sahsoonya sahsoonya

[XiuChen] [KaiSoo] [OS] [FLUFFY] JongDae é um enfermeiro gentil que dedica seus dias a cuidar de pessoas idosas. Ele é amigo de todos e anda fugindo das investidas do sobrinho de um de seus mais queridos pacientes. XiuMin sente dificuldades para aproximar-se do rapaz, enquanto o enfermeiro se preocupa em conseguir estabelecer contato com o senhor Kim, um homem rabugento e de poucos amigos. Porém, esse velho senhor tem muito mais a ensinar do que a expressão facial fechada parece mostrar, e Chen está prestes a aprender uma lição valiosa sobre a maior força existente no mundo... O amor. "- As arvores têm um coração, sabia? - Como aprendeu isso? - O amor me ensinou... – disse simplesmente, admirando a grande árvore". Capa por: @AiKimSoo


Фанфикшн Группы / Singers 18+.

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Короткий рассказ
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The boy under a tree


O sinal mudou assim que passou por ele. As ruas ainda conservavam aquele úmido característico pós chuva, e como era quase outono, algumas grandes folhas em tons marrons e alaranjados bruxuleavam no asfalto, algumas vezes grudando-se ao aro da bicicleta que pilotava.


Respirou fundo quando viu uma grande ladeira chegando. Essa era a hora mais difícil de seu dia, embora muitos pudessem verdadeiramente se preocupar com muitas outras coisas, tudo que o rapaz remoía em sua mente ininterruptamente era se conseguiria atravessar aquela provação a fim de chegar ao seu destino.


Parou a bicicleta minimamente, de modo a tocar o chão com seus all stars, preparando-se emocionalmente e fisicamente para sua penitência. Puxou um pouco o jeans de lavagem clara mais pra cima, com as mãos delgadas, para ter mais mobilidade. Afastou a franja loira que insistia em lhe atrapalhar a visão e sorriu, para a grande subida.


- E aqui vamos nós...


Inclinou o corpo para frente enquanto levantava do banco, pedalando com vontade rua acima, vez ou outra arquejando alto. Praguejou realmente alto, quando sentiu as coxas arderem, vendo a risadinha da dona da mercearia, que o via fazer aquele trajeto triste todos os dias. De fato, o trabalho do rapaz se situava no topo daquela ladeira, e o mesmo não era o único a sofrer com a logística do local. Mesmo com dificuldades, não rendeu-se, pedalando cada vez mais forte, até sentir o alívio dominar seu corpo ao despontar no topo daquela subida. Passou as costas da mão na testa suada, irritado por novamente chegar já suado ao trabalho.


O garoto gostaria de ter outro meio de locomoção, mas como planejava guardar dinheiro para o tão sonhado intercâmbio, a rotina de ir trabalhar de bike, além de lhe render uma qualidade de vida boa, panturrilhas definidas e salvar tempo, lhe ajudava a poupar para auxiliar na realização de um sonho.


O rosto corado pelo esforço se iluminou sorrindo ao avistar o lar para idosos onde trabalhava. Desceu de sua “magrela’, como chamava a bicicleta azul e foi empurrando-a rumo ao portão. De onde caminhava, já podia ver alguns de seus amigos mais queridos tomando um delicioso banho de sol ou fazendo aeróbica com a responsável pelos exercícios físicos. Acenou sorrindo para os senhores que jogavam uma partida de truco no pátio da frente, em pequenas mesinhas de pedra distribuídas ao redor do grande jardim. Roseiras vermelhas se enrolavam em volta de algumas estátuas de anjinhos, perto de um banquinho feito de nacos de bambu, enquanto as senhoras mais idosas trabalhavam em seu crochê, conversando animadas.


O moço atravessou o grande portão, após destrancá-lo e encostou a bicicleta no portão vermelho, prendendo-a com a corrente, quando foi abordado por uma das senhoras:


- Olá, jovem JongDae! Está tão bonito esta manhã!


O rapaz sorriu para a senhora e ela jurava que ele ficava muito parecido com um gatinho quando fazia isso. Os cantinhos da boca se curvavam pra cima de uma forma fofa.


- Olá, ahjumma... Como se sente essa manhã?


- Ahjumma? – ela formou um biquinho nos lábios – Já disse para me chamar de noona!


Um dos senhores que jogava truco gritou, enquanto JongDae ria baixinho:


- Deixe de frescura, velha intrometida!


- Ora, SeolDan! Não se meta! Todos aqui sabemos que sou a mais nova aqui... Velho gagá!


JongDae tentou acalmá-los, mas era sempre o mesmo alvoroço quando ele chegava. Gostava muito de trabalhar no lar, pois apesar de o trabalho não ser lá o dos mais fáceis, era muito bem quisto pelos idosos, que lhe rendiam boas risadas e boa conversa.


- Vamos ser gentis um com o outro, por favor?


Os dois idosos se olharam irritados, e o garoto passou por eles, avistando o senhor Kim sentado no velho banquinho, como sempre, longe de tudo e todos.


O loiro o considerava um homem muito especial, mas muito ranzinza. Nunca deixava o garoto ou os outros enfermeiros se aproximarem, e sempre disparava palavras repletas de grosserias para os outros idosos. Ele sempre fazia caso do canal escolhido para assistirem após o jantar e odiava as refeições, deixando isso bem claro enquanto reclamava incessantemente e alto, já que a maioria não se atrevia a estabelecer uma conversação com ele. Porém, JongDae era um jovem enfermeiro tão dócil e de bom coração, que ignorava os comentários de desgosto dos outros enfermeiros, sempre sendo gentil e cumprimentando o senhor, que torcia o nariz para si toda vez que lhe olhava.


O senhor Kim estava sempre de cenho franzido, parecendo preso em lembranças, quando sentava-se abaixo daquele pé de romãs, ficando ás vezes o dia todo por ali. JongDae não sabia muito da história do senhor... Só que ele costumava ser muito rico e esnobe. O garoto tinha muita curiosidade de conhecer mais daquele idoso, o único com quem não tinha uma amizade. Já havia feito de tudo para aproximar-se dele, nesses dois anos em que trabalhava no local, muito diligentemente, devo acrescentar. JongDae jamais se abalou com todas as recusas do homem em falar consigo e resolveu seguir com seus afazeres, antes de tentar conversar com ele um pouquinho.


Trocou os pacientes que não conseguiam ir ao banheiro sozinhos, com a ajuda de seu amigo Lay, um dos enfermeiros mais gentis do lar, e estavam a arrumar algumas camas enquanto os donos das mesmas estavam lá fora aproveitando o dia.


- Como estão as coisas, meu amigo? – Lay perguntou, lhe passando algumas fronhas brancas. JongDae sorriu, colocando roupas de cama limpas nos leitos, enquanto dizia:


- Tudo bem, como sempre. E você?


O rapaz sorriu, assentindo.


- Nada de novo... Estou trabalhando na confecção de uma escultura para a entrada. O diretor que pediu...


Lay era o artista por trás das esculturas de anjinhos e outras diversas decorações que deixavam o lugar com um clima mais ameno, menos melancólico. Afinal, muitos dos moradores desse lar, haviam sido simplesmente abandonados pelos familiares ou não tinham para onde ir, de forma que o lugar era tudo em suas vidas. Muitos mal saíam, muitos não conseguiam mais andar... O mínimo que mereciam, na concepção dos garotos, era poderem se alegrar de vez em quando, com um clima favorável à interação e alegria.


- Que ótimo, se precisar de ajuda, sabe a quem pedir... – piscou para o amigo.


Ambos viram o senhor Kim caminhar a passos lentos pelo corredor.


- Bom dia, senhor Kim! – JongDae esticou o pescoço para fora da porta, vendo o senhor parar sua caminhada, arrastando os chinelos felpudos no chão antes de prosseguir, sem responder uma só palavra. JongDae sorriu.


- Como ainda insiste nisso, Chen? – Lay e ele passaram para o próximo quarto. – Esse senhor nunca vai lhe dar bola. Ele é o único que você não consegue dobrar com esse seu charme de Busan. – riu, bem humorado.


O loiro deu de ombros, ajeitando o jaleco branco no corpo.


- Escreva minhas palavras, Yixing... Um dia o senhor Kim e eu seremos bons amigos.


O maior revirou os olhos, antes de piscar para o amigo e dizer:


- E aí... sabe que dia é hoje, não sabe?


Chen já estava esperando a provocação. Ouvia a semana toda sobre como quarta-feira era importante e na quarta, era amolado pelo amigo o dia todo.


- Não... Não me lembro. Que dia é, Lay? – o menor continuou substituindo lençóis, enquanto Lay pulava na cama à sua frente, se inclinando, e dizendo baixinho:


- Q-U-A-R-T-A F-E-I-R-A, meu amigo... quarta-feira! – bateu palmas animado. – Hoje é o dia em que seu admirador vem lhe ver...


Chen empurrou o amigo, que desceu da cama e voltou-se a ele, rebatendo:


- Ele vem ver o tio, e não a mim...


Lay deu de ombros, revirando os olhos de uma forma bem engraçada.


- Me engana que eu gosto. O MinSeok só falta te comer com os olhos... Toda vez que te vê, fica vermelho como um pimentão. Ele gosta de você, só não tem coragem de admitir e se confessar.


Chen fechou a expressão, incapaz de argumentar com o amigo. Não podia negar o óbvio interesse do rapaz em si. Lay, apesar de muito desligado para a maioria das coisas, era muito perceptivo quanto à relacionamentos... Muito mais que si, pelo menos. JongDae tinha vergonha de admitir, mas em seus 24 anos de idade, nunca havia vivenciado nenhum relacionamento amoroso.


Não sabia explicar o por que... Talvez fosse por ser ocupado... talvez fosse culpa dos exemplos que teve na vida, como o relacionamento conturbado dos pais, que levou o casal há um divórcio após 35 anos de sofrimento conjunto. Ou talvez apenas fosse pela insegurança do menor, por saber que seu gosto se resumia a admirar rapazes ao invés de moças... talvez não fosse muito maduro para essas coisas ainda. Acreditava ser muito tímido para se aproximar de alguém com essas intenções. Em suma, toda vez que alguém demonstrava interesse, ele fugia descaradamente, como o bom covarde que era.


Tanto é, que quando o sobrinho de um de seus mais queridos amigos do lar o viu pela primeira vez e lhe sorriu de uma forma que ninguém nunca havia feito, Chen simplesmente desviou o olhar, não sabendo por que havia feito aquilo. Ele estava apenas sendo simpático... Não é?


E quanto mais o tempo passava, mais o rapaz se encucava com as atitudes imprevisíveis do rapaz, que sempre vinha puxar papo consigo, como se estivesse muito interessado em lhe conhecer melhor. Até mesmo o convidara para que fosse assistir ao recital de piano do tio, o que JongDae recusou com uma desculpa esfarrapada de comemorar o aniversário de seu gato em casa... Tudo fora um fiasco, e desde então, fugia do moço toda quarta-feira. O senhor Lee era o único dentre os idosos que realmente recebia visitas regulares, e isso por XiuMin ser um garoto muito carinhoso. Ele havia voltado recentemente da China, e soube que o tio teve de ser colocado no lar, devido à falta de tempo dos pais em cuidar dele, e do desejo do próprio tio de ter algum tempo para ele mesmo, com gente de sua idade.


JongDae realmente achava louvável que o moço viesse tão amorosamente ver seu tio. MinSeok conversava com os idosos, e até mesmo praticava salsa com as senhoras nos momentos em que estava ali, sempre com um sorriso doce em sua direção. Sempre parecendo querer se aproximar...


Mas JongDae não permitia.



***



- E então, senhor Kim... Como se sente nesta linda quarta-feira? – Chen deixou um café na ponta do banco, incerto se deveria se aproximar mais. O homem dirigiu um olhar a si, alternando olhares entre a bebida e o rapaz, parecendo aborrecido.


Ele não desviava os olhos da grande árvore do lado de fora do casarão, de onde começavam a cair folhas, anunciando o outono iminente.


- Não quero... – disse, ríspido.


Chen sorriu.


- Ora, está forte, do jeito que o senhor gosta... Por que não aproveita o clima bom para dar um passeio, hein?


Os olhos negros e experientes reviraram levemente, enquanto os lábios cheios e um tanto ressequidos se crispavam em descontentamento.


- E o que te interessa o que faço ou não?


O enfermeiro engoliu em seco, mas recuperou-se rapidamente. Aquela era de longe a conversa mais longa que já tinha tido com o senhor Kim, não iria desperdiçá-la por causa do orgulho ferido.


- Deveria estar aproveitando o tempo que tem aqui... E- foi cortado de súbito, pela mão do senhor levantada, enquanto ele retorquia, um tanto alto:


- Digo o mesmo para você.


Chen pediu para que ele repetisse, pois não entendera, mas o homem simplesmente calou-se. No mesmo instante, um MinSeok sorridente passou pela recepção, acenando para JongDae, que corado, acenou timidamente, se despedindo do senhor Kim, com a desculpa de que tinha algo a fazer lá dentro.


Quando virou-se de costas, perdeu o olhar atento do senhor no rapazinho com olhos de gatinho, coçando a nuca tímido. O senhor Kim meneou a cabeça de um lado a outro.


MinSeok beijou a bochecha do tio, sentando ao seu lado, vendo-o arrumar os óculos, enquanto esquadrinhava o caça-palavras.


- Como está hoje, tio?


- Mais ou menos... Já tive um embate com aquela velha irritante.


O garoto riu, seus ombros de agitando. Ele olhou de relance para JanHye, que pintava as unhas com uma amiga e ao notar o olhar de SeolDan, lhe dirigiu uma carranca irritada. MinSeok nunca cansava-se de ouvir as queixas do tio sobre aquela senhora. Toda semana seu tio tinha novas histórias sobre ela, como roubava seus cereais de aveia, e em como certa vez escondera sua dentadura para que ele não pudesse sair sorrindo na foto de fim de ano.


- Vocês precisam parar de brigar... Uma hora alguém vai acabar deslocando o quadril, hein... – fez graça, apoiando o punho no rosto e o cotovelo na mesa, enquanto assistia Chen ajudando um dos senhores a caminhar até o jardim. Suspirou, completamente apaixonado.


Desde que pusera os olhos no rapaz, havia ficado impressionado pelo sorrisinho sapeca, os cabelos descoloridos e rebeldes que apontavam para todos os lados e pela falsa aparência de fraqueza do menor, que por ser magro parecia frágil, mas já o havia visto carregar idosos no colo diversas vezes, e mesmo prestar primeiros socorros como um anjo. Não importava o clima, nem o humor oscilante dos idosos... Ele sempre os tratava com carinho, cuidado e cortesia, sendo paciente até para os que não tinham mais boa memória ou eram agressivos.


JongDae era simplesmente incrível. Era determinado.


XiuMin soube muito do jovem através do tio, e sonhava desesperadamente com uma chance de poder se aproximar do enfermeiro, mas o mesmo não lhe dava uma brecha sequer...


- E você precisa tomar logo uma atitude. Não venha me dizer que checar o meu bem estar é o único motivo de vir tanto aqui...


MinSeok enrubesceu, e como para dar veracidade ao discurso do tio, viu Chen olhar para si, e disfarçar, se afastando.


- Ele... Ele é muito difícil, tio. Não sei se conseguirei chamar sua atenção.


O tio assentiu. Tinha de concordar com o sobrinho nesse quesito. Olhou mais a frente, quando uma corrente de ar mais forte fez com que a grande árvore depois dos limites do lar se agitasse, vendo o senhor Kim degustando seu café e fazendo careta depois, os olhos ainda presos na árvore. Quase sorriu para ele, mas preferiu se reservar a observar. O velho Kim parecia muito mais interessado do que tentava aparentar, na conversa deles, e desviou o olhar com despeito, antes de levantar e caminhar para dentro do casarão.


XiuMin bagunçou os cabelos, com um biquinho.


- Só por milagre que o JongDae vai me notar...


Enquanto observava o velho Kim andar até a casa, SeolDan sorriu.


- Ás vezes milagres acontecem, meu garoto.




***

Era fim de expediente, e quase todos os idosos haviam se recolhido para seus quartos. Chen abraçou alguns, enquanto acenava para outros, e passando pela recepção, passando a alça da bolsa transversal pelo pescoço e pegando a chave da corrente, avistou alguém sentado no escuro, naquele banco no meio do jardim.


Apertou mais os olhos, constatando que era o senhor Kim que estranhamente estava fora de seus aposentos. Achou estranho aquilo acontecer e rumou até o jardim, parando a uma certa distância, antes de dizer:


- Senhor Kim... Não devia ficar aqui no frio... Pode pegar um resfriado.


O homem não moveu um músculo, ainda de costas para si. O vento despenteava os cabelos compridos, brancos e lisos, e um grosso robe cobria seu corpo. Como não recebeu resposta do homem, JongDae resolveu que iria entrar e chamar alguém para levá-lo de volta. Contudo, a voz rouca do senhor o fez estancar no lugar, ao proferir:


- As arvores têm um coração, sabia?


O rapaz fitou a figura sentada à sua frente sem entender. O que era aquilo tão de repente? Que papo aleatório era aquele? Ficou em silêncio por um instante, achando que o senhor Kim talvez estivesse com a memória fraca, mas o homem virou a cabeça, encontrando seu olhar, com os olhos negros inquisitivos.


- É educado responder uma pergunta...


Chen acordou do devaneio, pigarreando antes de dizer:


- Oh, é mesmo? – coçou a nuca. – Eu não sabia...


O homem assentiu, dando um tapinha no espaço a seu lado no banco. Chen estava muito chocado. Nunca presenciou nenhuma aproximação do senhor e se beliscou de leve, perguntando-se se estava sonhando. Meio incerto, apressou-se em sentar.


- Como aprendeu isso?


O senhor Kim abaixou a cabeça, apoiando as mãos no banco. As feições envelhecidas estavam mais suavizadas naquela noite. A pele do rosto um tanto enrugada lhe dava um ar de sabedoria de quem viveu muitas aventuras. Apesar de estar na casa dos 60, o senhor Kim parecia em boa forma. Á luz do poste em formato circular, ele pareceu-se mais jovem.


- O amor me ensinou... – disse simplesmente, admirando a grande árvore.


Ela não era a árvore mais linda do bairro. Tinha o tronco fino e a casca mais seca que o normal. Chen lembrava-se de ter que varrer centenas de pequenas flores amarelas que caíam da mesma na primavera, como uma cascata. As pequenas flores sempre tinham um cheiro muito doce. Quando se acabavam as flores, logo as pequenas folhas caíam todas, deixando a árvore com uma aparência de solidão e abandono. JongDae nunca havia prestado muita atenção nela.


Ele estava surpreso de ouvir o velho Kim falando de amor, afinal, ele não parecia ser do tipo que vive uma história de amor. Se viu ansioso por aprender mais com o senhor.


- Que cara é essa? Eu posso ser um velho ranzinza, mas já amei sim.


A feição emburrada arrancou um sorriso do enfermeiro.


- Desculpe... Só não imagino o senhor casado e rodeado de filhos...


O homem de pele levemente morena sorriu, á luz da lua.


- Se ao menos ele tivesse me permitido casar com ele...


JongDae abruptamente depositou o olhar no rosto sereno do senhor. E o velho Kim previra aquela reação, e ao constatar que estava certo, soltou uma risadinha baixa.


- Aposto que não imaginava isso também...


Chen assentiu, se achegando mais ao homem, curioso.


- Estou prestes a contar uma história que jamais contei a ninguém aqui... está disposto a ouvi-la, garoto?


Chen assentiu com a cabeça diversas vezes.


- Mas, por que quer contar justo a mim? – o enfermeiro apontou o dedo indicador para si mesmo, confuso.


O senhor Kim suspirou, ajeitando o robe.


- Por que quero que saiba que o amor machuca.


O rapaz olhou novamente para a árvore, pensativo. Mesmo assim pediu que o ancião continuasse, e ele tomou fôlego antes de dizer:


- Era a quase outono, tal como agora, quando eu conheci o amor pela primeira vez. Pode parecer estranho para você imaginar isso, olhando pra mim, e acredite, eu compartilhava do seu pensamento. Na época, eu não imaginava que algo assim pudesse me acontecer, até por que eu estava convencido de que relacionamentos não eram pra mim. Eu tinha 16 anos e lutava por uma vida melhor ao lado de meus pais. Eu era um estudante nada abastado que fazia todo tipo de bico para arranjar um dinheiro, enquanto meu pai se arriscava no negócio empresarial... Um fracasso após o outro. Não havia nada... Absolutamente nada de especial em mim. Passei tantas vezes por aquela rua, sem nem ao menos me dar conta de um dos maiores ensinamentos do mundo, mas isso mudou numa tarde, enquanto caminhava para a escola.


Chen sorriu, se aconchegando no banco.


- Eu caminhava chutando pedrinhas, quando o vi pela primeira vez. Ele não era da minha escola, mas vestia um uniforme. Era baixinho, tinha a pele bem branca... parecia frágil. Mas, não era isso que chamava atenção. O garoto estava parado bem em frente de uma árvore. Estava lá em pé na calçada, olhando ininterruptamente para a grande árvore, quase sem folhas, com um grande sorriso nos lábios. Quando penso sobre isso, lembro-me de que aquele dia também não tinha nada de especial. Era só mais um dia comum. No início não entendi a causa da apreciação um tanto exacerbada daquela árvore pelo menino. Mas, lembro bem que quis sorrir junto dele, simplesmente por que o sorriso que ele dirigia àquela árvore era tão puro e bonito. Os lábios repuxados num sorriso, formavam um coração. Ele parecia preso no próprio mundo, e quando me viu, somente continuou sorrindo. Me senti envergonhado de permanecer ali, vendo o que quer que ele estivesse fazendo, e segui caminho. Porém, o sorriso sincero do garoto permaneceu na minha mente, enquanto apagava as luzes pra dormir naquela noite.


O enfermeiro olhou para dentro, receando que alguém os visse ali. Ele estranhamente não queria que ninguém atrapalhasse a história que o senhor Kim contava.


- Voltei a vê-lo algum tempo depois... Ele trabalhava num mercadinho do bairro, repondo mercadorias. E ele parecia tão feliz fazendo aquilo, que me perguntei se ele era mesmo são... Sorrindo para uma árvore qualquer e sorrindo enquanto carregava aqueles vasos de plantas pesados. Só poderia ser masoquista.


Eu até tentei não ficar curioso sobre aquele garoto, mas sempre que o via, ele me direcionava aquele mesmo sorriso meigo. Sem que percebesse, eu estava a procurar por ele no bairro sempre que podia, passando pelos lugares que sabia que ele frequentava, só por que queria ver aquele sorriso. Ele parecia saber valorizar cada pequeno momento e eu secretamente, queria muito ser seu amigo. Ele facilitou, na verdade... Pois semanas após nosso primeiro encontro, encontrei-o “acidentalmente” no mesmo lugar onde o vira pela primeira vez, fitando a árvore, e antes que eu fugisse covardemente, como sempre, ele se pronunciou...


“Você sabia que as árvores tem um coração?”


- Me lembro de olhá-lo em choque, ao que ele disse:


“As árvores e a natureza são incríveis. Mesmo com a mudança de estações, elas são capazes de se renovar. Mesmo que a estrutura seja a mesma, seca e firme... A árvore renova seu coração através das folhas que caem e nascem novamente. O coração da árvore é sempre o mesmo, estático, mas os galhos se enveredam para tantos lugares... Mas, a raiz nunca se afasta de onde seu coração está... Não importa o quanto doa quando perde seus frutos. Ela floresce novamente, enquanto nós, frágeis seres humanos, temos existências efêmeras, repletas de erros, e caminhos errados... É realmente incrível, não?”


- Me lembro dos sentimentos que passaram pelo meu coração naquele momento. A sensação de ser despertado para algo que eu nunca havia refletido antes... E sentia como se pela primeira vez na vida eu estive respirando... E aquele sorriso... Eu não conseguia fazer nada além de confirmar em silêncio... No peito um coração acelerado e no rosto, a expressão de espanto diante das palavras do baixinho.


“Sou KyungSoo, prazer...”


“Sou Kim Jongin”


- Quando ele apertou minha mão naquela manhã em especial, no meu interior eu já sabia que o coração que batia em meu peito não era mais meu... Ele já pertencia a ele...


O homem sorriu, com a cabeça tombada para o lado, preso num passado que parecia estar não tão distante.


- Com o Soo aprendi muitas coisas, as lições mais valiosas que eu poderia querer... O que começou como uma amizade, envolvia muito mais que isso, quando parávamos no meio da tarde para admirar os flamingos à beira do lago, ou crianças correndo no parque, ou quando ele dividia seu walkman comigo, e ouvíamos músicas que falavam do mesmo sentimento que estava em nossos corações naquele momento, sem que nenhum dos dois sonorizasse aquilo em voz alta.


“Ouvi dizer que amar machuca” – um preguiçoso Jongin falou, certa vez, enquanto nós estávamos deitados no gramado do parque.


“Como pode saber? Se nem ao menos experimentou...” – ele costumava me provocar, gostava das minhas reações óbvias estampadas no meu rosto antes de falar qualquer coisa.


- Na época, eu dei de ombros. Eu sabia o que era amar... Mas, minha mente adolescente era atribulada demais para que soubesse nomear bem o que amor significava.


“Por que não testamos pra ver se é verdade mesmo?” – fui eu a sugerir, juntando toda a coragem que possuía, após meses de inércia emocional.


“Por fins puramente científicos... “ – ele apenas riu, segurando minha mão. Nunca me esquecerei do tremelique que senti nas pernas, apenas com o gesto, por que a mão dele era pequena e fria, como se tivesse sido projetada para ser afagada... Assim como todo o seu ser. Ser afagado por mim.


Chen sorria, deslumbrado pela história do velhinho.


- Com ele descobri que pequenos momentos valiam a pena. Mas, o mais importante é que naquele momento eu sabia que amor era sentir-se incompleto na falta dele... Era matar aula para vê-lo. Era passar horas no bazar ajudando-o, mesmo que ele tivesse se mostrado até mesmo mais forte que eu fisicamente... Era aquele frio no estômago sempre que ele estava perto. Era não me cansar de olhar para os olhos enormes e profundos dele, enquanto ele contemplava o mundo de seu jeito tão único. Era colocá-lo sempre como prioridade e tê-lo invadindo meus pensamentos em todas as horas de todos os dias. Era querer saber se ele gostava das gominhas coloridas que eu insistia em levar para ele todos os dias no mercadinho. Era querer passar cada instante com ele.


O homem se pôs de pé, andando para a área das rosas, alcançando as pétalas com as pontas dos dedos trêmulos, enquanto prosseguia, num tom mais sombrio:


- Mas, estávamos prestes a descobrir que o amor machuca, pois no mesmo dia em que decidi beijá-lo pela primeira vez, embaixo da famigerada árvore, fui pego no ato por meu pai, que longe de captar a magia dos lábios voluptuosos se movendo em perfeito encaixe, me afastou do garoto aos tapas... Deve imaginar que naquela época, tais relações eram ainda mais mal vistas.


Chen assentiu, mordendo o lábio inferior.


- Nunca me esquecerei da angústia de ver nos olhos de KyungSoo, o medo de me ver afastado dele, enquanto meu pai me arrastava para longe, com o olho roxo.


“Jongin!”


“Soo! Não tenha medo...”


“Pra onde estão te levando?”


- As lágrimas lavavam o rosto dele, enquanto com aos mãos estendidas como uma criança desolada ele tentava alcançar minha mão. Eu nunca tive tanto medo na vida. Enquanto meu pai me enfiava no velho Toyota da família, lembro-me de enxugar as lágrimas e gritar:


“Soo! Eu vou ser como aquela árvore! Nosso amor é como a raiz!”


- Os olhos dele se arregalaram, enquanto ele mantinha as mãos cerradas em punho, perto do coração. Os cabelos negros e lisos esvoaçando ao vento, enquanto o carro se afastava dali.


Chen levantou, vendo nos olhos do senhor Kim, o quanto era difícil falar sobre aquilo.


- Então... – o enfermeiro falou – Separaram vocês dois?


O homem assentiu.


- Ou assim pensaram... Pois meu amor por aquele garoto era como aquela árvore, meu coração estava fincado no dele, como uma raiz profunda, e os galhos estavam me levando para longe, mas meu amor só cresceria e se renovaria, como as folhas e frutos que florescem, caem e nascem novamente... meu coração era todo dele... Sempre seria.


Os olhos de Chen marejaram, compadecendo-se do pobre homem.


- E tudo acabou assim?


- Oh, não! As coisas não poderiam terminar assim... – voltou a sentar, sorrindo para a face curiosa ao extremo do rapaz. – O tempo passou, após minha mudança de cidade... Meu pai se tornou um homem muito bem sucedido, tinha filiais por todo lado, e eu... Bem, eu namorei com todas as garotas que pude, mas sem nunca deixar de sentir aquele vazio no peito. Parecia que para sempre seria inverno, afinal... Uma vida sem amor não era nada. Quando terminei a faculdade, e a influência de meu pai em mim diminuiu um pouco, eu quis voltar à cidade. Meu pai estava tão convencido da minha “reabilitação”, já que eu trancara minha dor no canto mais escondido do meu coração, que mal titubeou.


Chen se aproximava cada vez mais, tentando montar na cabeça uma imagem que se assemelhasse à história do velho Kim, para melhor entender tudo aquilo.


- Ainda me recordo da minha afobação a fugir da arrumação da casa, só pra correr até aquela árvore, em êxtase, na possibilidade de encontrar o amor de minha vida lá, admirando a beleza e força da natureza, mas ele não estava lá. E no dia seguinte também não... E nem no mercado e em nenhuma parte... E assim eu mergulhei numa depressão da qual não conseguia me livrar, mesmo que quisesse.


JongDae jurava que havia visto uma lágrima rolar pelas bochechas um tanto enrugadas, mas o senhor a colheu com o dedo, antes que mais alguma a seguisse.


- E o que houve depois? – Chen estava emocionado demais com aquela história. Como seria ter um amor como aquele? Tão intenso que era capaz de sobreviver ao tempo.


- Era outono quando ele voltou para ver a árvore. Eu estava sentado na calçada, quando avistei a silhueta se aproximar, parecendo mover-se junto ao vento forte. Me levantei num pulo, andando até ele, que parecia não acreditar. Os olhos já grandes e escuros estavam bem concentrados em mim, enquanto eu levantava a mão para tocar seu rosto, que àquela altura já estava lavado de lágrimas.


“É você mesmo?” – ele me olhava e tremia, aos poucos alcançando meu braço, tocando-o com sofreguidão, querendo se certificar de que eu estava ali mesmo.


“Sim, eu demorei, me desculpe” – ele afagou meu rosto com a mão, e não evitei agarrá-la e selar a pele macia.


“Eu sempre esperarei por você, até o fim dos meus dias” – fui eu quem diminuí nossa distância, selando os lábios que eu tanto via em meus sonhos...


- O gosto dos lábios dele, era a coisa mais incrível do mundo... Era como se ele tivesse sido feito especialmente para mim. Estávamos diferentes... Eu havia crescido, ele não. Mas, de alguma forma, ele conservava as feições infantis que tanto me instigavam. Dali saímos correndo pelas ruas sem rumo, sem que nossas mãos se separassem por um segundo que fosse. Naquela mesma noite, fiz dele meu... Sedento por reconhecer que ele e eu pertencíamos um ao outro de corpo e alma. Enquanto observava a face dele embebida de desejo, um que nada tinha a ver com as atitudes virginais de nossa adolescência, eu pude entender que o amor também amadurece, enquanto os frutos florescem apesar de terem sido afastados pelos galhos. Cada toque que distribuí em seu corpo, lembrava-me o quão meu ele era... Cada pequena pinta, espalhadas pelo pescoço e tórax, cada suspiro deleitoso enquanto nos movíamos sobre a cama de seu pequeno quarto no dormitório da faculdade que fazia, cada gemido extasiado... Nos provando o quão real era aquilo, o quão sério era o nosso amor.


“Eu te amo... Sempre amei” – ele disse primeiro, após nos amarmos, e com minha mão correndo a lateral de seu corpo, me deliciando em conhecer cada pequeno pedaço de si.


“Não tanto quanto eu” – respondi.


- E mais uma vez provamos que o amor machuca. Por que apesar de sabermos que nos amávamos e nossos beijos e carícias, e os olhares cúmplices demonstrarem isso, sabíamos que corríamos o risco de sermos descobertos pela manhã e separados... E mesmo assim, como quando éramos mais jovens, aproveitamos aquele momento, nos beijando como se disso dependessem nossas vidas. Eu jamais esquecerei como era ter meu corpo tocado por ele. Era como se todo o meu ser soubesse que pertencia a ele. Se me perguntassem meu sabor favorito na vida, eu diria que era o beijo do Soo.


Chen coçou a nuca, um tanto constrangido pelo relato, mas ao mesmo tempo com o coração apertado. Mais que tudo naquele momento, ele queria que os dois acabassem juntos, se amando, como era pra ser.


- E então...? – o jovem se inclinou de modo a captar as expressões do velho Kim, que fitava o nada, provavelmente revivendo aqueles momentos de amor com seu parceiro. Nos olhos, um semblante triste e saudoso.


- E então o amor machuca. Após alguns dias de felicidade que parecia não ter fim, meu pai descobriu tudo e voltou a nos separar...


Chen tapou a boca com a mão.


- Nunca esquecerei o olhar de KyungSoo. Naquela vez, eu não fui tomado de seus braços... Ele mesmo soltara minha mão, surpreendendo a mim e até meu pai, que todo engravatado como estava, não evitou me afastar dele aos safanões, na rua mesmo.


Os olhos dele correram ao redor, a fumacinha do frio a deixar seus lábios enquanto tomava fôlego para prosseguir:


- Ele sabia que não possuía nada além de seu amor para me ofertar, já que estudava com o salário do estágio, o suficiente para manter-se, enquanto meu pai poderia me oferecer tudo... Um futuro, prestígio, e uma vida confortável... talvez uma esposa e filhos... dinheiro, quem sabe fama.


“Soo?” – eu o fitava se afastar, enquanto meu pai afirmava que fora o melhor.


“Eu só queria poder dizer que pelo menos por um curto espaço de tempo, você foi o meu amor, Jongin” – ele dissera, com aquele sorriso... Um sorriso compreensivo, dizendo-me que estava tudo bem em abandoná-lo. Eu não podia crer.


Chen estalou a língua, perplexo. Alguns insetos voavam perto do pequeno poste de luz, mas nada disso lhe prendia a atenção. Todos os seus sentidos estavam focados no homem ao seu lado, que tinha novamente lágrimas nos olhos.


- Ele estava se sacrificando... Sacrificando nosso amor por mim... Pra que eu pudesse ser feliz. Mal sabia ele que seria impossível sem ele...


Chen chocou-se ao máximo, indignado. Por que o amor tinha que ser tão cruel?


“Eles nunca nos deixarão ser felizes, Jongin. Querem cortar nossa raiz pra sempre... O que poderíamos fazer? Nada”


- Enquanto ele se afastava a passos lentos, e eu acompanhava meu pai, pensando em como teria sido muito melhor se eu não tivesse me apaixonado. Eu não devia ter aberto meu coração...


JongDae assentiu, cerrando os punhos, levemente irritado. Enquanto pensava em sua própria vida, percebeu qual era seu grande medo afinal... O amor machuca e longe dele sentir isso. Até passou por sua cabeça perguntar qual foi o destino de Do KyungSoo, mas a postura perdida do homem provocou pena. Ele era um homem rico e amargurado por conta de um destino cruel.


Finalmente o homem se levantou, se virando totalmente para o jovem, tocando seu ombro calmamente.


- Como se sente ao ouvir a história?


- Revoltado... Não acredito que coisas tão cruéis aconteceram contigo. Mas, veja... Ainda há tempo. Podemos encontrar Do KyungSoo... Vocês podem se acertar, sei que podem. Ainda pode restar uma chance...


Jongin balançou a cabeça, com um sorriso sereno nos lábios. Chen era mais empático do que acreditava ser.


- Não, não há... KyungSoo não está mais entre nós...


Os olhos quase sempre brincalhões do garoto marejaram, enquanto ele sentia algo dentro de si se quebrar. Ele mantinha a imagem de um garoto alvo e jovem, bonito e sorridente em sua mente, e saber que ele partira longe de seu único amor, o despedaçou.


- Não acredito, senhor Kim...


Jongin segurou-o pelos ombros, pois apesar de mais velho, ainda era mais alto.


- Por que está chorando, Chen?


O garoto tentava manter a pose, enxugando as lágrimas incessantes com as mangas do moletom.


- É que... Vocês não ficaram juntos... É tão triste!


Jongin riu baixinho, meneando a cabeça.


- E quem disse que não?


JongDae olhou para o senhor, confuso:


- Mas, o senhor mesmo disse que o amor machuca e que eram adversidades demais...


O mais velho enxugou as lágrimas do menino com os dedos, com um sorriso gentil nos lábios fartos.


- O amor machuca mesmo... Mas, vale a pena senti-lo, e foram os melhores anos da minha vida. Eu nunca disse que não fiquei com o Soo. Eu lutei por ele, garoto. Naquela mesma noite eu o procurei. Eu não queria dinheiro, nem a aprovação do meu pai... Eu o queria. – olhou para a lua, com um sorriso nos lábios – Fugimos juntos na mesma noite.


Chen estava boquiaberto.


- Quando eu realmente entendi o que realmente importava, não perdi tempo em correr atrás... Fui deserdado, claro... Mas, por anos trabalhamos juntos para nos sustentarmos... Abrimos um negócio, e enriquecemos rapidamente. Como eu tinha meu Soo comigo, trabalhar até a exaustão não foi problema. Ele me fazia cafuné todos os dias... Era o paraíso. Nunca nos casamos, devido a represálias, mas passamos nossa vida inteira juntos, JongDae...


Um sorriso escancarado adornou os lábios finos do garoto. Ele não conseguia acreditar que tudo havia dado certo, no final.


- Ele morreu, sim... Mas, foi nos meus braços, de causas naturais. Faz três anos. – o sorriso sincero do homem, parecia iluminar o local todo.


- Então... Vocês foram felizes? – Chen quis se certificar.


- A cada segundo... – o mais velho afirmou.


- Que alívio... – o rapaz suspirou.


- Mas – ele levantou o dedo, chamando atenção do menino – Somente quando me livrei do medo. O amor machuca, mas a dor vale a pena quando temos a coragem de perseguir nosso amor. As folhas caem, mas também florescem.


Chen respirou fundo, conseguindo imaginar o pequeno garoto e Jongin quando mais novos, felizes, como deveria ser. A ideia de amar não parecendo mais tão assustadora.


- Mas, senhor Kim... por que veio pra cá, então?


O homem sorriu, apontando a árvore do lado de fora.


- Está vendo ela? Ela me faz lembrar do meu Soo. Foi embaixo dela que nos conhecemos.


JongDae estava tão emocionado, por saber que um homem aparentemente tão amargo como Kim Jongin podia amar daquela forma, com tal intensidade, e mesmo após a morte do amado, ainda ser capaz de buscar estar perto dele sempre.


- Queria que fôssemos como as árvores, que duram séculos quando a raiz é forte... Mas, somos limitados e uma hora não florescemos mais... Mas, eu sei que algum dia eu vou encontrar com meu amor novamente... Por enquanto vou ficar aqui admirando... Mas, meu tempo de agir passou, porém o seu não, meu jovem...


JongDae não pôde conter-se e apertou o senhor num abraço. Jongin estava surpreso, mas não recuou.


- Muito obrigado, senhor Kim... – o rapaz disse, no mesmo instante que a enfermeira os avistava no jardim.


- O que fazem aí? Senhor Kim! Não pode ficar no frio! Chen? Tire logo o senhor Kim daí...


- Não tenha medo de amar... É o sentimento mais bonito... – o homem disse, simplesmente.


Chen assentiu sorridente, guiando-o de volta para dentro.


- Ouviu a enfermeira chefe, teimoso... – Chen riu, enquanto Jongin fechava a cara.


Ambos riram no caminho até o quarto de Jongin. Ao vê-lo ao lado de Chen, SeolDan sorriu.



***

MinSeok ia entrando no lar, quando avistou alguém do muro oposto ao portão. Se surpreendeu ao ver Chen admirando uma árvore muito antiga, com um sorriso lindo no rosto, talvez o mais lindo que tivera a oportunidade de ver.


Caminhou até ele receando estar atrapalhando, e assustou-se quando o rapaz sorriu para si.


- O-oi Chen... – os olhos puxadinhos tal qual os de um gato, fizeram Chen alargar seu sorriso. Aquele garoto alvo e forte, com aqueles cabelos castanhos era realmente lindo.


- Oi MinSeok-hyung... Como vai?


Ele sentiu as mãos suarem. Rezava aos céus para não fazer besteira.


- Bem, vim ver meu tio. E como você está?


- Entediado...


O outro não entendeu ao que ele se referia, pois a expressão alegre em seu rosto denotava tudo, menos tédio.


- Mesmo?


- Sim... Louco por um programinha pra sair da rotina. – o sorriso sapeca dirigido a si fez o coração de XiuMin parar por um segundo. Aquilo era mesmo sério?


Esteve esperando por tal oportunidade por tanto tempo, que nem sabia mais o que esperar.


- B-bem... Eu tenho ingressos para uma peça de teatro, se não achar muito chato, poderia me acompanhar... – disse incerto, com os tênis arrastando nas folhas laranjadas. Estava completamente nervoso.


- Claro! Adoraria! – XiuMin se espantou com as palavras de JongDae, sorrindo em seguida, feliz.


Ele não podia acreditar na maré de boa sorte que estava tendo. Não acreditou enquanto andava ao lado do garoto pela rua, com as duas mãos roçando levemente pela proximidade. Não acreditou enquanto Chen elogiava sua aparência, nem quando no meio da peça o menor deixou a cabeça se apoiar no ombro do outro, levemente sonolento. Mal acreditou quando Chen o alimentou no Starbucks, ou quando na hora de se despedirem, o enfermeiro ter lhe beijado o canto dos lábios.


MinSeok não acreditava que aquilo estava acontecendo... Que JongDae lhe convidaria para sair novamente, nem que ambos chegariam a namorar, que iriam se amar na cama de solteiro do enfermeiro pela primeira vez em seu aniversário de namoro, nem que todos aqueles beijos escondidos no armário de vassouras do lar aconteceriam com muito mais freqüência, pois XiuMin não ia mais só às quartas ver o tio... Ele ia todos os dias, e até ajudava o namorado.


Jongin observava tais cenas sempre com um sorriso nos lábios, bem ciente de que seu amado mesmo adoraria presenciar tal cena. Mas, sempre que sentia-se triste, olhava para a árvore e nela encontrava forças para continuar.


Logo o “até logo” de JongDae quando XiuMin ia embora, virou um sonoro e amoroso “te amo, lindão!”, acompanhado de um tapa bem servido na bunda do namorado, que provocava risos em todos os idosos da casa, e em seu amigo Lay. Ele se considerava o casamenteiro que unira o casal, mas Chen sempre lhe dizia que isso não poderia estar mais longe da verdade. Ambos riam e o assunto morria ali.


Jongin tomava seu café, enquanto SeolDan resolvia seu caça palavras ao seu lado.


- Você teve algo a ver com isso? Seu velho ardiloso! – o homem ajeitava os óculos nos olhos, vendo o olhar distante do senhor Kim. Apontava para Chen, que atendia as senhoras do clube de salsa com um sorriso.


- Obviamente não... Não sei do que está falando... – retrucou, sorrindo minimamente.


- Humpf! Esse velho só inventa moda! Não se importe com ele, velho Kim... – JanHye disse, apontando o pincel do esmalte na cara do homem.


O homem revirou os olhos, trincando os dentes.


- Mas, por Deus! Esta velha não vai parar de me amolar...


Os dois começaram a bater boca, ainda mais depois que Jongin sugeriu que aquilo era uma atração mútua, e o quebra pau começou.


Chen suspirou ao lado de Lay, indo separar a briga, afinal... Nem tudo nessa vida eram rosas, mas mesmo assim, valia a pena aproveitar cada momento, mesmo aqueles nos quais apartava brigas de gente idosa.


Era mais um dia primavera, e do lado de fora da propriedade, as mesmas pequenas flores amarelas que foram testemunha de tantos amores, caíam como uma cascata. A velha árvore permanecia firme por mais uma de muitas estações.



***** Spring Days *****

7 мая 2019 г. 2:49 1 Отчет Добавить Подписаться
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sahsoonya Sahsoonya KPOP, ROCK, ANIME, DORAMA, GAMES, POETRY, HORROR MOVIES, ENGLISH, KIDS EXO - KAISOO "I would prefer not to" - Bartleby the scrivener (Herman Melville)

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Karina Zulauf Tironi Karina Zulauf Tironi
Olá, Sahsoonya! Tudo bem? Meu nome é Karina, faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Quando li o título do seu conto, imediatamente pensei que se tratava de uma fanfic do BTS, por causa da música Spring Day, mas a sinopse logo tratou de me informar que se era, na verdade, de uma fanfic do EXO e aparentemente com muito potencial! Adorei seu estilo de escrita, como descreve os personagens e as situações, ambientando o cenário para os leitores imergirem com mais facilidade na história. É muito romântico e profundo, embalando-nos em um ritmo suave com as palavras. Foram poucos errinhos ortográficos que notei, coisa pouca mesmo e quase imperceptível, nada que interfira na leitura ou na opinião do leitor sobre seu conto maravilhoso! Teve alguns trechos que gostei bastante e anotei, como: “- Só por milagre que o JongDae vai me notar... Enquanto observava o velho Kim andar até a casa, SeolDan sorriu. - Às vezes milagres acontecem, meu garoto.” E: “As árvores e a natureza são incríveis. Mesmo com a mudança de estações, elas são capazes de se renovar. Mesmo que a estrutura seja a mesma, seca e firme. A árvore renova seu coração através das folhas que caem e nascem novamente. (...) Ela floresce novamente, enquanto nós, frágeis seres humanos, temos existências efêmeras, repletas de erros, e caminhos errados...” Terminei a leitura com o coração bastante quentinho, uma visão renovada acerca do amor e das pessoas que já amei. Foi um prazer ler e comentar seu conto, você tem muito talento e acredito que vá longe! Meus parabéns mais uma vez e te desejo todo o sucesso! Abraços (:
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