lara-one Lara One

Scully está grávida. Mulder sabia da verdade, mas não poderia revelá-la. Qual será a reação de Mulder diante do acontecimento que ele, inutilmente, tentou evitar? Scully desconfiará da natureza real da criança? Mulder pede ajuda ao Canceroso. Mas ele descobre outra verdade, a que nunca quis acreditar.


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S03#14 - NATIVIDADE - PARTE II - A PROFECIA

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Mulder observa a chuva pela janela de seu apartamento. Os olhos estão vermelhos de tanto chorar. O sono já foi embora e a vontade que ele tem é de pular daquela janela.

MULDER (OFF): - Pessoas como toda a gente: Não acreditam nos flagelos, pensam em si próprios. São humanistas, em outras palavras. O flagelo não está à medida do homem: Diz-se então que é irreal, que vai passar, que é um sonho mal. Ele porém não passa, e de sonho em sonho, são os homens que passam, e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram suas precauções. Esqueceram de ser modestos. Julgam-se livres e nunca alguém será livre enquanto existirem os flagelos.

Mulder derruba lágrimas, olhar perdido.

MULDER (OFF): - Ou enquanto existir Deus. Mas que Deus é esse que pouco se importa pelos sentimentos dos filhos? Que Deus é esse que permite a destruição, a morte, a peste, a fome, o genocídio? Que Deus é esse? Que propósito existe nisso tudo?

Mulder sente ódio.

MULDER (OFF): - Doença do espírito, do eu, o desespero pode, como tal, tomar três figuras: O desespero inconsciente de ter um eu, o que é o verdadeiro desespero... O desespero que não quer e o desespero que quer ser ele próprio... Algumas horas ou alguns anos dão na mesma, quando se perdeu a ilusão de ser eterno... Fico aqui pensando em frases soltas de Camus, Sartre e Kierkegaard, pensando em como os existencialistas estavam certos em suas dúvidas sobre a razão da existência humana... Não há razão. Não há propósito. Foi acidente. Somos meros grãos de areia diante do cosmos, e nos assopram pra fora do tabuleiro quando querem. Nos usam como querem. O homem nunca foi e nunca será livre. O homem está fadado a ser criatura. Talvez a idéia de sermos importantes foi uma mentira bíblica. Talvez, quando morremos, tudo acabe. Por que nos diriam a verdade? Se com a esperança, já ficamos revoltados e partimos pra atos violentos. Sem esperança, ainda seríamos macacos... Felizes são os animais. Não há fardo pesado. Apenas seguem instintos. Não precisam lutar contra sua consciência.

Mulder passa o dedo no vidro embaciado. Escreve um S.

MULDER (OFF): - Eu trouxe todas as desgraças que você sofreu. Mas esta foi a última. Não sou um homem, nem sou um deus. Não sou nada que possa ser catalogado no dicionário das coisas comuns. Durante tanto tempo eu quis ser diferente, nadar contra a correnteza do que é comum. Agora, tudo o que queria, era ser um homem comum. Um simples homem comum. Aquele que acorda cedo, vai trabalhar, volta à noite, beija a esposa e brinca com os filhos... Mas não. Eu sou uma criação da criação. Sou menos que um humano. Não sou nada... Doença, loucura e morte foram os anjos que ficavam de vigília sobre o meu berço... Mas eu não vou me entregar. Eles não vão tirar o nosso filho. Vão ter de me matar primeiro.

VINHETA DE ABERTURA:


BLOCO 1:

Mulder, sentado no sofá, olhar distante.

GABRIEL: - Sei que tem vontade de meter um tiro na cabeça, mas, eu não vou levar você.

Mulder vira o rosto. Vê Gabriel escorado na parede.

MULDER: - O que faz aqui? Veio assistir a minha dor? Isso te diverte?

Gabriel olha pra ele.

GABRIEL: - Já assisti dores o suficiente. Futebol me diverte. Piadas também.

Gabriel senta-se ao lado de Mulder.

MULDER: - ... Dane-se você! Ainda bem que é imortal, pois desejo que sofra por toda a eternidade.

GABRIEL: - Não, você não deseja. Você está com ódio da sua impotência humana. Mulder, Mulder... Você não pode deter todas as desgraças! Nem tudo é por você, sua mulher já tinha dito isso. Espero que agora entenda o real sentido da frase. Eu não poderia revelar a verdade. Você não entenderia. Não há palavras suficientes pra representar as coisas desse universo. A verdade é muito grande e complexa pra você neste momento.

MULDER: - Não quero mais existir.

GABRIEL: - Ora, pare de sentir pena de si mesmo.

MULDER: - Não pode me ajudar?

GABRIEL: - Posso. Muitas vezes, é melhor viver na dúvida do que saber a verdade.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Talvez não seja seu filho.

MULDER: - Então não faz sentido isso.

GABRIEL: - Nunca se sabe.

MULDER: - Mas é filho dela!

GABRIEL: - Talvez não seja. Talvez tenha sido implantado.

MULDER: - ... Quer me deixar confuso? É esse o tipo de ajuda que me oferece?

GABRIEL: - Quanto mais confuso um homem, menos certeza ele tem, e menos sofrimento ele passa. Por isso não estão prontos pra verdade. (INDIGNADO) Mulder, vocês costumam dualizar tudo. Você viu a minha reação, minha personalidade, minhas roupas e concluiu que eu era Lúcifer. Acha que sou mal?

MULDER: - ...

GABRIEL: - Lúcifer também é bom. Ele discordou dos meios de Deus, assim como você discorda agora. Isso te torna mal? E aí? Decifra-me ou te devoro.

MULDER: - ...

GABRIEL: - O mundo não pode ser catalogado em dualidades. Certo, errado, bem, mal, frio, quente. Existem outras coisas que vocês não entendem, ainda não estão preparados pra entender. Nem física, nem espiritualmente. Este é um planeta em evolução, Mulder. Por isso virou o centro das atenções. Todo mundo quer tirar seu pedaço.

MULDER: - Quero meu filho. Ele é meu filho!

GABRIEL: - Jesus foi açoitado, crucificado e, não convencidos de que tinha morrido, atravessaram uma lança nele. Imagine a dor de um pai, que enviou o filho pra salvar essa macacada, vendo tudo aquilo lá de cima?

MULDER: - Ele podia evitar! (CHORA) Eu não posso! Eu não sou Deus!

GABRIEL: - Cristo não quis! Ele queria ajudar essa gente! Mulder, está pensando em seu filho como um pedaço de carne que vai servir de cobaia genética! Já pensou nele como uma alma que quer vir até aqui ajudar o mundo? Ou é egoísta demais pra ver isso?

MULDER: - Ele é meu filho!

GABRIEL: - Não. Você pode ter parte na concepção da carne, mas nunca terá na alma. Portanto, não é seu. Não entenderia, Mulder. Não posso explicar porque não entenderia. É muito complexo.

MULDER: - Vá embora.

GABRIEL: - Não. Não enquanto você não for atrás dela.

MULDER: - Eu não vou ficar com ela! Eu não suporto ver a alegria do rosto dela e ela nem sabe o que vai vir! Eu... (CHORA) Eu não vou suportar vê-la chorando pelo filho quando esse for embora. Eu... eu não posso mais olhar pra ela! Não entende? Eu menti!

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Que coisa feia!

MULDER: - (CHORANDO/CULPADO) Eu menti, eu escondi isso tudo pra evitar que ela se magoasse.

GABRIEL: - Se tivesse dito a verdade, ela acreditaria? E vocês poderiam evitar isso?

MULDER: - (CHORANDO/DESESPERADO) Eu não posso mais olhar pra ela! Eu sei o que vai acontecer! Não posso contar, não posso evitar! Eu estou ficando louco!

GABRIEL: - ... Aposto que você vai sofrer mais.

Mulder olha pra ele, incrédulo.

MULDER: - (GRITA) Seu desgraçado! Saia daqui! Duvido que seja um anjo. Se é, eu odeio anjos!

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Psiu, não fale isso. Seu anjo da guarda está aqui.

MULDER: - E daí? Dane-se vocês dois!

GABRIEL: - (BALANÇA A CABEÇA) Tisk, tisk... Que coisa feia, Mulder... Na hora em que precisou de ajuda, ele uniu a sua mão com a de sua parceira, quando aquele elevador e Ernest iam te levar pra um umbral, onde agonizaria a eternidade toda. YEA-HEL estava lá, segurando sua mão. Como sempre está. Que ingratidão! Ele fica te orientando e agora você fica aí o ofendendo?... Ele não é meu subordinado, mas nem por isso vou permitir que fale mal dele.

MULDER: - (GRITA COM ÓDIO) Saia daqui!

GABRIEL: - Não.

Mulder levanta-se.

MULDER: - (GRITA) Sai daqui! Eu não quero mais ver a sua cara. Me deixe em paz! Já fez o que tinha pra fazer, agora volte pro seu inferno!

Gabriel deita-se no sofá. Liga TV.

GABRIEL: - Acho que vou ficar dormindo por aqui. Apesar de que esse apartamento é um lixo. Odeio esses serviços...

MULDER: - (GRITA/ IRRITADO) Vá embora!

GABRIEL: - Não. Não vou enquanto não ficar do lado dela.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Tem algum doce na geladeira?

MULDER: - (ÓDIO) Você é insuportável!

GABRIEL: - Sou, agora sai da frente e fique quieto. Vai começar o Vale-Tudo.

MULDER: - Seu...

GABRIEL: - Já disse. Vou morar aqui com você. Se quer se livrar de mim, volte pra ela.

MULDER: - ...

Mulder pega o casaco e sai, batendo a porta.

GABRIEL: - Ah! Um sofá de couro confortável... Acho que vou tirar minha botas... (BOCEJA) Hum... Acho que vou ficar instalado aqui pela eternidade toda. Afinal, o tempo é ilusório. Parece que foi ontem quando a mulher de Lot virou sal. Bom, ele não poderia se queixar disso. Pelo menos ela ficou mais temperada...


Apartamento de Scully – 2:33 A.M.

Scully, sentada no sofá, chora. Fecha os olhos.


FLASH BACK:

No hospital, Mulder, sentado na cama, afasta-se de Scully, chorando. Olha pra ela, em desespero.

MULDER: - (CHORANDO) Não... Me diz que isso é mentira! Você não está grávida...

Scully muda a fisionomia de alegria para tristeza. Olha pra ele, incrédula com a reação de Mulder. Os olhos dela estão vermelhos de chorar.

SCULLY: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) Mulder, eu... Eu estou grávida. Nós... Nós vamos ter um bebê... Você vai ser pai e... Você queria isso...

Mulder chora. Levanta-se da cama, desatinado. Esmurra a parede. Scully, sem entender o motivo, entra em desespero.

MULDER: - (GRITA) Não! Eu não aceito isso! Eu não aceito!

Scully chora. Mulder está transtornado. Scully olha pra ele, com ódio.

SCULLY: - (GRITA) Sai daqui, Mulder! Não vai estragar a minha felicidade! Eu... Eu não sei como isso aconteceu e pouco me importa. O que me importa é que eu agora vou ter um filho, o que eu mais desejei na minha vida.

Mulder olha pra ela, com piedade.

MULDER: - (ASSUSTADO) Scully... Não...

SCULLY: - (FERIDA) Não, Mulder! Vai embora e me deixa em paz! Se não quer assumir, se não tem capacidade mental pra isso, saia daqui! Eu me viro sozinha!

MULDER: - Scully, não é isso...

SCULLY: - (GRITA/CHORANDO) Vá embora! Eu sabia que não estava preparado!

Meg entra no quarto, assustada. Olha pra eles, que estão desesperados e em lágrimas.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - (GRITA COM ÓDIO DELE) Já disse pra ir embora! Sai da minha vida, por que você não é digno de pena, Mulder! A sua reação ao que eu disse já me falou tudo! Você é neurótico, paranoico e louco! Se não gosta de crianças, Mulder, nós não temos nada em comum. Se está triste porque eu vou ter um filho seu, dane-se! É meu filho, mais do que seu! Por que você não tem amor algum a essa criança, você sempre evitou isso e agora, eu não vou deixar que você estrague a minha vida! Isso foi um milagre, Mulder! Se quiser, pode fazer um Arquivo X! Por que acho que é só como você vê essa criança. Como um objeto de investigação!

Mulder sai desatinado. Meg aproxima-se de Scully. Scully chora convulsivamente, abraçada na mãe.


TEMPO REAL:

Scully abaixa a cabeça, chorado. Respira fundo, erguendo a cabeça. Segura as lágrimas.

SCULLY: - Não, Mulder... Você não merece isso. Eu não vou mais derrubar uma lágrima por você. Agora eu tenho o meu filho e é tudo o que importa. Se ele não tiver um pai, ele terá uma super mãe. Mas ele não vai ficar sozinho.

Scully levanta-se. Vai até o quarto. Desarruma a cama. Deita-se. Passa as mãos sobre a barriga. Chora, inconsolada.

SCULLY: - Eu amo você. Eu sempre te desejei, antes mesmo de você estar aí. O meu amor vai suprir o amor que te faltará. Seu pai é louco, ele... Ele não tem estabilidade emocional pra suportar isso. Ele fica divagando em falsas justificativas pra não ser pai. Uma hora acha que é alienígena, outra que não quer perpetuar os genes do Canceroso... (CHORANDO) Não importa, meu filho. Não importa. Eu amarei você pelo que você é... E pra mim, você é meu filho. Não importa seu sangue, sua cor, seus credos. Você é meu filho e eu me sinto honrada de ter você aí dentro. Você foi um milagre, agora eu entendo porque tive aquelas sensações estranhas de anjos por perto... Foi um presente de Deus. Mas seu pai, não acredita Nele. Essa alegria é só minha... Quando eu duvidei de Deus... (CHORA) Oh, meu Deus! Perdoa a minha ofensa!

Scully desliga o abajur. Deita-se de lado, com a mão sobre a barriga, afagando-a. Chora baixinho.

SCULLY: - Mais uma vez, Mulder, você vai embora quando eu mais preciso de você...

Corta para o fundo do quarto. Miguel olha pra ela, enternecido.


BLOCO 2:

Apartamento de Mulder – 4:21 P.M.

Mulder entra. Olha pra Gabriel, que está sentado no sofá, com as pernas sobre a mesa de centro, cercado de guloseimas.

MULDER: - Não acredito! Pensei que já tinha dado o fora.

Gabriel olha pro lado de Mulder. Inclina a cabeça, tentando escutar algo.

GABRIEL: - Psiu, fique quieto!

MULDER: - O que foi?

GABRIEL: - Psiu!

MULDER: - ...

Gabriel olha pra Mulder.

GABRIEL: - Ah, então foi beber!

MULDER: - Quem te disse isso?

GABRIEL: - Seu anjo da guarda, aí do seu lado. Como foi? A bebida apagou as mágoas?

MULDER: - Ah, então tenho um anjo fofoqueiro? Além de não me proteger nunca, ainda é fofoqueiro? Pois vá você e todos os anjos pro inferno! Sai daqui!

GABRIEL: - Eu não vou sair.

MULDER: - Vou te por pra fora a socos!

GABRIEL: - Ei, nem tente. Posso fazer você atravessar aquela parede. Ou posso fazer você cair pela janela. E sabe o que é pior? Você vai ficar quebrado, sentindo dores horríveis, com as quais jamais sonhou e vai pedir pra morrer. E eu não vou te levar. Não é sua hora.

MULDER: - Seu...

GABRIEL: - Acalme-se. Vai começar um filme. Parece que é sobre o Apocalipse. Gosto dessas ficções humanas... Bestas chifrudas que saem do inferno e levam as almas dos homens... Uau! Catástrofes com meteoros, alienígenas invadindo a terra em naves esquisitas... Isso é muito engraçado.

Mulder põe-se na frente da TV. Gabriel olha pra ele. Lança um olhar estranho. Mulder vai se afastando da frente da TV sem mover os pés. Mulder olha pra baixo e percebe que está flutuando. Olha incrédulo e assustado pra Gabriel.

GABRIEL: - Sou um anjo. Posso tudo. Não me desafie. Tenho paciência muito grande. Espero pelo Apocalipse desde a criação do Éden!

Mulder fica atordoado. Vai pra cozinha, derrubando lágrimas. Gabriel levanta-se.

GABRIEL: - Ah, eu desisto. Vou dar uma volta por aí e ver a agitação noturna.

MULDER: - Vá se danar!

GABRIEL: - É... É uma boa. Acho que vou fazer uma visita e ver como Lúcifer está indo.

MULDER: - Sua ironia me irrita!

GABRIEL: - Você irrita muita gente, agora chegou a vez de ficar irritado.

MULDER: - ... Odeio você!

GABRIEL: - Também não sou seu fã. Mas eu te dei o aviso em sonhos quando tudo já estava acontecendo.

MULDER: - Fui... abduzido?

GABRIEL: - Não. Aquela nave só estava sobre a cabana caçando vaga-lumes...

MULDER: - (IRRITADO) Me avisou... Me avisou tarde demais! E eu consegui evitar?

GABRIEL: - Lembra-se do que falei. Não era pra ser evitado.

MULDER: - Cale sua maldita boca!

GABRIEL: - Ei, eu estou aqui fazendo um favor e você fica me destratando? Costuma fazer isso com suas visitas?

MULDER: - .. . Desde quando ela está grávida?

GABRIEL: - Quando foi a última abdução?

Mulder fecha os olhos, sentindo-se culpado.

MULDER: - Deus! Então não estou errado! E eu estava tentando evitar o que já estava feito! Eu deveria ter ido atrás dela. Eu deveria!

GABRIEL: - Ora, tudo estava escrito. Só lhe dei a revelação. Não iria conseguir deter o processo das coisas...

MULDER: - Ela poderia ter perdido o bebê! Não pensaram nisso?

GABRIEL: - Não sei, não é meu departamento. Eu trabalho no porão. Sou encarregado de mensagens e revelações.

Mulder atira um vaso, Gabriel desvia o vaso com o olhar. Olha pra ele, censurando-o.

GABRIEL: - Vou sair. Não tente cortar os pulsos. Eu sentirei o cheiro da morte de longe. Se chegar aqui e ver que é você, vai ficar aí sangrando. Mas não vai morrer.

Gabriel aproxima-se da porta. Põe o dedo sobre os lábios. Vira-se pra ele.

GABRIEL: - Ah, já ia me esquecendo. Nem adianta por fogo na casa. Só vai ser o cara mais feio e enrugado de Washington a perambular pelas ruas, cheio de bolhas, sofrendo... Ah, outra coisa: Nem tente cortar a cabeça. Odiaria torna-se apenas uma cabeça falante, vendo seu corpo andar por aí batendo nos postes, segurando sua cabeça debaixo do braço... (PENSATIVO) O que logicamente não adiantaria, porque seus olhos veriam e sua boca diria: Pra esquerda. Mas os ouvidos estão na cabeça e seu corpo é surdo. É. Não é uma boa ideia.

Gabriel sai. Fecha a porta. Caminha até o elevador. Aperta o botão. O elevador abre-se. Krycek desce. Gabriel olha pra ele.

GABRIEL: - Ei, você!

KRYCEK: - O que foi? Te conheço de algum lugar?

Gabriel encosta o dedo na testa dele.

GABRIEL: - Faça um favor pra si mesmo. Vá dormir.

Krycek volta pro elevador. Gabriel observa a porta fechar-se. Suspira. Vira-se rapidamente. Miguel olha pra ele.

MIGUEL: - Assustado?

GABRIEL: - Costumo ficar assustado. Nunca se sabe quem se aproxima.

MIGUEL: - Vou tentar meu método.

GABRIEL: - Tudo bem, vá em frente. Mas eu já comi tudo que tinha na geladeira dele.

MIGUEL: -... Ela está arrasada, mas já dormiu.

GABRIEL: - Ele tá bêbado. Acho que vai pensar que já tomou todas quando olhar pra sua cara patética.

MIGUEL: - Ele é meu protegido. Deveria ter vindo até ele. Porque você só está atrapalhando mais.

GABRIEL: - Vá em frente. Se eu, que sou o anjo que ele crê, não consegui nada, acho melhor nem mostrar suas asinhas pra ele. Vai te por a pontapés porta à fora, pensando que é alucinação. Poderia assumir a forma de um daqueles acinzentados. O resultado seria melhor.

Miguel olha pra Gabriel.

MIGUEL: - Você é insuportável às vezes, sabia?

GABRIEL: - Por isso sou Gabriel. Agora vá lá consolar ele, porque eu já tô de saco cheio. Literalmente falando... Vá, afinal ele é protegido de um Arcanjo, não de um Anjo. O problema é seu, não meu. Estou nessa por dever.

Gabriel desce as escadas. Miguel suspira.

MIGUEL: - Senhor, perdoe, mas estou encarnado e a carne é fraca. Estou começando a me irritar com ele.

Miguel atravessa a porta do apartamento. Mulder continua chorando. Miguel aproxima-se dele. Mulder não o vê. Miguel sopra em seu ouvido. Mulder não o escuta. Miguel senta-se de frente pra ele e o observa.

MIGUEL: - Mulder...

MULDER: - ...

MIGUEL: - Mulder, ambos lutamos a favor do mundo. Nós o protegemos.

Mulder continua chorando, não notando a presença de Miguel. Miguel olha pra ele. Levanta-se.

MIGUEL: - Soldado de Miguel, levante-se e parta pra luta. Não foi dado à ti a espada pra lutar contra eles, mas sim foi exigido teu corpo. Aceites isso como uma graça.

Mulder continua sem ouvi-lo.

MIGUEL: - Mulder, levante-se e lute! Reaja! Sabe que não pode impedi-los das barbáries, mas sabes que vencerá a guerra!

Mulder levanta-se. Vai pro sofá. Se atira e começa a chorar de novo. Miguel suspira. Dá um beijo em sua mão e atira pra Mulder. Mulder dorme.

MIGUEL: - O que eu faço? O que eu faço? Ele não me escuta!

Miguel aproxima-se de Mulder. Fala algo em seu ouvido, mexendo os lábios, sem pronunciar uma palavra.


Arquivos X – 8:23 A.M.

Mulder entra na sala. Scully está cabisbaixa, sentada à escrivaninha.

MULDER: - Me atrasei.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully...

Ela ergue a cabeça, olhando com ódio pra ele.

SCULLY: - Não fale mais uma palavra sobre isso, Mulder. Não temos mais nada. Faça de conta que nada disso aconteceu. O problema é meu. Só meu.

MULDER: - ... Scully.

Scully levanta-se. Sai da sala, batendo a porta. Mulder segura o choro.


Recepção do Gabinete do Diretor Assistente – 9:44 A.M.

Skinner atira a pasta que o Canceroso lhe dera sobre a mesa. Mulder a pega.

SKINNER: - Quero que investiguem isso.

Scully nem olha pra Mulder, com o rosto virado pro outro lado. Skinner percebe. Mulder lê os papéis.

MULDER: - Como obteve acesso à isso?

SKINNER: - Quero que investigue. O diretor quer prioridade.

Mulder olha pra ele. Scully levanta-se. Sai da recepção. Skinner olha pra Mulder.

SKINNER: - Mulder, estão metidos em algum problema?

MULDER: - Não. Ela só está estressada... Skinner, o que está acontecendo por aqui?

SKINNER: - Mulder, não me pergunte nada. Agora vá fazer sua parte e fique de olhos bem abertos. Entendeu, não é?

Mulder levanta-se. Sai. Scully está no corredor, segurando as lágrimas.

MULDER: - Vamos pra Maryland.

SCULLY: - Tá.

Mulder olha pra ela, com piedade e culpa.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - ...

SCULLY: - Não quero sua piedade.

MULDER: - Eu...

SCULLY: - Nem quero que fale nada! Quero que cale sua maldita boca e só se dirija a mim quando falar de assuntos profissionais.

MULDER: - Amo você Scully.

SCULLY: - E daí? Como pode dizer isso se não ama o que eu gero dentro de mim e que é seu também?

MULDER: - Eu amo o nosso filho, Scully.

SCULLY: - (ÓDIO) Meu filho, Mulder. Agradecemos pela sua parte. Mas, conforme você mesmo falou, ela termina aqui.

Scully caminha até o elevador. Mulder a segue, cabisbaixo.

SCULLY: - Odeio você, Mulder. Odeio sua insensibilidade, odeio sua paranóia e odeio sua indiferença e egoísmo.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mas não odeio o seu filho. Ele não tem culpa. A culpada sou eu. Eu que não escolhi o pai perfeito pra ele.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Não. Não fale nada. Se quiser falar comigo, vamos falar fora daqui. Não vai estragar a minha carreira profissional. Já estragou a minha vida. O meu amor próprio.

Scully entra no elevador. Mulder entra ao lado dela.

MULDER: - Preciso te contar uma coisa.

SCULLY: - ...

MULDER: - Quando chegarmos em Maryland...

SCULLY: - (CORTANTE) Quando chegarmos em Maryland, se o FBI estiver em contenção de despesas, você vai dormir no carro. Porque eu e seu filho vamos dormir numa cama.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Ah, obrigado. Obrigado mesmo. Admito que tem parte nisso. Obrigado pelo favor que me fez. Você me deu um presente. O maior presente que eu poderia sonhar em receber. Mas foi só isso. Agora é meu. Só meu.

Mulder abaixa a cabeça. Derruba lágrimas.

MULDER: - Amo tanto você que nunca poderia entender as coisas que eu faço...

SCULLY: - Odeio tanto você que não poderia entender as coisas que me arrependo de ter feito.

Scully sai do elevador. Mulder fica ali, parado, desatinado.


Residência dos Beaver – Maryland – 11:32 A.M.

A chuva cai forte. Mulder e Scully batem à porta da residência, segurando seus guarda-chuvas. George Beaver, um homem de uns 40 anos, abre a porta. Eles mostram as credenciais.

MULDER: - Senhor Beaver? Sou o agente Mulder, do FBI e esta é a minha...

SCULLY: - (CORTANTE) Parceira. Dana Scully.

Mulder olha pra ela. Beaver olha pras credenciais as examinando, desconfiado.

BEAVER: - Podem entrar.

Eles fecham os guarda-chuvas, deixando-os na varanda. Entram na casa. Uma casa muito bonita, bem decorada, num estilo pós-moderno.

BEAVER: - Vamos conversar na sala. Me acompanhem. Querem beber alguma coisa?

SCULLY: - Não, obrigado.

BEAVER: - Sentem-se.

Scully caminha pela sala, observando porta-retratos, quadros, coisas pessoais. Beaver olha pra ela. Mulder senta-se.

BEAVER: - Me desculpem, mas tenho o hábito de observar bem qualquer identificação. Coisa de que trabalha em bancos. Nunca sabemos se a pessoa é quem diz ser. Faço empréstimos, entende?

MULDER: - Sei que trabalha no Craddock Marine.

Uma mulher entra na sala.

HANNA: - Ah, me desculpe, George.

BEAVER: - Tudo bem, Hanna. É o FBI.

HANNA: - (SUSPIRA) Ah, Deus! Sinto um alívio.

Scully olha pra mulher.

BEAVER: - Esta é minha irmã, Hanna. Ela veio pra dar uma ajuda com as crianças, enquanto a Bonnie...(MEDO) Não volta.

Hanna senta-se. Mulder olha pra Beaver.

MULDER: - Senhor Beaver, pode me contar com suas palavras, como foi que sua esposa desapareceu?

BEAVER: - Estávamos dando um jantar para os amigos. Uma casal de amigos nossos do Brasil estava chegando e queríamos fazer uma surpresa. Quando todos foram embora, eu ajudei a Bonnie com as louças e fomos dormir. Quando acordei, ela tinha sumido.

SCULLY: - Sua esposa costuma fazer essas coisas?

BEAVER: - Nunca.

SCULLY: - Ligou para o trabalho dela?

BEAVER: - Ela é arquiteta, autônoma. O escritório dela fica aqui em casa.

MULDER: - Seus filhos, alguém viu alguma coisa?

BEAVER: - As crianças estavam dormindo. Temos duas meninas pequenas. Uma de 10 e a outra de 7. Elas não viram nada.

MULDER: - Quem mais estava na casa?

BEAVER: - Apenas minha família. Não temos empregada, nem babá. Não confio em pessoas estranhas.

MULDER: - A polícia disse que o local estava todo fechado. Sua esposa poderia ter fugido? ... Me desculpe, senhor Beaver, são perguntas de rotina.

BEAVER: - Não, ela não tinha nenhum amante... Que eu saiba. Mas não havia motivos pra isso, nós convivemos muito bem. Minha irmã está aí como testemunha.

Hanna sorri.

MULDER: - Senhor Beaver, acredito que tenha visto alguma coisa, mas não quer me contar.

BEAVER: - Como assim?

MULDER: - Quero lhe dizer que sou aberto a possibilidades estranhas. Não tenha medo de falar o que viu.

Hanna olha pra Beaver. Beaver começa a ficar nervoso. Scully senta-se. Observa-o.

SCULLY: - O que viu, senhor Beaver?

BEAVER: - ... Sei que pode parecer loucura, mas... Eu não sei se era real ou estava sonhando... Eu estava dormindo e me acordei no meio da noite, ouvindo barulhos estranhos. Abri os olhos e vi Bonnie... (NERVOSO) Ela... Ela flutuava numa luz azulada há um metro do chão... Eu... Eu entrei em pânico e... Não sei explicar, mas caí no sono.

MULDER: - Acha que sua esposa pode ter sido levada por um ÓVNI?

Scully levanta-se do sofá.

SCULLY: - Poderia me mostrar o quarto?

Hanna a acompanha. Beaver está em pânico.

BEAVER: - Agente Mulder, eu não acredito nessas coisas... Mas eu não tenho outra explicação. Eu lembro disso.

MULDER: - ...

BEAVER: - Acha que vão encontrá-la?

MULDER: - Faremos o possível, senhor Beaver. Posso ver o escritório de sua esposa?

Os dois levantam-se. Beaver abre uma porta.

BEAVER: - Fique à vontade...

MULDER: - Sua esposa acredita em ÓVNIS?

BEAVER: - Ela é meio maluca, sabe? Já foi em conferências... Ela gosta do assunto.

Mulder observa os quadros nas paredes. São plantas de residências, edifícios.

MULDER: - Ela é boa no que faz.

Mulder se detém na frente de um quadro. Fica como que hipnotizado por aquilo.

MULDER: - O que é isso?

BEAVER: - Não sei.

Close do quadro. O exterior da planta parece uma nave de quatro andares. O interior parece um hospital.

BEAVER: - Estranho isso, não é?

Mulder fica hipnotizado por aquele desenho.

BEAVER: - Se gostou, posso lhe dar uma cópia.

Beaver abre um armário. Caem vários rolos de papel. Mulder olha pra ele.

BEAVER: - Me desculpe. Ela tem uns cem desses aí. Todos iguais.

MULDER: - Como assim?

BEAVER: - Ela me disse uma vez que é como se entrasse num transe. Está desenhando algo e quando se dá por conta, é isso daí de novo. Algo tipo aquele monte em Contatos Imediatos do Terceiro Grau, sabe? Você se pega esculpindo um monte daqueles no purê de batatas...

Corta pra Scully, observando a janela do quarto. Hanna olha pra ela.

HANNA: - Sei que meu irmão não está mentindo, agente Scully. Ele é uma pessoa normal, tem uma vida normal e não é dado a fantasias e influências de filmes B.

Scully segura-se na janela, quase caindo. Hanna a segura.

HANNA: - Está bem?

SCULLY: - Estou tonta.

HANNA: - Eu te ajudo, sente-se aqui.

Hanna a ajuda a sentar-se numa poltrona.

HANNA: - Vou trazer um copo de água.

Scully põe a mão na testa. A outra sobre a barriga.

SCULLY (OFF): - Preciso me acalmar... (RESPIRA FUNDO) Preciso relaxar e tirar o Mulder da cabeça. Isso não vai me fazer bem.

Hanna entra com o copo. Entrega pra Scully.

HANNA: - Beba sua água. Quer um refrigerante?

SCULLY: - Não, obrigada.

HANNA: - Era a única coisa que aliviava meus enjoos e meu nervosismo. Está grávida, não?

SCULLY: - Como sabe?

HANNA: - Ah, eu tenho três filhos. É seu primeiro?

SCULLY: - É.

HANNA: - O primeiro sempre é mais difícil.

Scully sorri.

HANNA: - E depois, quando a gente fica grávida, parece que irradia uma luz tão bonita que é impossível que as pessoas não a vejam.

Mulder entra no quarto. Olha pra Scully.

MULDER: - (NERVOSO) O que foi?

SCULLY: - Nada.

Scully levanta-se bem devagar. Olha pra Hanna.

SCULLY: - Obrigada.

Hanna sorri.

HANNA: - Vou acompanhá-los.

Eles saem do quarto. Mulder fica observando Scully. Começa a ficar mais nervoso.


BLOCO 3:

Apartamento de Mulder – 9:21 P.M.

Mulder anda de um lado pra outro. Scully, sentada no sofá, olha pra ele.

SCULLY: - Acha mesmo que ela foi levada?

MULDER: - Tem alguma teoria?

SCULLY: - ...

Scully levanta-se.

MULDER: - Onde vai?

SCULLY: - Pra casa. Preciso descansar.

MULDER: - Fica aqui. Scully, não quero que fique sozinha.

Ela olha pra ele, desconfiada.

MULDER: - Eu prometo que não toco em você. Mas fica aqui.

SCULLY: - ...

MULDER: - Está bem mesmo? Scully, estou preocupado com você.

SCULLY: - Se estivesse tão preocupado, não me causaria tanta dor.

MULDER: - ...

SCULLY: - Você está sendo o responsável pela minha agonia.

MULDER: - Queria tanto te explicar porquê estou agindo assim. Mas eu não posso.

SCULLY: - Não, você nunca pode me dar explicações. Eu sou quem dá explicações por aqui. Você só dá dicas e teorias, Mulder.

MULDER: - Scully, por favor. Estou tão nervoso com isso quanto você.

SCULLY: - Eu não estou nervosa, Mulder. Estou explodindo de felicidade. Ao contrário de você eu sempre quis ter um filho. Tenho coragem o suficiente pra ter um.

MULDER: - Scully... Você sempre disse que confiava em mim.

SCULLY: - ...

MULDER: - Não se apegue demais nessa criança.

SCULLY: - (INCRÉDULA) O quê? Está me pedindo pra não me apegar no meu filho? Mulder, eu juro que tenho vontade de esmurrar sua cara cínica!

MULDER: - Scully, pelo amor de Deus! Olhe pra você! Me explique racional e cientificamente como pode estar grávida!

SCULLY: - Talvez porque eu não dei ouvidos à você. Deveria ter tomado precauções.

Mulder começa a ficar nervoso. Aumenta o tom de voz.

MULDER: - (GRITA) Scully, não é o que está pensando, não pode ser como está pensando! Você é estéril!

SCULLY: - (GRITA) Não acredita em milagres, não é, Mulder?

MULDER: - (GRITA/ REVOLTADO COM A CREDULIDADE DELA) Milagres? Scully, pelo amor de Deus, você é uma cientista, olha o que está falando! Como acha que essa droga foi parar aí dentro de você?

Scully mete um tapa na cara dele que Mulder chega a perder o equilíbrio. Ela segura as lágrimas, completamente machucada com as palavras dele. Mulder põe a mão no rosto. Olha pra ela, transtornado.

MULDER: - (GRITA) Não é meu filho! Essa droga que está aí não é meu filho!

Ela olha pra ele incrédula, derrubando lágrimas dos olhos. Completamente ferida.

SCULLY: - Não, Mulder. É meu filho. Ele não é seu. É meu. E se está agindo desse jeito porque desconfia que eu tenha te traído, Mulder, definitivamente não olhe nunca mais nos meus olhos. Porque se há uma coisa nesse mundo da qual eu tenho certeza é que você é o único homem pra mim.

MULDER: - Scully, não é isso, você parece que não entende...

SCULLY: - Não entendo o quê? Não entendo que está me acusando de estar grávida de outro homem? Mulder, você é nojento! Você é vil!

MULDER: - Scully...

SCULLY: - (GRITA/ COM ÓDIO) Eu sabia que odiava crianças, Mulder, mas nunca imaginei que pudesse chegar a tanto! Não quero nada de você, não precisa inventar coisas sobre mim pra se afastar de suas responsabilidades. Eu vou criar meu filho sozinha e não preciso de você! Nunca precisei de você! Você é quem precisa de mim!

Mulder segura as lágrimas.

MULDER: - Scully, por favor, eu só quero que reflita...

SCULLY: - Cale a boca, Mulder, eu não vou ouvir mais nada! Não vou ficar estressada por sua culpa! Quero ter meu filho em paz e curtir cada momento da minha gravidez! Se não quer assumir, dane-se! Não serei a primeira e nem a única a exibir um filho sem pai!

Scully abre a porta. Olha com ódio pra ele.

SCULLY: - Sabe de uma coisa, Mulder? Famílias são como bolas de neve. Você não escapa dos seus genes.

MULDER: - ...

SCULLY: - Sabe por que digo isso? Porque acabo de ver aquele homem na minha frente personificado em você. Você critica seu pai e é igual à ele, Mulder. Está fazendo a mesma coisa que seu pai fez com você. Só que não me tire pra Teena Mulder. Comigo é diferente! Amo o meu filho, independente dos genes que corram no sangue dele! Porque os meus também estarão ali!

Scully sai batendo a porta. Mulder senta-se no sofá. Começa a chorar. Gabriel sai da cozinha.

GABRIEL: - Como foi o dia?

Mulder segura a lágrimas e olha com ódio pra ele. Gabriel escora-se na porta da cozinha. Cruza os braços.

GABRIEL: - Algumas coisas estão foras do propósito divino desde que o homem resolveu bancar Deus.

MULDER: - Pára com essas suas charadinhas!

GABRIEL: - Quer um conselho?

MULDER: - Seu? Não, obrigado.

GABRIEL: - Fique perto dela.

MULDER: - Pra quê? Nem sei se aquela criança é minha! Estou preocupado é com ela! Ela é quem me preocupa... Estou confuso... Não quero pensar na aberração que sairá dali. Eles colocaram outra coisa dentro dela. Talvez nem seja meu filho...

GABRIEL: - Sabe o que é mais interessante nisso tudo?

MULDER: - ...

GABRIEL: - Eu não sou o único hipócrita nessa sala.

Mulder abaixa a cabeça, angustiado. Gabriel começa a divagar, debochadamente.

GABRIEL: - Sabe a sensação estranha que você tem, Mulder, quando fecha os olhos, durante a noite, se encolhendo na cama, como se fosse um feto? Sabe aquelas coisas estranhas que você faz e diz sem pensar e depois fica sem entender porque agride alguém que não merece? Sabe quando você dizia coisas pra sua mãe, pra seu pai, ofensas grotescas, que depois você ficava se remoendo tentando achar explicação do porquê disse aquilo?

MULDER: - ...

GABRIEL: - Porque você se lembra do que eles diziam e faziam, enquanto você não passava de um bebê dentro de um útero. Você ouvia, armazenava dados... Sempre os carregará dentro de si.

MULDER: - Por que está me dizendo isso?

GABRIEL: - Porque sou cruel.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Porque ela tem razão. Você é igual a seu pai. Conviva com isso. Não é algo tão ruim.

MULDER: - Seu desgraçado, quem pensa que é pra saber quem eu sou?

GABRIEL: - Tão desgraçado quanto você. Um pouco menos, porque eu nunca tive de negar paternidade alguma. Porque, apesar de ser o Guardião do Portal dos Mortos, eu fico feliz quando vejo um deles voltar pra vida. Quando vejo um deles ter uma chance.

MULDER: - Você é repulsivo!

GABRIEL: - Pelo menos não sou covarde. Não fico ofendendo um anjo que nem nasceu. Ele não pode se defender ainda.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Sua amiguinha tem razão quanto a bola de neve. Aplico isto à vida. Tudo é uma bola de neve. O que você mata hoje, matará você amanhã. O que salva hoje, salvará você amanhã. Sabe do seu futuro?

MULDER: - (REVOLTADO) Não tenho futuro.

GABRIEL: - Tem. Um bonito futuro. Não longo, mas feliz. Uma bonita filha que te dará tanto orgulho. Mude o destino e verá o que acontece. Brinque com isso. Brinque com a ordem das coisas.

MULDER: - Você não diz coisa com coisa!

GABRIEL: - O que renegas agora, te salvará em outra. Guarde isso.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Olha, eu tô dando o fora. A chuva começou a aliviar e eu vou deixar a Califórnia em paz por um tempo. Afinal, gosto de Hollywood... Gosto do Nicholas Cage. Papel interessante... Por Meg Ryan eu também cairia... A Babilônia ainda terá seus dias de glória, seu governo e modo de vida ainda matarão muitos de outros reinos, ainda há muita fome, miséria, pestes e catástrofes pela frente... Observe os céus, mas não se esqueça de observar mais ainda seu coração... Eu venho te buscar um dia, acredite.

MULDER: - Espero que não demore muito tempo.

GABRIEL: - Você tem cheiro de morte. Acredite me mim. Já marquei você.

Mulder olha pra ele. Gabriel atravessa a sala e aproxima-se da porta.

MULDER: - Vai me levar?

GABRIEL: - Agora não.

MULDER: - Por que não?

Gabriel olha invocado pra ele.

GABRIEL: - Quer morrer?

MULDER: - Afinal, o que me resta por aqui mesmo? Já destruíram tudo o que eu tinha, não tenho mais motivos pra viver.

GABRIEL: - Ah, não tem?

Gabriel aproxima-se de Mulder. Os dois ficam cara a cara.

GABRIEL: - Você é petulante. Mas tem coragem. Tome cuidado, heróis costumam morrer cedo demais. Tenho uma pilha deles no meu armário.

Gabriel toca na testa de Mulder. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Você veio aqui pra me ajudar ou só pra me atormentar mais ainda?

GABRIEL: - Vim pra tomar café e comer rosquinhas. Agora vou embora.

Mulder balança a cabeça, incrédulo.

MULDER: - Ao menos, pode me dizer como evitar isso?

GABRIEL: - Já disse, não está ao seu alcance. E não sei o que quer evitar. Fique com ela.

Mulder senta-se no sofá. Abaixa a cabeça, segurando as lágrimas.

MULDER: - (DESESPERADO) Me leva com você. Eu não posso mais suportar isso.

GABRIEL: - Já viu a morte?

MULDER: - Se você é o anjo da morte, o que eu não acredito...

Duas asas brancas brotam das costas de Gabriel. Uma luz invade a sala. Mulder ergue a cabeça, olhando boquiaberto e assustado. Das asas de Gabriel, escorrem sangue.

GABRIEL: - Essa é a morte. Esse é o seu sangue, o sangue dela, do seu filho e de muitos mais. Sou um anjo de asas sujas. Não deveria dizer isso, mas tenho um amigo que está tentando falar com você, mas você não o escuta. Fique com ela. Esqueça o que sabe e fique com ela.

Gabriel recolhe as asas. A luz se dissipa. As asas desaparecem. Mulder continua catatônico.

GABRIEL: - Preste atenção nessas palavras.

Gabriel inclina-se sobre Mulder e cochicha algo em seu ouvido, movendo os lábios, sem sair voz. Mulder fica paralisado. Gabriel ergue-se.

GABRIEL: - Boa sorte. Nos veremos um dia. Agora preciso ver sua amiguinha. Acho que tô a fim de um mousse de maracujá.

Gabriel aponta pra Mulder.

GABRIEL: - Vá dormir um pouco. O telefone vai tocar mais tarde.

Gabriel sai. Mulder cai dormindo no sofá.


Apartamento de Scully – 10:33 P.M.

Scully observa a chuva, sentada perto da janela. Afaga a barriga com carinho. Gabriel e Miguel estão atrás dela, observando-a com as asas abertas. Scully vê o reflexo deles pela janela. Vira-se, não vê nada. Olha pro vidro e os vê. Scully começa a derrubar lágrimas. Levanta-se e olha pra trás de si. Não vê nada. Scully segura o crucifixo, nervosa. Percebe Gabriel com o canto dos olhos.

GABRIEL: - Não olhe pra mim. Sabe quem eu sou.

Scully fica imóvel, olhando com o canto dos olhos.

SCULLY: - O que quer de mim?

GABRIEL: - Não quero nada de você. Mas tem uma dívida comigo. Não pense que esta foi por acaso. O presente te foi dado por um motivo. Mas eu voltarei.

SCULLY: - ...

GABRIEL: - Não se preocupe, terá tempo de ver as rugas em seu rosto e os cabelos brancos.

Scully começa a tremer. Miguel cutuca Gabriel. Scully não escuta a conversa deles.

MIGUEL: - Pára com isso. Veio pra ajudar ou pra ficar assustando?

GABRIEL: - Adoro assustar.

MIGUEL: - Vou fazer um relatório sobre isso, se não fizer a sua parte.

GABRIEL: - Não, aquilo não! Por favor, aquilo não!

Miguel olha furioso pra Gabriel. Gabriel se aproxima dela, à contragosto. Scully treme. Gabriel cochicha no ouvido dela, resplandecendo uma luz intensa. Scully fecha os olhos, com medo. Imóvel.

GABRIEL: - Meu nome é Gabriel. Deus achou graça em você, Dana. Por tua fé e por tuas orações. Não temas, o que geras em ti é de teu marido. E há um propósito pra isto. Confiarás no senhor teu Deus de todo o coração. Aceitarás o que Ele te reservou. Porque Ele é o alfa e o ômega. O princípio e o fim.

Miguel passa na frente de Scully, mas ela não o vê. Gabriel sai pela janela, indignado. Scully percebe que Gabriel foi embora. Respira aliviada. Miguel toca nos cabelos dela. Scully sente uma brisa passando por seus cabelos. Miguel desata o crucifixo dela. Scully olha pra sua corrente caindo no chão. Scully começa a ficar nervosa, mas não fica com medo. Miguel afasta-se dela. Sai pela janela.

Corta pra rua. A chuva cai forte, as trovoadas são intensas. Miguel e Gabriel observam a janela do quarto de Scully.

GABRIEL: - Então, acha que seu métodos são melhores que os meus?

MIGUEL: - Acha que pregar medo e desespero ajuda em alguma coisa? A mulher está confusa e só vai sofrer mais com a verdade. Abrande um pouco a dor dela.

GABRIEL: - Medo e desespero? Eu sou mais honesto que você! Por que me fez ter de dizer aquelas coisas todas de novo? Hein? Odeio línguas rebuscadas... Fiquei parecendo um daqueles profetas... Milagres, milagres... Isso não funciona mais! Eles não acreditam mais em milagres! Estão na era da ciência!

MIGUEL: - Ela tem fé, ela acredita. Só a fé a convencerá do que aconteceu. Só a fé vai protegê-la da dor. E depois, a pobrezinha é apenas uma vítima desses canalhas todos. Que culpa ela tem se escolheu justamente o cara errado? Que preço alto ela vai pagar à toa.

GABRIEL: - Destino. Sabe o que é destino? Ou não leu esse livro ainda, seu imbecil?

MIGUEL: - Eu li. Eu li, tá? Eu sei o que está escrito. E afinal, quem é que veio com aquela poesia toda há dois mil anos atrás?

GABRIEL: - Eu fui forçado a fazer poesia! Pelo menos foi melhor do que ficar guiando três palhaços sentados em cima de camelos!

MIGUEL: - Ah, é? Pois acho mais interessante guiar camelos do que ficar aparecendo por aí e notificando senhoritas de que elas estão grávidas.

GABRIEL: - Espera aí! Maria até tinha motivos pra se assustar. Mas essa daí, não é mais virgem nem na orelha!

MIGUEL: - Psiu, Ele vai ouvir.

GABRIEL: - E daí? Não conhece a palavra democracia?

MIGUEL: - Gabriel, você me irrita! A fé é o único conforto e a única justificativa que ela tem pra não pensar na verdade. A verdade agora seria mortal pra ela. Ele nos pediu pra confortá-los. Não pode aceitar isso? Olha só o que vem pela frente!

GABRIEL: - Você é igual aqueles profetas...

Os dois saem caminhando na chuva. Descem a rua discutindo.

MIGUEL: - Que tal um café com rosquinhas?

GABRIEL: - Daquelas com glacê e confeitos coloridos?

MIGUEL: - Pode ser. Acho que preciso de um cigarro.

GABRIEL: - Desde quando tá fumando?

MIGUEL: - Se ficasse convivendo com essa poluição toda, começaria a fumar.

GABRIEL: - Depois eu é que sou um desgarrado. Você sempre é o bonzinho...

MIGUEL: - Quem falou que eu sou bonzinho?

GABRIEL: - Você mesmo. Você é igual aqueles profetas. Faça um livro sobre o Apocalipse. Vai vender muito mais.

MIGUEL: - Gabriel, alguém já disse que você é insuportável?

GABRIEL: - Quer que toque um jazz na sua orelha?

MIGUEL: - Quer que saque minha espada?

GABRIEL: - Ora, cale a boca!

MIGUEL: - Cale a boca você! Se houver uma sétima extinção, e eu tiver de fazer outro desses serviços, pode acreditar que não quero trabalhar com você de novo!

GABRIEL: - Ah, confessa. Ele acha que somos como Batman e Robin.

MIGUEL: - Quem?

GABRIEL: - Esqueça. Você não assiste televisão. E não sabe dirigir uma carroça, quanto mais o batmóvel.

MIGUEL: - Bat o quê? Gabriel, do que está falando?

Uma luz projeta-se sobre eles.

MIGUEL: - Esqueça a rosquinha. O chefe tá chamando.

GABRIEL: - Vou pedir umas férias depois do que tive de passar com aquele cético esquisito!

MIGUEL: - ... Você é mais cético do que ele!

GABRIEL: - Ah, olha só o crédulo falando! Gosto dos humanos. Gosto realmente deles. Depois de nós, eles são a melhor coisa que Ele fez.


BLOCO 4:

Apartamento de Mulder – 11:11 P.M.

Mulder acorda-se com o telefone tocando. Mulder olha pro relógio. Senta-se no sofá, está um bagaço. Atende o telefone.

MULDER: - Mulder.

CANCEROSO: - Queria falar comigo? Recebi seu recado alguns dias atrás.

MULDER: - Preciso te encontrar.

CANCEROSO: - Nada de encontros.

MULDER: - É seguro falar?

CANCEROSO: - Tirei as escutas. Por um tempo.

Mulder respira fundo. Nervoso. Reluta, mas acaba falando.

MULDER: - ... Preciso da sua ajuda.

CANCEROSO: - Ora, quem diria... O que quer de mim, traidor?

MULDER: - Quero negociar. Faço qualquer coisa, mas deixe ela e a criança.

CANCEROSO: - Certa vez, eu disse que você um dia iria descobrir o quanto um pai sofre por seu filho, não disse?

MULDER: - Eu sei, desgraçado, o que planeja fazer com ele.

CANCEROSO: - Você não sabe de nada. Você pensa que sabe, mas você nunca sabe de nada.

MULDER: - (DESESPERADO) Eu me entrego pra você. O que quer? Os Arquivos X? A minha vida? Posso trabalhar pra você. Eu vestirei sua camisa, eu farei tudo o que me mandar, lamberei o chão que você pisa, mas poupe o meu filho e a minha mulher.

CANCEROSO: - (DEBOCHADO) Como é triste amar, não é, Mulder? Como é triste ter coisas a perder. Como dói ver que vão usar sua mulher e seu filho e você luta como um desesperado, fazendo todas as sujeiras que te pedem em troca da vida deles...

MULDER: - ... (SENTINDO-SE APUNHALADO)

CANCEROSO: - Você chega a negar sua paternidade, a escondê-la de todos, não é? Até de si mesmo. Você chega aos limites que um homem nunca sonhou. Você despreza seu filho como uma forma de protegê-lo...

MULDER: - ... (FECHA OS OLHOS)

CANCEROSO: - Eu tentei te mostrar outro caminho. Mas não me deu ouvidos. Você é burro. Você se jogou na lama. Não posso te proteger mais. Não me procure.

MULDER: - O quê?

CANCEROSO: - Você me traiu, entregou a verdade pro Alex Krycek. Você confiou nele, Mulder. Agora aceite as conseqüências dos seus atos.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Não disse à você que éramos iguais? Eu te pedi silêncio, você não me deu ouvidos. Eles agora sabem de você. O que você é. E eu não vou colocar minha cabeça a prêmio. Sinto muito, Mulder, mas não posso fazer nada. Não há acordo. Agora encare como um homem. Você não é mais filho. Agora é pai. Cuide de sua cria.

Mulder derruba lágrimas. Fica calado, segurando o telefone.

CANCEROSO: - Dói, não é?

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Nada como sentir na própria pele para compreender a dor alheia.

MULDER: - Não vai me convencer com esse seu papo. Você é um hipócrita, um demônio! Um mentiroso, e eu nunca, mas nunca vou perdoar você pelas coisas que fez comigo.

CANCEROSO: - Nem seu filho, Mulder. Quando ele descobrir a verdade, que você gostaria de esconder dele pra sempre, para não feri-lo. Assim como você descobriu a sua. Compre um maço de cigarros. Vai precisar fumar muito até terminar como eu. Sozinho, sem fé e sem sonhos, meu filho.

Mulder desliga o telefone. Começa a chorar. Encolhe-se no sofá, com medo.


Apartamento de Skinner – 1:22 A.M.

Skinner desce as escadas, vestido num robe. Meio dormindo. A campainha toca várias vezes. Skinner tropeça numa planta.

SKINNER: - Mas que droga!

A campainha insiste. Parece que alguém esqueceu o dedo nela. Skinner tenta achar os óculos, mas diante da barulheira, resolve abrir a porta. Mulder está parado ali, todo molhado, com olhos vermelhos e inchados.

SKINNER: - Mulder, o que...

Mulder entra, chorando. Skinner fecha a porta.

SKINNER: - Mulder...

Mulder olha pra ele.

MULDER: - (DESESPERADO) Me ajuda!

Mulder se atira nos pés dele, chorando como criança. Está com muito medo. Medo do que está pra acontecer, do que está acontecendo e do que ouviu do Canceroso. Skinner olha pra ele, assustado.

SKINNER: - Mulder... Acho melhor pegar uma bebida.

Skinner vai pra sala. Mulder continua no chão, soluçando. Skinner fica perplexo. Serve um copo. Olha pra garrafa.

SKINNER: - Acho melhor você ficar com a garrafa. Um copo não vai adiantar.

Mulder continua chorando, calado.

SKINNER: - Mulder, faz favor. Se veio aqui pra ficar aí manchando meu chão encerado com suas lágrimas...

MULDER: - ...

SKINNER: - Levante-se daí.

Mulder levanta-se. Skinner vai até ele e entrega a garrafa.

SKINNER: - Sente-se. Mulder, nunca vi você desse jeito! O que aconteceu?

MULDER: - Ela...

Skinner suspira.

SKINNER: - O que foi dessa vez?

MULDER: - Ela está grávida.

Skinner olha pro copo em sua mão. Percebe que está tremendo. Mulder senta-se numa poltrona. Bebe um gole da garrafa.

SKINNER: - Grávida como? Quer dizer, diante da situação dela.

MULDER: - Eu tive um sonho, um aviso. Eu tentei inutilmente evitar. O McKenna a mandou pra Knoxville e você sabe do resto. Foi onde a abduziram. A inseminaram.

Skinner fecha os olhos. Bebe o uísque num gole só. Mulder fala entre lágrimas.

MULDER: - O filho é meu, Skinner. Eles vão tirar a criança dela.

SKINNER: - ...

MULDER: - Eu sou um híbrido.

SKINNER: - Mulder, tem certeza de que está bem?

MULDER: - Skinner, pelo amor de Deus, você tem que acreditar em mim! Eu não posso contar isso pra ela! Como vou olhar nos olhos da Scully e dizer que vão tirar o filho dela pra fazerem uma nova vacina?

SKINNER: - Mulder...

MULDER: - Skinner, só posso pedir ajuda pra você! Eu tenho que protegê-la lá dentro! Eu tenho que evitar que eles a levem!

SKINNER: - ...

MULDER: - Não nos separe, em hipótese alguma! Eles vão querer isso. Eles sabem que eu sei a verdade!

Skinner está tenso.

SKINNER: - Mulder, tem certeza do que está falando?

MULDER: - Tenho.

SKINNER: - Não é mais uma mentira pra afastar você da verdade? Quem sabe estão desviando sua atenção pra criança enquanto armam uma desgraça enorme por aí?

MULDER: - Não, Skinner. Não desta vez.

SKINNER: - Deus, Mulder!

Skinner levanta-se, andando de um lado pra outro, ainda perplexo.

SKINNER: - Não acha melhor contar pra ela?

MULDER: - Ela nunca acreditaria em mim. E pra que fazê-la sofrer duas vezes?

SKINNER: - (SUSPIRA) Mulder, quando matei aquela clone, o que relutei muito, eu... Eu comecei a questionar até que ponto você é louco. Acho que estou ficando louco também.

MULDER: - ... Não confie no Krycek.

SKINNER: - Mulder, só confio em você e na Scully. Considero vocês como meus filhos. Sinto que tenho de ajudá-los, mas eu não posso fazer tudo! Mulder, você sabe que as ordens descem e eu tento evitar o que posso.

MULDER: - Está dizendo que estou sozinho nessa?

SKINNER: - Não, Mulder. Estou dizendo que sempre ajudei vocês, mas que tenho limites.

Mulder fica irritado.

MULDER: - Não sei o que vim fazer aqui.

SKINNER: - Mulder, por favor. Eu vou tentar falar com ele.

MULDER: - O Fumacinha já me disse o que eu precisava ouvir. Ele está fora. E a culpa é minha. Eu o entreguei pro Krycek. Acho que agora ele vai se vingar de mim.

Skinner suspira.

SKINNER: - Mulder, se quer minha ajuda, terá minha ajuda. Mas escute o que vou te dizer: Se aquele sujeito diz que é inevitável, você sabe que é inevitável. Ele está escondendo algo. Não se deixe envolver pelas mentiras dele.

MULDER: - ... Não, Skinner. Ele sabe do meu desespero.

SKINNER: - Mulder, o senhor CGB Spender é mais astuto do que você pensa. Ele não se intimida. Acredite, se Krycek está aprontando alguma, ele vai devolver.

MULDER: - Mas ambos querem o meu filho!

SKINNER: - Mulder, acho melhor parar de beber, de tentar decifrar as intenções deles e vá para a casa, tome conta do seu filho e da sua mulher. A Scully nunca precisou tanto de você quanto agora.

MULDER: - Skinner, pelo amor de Deus, não conte nada do que falamos aqui pra ela.

SKINNER: - Não contarei, Mulder. É nosso segredo.

Mulder respira mais aliviado. Até dá um sorriso. Levanta-se.

MULDER: - Skinner... Obrigado por me ouvir. Não sabe há quanto tempo carrego isso comigo sem poder falar pra ninguém... Obrigado.

SKINNER: - Mulder... Amigos são pra essas horas.

Mulder caminha até a porta. Skinner fica parado na sala. Escuta-se a porta fechando-se. Skinner fecha os olhos, sentindo-se culpado.

SKINNER: - Por que eu fui mandá-los pra aquela cabana no Himalaia? Por quê? A culpa disso tudo é minha! Eu tinha que dar uma de cupido!


Apartamento de Scully – 2:28 A.M.

Scully abre a porta. Mulder está ali, todo molhado. Ela faz uma fisionomia de quem se importa.

MULDER: - Posso entrar?

SCULLY: - ...

Scully abre a porta. Mulder entra. Ela fecha a porta. Cruza os braços.

SCULLY: - O que quer aqui?

Mulder fica olhando pra ela, segurando lágrimas.

MULDER: - É que o bebê chorão aqui... Ele... ele sabe que foi duro com você. Ele sabe que foi um idiota, agressivo e jogou sobre você a culpa das coisas que são só culpa dele.

SCULLY: - ... Mulder, não vou perdoar você. Nem adianta falar nada.

MULDER: - ... Scully.

SCULLY: - Mulder, me escute. Sei que o fato é muito estranho e que você está cheio de explicações científicas, mas... Agora eu terei de ser a crédula. Não há o que possa ser explicado com a ciência por aqui.

MULDER: - (INCRÉDULO) Scully, o que está me dizendo?

SCULLY: - Mulder, eu tive um aviso. Eu recebi o que pedi. Eu vi um anjo, Mulder, chamado Gabriel.

Mulder sorri.

SCULLY: - ... Pode parecer louco pra você porque você não acredita em Deus. Mas eu sei que este filho é seu e que isto é um milagre. Ele me falou.

Mulder segura as lágrimas.

MULDER: - Agora entendo o motivo dele ter vindo.

SCULLY: - Do que está falando?

MULDER: - Nada, Scully. Nada. Se você me diz que isto é um milagre, então isto é um milagre. É bom que pensa assim.

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Scully, acho que... Acho que acredito em seu Deus, assim como você acredita nos meus discos voadores. Porque hoje eu vi a bondade Dele.

Scully olha pra ele, incrédula, mas feliz.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Me perdoa, eu não quis magoar você. E eu não quero te deixar sozinha.

SCULLY: - ... Mulder, mas você não aceita o fato de que estou grávida...

MULDER: - Eu aceito, Scully. Como não poderia aceitar o meu filho? Como poderia deixar você agora? Eu estava confuso, desatinado, sofrendo por antecedência e não consegui ver a verdade. Agora eu vejo.

Mulder se ajoelha nos pés dela e a abraça. Encosta a cabeça em sua barriga. Scully fica emocionada. Afaga-lhe os cabelos. Mulder beija-lhe a barriga.

MULDER: - Scully, juro pra vocês dois que eu os amo tanto que daria minha vida por vocês. As coisas que te disse, que disse pra ele foram pra me enganar, pra me iludir... Deixa pra lá, Scully. Isso é passado, vamos zelar pelo futuro.

SCULLY: - ...

MULDER: - Não importa o sofrimento. Amar é dar-se de si a quem se ama. Eu não vou me entregar.

SCULLY: - ... Mulder, você continua dizendo coisas sem sentido.

MULDER: - Liga não, Scully. Coisas de pai. De pai de primeira viagem... De pai bobalhão.

Scully derruba lágrimas. Mulder beija-lhe a barriga novamente. Levanta-se. Segura o rosto dela em suas mãos.

MULDER: - É tão bom se perder nesses olhos de novo. É o único lugar onde me encontro.

Mulder aproxima seus lábios e a beija, suavemente. Scully abraça-se nele. A chuva lá fora pára, anunciando que o sol brilhará na manhã seguinte. Pelo menos até a próxima tempestade começar.


10:46 A.M.

Uma praia. O Canceroso fuma um cigarro enquanto olha pra paisagem. Vira-se pra câmera. Fala como se falasse com alguém.

CANCEROSO: - Sabe que existe um processo onde você pode fecundar um óvulo utilizando somente DNA provindo de qualquer célula. Estou lhe dizendo isso porque acho que você não entende muito dessas coisas.

Corta para Samantha, de braços cruzados, usando um vestido, com os cabelos presos, olhando pra ele com nojo.

SAMANTHA: - E daí? Existe algum processo onde não precise de óvulos?

CANCEROSO: - ...

SAMANTHA: - Eu não tenho mais meus óvulos. Você roubou tudo o que eu tinha, inclusive minha dignidade. Viajou até aqui pra me dizer isso?

CANCEROSO: - Posso dar a chance de ter filhos se colaborar comigo. Posso conseguir seus óvulos.

SAMANTHA: - Ah, vai roubar dos seus amiguinhos alienígenas? Por que acreditaria em você, o desgraçado que arruinou minha família? Minha vida? Meu irmão? Meu pai e minha mãe?

CANCEROSO: - Estou te propondo a chance de ter seus filhos com... esse mafioso aí.

Corta pra Bruce, parado ao longe, com mais cinco sujeitos armados, observando o Canceroso. Samantha olha pro Canceroso.

SAMANTHA: - Nada de você vem de graça. Vou pensar se faria algo pra você. Posso me danar, mas você vai se danar primeiro. Não sou o Fox! Não vou chorar aos seus pés. Se veio até aqui é porque precisa de mim e não eu de você. Agora fale de uma vez porque tenho que ir trabalhar. Alguém aqui faz algo de bom pelas pessoas.

CANCEROSO: - Volte pra América.

SAMANTHA: - Pra quê faria isso? Pra ficar mais exposta aos seus capangas?

CANCEROSO: - Não. Eles sabem onde você está. Quero que volte porque tenho coisas a reparar com você.

SAMANTHA: - (RI/ DEBOCHADA) Por que eu acreditaria nisso?

CANCEROSO: - Porque seu irmão está na pior. Não quer devolver o favor que ele te fez? Acho que você deve devolver isso à ele.

SAMANTHA: - O que fez pro Fox, seu desgraçado? Se tocou nele, eu mato você! Juro que te mato!

CANCEROSO: - Não fiz nada. Ele fez pra si mesmo.

SAMANTHA: - Você não vale nada, seu medíocre, asqueroso! Espero que definhe de câncer até as últimas!

CANCEROSO: - Terá minha proteção e... é claro, desses seus amigos aí.

SAMANTHA: - Sem chances. Não vou voltar. Posso ir ver o Fox, mas não volto pra lá!

CANCEROSO: - Pense nas alternativas. Pense bem. Depois me dê a resposta. Poderia te dar tudo o que quisesse se ficasse do meu lado. Talvez eu queira ser o pai que nunca fui pra você. Talvez tivesse que mentir e blefar, sacrificar você, pra poder te salvar. Seu irmão é um híbrido alienígena. Você não. Você é a minha filha.

O Canceroso sai. Samantha o acompanha com os olhos. Confusa.


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09/06/2000



5 августа 2019 г. 0:44 0 Отчет Добавить Подписаться
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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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