preparando o café?

MARGARET: - Sim. Tara já acordou?

BILL: - Não...

Bill vai pra sala. Abre a porta de entrada. Sai para o jardim. Aspira o ar da manhã.

BILL: - (SORRI) Que dia maravilhoso! Ótimo para um treinamento em campo... Soldados correndo como doidos, pulando obstáculos e eu gritando e torturando o ouvido do gordinho que não consegue pular um saco de areia.

O jornaleiro, um moleque de uns 13 anos, atira o jornal que acerta na cara de Bill. Bill esfrega o nariz gesticulando raiva. Agacha-se e pega o jornal. Volta pra dentro de casa. Meg serve a mesa na cozinha. Bill entra, senta-se e coloca o jornal sobre a mesa.

BILL: - Dana vem?

MARGARET: - Vem. Já devem estar chegando no aeroporto.

BILL: - (MAL HUMORADO) Ótimo.

Ele abre o jornal.

BILL: - Sinal de que o Lunático vem junto. Nunca pensei que chegasse a ponto de não sentir vontade de ver minha irmã. Porque vê-la implica em ter que olhar pra aquela cara debochada e asquerosa de maluco foragido do sanatório.

MARGARET: - Bill, precisa se acostumar com ele. Agora são cunhados.

BILL: - A experiência me diz que ela nunca acha o 'cunhado' certo. E cunhados não servem pra nada, a não ser pra fazer churrasco, beber suas cervejas, ficar de cuecas velhas sentado no seu sofá e contar piadas sem graça. Mas que venha. (E ESFREGA AS MÃOS, MAQUIAVÉLICO) Hehehehehehe.

MARGARET: - Bill...

BILL: - Estou com um repertório cheinho de piadas do tamanho do nariz dele. E vou tira-lo às 5 da manhã da cama para fazer treinamento de soldado... Claro, 500 abdominais com a cara na lama e ele volta pra casa rapidinho...

Meg suspira. Serve café pra ele.

BILL: - E Charles?

MARGARET: - Está lá fora.

Bill levanta-se. Olha pela janela da cozinha.

Corta pra Charles, apenas de cuecas boxer, sentado no jardim, uma flor na orelha, meditando em posição budista, cantando o mantra Hare Krishna. Bill balança a cabeça. Volta a sentar-se.

BILL: - ... Mãe, todas as famílias tem um maluco assim ou é só a nossa? Ele vai assustar meus vizinhos desse jeito!

Will entra na cozinha, esfregando o olho esquerdo ainda com sono. Bill olha pra ele.

BILL: - E aí garotão? Tão cedo?

Will senta-se à mesa, na frente de Bill. Meg serve um achocolatado pra ele.

BILL: - Brincou tanto na Disney ontem que perdeu a vontade de falar. Gostou do passeio? Confessa, tio Bill sabe como divertir a garotada.

Ele afirma com a cabeça, enquanto bebe o achocolatado.

BILL: - E suas novas amiguinhas? Gostou delas?

WILL: - Elas são legais.

MARGARET: - Quem são as meninas?

BILL: - São filhas da minha vizinha. Uma família muito simpática. Ele é tenente, está de serviço no mesmo comando que estou. São gêmeas, mãe. Precisa ver que gracinhas.

MARGARET: - Quando vai me dar uma neta, Bill? Eu quero uma menina nessa família. Lacinhos, roupinhas cor de rosa, vestidinhos, bonequinhas... Estou cansada de ver tanta cueca no varal! Uma menina nessa família e eu morreria feliz!

BILL: - Estamos planejando uma.

Bill olha pra Will.

BILL: - Tenho pena desse garoto. O maluco do Charles não sabe cuidar do filho.

MARGARET: - Bill, não comece...

BILL: - Mas olha só pra esse menino! Parece mal alimentado, mal cuidado... Will, que tal trocar de vida por uns tempos?

WILL: - Como assim?

BILL: - E se você morasse com o tio? Ahn?

WILL: - (SORRI/ EMPOLGADO) O tio Mulder??? Uau!!!!!!!! Ia ser demais!!!!!!!!!

Meg segura o riso. Bill cerra as sobrancelhas, irritado.

BILL: - Não culpo a falta de bom gosto do menino.

Will olha pra Bill com raiva. Sem querer derruba o copo virando o líquido por cima da mesa. Bill olha pra ele.

BILL: - Não tem educação em casa, parece mais o Mogli, o menino lobo.

Bill abre o jornal e o mete na frente do rosto, indignado. Will olha pro jornal. Close da foto do Piloto de Caça de Star Wars, vestido num terno, abaixo da manchete: 'CIENTISTA MORRE EM ATENTADO A BOMBA'.

Will arregala os olhos.

WILL: - Tio!

BILL: - ...

WILL: - Tio!

Bill olha pra ele.

BILL: - (ENCIUMADO) Não sou seu tio. Seu tio é o Mulder, não é?

WILL: - Eu conheço esse homem, ele estava dando balinhas pra gente na Disney!!!!

BILL: - Crianças, que imaginação fértil!

WILL: - Eu sei que é ele, tem a cicatriz da batalha espacial. Foi o Darth Vader quem fez isso com o sabre de luz.

BILL: - Tome seu café e vá brincar com suas amiguinhas.

WILL: - Mas...

Will olha pra Meg.

WILL: - Vó, eu vi ele. Eu conheço esse cara...

MARGARET: - Eu sei, agora coma sua torrada que está esfriando.

Will levanta-se e sai pela porta dos fundos, emburrado. Pega a bicicleta e sai pra rua.

WILL: - Ninguém acredita nas crianças. Ser criança é muito triste. Escola todo o dia, legumes, vitaminas, sobremesa controlada. O dia em que eu for presidente do país eu vou mudar a constituição. Primeiro artigo: todo a criança tem direito a comer sobremesa primeiro e se sobrar espaço na barriga, o almoço. Escola só um dia na semana. Vídeo game o dia todo e televisão até a madrugada. Brincar na rua também, ter cobra e jacaré como bicho de estimação e deixa-los dormir na cama com a gente. Não limpar o quarto, deixar meias sujas no chão, os brinquedos espalhados pela casa e poder atirar pedaços de biscoitos nas visitas chatas.

Ele senta-se na calçada. Apoia os cotovelos nas pernas e a cabeça nas mãos, emburrado.

WILL: - Proibir qualquer gesto irritante como beijinhos de tias e apertos de bochecha de avós, seguidos por um 'nossa, como ele cresceu!'. Isso vai dar cadeia pro adulto infrator. Nada de nabos, chuchu ou qualquer coisa que não tem gosto. Pés descalços, banho de chuva... Banho comum uma vez por mês e sem esfregar as orelhas. Dormir tarde e acordar tarde. Deixar os tênis sujos até que a cor branca desapareça. Na hora dos desenhos, nenhum adulto pode se atrever a trocar de canal pra ver aquelas drogas de novelas e noticiários... Tomara que o tio Mulder chegue logo, essa casa tá um saco!

Samanta e Bruna aproximam-se dele. Sentam-se ao seu lado. Bruna olha pra ele indignada.

BRUNA: - Não foi uma repartição justa.

WILL: - O quê?

BRUNA: - As balas.

Bruna abre a mão. Entre as balas que segura, há um chip de metal.

BRUNA: - Veio essa coisa aqui no pacote de balas e eu não quero isso. Não dá pra brincar.

Will pega o chip.

WILL: - Isso é um chip.

BRUNA: - E pra que serve?

WILL: - Pra um monte de coisas.

SAMANTA: - Mas é um brinquedo sem graça!

WILL: - Não é um brinquedo. Isso aqui serve pra brinquedos funcionarem, pra computadores... Pra um monte de coisa.

BRUNA: - Será que 'tem jogo' nele?

WILL: - Vocês viram o jornal? O Piloto saiu na capa. Ele morreu.

Samanta começa a chorar. Põe as mãozinhas no rosto.

SAMANTA: - Tadinho! Ele morreu tentando salvar a Terra.

WILL: - Sua boba, ele não era um piloto de verdade. Ele era um homem vestido de piloto. Na verdade, era um cientista.

SAMANTA: - (SECA AS LÁGRIMAS) Mas ele morreu.

Will continua olhando o chip.

WILL: - Precisamos investigar isso. Ele deu isso pra gente. Se lembram que tinha uns caras feios atrás dele?

BRUNA: - Sim! Será que ele era um espião?

WILL: - Acho que alguém queria roubar isso dele. Por isso deu pra nós. Deve ser alguma coisa muito importante.

Will levanta-se. Coloca o chip no bolso.

WILL: - Precisamos nos unir. Montar um quartel general e abrir uma investigação. Tio Mulder disse que eu era um bom agente do FBI. Vocês vão ser as minhas parceiras.

SAMANTA: - Vamos ter que pedir permissão pra mamãe. Ou ela vai ficar uma fera.

WILL: - Não podemos falar nada pra eles. Adultos não se importam com a gente. Meu tio pensa que sou retardado e minha avó se preocupa só com a minha alimentação. Minha mãe não tá nem aí pra mim, porque arranjou um namorado rico em Las Vegas e meu pai pensa que é a reencarnação do Buda.

BRUNA: - É verdade. Só porque eu quis bolo de chocolate no café foi a maior confusão. O resultado disso é que fiquei seu meu Harry Potter hoje...

SAMANTA: - Acredita que nossa mãe compra os livros pra gente, mas quando a gente vai ler, ela já tá lendo e a gente tem que esperar!

WILL: - Peguem suas bicicletas, garotas. Vamos dar uma volta e achar um lugar pra construir nosso quartel general. Adulto não entra.

SAMANTA: - Temos uma casa na árvore. Serve?

WILL: - Está ótimo. Vamos montar nosso Q.G.

BRUNA: - Que nome vamos dar pro nosso clube?

WILL: - Os Três cavaleiros do Apocalipse?

SAMANTA: - O que é Apocalipse?

BRUNA: - É o fim do mundo, sua boba.

SAMANTA: - Mas a gente vai acabar com o mundo?

WILL: - Claro que não.

BRUNA: - Negativo. Eu sou menina, não sou cavalheiro. Então vamos colocar o nome do clube de 'As Meninas Superpoderosas!'

SAMANTA: - Oba, eu sou a Lindinha!

BRUNA: - E eu a Docinho!

WILL: - Mas eu não gosto. Não sou menina!

As duas se levantam.

BRUNA: - Quem vota a favor?

Bruna e Samanta se entreolham, erguendo as mãos. Will suspira.

BRUNA: - A maioria vence.

WILL: - Não vale!

BRUNA: - Vale sim. A casa da árvore é nossa, somos em maior número e portanto vamos fazer como a gente quer. Eu serei a líder. Você nunca ouviu que as mulheres são em maior número no mundo?

SAMANTA: - Sim, nós temos direitos, seu machista!

WILL: - Traidoras!

As duas se olham rindo, tocando as mãos num cumprimento. Bruna olha pra Will.

BRUNA: - Bem vindo ao clube, 'Florzinha'.


9:39 A.M.

Mulder estaciona o carro. Olha pra Scully.

MULDER: - Não estou nos meus melhores dias. Não me responsabilizo por nenhum ato extremo de violência contra seu irmão Bill, como atirar torta na cara, contar piada de papagaio e expelir gases no sofá.

Scully olha pra Mulder. Abre a porta do carro e se dirige para a casa.

Mulder desce e começa a tirar as malas. Cookie sai do carro. Senta-se e fica observando Mulder. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Ainda bem que você veio. Me sinto mais em casa. Não fique longe de mim e de preferência, faça suas necessidades no tapete da sala. Uive a noite toda na porta do quarto do Bill. Ouviu? Bill. B-I-L-L. Guarde este nome. Roube as meias dele, mastigue o controle remoto e enterre as medalhas que ele ganhou da Marinha no fundo do quintal. E não se acanhe se precisar dar uma mordida nele. Fique à vontade. De preferência em algum local que doa muito e que o deixe na cama por um fim de semana sem se mover.

Mulder fecha o bagageiro do carro. Pega a mala, os pacotes e a guia do cachorro.

MULDER: - (RESMUNGA) Vem Cookie... Só servimos pra carregar malas. E a pior mala tá lá dentro, conhecido popularmente como 'o cunhado chato'. Vou colocar uma nota no jornal: Atenção! Levar uma garota bonita ao altar não significa que terá de levar o cunhado chato de brinde. Recuse. Busque seus direitos. Telefone para o Programa de Defesa ao Marido Consumidor e processe sua sogra.

Bill sai da casa. Abraça Scully num sorriso. Scully vai até Meg. Bill olha pra Mulder.

[Tema do seriado Bonanza]

Os dois trocam olhares. Mulder solta a mala no chão. Instintivamente ao mesmo tempo, eles aproximam a mão da cintura, como se fossem dois pistoleiros do velho oeste. Bill cerra os olhos. Mulder faz o mesmo. Bill range os dentes. Mulder dá um sorriso cínico.

BILL: - (DEBOCHADO) Oi, Marvin, o marciano.

MULDER: - (DEBOCHADO) Oi, marinheiro Popeye.


11:33 A.M.

Scully, Meg e Tara preparam o almoço na cozinha. Conversam, riem, contam coisas.

Corta para o jardim.

Bill fazendo churrasco. Usa um avental de cozinheiro, com o desenho do Máximo, onde está escrito: 'Eu sou o Máximo'.

Charles, com uma caneca de chá, ao lado dele.

CHARLES: - Eu não sei como vocês têm coragem de comer isso. Isso era um animal, respirava, andava por aí, tinha vida, sentimentos... Sabia que as vacas são animais sagrados na índia...

BILL: - Cale a boca, ou eu vou amarrar você e lhe empurrar 10 hambúrgueres pela garganta.

CHARLES: - Isso é violação dos direitos dos animais! Eu prefiro saladas. Você não pode imaginar o que o pobre do bichinho passa pra morrer... Quanto mais sangue um animal possui, mais ele acumula o estresse da morte. Por isso que dizem que peixes são menos prejudiciais a saúde e...

BILL: - Vou esfregar sua cara hare krishna na churrasqueira se não calar sua boca.

Corta pra Mulder. Sentado no balanço, observando os dois. Charles pega o vidro de pimenta.

BILL: - Sem pimenta pra mim.

CHARLES: - Pimenta é bom.

BILL: - Não posso comer pimenta. Pimenta me dá diarreia.

Bill vai pra dentro da casa. Mulder o acompanha com os olhos, num sorriso diabólico. Sai do balanço. Aproxima-se da churrasqueira. Charles olha para os hambúrgueres.

CHARLES: - (DESCONSOLADO) Pobre das vaquinhas... Quando o ser humano vai entender que não é carnívoro? Que matança desnecessária! Fazem as pobrezinhas procriarem direto para extrair leite... Leite! O único alimento dos filhinhos delas... E depois ainda as matam... Quando não matam os filhinhos em seu útero pra comer carne de vitela...

Mulder pega o vidro de pimenta e coloca pimenta no hambúrguer de Bill. Charles olha pra ele.

MULDER: - Negue tudo.

Charles segura o riso. Mulder enche o hambúrguer de pimenta. Coloca mais de meio vidro. Larga o vidro sobre a mesa. Esfrega as mãos num sorriso diabólico.

MULDER: - Melhor que o sabor da pimenta é o sabor da vingança.

CHARLES: - (RINDO)

MULDER: - O que tem feito, Charles?

CHARLES: - Muitas coisas. Pra dizer a verdade, nunca viajei tanto na vida, Mulder.

MULDER: - Sério?

CHARLES: - Estou envolvido numa campanha contra a escravização de crianças na África. Na luta mundial contra o câncer de mama e andei ajudando o Greenpeace. E ganhando uns trocados pra bancar a pensão do Will e da mãe dele escrevendo artigos científicos para algumas revistas... E você?

MULDER: - Empenhado cada vez mais em desmascarar grupos governamentais envolvidos com alienígenas...

CHARLES: - Ainda nenhuma pista do filhos de vocês?

MULDER: - Não. E o Gafanhoto?

CHARLES: - Está por aí na vizinhança. Sabe como é, quando criança se solta é pior que cachorro quando você tira a coleira.

MULDER: - (SORRI)

CHARLES: - Está feliz porque agora passou pra faixa verde.

MULDER: - (SORRI) Sério?

CHARLES: - Precisa ver o garoto lutando. Ele tem equilíbrio mental, agilidade, reflexos rápidos.


11:46 A.M.

Um carro preto estacionado do outro lado da rua.

Will, Samanta e Bruna descem da casa na árvore. Caminham um ao lado do outro até a calçada.

BRUNA: - Precisamos descobrir pra que serve esse chip.

WILL: - Deve ser algo muito confidencial. Pode ter sido roubado do governo.

BRUNA: - Vamos pegar o jornal. Precisamos saber mais sobre o Piloto.

O Homem de Preto, parecido com 'Will Smith' desce do carro. Ajeita o paletó e aproxima-se deles.

WILL SMITH: - Olá pestinhas.

Eles olham desconfiados.

WILL SMITH: - Bonito dia pra andar de bicicleta...

SAMANTA: - Minha mãe disse que não devemos falar com estranhos! Não me pergunte nada porque não vou falar com você... (COLOCA AS MÃOS NA BOCA) Ops... Já estou falando...

WILL SMITH: - Mas eu não sou estranho. Eu sou um Homem de Preto.

BRUNA: - Homens de Preto são agentes do governo encarregados de matar alienígenas. E você deve ter uma arma de raios que apaga a mente das pessoas...

WILL SMITH: - (SORRI) Não, eu não vou apagar a mente de vocês. Quero o que o Piloto entregou pra vocês na Disney.

WILL: - Que piloto?

WILL SMITH: - Ora, vocês não são bobinhos. Sei que já descobriram alguma coisa. Preciso dele.

WILL: - Não descobrimos nada. Não sei do que está falando!

SAMANTA: - Ora, seu bobo... Ele tá falando do chip!

Bruna olha pra ela, colocando as mãos na cintura indignada.

BRUNA: - Samanta sua boca grande!

Ela põe as mãos na boca, sorrindo.

SAMANTA: - Saiu sem querer...

WILL: - Pra quê você quer aquilo?

WILL SMITH: - Esse chip contém informações muito importantes que foram roubadas do governo. O Piloto era um espião russo infiltrado. Se isto parar nas mãos erradas, muita gente vai morrer.

WILL: - Como vamos acreditar em você?

Ele estende a mão, pedindo o chip.

WILL SMITH: - Sou um Homem de Preto, não sou?

BRUNA: - Você não é Homem de Preto nada! Isso não é um filme!

Ele inclina-se pra frente e olha pras crianças.

WILL SMITH: - Quero o chip. Se não me entregarem por bem, eu vou tirar isso de vocês da pior forma. E acreditem, falo sério.

Ele afasta o paletó mostrando a arma pras crianças.

WILL SMITH: - Adoro matar pestinhas... Lentamente. Vou pegar vocês pelo pescoço e torcê-los até que não consigam mais respirar, fiquem roxos e caiam durinhos... Se contarem a seus pais, podem ter a certeza de que os matarei também.

Bruna começa a gritar assustada e histérica, com as mãos na cabeça. Samanta ao ver a irmã gritando, grita também. O Homem, assustado, corre de volta pro carro. Olha pra elas.

WILL SMITH: - Eu vou voltar! E pegar vocês quando estiverem dormindo!

Ele entra no carro e parte.

Corta para a mulher que sai de dentro da casa.

SILVIA: - Filhas? Algum problema?

BRUNA: - Tinha um homem armado aqui, mãe!

SAMANTA: - Ele quer o chip do espião russo.

BRUNA: - Ele é mau. Um Homem de Preto muito mau.

Silvia sorri. Olha pra elas.

SILVIA: - Vão brincar e parem de gritar. Seu pai está estudando piano e eu tenho que fazer o almoço. Ouviram? Se continuarem, não vou deixa-las mais assistirem esses filmes. Daqui à pouco vão dizer que Harry Potter está no jardim.

Silvia vai pra dentro.

SILVIA: - Crianças...

Will olha pras meninas.

WILL: - Estão vendo? Ninguém acredita na gente. Estamos sozinhos nessa!

SAMANTA: - (NERVOSA) Ele vai vir de noite... Ele vai pegar a gente.

BRUNA: - Ele vai matar nossos pais.

WILL: - Eu tive uma ideia. Precisamos proteger as nossas casas e as nossas famílias! Vamos fazer assim...

Os três fazem um bolinho, abraçados e começam a cochichar.


12:16 P.M.

Sentados à mesa no jardim, a família Scully está reunida, com mais dois membros convidados: Samanta e Bruna. Will revira o prato com o garfo. Samanta e Bruna também. Os três em silêncio, preocupados. Os adultos conversam, com exceção de Mulder que observa as crianças, enquanto disfarçadamente, entrega um hambúrguer pra Cookie sentado debaixo da mesa. Tara segura Matthew no colo, dando comida pra ele. Olha pras crianças.

TARA: - Não gostaram da comida?

BRUNA: - A gente tá sem fome.

TARA: - As duas? Bom, até poderia dizer que vocês, gêmeas, até nisso concordam. Mas Will também?

MARGARET: - Pelo menos comam um pouquinho. Vovó fez uma sobremesa muito gostosa.

TARA: - Vamos Samanta.

BRUNA: - Eu não sou a Samanta, eu sou a Bruna...

TARA: - Ah, Deus! Acho que vou colocar crachás nas meninas!

Scully sorri. Bill coloca um pedaço de hambúrguer na boca. Mulder observa, disfarçadamente. Bill mastiga. Começa a tossir, fica vermelho e se engasga. Tara levanta-se.

TARA: - Bill! O que houve?

Ele gesticula com as mãos enviando ar pra dentro da boca, sem conseguir falar. Agarra um copo de limonada e bebe feito doido. As crianças começam a rir. Mulder abaixa a cabeça, segurando o riso. Scully levanta-se pra socorrer Bill.

SCULLY: - Bill! O que aconteceu???

TARA: - Pimenta! Só pode ser pimenta!

SCULLY: - Mas que droga, Bill! Você pegou o hambúrguer errado?

BILL: - (TENTANDO FALAR/ A VOZ SAI FINA) Isso foi coisa dele!

Bill aponta pra Mulder. Mulder olha pra ele, cínico.

MULDER: - Eu? Eu não fiz nada!

As crianças riem mais ainda.

MULDER: - Por que todas as desgraças do mundo são culpa minha?

TARA: - Bill, pare de xingar o Mulder, ele não tem culpa se você foi idiota e pegou o hambúrguer errado.

BILL: - (FALTA DE AR) Eu mato esse filho da...

MARGARET: - Olha as crianças!

Ele levanta-se da mesa e sai correndo pra dentro da casa, com as mãos na boca. Scully vai atrás dele. Meg, Charles e Tara também. As crianças continuam rindo. Will olha pra Mulder.

WILL: - Você colocou pimenta no hambúrguer dele?

MULDER: - Eu? (DEBOCHADO) Imagina...

Will começa a rir. Mulder aperta o nariz e começa a cantar arrastado.

MULDER: - (CANTANDO) I'm Popeye the sailor man... I'm Popeye the sailor man... I'm going to the privy cause I eats some chili... I'm Popeye the sailor man.

As crianças riem. Cookie sobe no banco, ao lado de Mulder. Mulder dá outro hambúrguer pra ele.

SAMANTA: - É seu cachorrinho?

MULDER: - Sim.

SAMANTA: - Ele morde?

MULDER: - Não. Ele adora crianças.

Samanta aproxima-se de Cookie e faz carinhos nele.

SAMANTA: - Qual o nome dele?

MULDER: - Cookie.

SAMANTA: - (RINDO) Ele parece mesmo um biscoitinho de caramelo.

MULDER: - E quem é quem aqui?

BRUNA: - Eu sou a Bruna.

SAMANTA: - Eu sou a Samanta.

Mulder olha pra Samanta, num olhar de ternura, enquanto ela afaga a cabeça de Cookie.

MULDER: - Eu tenho uma irmã chamada Samantha. Gostou dele?

SAMANTA: - Humhum... Ele é bonito.

MULDER: - Mas ele é um bagunceiro, Samanta. Furou minha bola de basquete, rasgou minha jaqueta, roeu meus sapatos. E agora começou a enterrar minhas meias nos vasos de folhagens da Scully.

As crianças riem. Bruna aproxima-se.

BRUNA: - Podemos brincar com ele?

MULDER: - Podem.

BRUNA: - Vem Cookie...

Elas saem correndo. Cookie vai atrás, pulando, latindo, fazendo festa. Mulder coloca os cotovelos sobre a mesa, apoia a cabeça nas mãos. Observa Samanta. Mulder perde os olhos na menina, deixando uma lágrima sair sem querer. Então se dá conta de que Will está olhando pra ele. Mulder sorri, disfarçando.

MULDER: - Então, Gafanhoto, virou faixa verde?

WILL: - Você não tá legal né?

MULDER: - (SORRI SEM GRAÇA) ... Minha irmãzinha chamava-se Samantha. Só tem um 'h' de diferença... Ah, deixa pra lá...

WILL: - O que houve com ela?

MULDER: - Ficamos longe um do outro, eu a procurei por quase toda uma vida, ela cresceu e hoje é outra pessoa.

WILL: - ... Quando a gente cresce vira outra pessoa. Sabe por quê?

MULDER: - (CURIOSO) Por quê?

WILL: - Porque a gente esquece de brincar.

Mulder olha pro menino, como quem sente uma cumplicidade na teoria dele.

MULDER: - Coma seu almoço, Gafanhoto. Precisa estar forte pra lutar. Mente e corpo estão unidos. Corpo que não se alimenta, mente que não funciona.

WILL: - Então por que você também não tá almoçando?

MULDER: - (SORRI) Porque eu prefiro a sobremesa... Acho que estraguei o almoço da família.

WILL: - O tio Bill merece pra deixar de ser chato.

MULDER: - É mas imagina se ele é alérgico à pimenta? Poderia ter morrido. Foi uma brincadeira boba.

WILL: - Uma vez eu coloquei laxante no suco de um colega. Foi muito engraçado.

MULDER: - É, mas esse tipo de brincadeira não é legal. Eu não gostaria que fizessem isso comigo. Então não deveria ter feito com o tio Bill.

Will levanta-se. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Algum problema?

WILL: - Por quê?

MULDER: - Porque você não tocou na comida.

WILL: - Algum problema com você? Também não tocou na comida.

MULDER: - (SORRI) Adultos e crianças têm problemas, Gafanhoto. Mas adultos complicam demais.

WILL: - É, tio Mulder. Mas crianças também têm problemas sérios.

Will sai correndo, procurando as meninas. Mulder abaixa a cabeça, triste.


BLOCO 2:

11:24 P.M.

Todos na sala. Mulder, sentado na poltrona, perdido na televisão, alheio a todo mundo. Ri sozinho, baixinho, olhos grudados no desenho do Tom e Jerry.

Bill levanta-se do sofá e troca de canal.

BILL: - Oba! Começou o primeiro round! Hoje é a final do campeonato de box... Olha lá, já voou sangue!

Mulder respira fundo. Levanta-se da poltrona. Scully percebe. Mulder vai pra cozinha e sai pela porta dos fundos.

Corta pra Mulder. Sentado na grama do jardim, cabisbaixo. Fica brincando com a grama. Scully aproxima-se. Senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Algum problema?

MULDER: - Os de sempre. Não sou família.

SCULLY: - Mulder, por que não relaxa um pouco? Ahn? Converse, junte-se ao grupo...

MULDER: - Eu não sou desse grupo, Scully. Eu tento, mas não dá.

SCULLY: - Por que não pega o carro e sai então? Vá fazer alguma coisa que goste.

MULDER: - Não quero sair.

SCULLY: - Vamos dormir?

MULDER: - Não. Ah, Scully, eu não quero estragar sua reunião familiar. Vai pra lá, fica com eles. Me deixe aqui, eu quero ficar quieto. Eu não sou sociável. Não consigo mesmo. Os assuntos não são os mesmos, ninguém entende minha língua ali dentro só você.

SCULLY: - Mulder, são as crianças?

MULDER: - Não... O Bill. Você sabe que Bill me irrita... As crianças... Scully, posso te dizer uma coisa? Não fica furiosa comigo?

SCULLY: - Por que ficaria? Fala.

MULDER: - Você viu as meninas? Não são umas gracinhas?

SCULLY: - (SORRI) Sim, são. Parecem umas mocinhas, delicadinhas... Educadinhas...

MULDER: - Eu... Eu sempre me dei melhor com as mulheres...

SCULLY: - (RINDO) O que está sugerindo?

MULDER: - Ah, sei lá...

SCULLY: - (EMPOLGADA) Mulder, não está me dizendo que seu sonho é ter uma filha... É isso?

MULDER: - (SORRI ENCABULADO) ... É que as meninas são mais graciosas, sabe? Mais delicadas, meigas e... Tá bom, Scully. Não vou negar. A ideia de ter uma filha me empolga muito. Eu queria muito ter uma Scully versão mirim... Penso que você também merecia uma filha, sabe? Meninas são companheiras da mãe e seu sonho sempre foi ser mãe... Nada mais justo que você tivesse uma filha. Me lembro de você com Emily... Não que eu não queira um menino. Longe de mim dizer isso! Não vou exigir da natureza, diante das nossas circunstâncias... Mas... Puxa, ter uma Scullyzinha... Bonecas e bichinhos de pelúcia pela casa, quarto cor de rosa... Acho que todo homem adoraria olhar e apontar: aquela mulher linda lá é a minha filha... Encher a boca pra dizer: minha filha... Sei lá, mas... Talvez eu pudesse proteger a minha filha como não pude proteger a minha irmã... Ah, me esquece! Hoje sou eu quem está falando nada com nada.

Scully levanta-se, sorrindo. Afaga os cabelos dele.

SCULLY: - Tenho que concordar com você, Mulder. Também adoro meninas... Fique pensando na nossa filha aí. Quem sabe a gente pode adotar uma se o destino nos recusar?

Mulder olha pra ela e sorri. Scully vai pra dentro da casa.


12:18 A.M.

Mulder sai do quarto. Silêncio na casa. Mulder desce as escadas silenciosamente, liga a TV e fica assistindo desenhos.

Barulhos.

Mulder levanta-se da poltrona. Aproxima-se da cozinha. Olha pra porta do porão, entreaberta.

Mulder caminha lentamente. Empurra a porta, que range. Entra no porão. Desce as escadas, no escuro.

MULDER: - Alguém aí?

Silêncio. Escuro.

MULDER: - Tem alguém aí?

Som de alguma coisa se estatelando pela escada.

O barulho é tão grande que acorda a casa toda. As luzes são acesas e Cookie começa a latir.


12:21 A.M.

[Som de Super Mario Bros – Theme]

Scully, vestida num robe, olha pra Mulder. Mulder está caído no chão do porão, todo sujo de tinta, ao lado de um skate, um pedaço de cano, ferramentas, um carrinho de bombeiros, cordas, latas e uma jaqueta do Pokémon por sobre o rosto. Scully puxa a jaqueta do rosto dele. Olha pra jaqueta, olha pra ele de novo.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Confesse Mulder. O Pikachú te agrediu?

MULDER: - Hahahaha. Essa não teve graça, Scully. Au! Meu traseiro tá doendo!

SCULLY: - Levanta daí Mulder! Por que está causando tumulto, fazendo barulho de madrugada e perturbando a minha família? Algum rato no esgoto, Mario? Ou pela altura deveria te chamar de Luigi?

MULDER: - Au! Me ajuda, eu acho que amassei meu bumbum.

Ela estende a mão. Ele levanta-se.

SCULLY: - Tem muito bumbum aí pra amassar tão fácil, Mulder. O que aconteceu?

MULDER: - Eu perdi o sono, ouvi barulhos, entrei aqui e plum, poft, oumoumoum, cabrum, plimm, trashhhhh e blam!

Ela olha indignada pra ele, colocando as mãos na cintura.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Pode traduzir esses trechos antigos do seriado do Batman pra mim?

MULDER: - Entrei, escorreguei num skate, caí em cima de um carro de bombeiros, tropecei numa corda, levei latas de tinta na cabeça, ferramentas, o cano despencou, uma jaqueta caiu em cima de mim e terminei estatelado no chão... Ai! Minha bunda! Mas eu ia saber que tinha armadilhas pelas escadas?

SCULLY: - Armadilhas? Mulder, vá dormir, caso contrário teremos de ir pra um hotel. O Bill está furioso e com razão.

MULDER: - ... Droga, ninguém me entende!

SCULLY: - Mulder, me diga que você não colocou pimenta no hambúrguer dele.

MULDER: - ...

Scully o puxa pela orelha, escada à cima.

MULDER: - (IMPLORANDO) Não, Scully... Para! Eu juro que não faço mais isso! Nunca mais! Ai!!!! Scully, a orelha não!

SCULLY: - Coisa mais triste, Mulder. Me casei com uma criança!

MULDER: - Au! Tá doendo!

SCULLY: - Mulder, já pra cama, isso não é hora de criança estar acordada.

MULDER: - (PIDÃO) Au! Eu tô sofrendo!

SCULLY: - E vai sofrer mais se não for dormir agora! Chega de barulho! Aqui tem pessoas normais que dormem à noite.

MULDER: - Ai, minha orelhinha...

SCULLY: - Vamos Mulder! Já pra cama!

MULDER: - (DEBOCHADO) Não tia...

SCULLY: - Mulder, eu vou chutar você escada à cima até cair na cama.

MULDER: - Chata!

Ela puxa a orelha dele com mais força.

MULDER: - Au! Tá bem, tá bem, eu vou! Já estou indo...

Ela o solta. Ele sobe as escadas olhando pra ela, fazendo um enorme beiço. Quando está no topo, olha atrevido pra Scully.

MULDER: - Chata! Feia! Boba!

Ela corre atrás dele. Ele sai correndo fugindo dela.


1:14 A.M.

Mulder sai de pijamas do quarto, pé por pé. Desce as escadas, desviando dos carrinhos de brinquedo. Liga a TV. Senta-se.

A atenção dele se desvia para a jaqueta de Will sobre o sofá, com o jornal enrolado saindo pra fora do bolso. Mulder levanta-se. Pega o jornal. Observa curioso a reportagem assinalada com caneta hidrocor. Fisionomia de intriga. Vai até a cozinha.

A luz interna da geladeira ilumina o ambiente. Mulder pega a embalagem de suco.

Som de passos no jardim.

Mulder fecha a geladeira. Pega uma frigideira e sai lentamente pela porta dos fundos, à espreita. Caminha encostando-se na parede. Espia para o lado da casa. Não vê nada. Olha pra cima. Vê a janela do quarto de Will aberta e a corda de lençóis que está pendurada nela. Olha para a rua. Percebe uma limusine preta parada do outro lado.


1:19 A.M.

[Tema do Inspetor Bugiganga]

Na penumbra, um vulto, com uma frigideira na mão, aproxima-se dos arbustos que dividem os quintais. Pula por cima deles.

Close em Mulder que cai do outro lado da divisa pra dentro do pátio da vizinha. De sobretudo, pijama e pés descalços. Mulder levanta-se, esfregando o traseiro, num semblante de dor. Tira a lanterna do bolso. Caminha pelo pátio na ponta dos pés, mirando a lanterna pelo lugar e com a frigideira em posição de ataque. Nenhum movimento.

As luzes da casa do vizinho apagadas. Som dos grilos.

Mulder para debaixo da imensa árvore do jardim. Coça a cabeça com a frigideira, intrigado. Barulhos. Mulder olha pra cima, mas não consegue desviar da lata de tinta verde que cai em sua cabeça.


1:47 A.M.

Mulder, encolhido dentro da casa na árvore, porque é maior do que ela, com a tinta verde escorrendo pelos cabelos. Olha pros três pequenos infratores, que lhe dirigem um olhar arrependido. Cookie, com a cabeça sobre as patinhas, olha pra ele com ar de pidão.

MULDER: - Posso saber o que vocês estão fazendo de madrugada, nessa árvore, com o meu cachorro e atirando tinta em mim?

WILL: - Não era pra você tio Mulder. A gente pensou que fosse outra pessoa.

SAMANTA: - E o Cookie tá cuidando da gente.

Cookie late empolgado. Mulder olha pra eles.

MULDER: - Do que estão com medo? E não me venham com a história de que não conseguem dormir porque viram filmes de terror.

BRUNA: - Não podemos falar. Vocês adultos não acreditam na gente.

MULDER: - Eu acredito.

BRUNA: - Não podemos confiar. Você é adulto.

MULDER: - Não repararam ainda que eu só tenho tamanho?

Samanta coloca a mão na boca rindo.

MULDER: - Prefiro ficar com vocês aqui a ficar naquela casa com o Pit Bill.

Eles se entreolham.

MULDER: - Achei isto na sua jaqueta, Gafanhoto.

Mulder retira o jornal do bolso. Mostra pra eles.

MULDER: - Os três não têm nada pra me contar?

Os três disfarçam.

MULDER: - Armadilhas pelas escadas, cordas de lençóis, baldes de tinta, crianças com insônia e um esconderijo... Acho que meu faro de detetive está farejando encrenca por aqui...

WILL: - Só vamos contar se provar sua lealdade com nosso grupo.

MULDER: - E o que posso fazer pra provar minha lealdade?

Os três se olham, sorrindo, maquiavélicos.

WILL: - Tem que passar no teste pra entrar pra nossa turma.

MULDER: - Que teste?


2:46 A.M.

[Tema da Pantera Cor de Rosa]

A porta do quarto abre-se lentamente.

Os pés descalços entram sem fazer ruídos.

Close em Bill, que dorme de boca aberta, roncando.

Close em Tara, ao lado dele, que dorme de costas pra ele.

Close em Mulder, de pé, ao lado da cama.

Mulder retira o lençol suavemente de cima de Bill. Bill dá um ronco. Mulder se encolhe retirando a mão. Bill move os lábios, resmungando dormindo.

Mulder ergue a lagartixa, que segura pela cauda. Ergue a calça do pijama de Bill. Vira o rosto fazendo uma cara de pânico e solta a lagartixa.

[Fade in]

Bill grita desesperado.


3:11 A.M.

Mulder na cozinha. Encolhido numa cadeira, pernas dobradas e pés apoiados no assento, fazendo beiço. Ainda de sobretudo e pijamas, sujo de tinta verde. Scully anda de um lado pro outro o fulminando com os olhos. Ele brinca com a lanterna. Ele puxa a lanterna das mãos dele. Ele abraça-se nas pernas, aumentando o beiço, sem olhar pra ela.

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, o que está havendo com você?

MULDER: - ... (EMBURRADO)

SCULLY: - Está se comportando como uma criança!

MULDER: - ... (EMBURRADO)

SCULLY: - Olhe pra você, Mulder! Olhe como está vestido! Sujo de tinta verde! Parece mais o Inspetor Bugiganga!

MULDER: - ... (EMBURRADO)

SCULLY: - Por que colocou uma lagartixa nas calças do Bill???

MULDER: - ... (EMBURRADO)

SCULLY: - E o que você e Will faziam acordados? Mulder, por favor! Olhe pra você, já tem 40 anos nessa cara e fica agindo como criança?

MULDER: - Tem problema nisso?

SCULLY: - ... Tem. (RINDO) Porque você como criança é um capetinha! Deus me ajude que nosso filho não puxe a você!

Ele vira o rosto bravo.

SCULLY: - Mulder, você e o Pimentinha não perdem muito um pro outro, sabia? Só falta atacar a dentadura da minha mãe no banheiro!

MULDER: - ... (EMBURRADO)

SCULLY: - Tenho pena da sua mãe, Mulder. Agora entendo o que ela passou com você!

MULDER: - Eu não era assim quando criança, eu era um bobo, um panaca, que apanhava na minha cara só porque o jornal não tinha chegado cedo e a bolsa de Nova Iorque tinha caído!

Ela olha pra ele, com ternura.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (BEIÇO)

SCULLY: - Está recuperando a sua infância perdida?

MULDER: - ...

Scully sorri. Beija-o na testa. Passa a mão em seu rosto.

SCULLY: - Quero ver você com o nosso filho, Mulder. Você será um pai maravilhoso.

Ele olha pra ela.

MULDER: - (EMBURRADO) Estou de castigo ainda?

SCULLY: - Não.

Ele sorri.

SCULLY: - Mas se comporte.

Scully vai saindo da cozinha. Para. Olha pra ele.

SCULLY: - Baratas... Bill não tem alergia, mas tem pavor de baratas. Capitou?

Mulder dá um sorriso maligno. Scully fica séria, pensativa.

SCULLY: - Fica pelos cabelos que ele arrancou da minha boneca quando eu era pequena. Eu disse que um dia a vingança viria...


7:31 A.M.

Scully ajuda Meg a fazer o café.

MARGARET: - Dana, não deveria ralhar com o Fox desse jeito.

SCULLY: - Mãe, mas Bill está furioso!

MARGARET: - Ele está com inveja e ciúmes do Fox. Bill não é popular com as crianças.

SCULLY: - Mãe, mas por favor, Mulder não sabe quando parar...

MARGARET: - Dana, Fox me lembra seu pai, sabia?

Scully sorri. Abaixa a cabeça. Meg coloca os pães numa cestinha.

MARGARET: - Você se lembra do velho Will Scully... Das inúmeras vezes que ele brincava de lutar com vocês no tapete, quando pegava vocês pelas pernas e os colocava de cabeça pra baixo, quando pintava a cara de palhaço e acordava vocês mostrando ingressos do parque... Fox é assim.

Scully sorri saudosa.

SCULLY: - É... Ele foi um grande pai. E sempre vai viver no meu coração... Lembra-se daquela vez que Melissa tinha roído os pés da minha boneca e eu chorava feito doida. Ele foi lá e me ajudou a enfaixar os pés da boneca porque ela tava 'dodói'... O militar durão sabia ser criança também.

Meg sorri. A campainha toca.

SCULLY: - Deixa que eu atenda.

Scully caminha até a porta, secando as mãos num pano de prato. Abre a porta. Silvia lhe sorri.

SILVIA: - Bom dia!

SCULLY: - Bom dia!

SILVIA: - Você é a irmã do sr. Scully?

SCULLY: - Sim.

Silvia sorri. Estende a mão pro lado e puxa Mulder pela camiseta.

SILVIA: - É seu marido?

Scully fulmina Mulder pelo olhar. Ele olha em pânico pra ela.

SCULLY: - Sim. O que ele aprontou?

SILVIA: - Pode fazer o favor de mantê-lo longe do meu jardim? Meu marido estava tocando e de repente o viu pendurado na árvore. O grito que ele deu se equivaleu a estar ao lado da queda das cataratas do Niágara. Acho que perdi meu tímpano direito.

Silvia sorri e sai. Scully olha pra Mulder, cerrando os olhos. Aponta pra sala.

SCULLY: - Já pra dentro!

Ele entra, debochado.

MULDER: - Precisa acreditar em mim!

SCULLY: - Sei. Isso é difícil.

MULDER: - Scully, estão atrás das crianças!

SCULLY: - Quem?

MULDER: - Homens de preto!

SCULLY: - Ah!

MULDER: - Scully é sério! O governo quer pegar as crianças.

SCULLY: - Nossa! O que o governo vai fazer com elas? Engorda-las e depois come-las?

MULDER: - Scully isso não tem graça. Elas estão com um chip estranho, que ganharam de um sujeito na Disney. O mesmo cara que está com a foto nos jornais. Mandei o chip pros Pistoleiros analisarem.

SCULLY: - Humhum... Mulder, já tomou o seu Gardenal hoje? Ahn? Excesso de desenhos e filmes de aventura infanto-juvenis podem causar alucinações prejudiciais à crise dos 40.

Ele suspira.

SCULLY: - Vá chamar o Will e venham tomar o café. Agora!

Ele abre a porta emburrado. Olha pra ela.

MULDER: - Você me lembra uma professora que eu tinha. Uma velha chata e ranzinza. Só faltam os grampinhos no cabelo.

Ela segura nas extremidades do pano de prato, olhando pra ele. Enrola-o e mete um laçasso em seu traseiro.

MULDER: - (ESFREGANDO O TRASEIRO COM A MÃO) Au!

SCULLY: - (RINDO) Anda!


8:02 A.M.

Bill entra na cozinha, fardado em uniforme de combate, com capacete. Mulder, tomando café, solta a xícara no pires, boquiaberto.

BILL: - Está pronto soldado?

Mulder vira-se pra trás e não vê mais ninguém. Olha pra Bill.

MULDER: - Está falando comigo?

BILL: - Não. Estou falando com um monte de estrume que está sentado à minha mesa.

MULDER: - (DEBOCHADO) Deveria ser mais higiênico, Bill. Estrume na mesa é algo muito porco pra um porco como você, Porky Pig...

Bill aproxima-se dele. Segura-o pela camiseta.

BILL: - Você me paga, Fox Mulder. Pela pimenta e pela lagartixa.

MULDER: - S-sério... Olha, eu não tenho dinheiro, aceita cheque?

BILL: - Eu quero é a sua pele, soldado. Quero pendurar você no varal e dar vassouradas em você como num tapete velho.

MULDER: - (DEBOCHADO) Uh!

BILL: - Vamos resolver nossas diferenças hoje, cunhadinho... Lá naquele jardim. E não se esqueça, estamos num residencial militar e a palavra socorro vinda de um civil nos é ignorada.

MULDER: - (PÂNICO)

BILL: - Agora se levante daí, vá vestir um moletom que vamos fazer exercícios.

MULDER: - (BIRRENTO) Não vou.

BILL: - Ah não vai?

MULDER: - (ACENANDO NEGATIVAMENTE COM A CABEÇA)

BILL: - Então vamos ver se você não vai. Eu disse pra Dana que ensinaria pra você e pra esses pentelhos o que é educação. Ela disse que concordava. Eu disse que você não gostava de mim e fiz uma carinha de pidão, igual a que você faz. Sabe o que ela disse?

Mulder acena negativamente e catatônico com a cabeça.

BILL: - Que se você se recusasse a se enturmar com a família, ela ia colocar você amarrado na frente da TV assistindo programa de culinária e anotando receitas.

Mulder fecha os olhos. Engole em seco.

MULDER: - Ok... Eu vou... Tudo, tudo... Menos Martha Stewart...


9:34 P.M.

[Tema do filme Loucademia de Polícia]

Bill anda no jardim de um lado para outro, em uniforme de combate, batendo uma chibata na mão.

BILL: - A primeira regra pra soldados indisciplinados como vocês são exercícios. Assim, quando anoitecer, mal sentirão seus corpos cansados de tanta dor, cairão na cama e deixarão os normais dormirem em paz, sem lagartixas dentro do pijama e gritos no meio da noite... Se não demonstrarem progressos neste treinamento, vão ficar sem o jantar. E não estou brincando. O primeiro idiota que colocar algum tipo de cola no meu xampu ou pimenta na minha comida, vai sofrer. É uma promessa.

Corta pra Mulder, Will, Samanta e Bruna, olhando sérios pra Bill.

BILL: - Portanto, comecem a correr. Quero que corram pelo pátio. Vamos fazer corrida de obstáculos. O idiota que tropeçar vai ter que pagar com 100 abdominais.

MULDER: - Isso não é engraçado!

Bill aproxima-se de Mulder. Cochicha no ouvido dele.

BILL: - Vou dizer pra você, soldado Mulder, o que não é engraçado. Sou eu comendo muita pimenta e repolho no almoço e depois trancando você comigo no banheiro.

Mulder fica quieto, olhando atravessado pra ele, segurando o nariz com a mão. Com a outra mão afasta o ar.

MULDER: - Blergh!

BILL: - Vou ensinar pirralhos mijões como vocês a serem homens de verdade.

Samanta ergue a mão.

BILL: - O que é?

SAMANTA: - Eu não quero ser homem. Eu prefiro ser menina.

Will segura o riso. Bill o fulmina com os olhos.

BILL: - (GRITA) Do que está rindo, seu mijão?

WILL: - (RINDO)

Eles riem. Bill os olha, com um olhar de invocado.

BILL: - (GRITA) Do que estão rindo seus mijões?

Bill olha pra baixo. Cookie está fazendo xixi na perna dele.


11:48 A.M.

Scully observa pela janela da cozinha. Tara descasca legumes.

SCULLY: - É tão bom vê-los se divertindo.

TARA: - É, parecem animados. As meninas estão adorando! Pelo menos consegui deixar a mãe delas ter uma segunda lua de mel...

SCULLY: - (SORRI) ... Quando eu precisar, você fará isso por mim?

TARA: - Com todo o prazer... Mas não poderá me retribuir... Ainda bem que tenho Matthew porque não aguento mais o Bill! Ele está na maldita crise dos 40! Antes estivesse obcecado por carros e mulheres do que de mau humor!

Corta para o jardim. Will, Samanta e Bruna, alinhados em posição de sentido. Matthew brincando, sentado na grama, rindo pra Bill. Cookie choramingando, amarrado numa árvore. Bill olha pra cima da árvore.

BILL: - Precisa treinar a resistência física.

MULDER: - Isso é pior que o treinamento do FBI!

BILL: - Cale a boca soldado! Você é o primeiro.

MULDER: - Eu não vou andar de cipó, não sou o Tarzan.

BILL: - Se não se pendurar nesse cipó eu vou fazer xixi no seu cachorro.

Cookie choraminga.

MULDER: - Seu covarde! Ameaçando o pobre do bichinho!

Corta pra cima da árvore. Mulder em pé num galho, segurando um cipó.

BILL: - (FURIOSO) Mulder, eu vou subir aí e vai se arrepender da sua insubordinação!

MULDER: - (REBOLANDO DEBOCHADO) Ninaninanina... Oh, tô tremendo, morrendo de medo...

BILL: - (RANGINDO OS DENTES COMO CÃO FURIOSO)

Corta para a frente da casa. Dois sujeitos de preto se aproximam, colocando a mão dentro dos paletós. Mulder arregala os olhos. Segura-se no cipó e se atira. As crianças se atiram no chão. Bill se atira no chão com as mãos na cabeça.

BILL: - Ataque! Ataque aéreo! Protejam-se!

[Fade in]

MULDER (OFF): - (IMITANDO O GRITO DO TARZAN)

[Som de pancada]

MULDER (OFF): - Ouw!

[Fade out]

[Tema de George o Rei das Selvas]

Scully, com as mãos na cintura, olha debochada pro chão.

Close em Mulder atirado no chão, com as mãos na cabeça.

MULDER: - Ai! Eu tô sofrendo!

SCULLY: - Ok, George, o rei das selvas, o que estava fazendo pendurado num cipó? Estava atrás de algum elefante enfurecido?

MULDER: - Eles estavam vindo pra pegar as crianças.

SCULLY: - Quem?

MULDER: - Os homens de preto!

SCULLY: - Mulder, deixa de ser paranoico, pelo amor de Deus!

MULDER: - Colocaram a mão no paletó e puxaram...

SCULLY: - Puxaram a Bíblia! Os pobres homens saíram daqui correndo, em pânico, apavorados, só pararam de correr quando chegaram na esquina!!!

MULDER: - Pânico? Apavorados? Bíblia?

SCULLY: - Não sabia que você odiava Testemunhas de Jeová!

Mulder fecha os olhos em pânico.

SCULLY: - Eles só queriam pregar a palavra de Deus e você os recebe pulando de uma árvore, feito um animal selvagem, os atacando aos gritos? Bem feito que acertou sua cara naquela árvore. Sei que não acredita em religiões, mas isso não foi educado.

MULDER: - Ai, não é meu dia... Definitivamente não é meu dia!

SCULLY: - Vamos, levanta dessa grama.

Ele estende a mão. Ela o ajuda a se levantar. Examina a cabeça dele.

SCULLY: - Deixe-me ver sua cabeça dura...

MULDER: - Eu tô bem.

SCULLY: - É, percebo. Tem um galo enorme na testa. Mulder, por que tenho a impressão que vou voltar viúva pra Washington? Está tentando suicídio?

MULDER: - Sem graça, Scully.

Mulder sai emburrado. Scully suspira.

MULDER: - Como diria uma amiga, tem gente que nasceu pra ser chata, parece que veio no cromossomo e não tem cura...


BLOCO 3:

3:33 P.M.

Bill vem puxando a mangueira pelo jardim e Cookie pela guia. Aproxima-se da pequena banheira redonda de metal. Cookie empaca choramingando, mas Bill o puxa.

BILL: - Venha pulguento feio, você tá fedendo muito, Scooby Doo!

Cookie começa a latir bravo. Mulder aproxima-se deles.

MULDER: - O que pensa que está fazendo com o meu cachorro?

BILL: - Seu cachorro é relaxado como o dono. Ele está fedendo.

MULDER: - Meu cachorro não fede. Quem fede é você!

Cookie acompanha os dois com a cabeça. Bill o puxa pela guia. Ele empaca.

BILL: - Cachorro teimoso.

MULDER: - Você não sabe lidar com ele.

Bill entrega a mangueira pra Mulder.

BILL: - Sujo ele vai dormir na rua. (SORRI DEBOCHADO) Melhor: os dois cachorros bobos vão dormir na rua... Você e ele.

Bill afasta-se. Mulder olha pra Cookie. Tira-o da guia.

MULDER: - Cookie, seu imbecil! Por que você não o mordeu? Hein? Grande cão que eu tenho! Se entrar um ladrão você ainda acena o rabo fazendo festa. Já pra dentro da banheira.

Cookie olha pra ele pidão.

MULDER: - Não tem conversa, não sou a Scully. Esse golpe eu já conheço, pratico todos os dias. Já pra banheira!

Will e as meninas aproximam-se de Mulder.

WILL: - O que foi tio?

MULDER: - Esse teimoso não quer tomar banho.

SAMANTA: - Ai, me deixa dar banho no cachorrinho!

BRUNA: - Você não sabe dar banho. Matou a Barbie afogada! Tivemos que enterrar ela no fundo do quintal.

SAMANTA: - Mas é diferente! É água, não é óleo de fritura.

Mulder faz cara de pânico.

MULDER: - Devo confiar em vocês duas? Não vão fritar o meu cachorro?

SAMANTA: - Não tio Mulder! Deixa vai!

BRUNA: - Deixa!

As duas pulam ao redor dele implorando.

MULDER: - (RINDO) Tá bom, diante de tanta insistência... Quem resiste a um 'deixa, tio Mulder!'... Agora arranjei duas sobrinhas... Bem que dizem que família é algo que cresce rápido...

Elas comemoram. Bruna pega a esponja. Samanta aproxima-se de Cookie. Faz carinho nele. Mulder pega a mangueira.

SAMANTA: - Você vai ficar limpinho e bem cheirosinho. Tá bom?

Mulder percebe que Will senta-se na grama, alheio a bagunça. Chega a suspirar de tristeza. Faz um beiço enciumado.

MULDER: - Ei, Gafanhoto!

As meninas riem.

BRUNA: - Gafanhoto???

MULDER: - Sim, porque Gafanhoto era o nome do Kung Fu quando era pequeno... (PÂNICO) Por falar nisso, penso que estou ficando velho mesmo... Vocês nem sabem quem era o Kung Fu!

Will nem olha pra ele. Mulder pressente o ciúme.

MULDER: - Gafanhoto?

WILL: - ...

Mulder liga a mangueira. Mira em Will, acertando um jato de água nele. Will dá um pulo rindo. As meninas começam a rir.

MULDER: - Eu vou lavar suas orelhas pra você escutar quando eu falo com você.

Will corre até ele e tenta tirar a mangueira.

MULDER: - Não!!!

Os dois fingem lutar. Mulder resvala e cai sentado dentro da banheira. As meninas riem alto.

MULDER: - Cookie me ajuda!

Cookie adorando a bagunça pula em cima de Mulder. Will mira a mangueira em Mulder.

MULDER: - (RINDO) Não!!!!!! Eu já tomei banho.

WILL: - Tio Bill Chato disse que não quer ninguém fedendo...

Samanta vem correndo com a esponja e resvala, caindo na grama enlameada. Bruna ri alto. Pega a esponja e esfrega a cabeça de Mulder.

WILL: - Atrás das orelhas!

A bagunça começa.

Corta pra Bill dentro da cozinha. Aproxima-se da janela.

BILL: - Vê se posso com isso. Não tem autoridade com as crianças. Um completo idiota.

Bill sai da cozinha resmungando. Meg e Scully estão confeitando um bolo. Scully aproxima-se da janela. Sorri.

SCULLY: - Mãe.

MARGARET: - Que foi?

SCULLY: - Venha ver isso.

Meg aproxima-se. Sorri.

SCULLY: - Acha que escolhi bem o pai do meu filho?

MARGARET: - Ainda duvida?

SCULLY: - (SORRI) Olha como as crianças o adoram. Ele vira outra pessoa no meio delas. Nem parece o Mulder triste e obcecado que eu conheço... Mãe, acho que Mulder combina muito bem com a palavra família. Só ele não sabe disso.

MARGARET: - E você? Está mostrando a verdade pra ele?

Scully sorri.

SCULLY: - Acho que me esforço. Uma casa, um filho e um cachorro é um bom começo. Sabe que tinha medo de que isso fosse demais pro Mulder? Pensava que era uma empolgação, que ele ia cansar... Fui cruel a ponto de dizer que não era a natureza dele conviver com as pessoas.

MARGARET: - Dana, entenda que ele nunca teve uma família. Muito normal que sinta medo. Aquela mãe dele... Não se deve falar dos mortos, mas que mulherzinha mais irritante. Detestaria ter que tricotar com a sua falecida sogra.

SCULLY: - Mãe! Ela era uma mulher sofrida, viveu no meio de mentiras...

MARGARET: - É? E precisava mentir pro filho dela a vida toda? Sem contar o seu sogro.

SCULLY: - Mãe, não começa com fofocas...

MARGARET: - Não estou fazendo fofoca. Só estou comentando...

SCULLY: - (RINDO) Sei... E tem diferença?

MARGARET: - Ele é uma pessoa má e desceu mais ainda no meu conceito depois daquilo que aconteceu. E desceu mais agora por eu saber o que estão passando por causa dele. Sabe que até me pego sorrindo quando minto pra ele?

SCULLY: - (RINDO) Mãe!

MARGARET: - Mas é verdade. No início me achei culpada. Agora até sinto satisfação. Descobri que sou uma grande atriz para papéis de senhoras tolinhas e comportadinhas.

SCULLY: - Mãe, você é a melhor mãe do mundo, sabia? Quem faria por nós o que você está fazendo?

MARGARET: - Fale baixo. Não quero que Bill e Charles escutem. E já que entramos nesse assunto, estou com as malas feitas, só esperando.

SCULLY: - É que...

MARGARET: - Dana... (SORRI) Desculpe dizer, mas a vida não espera.

SCULLY: - (SORRI) ...

Scully se abraça em Meg. Meg a abraça e fecha os olhos.

SCULLY: - Ô, mãe...

MARGARET: - Sinto tanta coisa boa em você Dana... (SUSPIRA) Parece que meu sonho de mudar o varal ainda tem esperança...

Scully começa a rir.

SCULLY: - Vamos, vamos fazer o bolo pro Bill. Afinal devo isso, já que misteriosamente o presente dele se quebrou no caminho.

MARGARET: - De que jeito?

SCULLY: - Acho que alguma criança crescida andou aprontando.

MARGARET: - O que era?

SCULLY: - Uma garrafa de uísque. Vaguei lojas pra encontrar aquela.

MARGARET: - Não incentive o Bill a beber. Sóbrio ele já é chato, imagine bêbado... Puxou a tia Mildred. Impressionante, mas ele é a minha irmã mal humorada em pessoa! Parece praga da Mildred!

SCULLY: - Ela nunca mais ligou?

MARGARET: - Ligou no mês passado. Começou a falar de seu pai, de vocês... Sempre o mesmo assunto. Minha família não presta. A família dela é que é boa.

SCULLY: - E tio Alfred?

MARGARET: - Eu podia ouvir o pobre suspirando. Não sei como atura a Mildred. Você sabia que o irmão dela, o tio Thomas, aquele que é padre, está no hospital? Pobrezinho, ele está tão velhinho... Ele vai morrer, sinto isso.

O telefone toca. Scully ergue a sobrancelha.

SCULLY: - Mãe... Eu tenho medo quando abre a sua boca pra falar sobre presságios. Você e Melissa sempre me assustaram com isso.


5:47 P.M.

Scully, parada na porta da frente olha pra Mulder. Ao fundo, Bill abrindo o carro.

SCULLY: - Mulder... Tem certeza de que não quer ir ao funeral do tio Thomas?

MULDER: - Não, eu não conhecia esse tio padre aí de vocês que resolveu morrer hoje... Grande presente pro Bill Dog.

SCULLY: - Acha que consegue ficar longe de encrencas por algumas horas?

MULDER: - ... (BEIÇO)

SCULLY: - Consegue tomar conta de uma casa, um cachorro e quatro crianças por algumas horas?

MULDER: - Eu sou um agente do FBI! Lido com criminosos perigosos e mentes doentias. Até com coisas do outro mundo e alienígenas. Posso cuidar de quatro crianças, um cachorro e uma casa.

SCULLY: - Mulder... Espero que quando voltarmos, a casa esteja inteira.

Scully sai. Mulder fecha a porta.

MULDER: - (INDIGNADO) O que ela pensa que eu sou? Ahn! Prefiro ficar com as crianças a enfrentar uma missa e funeral de padre...


6:12 P.M.

Will e Bruna jogando vídeo game. Samanta brigando pelo controle. Matthew chorando, sentado no chão. Cookie comendo as pipocas esparramadas pelo chão. Mulder sentado com as crianças.

SAMANTA: - Me deixa jogar!

BRUNA: - Ainda não!!!!! Me deixa morrer primeiro!

MULDER: - Ei não briguem! Samanta, vou jogar com você depois.

Mulder vira-se e pega Matthew no colo. Aponta pra televisão.

MULDER: - Ei, campeão, precisa crescer logo pra jogar também.

Ele continua chorando. Mulder estende a mão e pega o pacote de biscoitos em cima da mesa de centro. Dá um biscoito pra ele. Matthew começa a comer. Mulder dirige a atenção para o game na TV.

MULDER: - Ok, agora... Gafanhoto tenta entrar ali...

WILL: - Aqui?

MULDER: - É.

WILL: - Mas eu entrei aqui antes e morri!

MULDER: - Não, você não tinha pego o tesouro. Precisava pegar o tesouro antes.

WILL: - Se eu morrer...

MULDER: - Vai confia, já joguei esse.

WILL: - Êhhhhhhh!!!!!! Tio Mulder, você tava certo.

Mulder olha pra Matthew.

MULDER: - Tá bom isso, campeão?

Matthew solta o biscoito. Começa a se mexer no colo de Mulder. Mulder o larga no chão e ele sai de quatro engatinhando pela sala.

MULDER: - Ei, não quebra nada por aí ou estamos ferrados!

SAMANTA: - Tio, qual seu Pokémon preferido?

MULDER: - Hum... Receio que meus conhecimentos sobre Pokémons são muito poucos. Só conheço o Pikachú.

Mulder olha pras meninas e imita o Pikachú. Elas começam a rir.

SAMANTA: - Eu gosto do Digllypuff. Ele é cor de rosa, redondo, canta uma musiquinha e faz as pessoas dormirem, aí ele usa uma caneta para pintar o rosto de todo mundo.

MULDER: - Sério?

SAMANTA: - Humhum... Eu sei de cor a musiquinha dele. A Bruna já não tem preferências... Qual seu jogo favorito?

MULDER: - Hum... The Legend of Zelda?

BRUNA: - Ai é o nosso favorito também!

Batidas na porta. As crianças se entreolham assustadas.

MULDER: - (COCHICHA) Pro armário! Peguem Matthew e fiquem no armário!

Eles se levantam correndo. Will pega Matthew no colo e se trancam no armário.

Mulder caminha até a porta. Abre uma fresta.

Os dois MIBs olham pra ele. Um a cara de 'Will Smith'. O outro, de 'Tommy Lee Jones'.

TOMMY LEE JONES: - Senhor Willian Scully Junior?

MULDER: - Não. O cunhado dele.

WILL SMITH: - Ele está?

MULDER: - Não. Saíram todos. Estou sozinho. O que querem?

'Tommy Lee Jones' puxa uma credencial da CIA.

TOMMY LEE JONES: - Hermann. Inteligência.

Mulder abre a porta e sai pra fora, fechando a porta atrás de si. Puxa a credencial do bolso.

MULDER: - Mulder, FBI.

Os dois homens trocam olhares.

WILL SMITH: - Um espião roubou tecnologia americana. De alguma maneira isto veio parar com seus sobrinhos.

MULDER: - Que tecnologia?

Eles puxam as armas.

TOMMY LEE JONES: - Queremos o chip. As crianças estão com ele.

MULDER: - Eu estou com o chip. E se vocês são da CIA, eu sou o Bozo, o palhaço.

Will Smith acerta a cabeça de Mulder com a arma. Mulder cai no chão.

WILL SMITH: - Realmente, tira, você é o Bozo.


Corta pra dentro da casa. Will observa pela janela.

WILL: - Não! Os Homens de Preto tão levando o tio Mulder!

SAMANTA: - Ai não! Tadinho dele! Vão apagar a memória do coitado!

BRUNA: - Precisamos ir atrás deles.

WILL: - Mas eles já se foram! Nem sabemos pra onde o levaram.

SAMANTA: - Ele vai morrer!

MATTHEW: - (FAZENDO BEIÇO DE CHORO) Mama...

Cookie começa a latir. Bruna olha pra ele.

BRUNA: - Ei, tive uma ideia.

Bruna abre a porta. Cookie sai correndo pra fora, farejando por Mulder.

BRUNA: - Peguem suas bicicletas e sigam o cachorrinho! Precisamos salvar o Inspetor Bugiganga!

Will respira fundo. Pega um lenço do bolso e amarra na cabeça como se fosse o Rambo. Matthew começa a bater palminhas, rindo.

WILL: - Vamos turma... Eles querem guerra, eles vão ter guerra. Vamos ensinar os Homens de Preto a não se meterem com crianças.


[Tema do Pokémon]

As crianças de bicicletas. Matthew sentado na cestinha da bicicleta de Will. Will com uma mochila nas costas. Cookie correndo pela rua, na frente deles, aos latidos. Eles pedalam rapidamente, tentando alcançar a limusine preta.

BRUNA: - Pra direita, turma!!!!

SAMANTA: - Já os perdemos!

WILL: - Mas o Cookie não vai perdê-los! Rápido Cookie!!!!!


7:19 P.M.

As crianças agachadas atrás de um arbusto. Will abre a mochila. Retira um binóculo. Observa a cabana com luzes acesas.

BRUNA: - Está vendo eles?

WILL: - Estão lá. Tio Mulder tá amarrado numa cadeira. Eles parecem que estão o interrogando.

Cookie começa a latir.

WILL: - Samanta, cuide do Cookie e do Matthew. Bruna, pega o binóculo. Eu vou até lá.

BRUNA: - Tome cuidado.

WILL: - Tá. Se alguém descobrir vocês gritem.

BRUNA: - Gritar??? Estamos armadas!

Will olha pras duas. Elas retiram das bolsinhas vidros de pimenta.

SAMANTA: - Isso no olho dói um bocado!

WILL: - (BALANÇA A CABEÇA) Meninas... Ainda bem que sou amigo de vocês...

Will respira fundo. Sai agachado caminhando em direção a casa.

WILL: - Deixa, tio Mulder... O Gafanhoto vai salvar você dessa vez...

Will aproxima-se sorrateiro da janela. Espia.

Corta pra Mulder, amarrado numa cadeira.

MULDER: - Eu não sei o que é!

WILL SMITH: - Onde está? Se não nos disser vamos pegar aqueles pirralhos e acabar com eles!

MULDER: - Eu mandei o chip pra Washington.

TOMMY LEE JONES: - Você o quê?

MULDER: - Eu mandei o chip pra ser analisado.

'Will Smith' se indigna. Chuta a cadeira. Mulder cai no chão.

WILL SMITH: - Estamos ferrados! O chefe vai nos matar! Olha o que esse idiota fez!

'Tommy Lee Jones' agarra Mulder pelo pescoço.

TOMMY LEE JONES: - Ok, FBI. Pra onde mandou o chip? Já estou perdendo a paciência.

MULDER: - Pra uns amigos.

TOMMY LEE JONES: - Quero o endereço.

MULDER: - E eu quero que vocês dois se explodam.

Tommy Lee Jones acerta um murro em Mulder. Mulder desmaia.

WILL SMITH: - (INDIGNADO) Ah, olha aí! Olha a caca que você fez, cara! Por que não controla essa raiva? Agora o tira tá sonhando!

TOMMY LEE JONES: - Ele estava me irritando.

WILL SMITH: - Ei, homem! Se sua mulher te irrita você faz isso com ela?

TOMMY LEE JONES: - Droga! Precisamos pegar aquele chip. E aqueles pestinhas. Vamos ter que matar todos eles. Se esse chip for parar nas mãos erradas...

WILL SMITH: - O que o governo quer com isso, cara? Aliás eu não entendendo mais nada! Eles pagaram o idiota do Piloto pra fazer o chip. Depois o Piloto se arrependeu e tentou fugir com a invenção. Afinal, pra que essa coisa serve?

TOMMY LEE JONES: - Esse chip serve pra acionar um míssil. Um sistema novo ultra-secreto do departamento de defesa. Se cair nas mãos erradas, o inimigo vai ter acesso a nova arma.

WILL SMITH: - Acha que o Piloto ia vendê-lo?

TOMMY LEE JONES: - Não, ele queria destruí-lo. Percebeu a potência da coisa. Um míssil desses pode varrer o estado todo da Califórnia em segundos. Precisamos disso. É uma grande arma de guerra. Imagine quantas pessoas essa coisinha pode matar em segundos?

WILL SMITH: - Sei não, meu amigo. Se o tira aí não disser onde está, vão é nos varrer da face da Terra...

TOMMY LEE JONES: - Acho melhor ficarmos de olho na casa. Precisamos pegar aqueles pestinhas. Temos ordens de não deixar prova alguma no meio do caminho.

'Will Smith' suspira.

TOMMY LEE JONES: - Vou fumar um cigarro lá fora. Tente acordar o cara. Ele tem a resposta.


9:13 P.M.

Mulder amarrado e amordaçado, sentado no chão. Will Smith anda de um lado pra outro. Tommy Lee Jones abre a porta e espia pra dentro. Sorri.

TOMMY LEE JONES: - Ei, olha o que achei lá fora!

Ele entra, sujo de pimenta nos cabelos e carregando Samanta e Bruna pelos braços.

BRUNA: - Me solta seu panaca!

SAMANTA: - Larga a minha irmã! Se machucar ela, eu mato você!

BRUNA: - Meu pai vai chutar você!!!!

SAMANTA: - Você vai ver só! Ele vai quebrar seus ossos um por um!

WILL SMITH: - Ah! O que duas menininhas como vocês fazem na rua num horário desses?

TOMMY LEE JONES: - Amarre as duas.

Elas gritam desesperadas. Mulder tenta se soltar. Will Smith entra em pânico. Puxa a arma. Elas silenciam. Tommy Lee Jones sai pra fora. Volta segurando Matthew pelas fraldas.

TOMMY LEE JONES: - Olha isso aqui.

Os dois começam a rir. Matthew chora. Mulder tenta se soltar, furioso.

TOMMY LEE JONES: - Tá bem, deixa essas coisinhas ao lado do Inspetor Bugiganga aí. Amarre todos.

WILL SMITH: - Como vou amarrar um bebê?

Corta para a porta. Cookie olha pra eles, latindo furioso.

TOMMY LEE JONES: - Um bebê eu não sei... Mas um cachorro...

WILL SMITH: - Cara, essa é a pior missão que já nos deram sabe? Isso cheira a óleo Johnson!

TOMMY LEE JONES: - Quero férias depois disso... Adivinha o que tentaram jogar em mim?

WILL SMITH: - Argh cara! Você tá fedendo a comida mexicana!

Os dois amarram as crianças. Will Smith amarra Cookie no pé da mesa. Tommy Lee Jones coloca Matthew dentro de uma caixa.

TOMMY LEE JONES: - E fique aí, fedelho. Se chorar, eu vou chamar o Monstro do Lago.

Matthew faz beicinho. Tommy Lee Jones olha pra eles.

TOMMY LEE JONES: - Ok... Não vê nada de errado?

WILL SMITH: - Vejo. Vejo que podia estar cercado de gatas num cassino e no entanto estou com um tira idiota, três crianças fedidas e um cachorro... Três???

Will Smith olha pra Tommy Lee Jones.

WILL SMITH: - O garoto!!!!!!!

TOMMY LEE JONES: - Exatamente. Tinha um garoto. Aposto que não está longe daqui.

WILL SMITH: - Vou pegar esse fedelho encrenqueiro.

Will Smith abre a porta.

WILL SMITH: - (GRITA) Ei garoto! Eu sei que está aí. Se não se entregar como um bom menino, eu vou matar seu tio, seu cachorro, seu irmãozinho e mais as suas irmãs.

BRUNA: - Não somos irmãs dele!

SAMANTA: - O Matthew é primo dele.

BRUNA: - E o cachorro é do tio Mulder.

TOMMY LEE JONES: - Ei calem as bocas tá legal, suas clones!

BRUNA: - Meu nome é Bruna! E o dela é Samanta. Clone é sua mãe!

TOMMY LEE JONES: - Ei, garotinha, você é muito tagarela, sabia?

WILL SMITH: - Cara, para de brigar com a Samanta.

BRUNA: - (FURIOSA) Eu não sou a Samanta! Eu sou a Bruna!

TOMMY LEE JONES: - (FURIOSO) Calem essa boca! Vocês duas me deixam louco! Eu vou soltar ratos aqui dentro!

As duas se arrastam pra perto de Mulder assustadas. Mulder tenta se soltar, olhando com raiva pra eles.

TOMMY LEE JONES: - Suas tagarelas!

Will entra. Olha pra elas chateado.

WILL SMITH: - Ahá... Amarre o Rambo aqui. Antes que ele crie tumulto na floresta com o exército.


BLOCO 4:

10:01 P.M.

Tommy Lee Jones fuma um cigarro. Anda de um lado pra outro. Mulder ainda amordaçado, o acompanha com os olhos.

TOMMY LEE JONES: - Alguém aqui está mentindo. Você disse que tem o chip, mas seu tio disse que o chip está com ele. Eu só quero o chip de volta e vocês podem ir. Me digam a verdade.

BRUNA: - Ele está mentindo, Will! Ele vai matar a gente!

TOMMY LEE JONES: - Sabem... Eu gosto de crianças.

SAMANTA: - (EMPOLGADA) Sério?

TOMMY LEE JONES: - Sim... Eu tinha um sobrinho. Ele falava demais.

BRUNA: - O que houve com ele?

TOMMY LEE JONES: - Comi no jantar.

As duas gritam assustadas.

TOMMY LEE JONES: - Calem a boca!

Elas silenciam.

TOMMY LEE JONES: - Se não calarem a boca, eu vou cortar vocês em pedacinhos e jogar naquele rio lá atrás. Os jacarés vão adorar! Nunca mais seu pai e sua mãe vão saber de vocês. Portanto, calem essa matraca!

As duas choram. Will olha pra eles, irrequieto.

TOMMY LEE JONES: - O que foi garoto?

WILL: - Preciso ir ao banheiro.

TOMMY LEE JONES: - Nada de banheiro.

WILL: - Se eu não for ao banheiro, vai acontecer um acidente por aqui.

Tommy Lee Jones olha pra Will Smith.

TOMMY LEE JONES: - Leve o garoto ao banheiro.

WILL SMITH: - Eu? Por que eu cara? Já notou que todo o serviço sujo é meu?

TOMMY LEE JONES: - Vai lá, anda logo, antes que o pestinha molhe as calças.

Ele solta Will. Abre a porta do banheiro.

WILL SMITH: - Não tente fugir. As janelas estão pregadas.

Will olha feio pra ele e entra, fechando a porta.

TOMMY LEE JONES: - Ok. Eu vou perguntar pela última vez. Quem está com o chip?

Mulder murmura alguma coisa.

TOMMY LEE JONES: - Eu vou matar o tio de vocês. Se não me responderem, eu vou matar um por um e isso inclui aquele fedorento de fraldas e o cachorro.


Corta pra dentro do banheiro. Will lava o rosto. Olha-se no espelho. Retira a faixa da cabeça. Tira a camiseta. Olha pra baixo. Puxa uma faixa do bolso, com desenhos em japonês. Amarra na testa, olhando-se no espelho. Respira fundo. Fecha os olhos.

WILL: - Você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre vocês. Você coexiste com seu oponente e torna-se complemento dele, absorvendo-lhe os ataques e usando a força dele para vencê-lo. (RESPIRA FUNDO) O vigor físico é bom, o vigor intelectual é melhor ainda, mas, muito acima de ambos, está o vigor do caráter.


Corta pra sala. Tommy Lee Jones puxa a arma. Mira na cabeça de Mulder.

TOMMY LEE JONES: - Onde está o chip?

A porta do banheiro se abre. Os bandidos olham pra Will que sai do banheiro, com a faixa na cabeça, sem camisa e pés no chão, fazendo gestos de concentração para uma luta. Mulder arregala os olhos, incrédulo.

WILL SMITH: - Ei, cara. Olha só... De onde surgiu essa tartaruga ninja ruiva?

Eles riem.

WILL SMITH: - Ei rapaz, eu também assisti A Fúria do Dragão e O Punho Demolidor...

Eles riem. Will os observa.

TOMMY LEE JONES: - Ô pequeno Bruce Lee, quantos golpes você sabe? Sabe 'varrer'? Tem uma vassoura lá nos fundos.

Eles riem. Will os estuda com os olhos.

TOMMY LEE JONES: - Ele pensa que é o Kung Fu... Me parece mais com o Hong Kong Foo dos desenhos animados... Hahahahahaha

WILL SMITH: - Ei, Daniel Sam, esqueceu o senhor Miyagi?

TOMMY LEE JONES: - Que nada! O Daniel Sam é bom em plantar bonsai...

WILL SMITH: - Essas crianças... Tá vendo por que não se deve deixa-los assistir TV? Saem por aí achando que são heróis.

TOMMY LEE JONES: - Tá bom, Daniel Sam, agora se sente ali e fique quieto.

WILL: - Meu nome não é Daniel Sam.

Mulder arregala os olhos.

WILL: - (SÉRIO) Meu nome é Willian Charles Scully. Conhecido como Gafanhoto.

Os bandidos se entreolham. Começam a rir.

TOMMY LEE JONES: - Ah pára com isso fedelho. Você não sabe de nada. Quais são os lemas do karatê?

WILL: - Esforçar para a formação do caráter. Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão. Criar o espírito de esforço. Respeito acima de tudo. Conter o espírito de agressão.

WILL SMITH: - Uhu! Cara, o moleque olha muitos filmes mesmo!

TOMMY LEE JONES: - E em que faixa você está, Gafanhoto? Na azul bebê?

Eles riem. As meninas observam empolgadas.

BRUNA: - É isso aí, Will! Mostra pra eles!

WILL SMITH: - Cala a boca sua pestinha barulhenta! Ou vou amordaçar você e sua irmã clonada.

TOMMY LEE JONES: - Olha Daniel Sam, sente-se ali ou vou começar a bancar o intolerante por aqui. Essa é a primeira lei.

WILL: - Baka!

WILL SMITH: - O que foi que ele disse?

WILL: - Tolice. Eu disse que o que você falou é uma tolice. A primeira lei da natureza é a tolerância, já que temos todos uma porção de erros e fraquezas.

Os dois se olham.

WILL SMITH: - Hum... Inteligente ele não?

WILL: - Reaja inteligentemente mesmo a um tratamento não inteligente. Nos deixem em paz e isto termina aqui. Não quero machucar vocês.

TOMMY LEE JONES: - Machucar a gente?

Os dois riem. Mulder fecha os olhos, assustado.

TOMMY LEE JONES: - Olha aqui, baixinho, estou ficando exaltado com você, sabia? Senta ali, antes que eu te mostre o que é um golpe.

WILL: - O espírito tranquilo gera energias e serenidade, mas o espírito exaltado e agitado gera a agressividade, contra a própria pessoa e contra os outros. Um lutador de karatê é ponderado e prudente. Ele aprende que os katás começam com defesas e que no karatê não há golpes de agressão.

Eles se entreolham. Will fecha os olhos.

TOMMY LEE JONES: - Tá bom, Daniel Sam, você já tá me irritando. Nem o senhor Miyagi vai te safar da surra.

Tommy Lee Jones arregaça as mangas.

TOMMY LEE JONES: - Vem aqui que vou te ensinar a não responder para os mais velhos.

Will olha pra ele. Fecha os olhos. Inspira fundo. Inclina o corpo para frente o cumprimentando. Ele o observa curioso. Will ergue-se. Move as mãos e os pés em posição de defesa.

WILL: - Ok, se não quer evitar isso, eu não tenho outra escolha. Preciso defender meus amigos.

Will Smith ri. Mulder fecha os olhos. As meninas observam curiosas.

WILL SMITH: - Vai lá, cara. Mostra pro Daniel Sam quem é quem aqui dentro.

Tommy Lee Jones se aproxima, erguendo a mão. Will acerta um golpe nas costelas dele. Ele coloca as mãos nas costelas.

TOMMY LEE JONES: - (GEMENDO) Eu vou matar... você, garoto...

Ele se irrita e avança em Will. Will desvia e acerta um golpe no rim dele. Ele cai no chão, gemendo.

WILL SMITH: - Ah não, garoto. Você tá me dando nos nervos.

Will Smith corre pra cima do garoto. Tenta passar uma rasteira, mas ele desvia, acertando um golpe na nuca do bandido. Ele cai. Tommy Lee Jones se levanta, puxando a arma.

TOMMY LEE JONES: - Ok, espertinho. Minha paciência esgotou e eu vou matar você.

Will acerta um golpe com o pé, num giro de corpo. A arma cai perto de Mulder. Mulder olha desesperado pra arma, tentado pegá-la. Tommy Lee Jones vira-se procurando a arma. Will, mete os dedos no pescoço do bandido. Ele cai desmaiado no chão. Will cruza os braços.

WILL: - Eu disse pra não se meterem com minha família.


1:23 A.M.

Mulder entra na casa, segurando Matthew no colo, que está dormindo. As crianças com ele. Um homem engravatado entra na sala.

HOMEM DA CIA: - Verificamos os nomes. Não constam em nenhum arquivo do governo. Não são da CIA.

MULDER: - Sei...

HOMEM DA CIA: - Olha, agente Mulder, queremos o chip. O governo precisa desse chip. Pedimos desculpas por esses sujeitos. Eles não trabalham pra nós.

Mulder olha pra ele. As crianças olham pra Mulder, em expectativa.

MULDER: - Não vai encontrar o chip.

HOMEM DA CIA: - Como assim???

MULDER: - Houve um problema... Tem mais alguém que gosta de jelly beans nessa casa... E... Acabou comendo o chip.

Mulder olha pra Cookie. O homem da CIA arregala os olhos.

MULDER: - Se quiser procurar onde o cachorro... Possa ter devolvido o chip...

O Homem da CIA sai da sala frustrado. Mulder fecha a porta. As crianças começam a rir.

SAMANTA: - Por que não entregou pra ele?

MULDER: - Porque não precisamos mais de armas. Vou destruir aquilo...

WILL: - Não chegaram! Ainda bem! Ou estaríamos seriamente encrencados.

MULDER: - Ok, vamos fazer um lanche, todo mundo agora na cozinha e vamos fazer de conta que nada aconteceu... Eles nunca acreditariam mesmo.


2:34 A.M.

Tara coloca a chave na fechadura. Mãos trêmulas.

SCULLY: - (NERVOSA) Tem certeza de que quer fazer isso?

TARA: - Seja o que Deus quiser, Dana...

SCULLY: - (SUSPIRA) Tara, eu... Eu pago os prejuízos.

TARA: - Dana, deixa assim. Afinal, Mulder cuidou do Matthew...

SCULLY: - Espero que... Consigamos limpar a bagunça.

TARA: - Preparada?

SCULLY: - É... Nunca se está preparada pra um choque.

Tara abre a porta bem devagar. As duas entram.

A sala limpa, organizada. Nenhum barulho. Tara e Scully trocam olhares desconfiados.

TARA: - Estranho...

SCULLY: - Realmente... Muito estranho.

As duas sobem as escadas. Caminham sem fazer ruídos. Empurram a porta do quarto de visitas.

Mulder dorme no meio da cama com Matthew em cima dele. De um lado, Will grudado em Mulder. Do outro Samanta e Bruna. Todos de pijamas e banho tomado, dormindo. Scully olha pra Tara.

SCULLY: - (SUSSURRA) Esqueci de dizer uma coisa.

TARA: - (SUSSURRA) O quê?

SCULLY: - (SUSSURRA) Mulder sempre me surpreende.

TARA: - (SUSSURRA) Dana... Onde posso encontrar um marido assim???


7:18 A.M.

Meg coloca a cesta de pães na mesa. Olha pra Mulder e Scully.

MARGARET: - Precisam ir mesmo?

SCULLY: - Mãe, conseguimos a manhã livre. Mas precisamos trabalhar.

MARGARET: - (CHATEADA) Tá. Eu entendo.

Charles sorri.

CHARLES: - Mãe, não se preocupe. Logo temos o aniversário do Will.

MARGARET: - É, e o Bill acabou sem jantar de aniversário graças ao enterro do pobre tio Thomas.

Bill entra na cozinha com o jornal. Senta-se.

BILL: - Quem liga pra jantar de aniversário?

Will entra na cozinha. Vestido de camisa social e calças sociais.

WILL: - Onde estão as meninas?

CHARLES: - Foram pra casa delas.

BILL: - Que roupa é essa?

WILL: - (ORGULHOSO) Eu sou um agente do FBI agora.

BILL: - (RESMUNGA) Agente do FBI...

Scully sorri.

WILL: - (EMPOLGADO) Tio Mulder me disse.

BILL: - (RESMUNGA) Tio Mulder... Esse cara nem é da nossa família. Ele nem família tem! Aliás, acho que nem a família dele o queria!

Mulder abaixa a cabeça. Scully olha pra Mulder, angustiada. Will senta-se entre Scully e Charles. Scully olha pra Bill com raiva. Tara entra na cozinha.

TARA: - Bom dia! Hum, Meg... Estou aproveitando da sua boa vontade em fazer café.

MARGARET: - Precisa descansar um pouco. Você anda muito esgotada... Ou pode me chamar pra pendurar no varal as roupinhas da menina que eu quero nessa família...

Tara senta-se ao lado de Mulder. Bill abaixa o jornal. Olha sério pra esposa.

BILL: - Me disse que a babá viria. Se soubesse que ia deixar Matthew com esse doido, eu tinha ficado em casa.

TARA: - (SEM GRAÇA) Bill...

Mulder olha pra Bill.

BILL: - Não quero o meu filho com esse cara. Ele é um mau exemplo pras crianças.

Meg senta-se à mesa. Ao lado de Mulder também.

MARGARET: - Tome seu café Fox.

Will olha pro jornal. Sorri. Na capa, a manchete: Presos homens suspeitos de atentado na Disney. Will olha pra Mulder. Mulder lhe pisca o olho.

BILL: - Não quero que ele toque no meu filho.

Charles olha pra Mulder. Olha pra Bill.

CHARLES: - (INDIGNADO) Bill... Pode deixar os seus comentários malditos pra quando estiver sozinho? Não vê que você magoa Mulder com isso?

BILL: - Você? Você é outro que não tem moral alguma pra me criticar. Não sabe nem cuidar do seu filho. Olha pra ele. Tem a palavra perdedor escrita na testa.

Will abaixa a cabeça.

BILL: - A mãe é uma destrambelhada. O pai é um maluco. O que se pode esperar dessa criança? Não demora muito e já está na rua causando problemas em companhia de uma gangue.

Will levanta-se da mesa e sai da cozinha correndo. Mulder levanta-se indignado, atirando o guardanapo sobre a mesa. Vai atrás de Will. Scully o acompanha com os olhos. Charles olha pra Bill.

CHARLES: - Não atire pedras na casa dos outros se você tem telhado de vidro. Você tem um filho também.

BILL: - Mas eu sei criar o meu filho. Ele tem pai e mãe, uma casa e muita atenção.

CHARLES: - (IRRITADO) Acha que não dou atenção pro meu filho? Pelo fato de estar separado acha que ele tem menos amor? Eu o crio com todo o amor do mundo! E sozinho! Acha fácil?

Meg suspira. Os observa em silêncio. Tara empurra a xícara. Cruza os braços, fazendo beiço.

SCULLY: - Charles...

CHARLES: - (INDIGNADO) Não, Dana. Eu não vou levar desaforo. Eu suo a camiseta pra dar tudo pro meu filho. Ele é um bom garoto. Média A na escola. Faixa verde no karatê. Líder do grupo de defesa do verde na escola.

BILL: - Essas besteiras todas. Devia é leva-lo numa igreja.

CHARLES: - Pra quê? Pra ser igual a você? Pra ficar blasfemando contra sua família? Não. Meu filho é mais do que isso.

BILL: - Crianças precisam de religião.

CHARLES: - Ele tem uma religião. Ele vai ao templo, ele medita. Ele gosta disso.

BILL: - Seu filho é um burro. Não é digno da família Scully!

CHARLES: - Burro? Ah não, mãe. Eu vou embora.

Charles se levanta. Tara abaixa a cabeça envergonhada. Scully olha para Bill.

SCULLY: - Quando meu filho estiver conosco aqui nesta mesa, o que vai dizer dele por ser filho de Mulder?

BILL: - Ora Dana, devia até agradecer que... Ora você sabe.

Scully levanta-se. Passa por ele.

SCULLY: - (REVOLTADA) Deus te perdoe, Bill. Te perdoe mesmo. E que Deus não desconte no pobre do seu filho as coisas que você fala dos filhos dos outros!

Scully sai da cozinha furiosa. Charles com ela. Meg levanta-se.

BILL: - Mãe?

MARGARET: - Em respeito à Tara eu vou ficar. Mas em respeito a você, Bill... Isso foi a coisa mais cruel que poderia dizer pro Charles e pra Dana. Mas Deus é pai! Ah, Deus é pai! E você vai engolir tudo o que disse aqui hoje.

Margaret sai da cozinha. Tara olha pra Bill.

TARA: - Se não virar gente, vou pegar minhas coisas e meu filho e vou pra casa da mamãe. Foi a última vez que me fez passar vergonha na frente da sua família. Eu não aguento mais você!

Tara sai da cozinha. Bill ergue os ombros. Abre o jornal.

Corte.


Will sentado na cama. Chora cabisbaixo. Mulder entra no quarto. Fecha a porta.

MULDER: - Ei Gafanhoto.

Ele ergue o rostinho. Mulder senta-se ao lado dele.

MULDER: - Não está levando a sério o que o Pit Bill falou. Ele é um cara mal humorado. Sua avó me disse que chupou muito limão na gravidez dele...

WILL: - ...

MULDER: - Você sabe que é um grande menino.

WILL: - Não... Eu não sou. Eu sempre faço tudo errado.

MULDER: - Como não é? Você salvou a mim, as meninas e até mesmo ao filho do idiota lá embaixo. O mesmo idiota que diz que você não é nada. E eu sei que dentro de você há uma grande lição oriental sobre isso, Gafanhoto.

WILL: - ...

MULDER: - Gafanhoto, eu tenho muito orgulho de você. Da sua coragem. Eu vou repetir o que disse pra você ontem: Sua atitude foi a de um homem de coragem, de um adulto. Eu não conseguiria derrubar aqueles caras como você fez. Se não fosse por você nós estaríamos mortos. Você foi um herói. E eu tenho orgulho de você.

WILL: - ...

MULDER: - O jeito como colocou aquele cara pra dormir com um toque... Aquilo é perigoso. Eu, que sou adulto, não sei fazer aquilo. É um golpe mortal se for feito de maneira errada e você o fez como um mestre verdadeiro.

WILL: - É. Eu sei. Meu mestre me disse pra não fazer aquilo. Se pegar de jeito errado, pode matar a pessoa. Mas eu não tinha outra alternativa.

MULDER: - E então, agente do FBI? Acho que agora eu posso te dar aquela credencial. Mas vai ter que ir buscar em Washington.

Ele sorri. Olha pra Mulder empolgado.

WILL: - Tá falando sério? Vai me levar pra conhecer o FBI?

MULDER: - Vou. Mas só se você for digno de ser um agente.

WILL: - E o que eu devo fazer?

Mulder tira a gravata do pescoço.

MULDER: - Pra começar, coloque essa camisa pra dentro das calças.

Will se levanta empolgado. Ajeita a camisa. Mulder vai pra frente do espelho.

MULDER: - Vem aqui.

Ele vai pra perto do espelho. Mulder senta-se na cadeira. Envolve seus braços em Will, colocando sua gravata no menino. Will dá um sorriso, olhos brilhando de felicidade.

MULDER: - Precisa usar gravata. Essa é um pouco grande pra você, mas é pra ir se acostumando. Vamos, vou te ensinar a colocar uma gravata.

WILL: - (SORRI)

MULDER: - Assim... Você pega essa parte, passa por aqui... Agora aqui... Tá vendo? Assim... Hum, está ficando muito bonito... Pronto! O grande campeão de karatê da família Scully... Ainda vou ter a honra de ver suas medalhas olímpicas, que com certeza serão maiores em quantidade que as do tio Bill. Você vai ganha-las numa atividade esportiva. Ele, só as ganha matando gente.

Will sorri, passando a mão na gravata. Mulder o vira pra si.

MULDER: - Hum... Ficou bonito, Gafanhoto. Você combina com gravatas.

WILL: - Eu gostei, mas ela é sua. Vai precisar.

MULDER: - Não, agora ela é sua.

WILL: - (EMPOLGADO) Sério?

MULDER: - (SORRI) Sério. Ela é sua. É o mínimo por ter salvo nossas vidas ontem.

WILL: - Tio, posso te perguntar uma coisa?

MULDER: - Pergunta.

WILL: - Você realmente tem orgulho de mim?

MULDER: - Se eu tenho orgulho de você? Eu tenho inveja de você! Se seu pai não fosse irmão da Scully, eu juro que te sequestraria pra ser meu filho.

WILL: - (SORRI)

MULDER: - Gafanhoto, você me faz ter fé na humanidade, sabia? Olho pra você, pras suas amiguinhas... Pras crianças todas... Me dá mais vontade de lutar por um mundo justo pra vocês. Vocês não merecem isso que deixaram pra nós. Cabe a nós tentar melhorar isso pra vocês.

WILL: - Tio Mulder, guarde as sábias palavras de Ghandi: Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.

Mulder olha pra ele. Afaga seus cabelos num sorriso.

MULDER: - Você é um grande garoto, Gafanhoto. Vou guardar estas palavras como discípulo de um grande mestre, não em tamanho, mas em virtude.

WILL: - Então agora eu sou o Kung Fu?

MULDER: - Não. Ainda falta muito pra ser Kung Fu. Você ainda é o pequeno Gafanhoto. O sábio é aquele que se chama de tolo uma vez por dia.

Os dois se abraçam.

Corte.


Na frente da casa, Mulder coloca as sacolas no carro. Will aproxima-se de Samanta e Bruna.

SAMANTA: - Você tem que ir embora mesmo?

WILL: - Tenho.

BRUNA: - Quando vai voltar?

WILL: - Nas próximas férias. Ou quando tiver outra reunião aqui no tio Bill.

BRUNA: - Vai mandar e-mail pra gente?

WILL: - Vou.

SAMANTA: - Depois diz o que achou do Harry Potter.

WILL: - Tá.

SAMANTA: - A gente quer te dar uma coisa.

Bruna entrega um pequeno cisne feito de material emborrachado, que mexe as asinhas.

BRUNA: - A gente quer te dar isso.

SAMANTA: - Pra lembrar de nós.

WILL: - O que é isso?

SAMANTA: - Um cisne, seu bobo.

WILL: - Tem algum significado?

As duas se olham. Olham pra ele.

BRUNA: - Que a gente gosta de você.

WILL: - ... Pra mim tem um significado, suas irmãs de Harry Potter.

As duas riem.

WILL: - Os bruxos bons acreditam no poder que os animais têm de transmitir ensinamentos e mensagens ocultas. O cisne significa suavidade, intuição, evolução espiritual. Essência que desenvolve a capacidade de ver o belo em si mesmo, para quem tem auto-estima muito baixa. Também ajuda a ver as qualidades positivas nas outras pessoas.

BRUNA: - Foi um bom presente pra você?

Will guarda o cisne no bolso.

WILL: - Será o lembrete que eu terei por toda a vida da lição que devo aprender.

Os três se abraçam. As meninas começam a derrubar lágrimas. Will chora com elas.

WILL: - Bom... A gente se fala.

SAMANTA: - Tá.

WILL: - Cuidem do clube.

BRUNA: - Tudo bem, adulto não entra.

WILL: - Eu... Da próxima vez a gente brinca de Harry Potter... Mas não se metam com nenhum bruxo de verdade!

Mulder abre a porta do carro. Cookie entra no banco traseiro. Will entra também. Scully termina de se despedir da família. Mulder aproxima-se de Bill. Bill range os dentes.

BILL: - Até a próxima, Lunático. Isto se a minha irmã não acordar antes e perceber que deve pedir divórcio. Adoraria ser testemunha.

MULDER: - Na próxima, cunhadinho, vou fazer xixi no seu uísque. Acredite. Eu sou muito mal.

BILL: - Mande lembranças aos seus amigos extraterrestres invisíveis.

MULDER: - Mande meus pêsames aos seus soldados. Não é à toa que os fuzileiros navais decaíram em comportamento.

BILL: - Tenha um bom dia, repleto de dor de barriga.

MULDER: - Você também tenha um bom dia. Assistindo televisão na sua poltrona.

Bill olha pra ele intrigado. Mulder sorri. Bill dá as costas. Scully entra no carro. Mulder observa as meninas. Acena pra elas.

MULDER: - Samanta, você fica muito bonita de azul.

BRUNA: - Eu não sou a Samanta! Eu sou a Bruna!

Mulder faz cara de pânico. Entra no carro.

MULDER: - Apertem os cintos. Checando passageiros... Esposa?

SCULLY: - Presente.

MULDER: - Sobrinho?

WILL: - Presente.

MULDER: - Cachorro?

Silêncio.

MULDER: - Cachorro?

Cookie dá um latido.

MULDER: - Ah bom. Agora vamos pra Washington.

Mulder dá a partida. Liga o CD.

MULDER: - Gafanhoto, você gosta de rock?

WILL: - Adoro!

Scully olha séria pra eles.

SCULLY: - Não vão fazer bagunça a viagem toda. Vão?

MULDER: - Não. Só vamos fazer bagunça depois de comprar pipocas, algodão doce, revistas em quadrinhos e confesso, aquela coleção inteira de bonecos do Homem Aranha... Scully, precisa ver que sensacional aqueles bonequinhos...

Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Mulder, você não cresce?

MULDER: - Pra quê?

Corte.


Bill aproxima-se da poltrona, segurando um copo de uísque. Liga a TV. Vai sentar-se mas observa o uísque. Olha intrigado. Despeja o uísque numa folhagem.

BILL: - Por via das dúvidas... Você não me pega, Lunático.

Bill senta-se na poltrona. Pega o controle remoto. Olha pro controle remoto, todo roído por dentes caninos.

BILL: - (GRITA) Tara!!!!!!!!!!!! Olha o que aquele cachorro pulguento do Lunático fez! Cachorro maluco feito o dono!

Bill tenta mudar os canais mas não consegue. Atira o controle remoto na parede. Pega a bomboniere da mesinha e coloca sobre o colo. Assiste a TV.

LOCUTOR (OFF): - Vai começar o segundo round... A luta promete e podemos ver Bob Punhos de Aço chamando o adversário pra briga...

Bill abre a bomboniere e põe a mão dentro. Olha pra bomboniere. Joga longe, sobe no sofá desesperado e começa a gritar.

BILL: - (GRITA) Baratas!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Corte.


Scully dirige o carro. Mulder atira pipocas em Will. Will atira pipocas nele.

SCULLY: - Queria ver a cara do Bill agora, sentado naquela poltrona.

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Como descobriu?

SCULLY: - ???

WILL: - Quando ele descobrir que o cachorro fez xixi na almofada... Tia Dana, vai ser muito engraçado!

Scully começa a rir. Will ri com ela.

SCULLY: - Sério?

MULDER: - (RINDO) Sério. Como sabia?

SCULLY: - Não sabia. Não estou rindo por isso. Estou rindo porque coloquei baratas na bomboniere.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully... Você não cresce?

SCULLY: - Pra quê, Mulder?

[A tela fecha-se como uma cortina]


THE END???

10/02/2001


17 августа 2019 г. 23:21 0 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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