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Há um lugar que eu sempre vou para me lembrar do perfume da sua colônia: o hotel intermunicipal de beira de estrada, caindo aos pedaços. Vários jovens fugiam dos pais para foder nele, com muito álcool envolvido e sem muita reflexão sobre nada. Naquela espelunca, vários amores de meio dia (nem sequer de um dia inteiro), foram feitos e desfeitos em curtos períodos de tempo.
Eu procuro você em cada cabelo parecido, em cada roupa minimamente igual, em cada pequeno defeito espelhado nas outras pessoas, dos quais considerava adoráveis. Porém, você nunca está lá. Mesmo quando eu te imagino em ondas de orgasmo com outro alguém, tentando me agarrar em memórias quebradas que o tempo deixou desvanecer contra vontade.
Seguro firme esse amor como se dependesse dele para respirar, como se tudo fosse uma relíquia de família, passada entre gerações.
Estou ali novamente, tocando entre minhas pernas e lembrando-me do passado, quando eu te dizia entre gritos que eu gostava daquele jeito, após compartilhar fantasias que anteriormente deixava caladas.
Tudo ao seu lado era um parque de diversões, com uma montanha-russa para descer tão rápido quanto chegou. Intensamente, nós reatávamos nossas brigas com um sexo que fazia a adrenalina subir. Numa foda paradoxal: era rápido e lento, espontâneo e calculado, carinhoso e violento, de um modo experimentalístico que a gente gostava.
Na minha imaginação, seus olhos me observavam, e você gostava da visão do meu corpo naquela cama, com tanta vontade de você.
Quando acabava, eu saia. Antes, espirrava o vidro da sua colônia no quarto. Voltava para uma casa com um marido bem sucedido e deixava o passado no passado.
Às vezes, me perguntava os motivos que me fizeram te deixar. Não os encontro de forma direta e rápida. Imagino que é tão complexo quanto física quântica interestelar, talvez, porque você era uma mulher. Talvez, porque eu fosse fraca. Talvez, porque nada contribuiu com nosso romance destrambelhado.
Volto para uma casa e finjo coisas.
Deixando sempre um quarto no hotel de beira de estrada reservado, para poder te (re)visitar, quando desejar. Imaginando o que teria sido desse amor tão intenso, se não tivesse sido somente um despencar de montanha-russa.
Nós não éramos, exatamente, perfeitas. Mas, na nossa loucura sabíamos nos completar, de forma que sentia tudo com os cinco sentidos exageradamente.
Beijo um marido a minha espera, e ele nem sequer adivinha sobre meu passado enterrado.
Começo a contar do trabalho, e a vida segue.
Até quando? Essa é uma pergunta que vem me assolar de noite, quando stalkeio seu instagram e vejo o seu casamento com sua melhor amiga.
Sinto raiva e sinto tristeza.
Minhas lágrimas caem em soluços e meu marido coloca a mão no meu ombro e me pergunta o que está acontecendo.
Eu solto que eu gosto de mulheres e ele simplesmente meneia a cabeça, um tanto chocado para esboçar qualquer expressão digna.
Rio histericamente e choro compulsivamente, é como se nada mais pudesse voltar a ser como antes. Como se eu tivesse colocado uma forca no meu pescoço e me afogado sem ar.
Pulo de paraquedas numa nova realidade, enquanto me desestabilizo emocionalmente.
Me amaldiçoo por ter te conhecido e, agora, te odeio extremamente. Ao mesmo tempo, isso é tudo da boca para fora. Sempre é.
Eu só detesto a situação.
O auto-ódio chega e o caminho é longo.
Quero beijar seus lábios novamente, colocando minha língua dentro da sua boca, de forma ávida como antigamente. Sem grandes preocupações, num hotel espelunca de beira de estrada, do qual ninguém vai nos encontrar. Quero transar contigo de forma tão intensa até minha cabeça girar e meus pensamentos pararem.
Quero ter nosso romance proibido, enquanto a gente se trancava na sala de limpeza do colégio e voltava como se nada tivesse acontecido, sem nem olhar para trás ou nos despedir. Fingindo ser completas desconhecidas para o público.
Quero ir para as baladas da outra cidade com você, dizendo para meus pais que estava indo a trabalho viajar.
Eu quero te amar, dessa vez, do jeito certo. Pra você não brigar comigo e dizer para eu assumir para o mundo, e eu chorar e te falar que você não entende e a gente terminar do jeito definitivo outra vez. Tudo isso, com um namorado falso como companhia.
Dessa vez, eu quero o certo. Eu quero dizer para todo mundo que você é minha namorada e eu gosto assim. Quero falar a plenos pulmões que nada vai mudar isso, e que eu te amo como uma viciada.
Eu penso nisso, enquanto olho suas fotos de casamento com aquela garota que dizia que era lésbica no colégio, mesmo com a eterna zoação dos nossos colegas de classe.
Olho para o teto branco. Imaginando se você ainda se lembra de mim do jeito que eu me lembro de você: naquele hotel, enquanto estávamos fodendo para todas nossas fantasias guardadas e escondidas.
Eu ainda amo você, sendo que todos os dias a minha memória me persegue reprisando as cenas, como um disco arranhado de indie rock.
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