Killer olhou para o homem semi adormecido sobre a cama, agradecendo aos céus por ele estar cansado e fraco demais para ter um ataque de fúria ou qualquer coisa parecida.
— Ela está aqui. — Heat surgiu a porta, mantendo os olhos por um instante no homem sobre a cama, antes de se afastar, dando passagem para a mulher, que entrou resmungando baixo.
— Preciso de mais luz do que um castiçal ao lado da cama. — os olhos dela o perfuraram, fazendo com que ele concordasse com um aceno e saísse em busca de alguém com mais tempo e paciência que ele que pudesse a ajudar.
Killer parou no convés do navio, olhando para a tripulação que se dividia, cada um cuidando de sua respectiva tarefa. Um dos novos recrutas passou por ali, parecendo um tanto perdido.
— Coloque ele para a ajudar. — o loiro encarou Heat, que concordou com um aceno, antes de se afastar. Mesmo do lado de fora da cabine, ele podia ouvir os resmungos dela e o som de coisas sendo arrastadas.
Ele apenas podia torcer para que aquele acordo realmente valesse a pena.
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Merindah olhou ao redor, praguejando pela cabine escura, bagunçada e abafada. O local cheirava a mofo e talvez algo mais devido a umidade e a seu desorganizado capitão.
O homem na cama gemeu baixo, fazendo com que ela voltasse os olhos para ele. Ela não duvidava das habilidades do médico a bordo e sabia que o pobre homem devia estar sobrecarregado de feridos, mas ela não podia evitar pensar que ele poderia ter sido mais caprichoso com as bandagens.
Merindah suspirou, se aproximando das cortinas e as afastando da grande escotilha, a abrindo e permitindo que a brisa marinha invadisse o pequeno cômodo. Se desse sorte, ela levaria embora o cheiro de mofo.
— Como alguém pode ser tão… caótico? — ela olhou para o par de mesas ao seu redor, bem como a cômoda na parede oposta à cama. Tudo era um caos de papéis, mapas, tintas e qualquer coisa mais que a cabine do capitão de um navio pirata tivesse. Porém, o que mais chamava a atenção dela e a intrigava, eram as centenas de peças de metal espalhadas pelo local. Desde pequenos parafusos e engrenagens até placas de metal maiores do que o antebraço dela.
— Quer fechar as malditas cortinas! — a voz em tom de rosnado a fez se voltar para a cama, vendo o homem estreitar os olhos em uma carranca mal-humorada e dolorida.
— Eu preciso de luz para trabalhar e esse lugar precisa de uma faxina. — ela o encarou por um instante a mais, antes de se virar, movendo algumas coisas e o ouvindo rosnar um palavrão. — Reclame o quanto quiser. Não irei fechar as cortinas.
Merindah o ouviu dizer mais alguns palavrões, antes de finalmente voltar a dormir, vencido pelo cansaço.
— Senhorita… — algum tempo havia se passado até que o rapaz de cabelos negros abrisse a porta, olhando cauteloso para dentro, antes de entrar. — Vim para a ajudar.
— Ótimo. Limpei o máximo que pude, mas preciso começar meu trabalho, se importa de terminar para mim? — ela abriu um sorriso, que rapidamente foi correspondido, enquanto o rapaz acenava e começava a organizar as coisas.
Merindah se permitiu cair pesadamente sobre a poltrona, colocando o livro a sua frente e começando a estudar as raras e preciosas anotações que ele continha. Se desse sorte, até o fim do dia já teria a pequena lista de ervas que precisaria.
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— Ela pediu para lhe entregar isso. — Killer olhou com pouco interesse a lista que o jovem lhe entregara. Ele já sabia que não entenderia nada sobre o que ela havia escrito de qualquer forma, restava a ele apenas providenciar e torcer para os boatos fossem verdades.
— E ela? — o loiro manteve o olhar duro sobre o garoto, mesmo sabendo que sua máscara o impedia de ver isso.
— Disse que prefere ficar na cabine, principalmente para o caso dele acordar, senhor. — ambos voltaram os olhos para a porta, preocupados com a mulher que lá ficara.
— Ótimo. Você ficará responsável por toda e qualquer coisa que ela possa vir a precisar. Seja o jantar ou um copo de água, até suprimentos médicos. Estamos entendidos? — o jovem concordou algumas vezes com um aceno, antes de se afastar, indo para a cozinha do navio.
Killer sabia que fazia algumas horas que ela estava na cabine, lendo cuidadosamente aquele precioso livro e lidando com seu irritado paciente. Mais uma vez ele voltou seus olhos para a lista, percebendo pela primeira vez os poucos suprimentos marcados como urgentes e indo providenciá-los.
— Para quê ela precisa de camomila? — ele passou os olhos rapidamente pelas letras negras, antes de a entregar a dois de seus homens de confiança e mandá-los a ilha mais próxima.
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Merindah dividia seu tempo entre fazer anotações e desfrutar do bom café que J.J. havia levado para ela. Agora, seu jovem e assustado assistente importunava o médico a pedido dela em busca de uma pequena caixa de suprimentos que deveria ficar na cabine.
— Hora de trabalhar um pouquinho. — ela passou as unhas pela base do pescoço, resmungando pela pele sensível ao toque devido ao colar. O amontoado de ervas a sua frente a fez sorrir, antes que ela as puxasse para si. Quem quer que fosse o herbalista da ilha, havia entendido perfeitamente o que ela precisava.
Ela moía algumas ervas, criando uma pasta de aroma adocicado, sempre alternando os olhos entre o homem na cama e o pó de camomila a seu lado.
— Senhorita. — J.J. entrou no quarto, olhando assustado em direção ao ‘paciente’ quando o ouviu resmungar algo.
— Obrigado… Agora… — ela pegou a caixa das mãos dele, a colocando sobre a cadeira ao lado da cama, a abrindo e sorrindo ao ver as bandagens limpas. — Hora de cuidar do nosso paciente.
Uma risada escapou por seus lábios ao ver o temor tomar conta do rosto do jovem, enquanto pegava um par de potes com misturas precisas de ervas em um tipo de pomada. Ela vinha trabalhando naquilo desde o dia anterior, separando tudo em vidros muito bem organizados.
— Não precisa ficar se não quiser. — ela abriu os potes, antes de derramar uma mistura quase translúcida em suas mãos e começar a soltar as faixas que envolviam o que sobrara do braço esquerdo de seu paciente.
— Minhas ordens são de ficar ao seu lado, senhorita, de a proteger. — ele fez uma expressão de repulsa, arrancando uma risada de Merindah.
— Não preciso que alguém me proteja, J.J. — ela sorriu, voltando os olhos para o ferimento, pegando uma quantia precisa da pomada verde-escura em um dos potes e a passando sobre a sutura que ainda sangrava. — Isso está pior do que me disseram. Melhor que Killer cumpra com sua parte do trato. Sana.
A última palavra foi murmurada de forma baixa e quase ritualística, enquanto a ferida queimava, fazendo com que o terror de J.J. aumentasse e o homem acordasse com uma expressão de fúria em seu rosto.
As peças de metal ao seu redor começaram a girar, antes que algumas se chocassem contra a parede, próximos a eles.
— Capitão Kid, somos nós. — J.J. chamou pelo homem, antes que o olhar de fúria dele se intensificasse e as peças começassem a girar ainda mais rápido.
— Somnum. — Merindah disse a palavra alto, fazendo com que ele voltasse seus olhos para ela, antes que ela soprasse o pó em seu rosto e ele se acalmasse.
— Como…? — J.J. a encarou, enquanto Merindah abria um sorriso e voltava sua atenção novamente para a sutura.
— Eu disse que sabia me cuidar. Agora, que tal buscar um café e um bule de água quente para que eu possa fazer algo especial para nosso paciente? — ela o olhou por cima do ombro, enquanto o garoto concordava com um aceno e se retirava da cabine. — Ah, garoto… Precisava ver o que eu podia fazer antes deles colocarem isso em mim…
Merindah sorriu triste, passando as unhas sobre o colar com a grande pedra negra, antes de começar a enfaixar o ferimento.
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— E então? — Eustass reconhecia aquela voz e isso fez com que ele abrisse os olhos. Sua visão estava turva e seu corpo não o obedecia. Seu olhar de fúria foi direcionado a seu companheiro de longa data.
Ele podia reconhecer Killer por sua máscara e seu cabelo loiro, mas não reconhecia a pessoa ao seu lado. As roupas brancas e os cabelos de um tom esverdeado lhe eram no mínimo desconhecidos.
— Bem… Nunca usei somnum em um usuário*… Creio que o efeito deva passar logo. — a voz de tom sério e timbre doce chegou a ele, fazendo sua fúria ainda maior. Era por causa dele que ele não podia se mover, ou falar.
— Não tinha… eu não sei, outro jeito de o acalmar? — Killer se aproximou, examinando com mais atenção o corpo de seu capitão.
— Bem, você pode escolher… Ele letárgico, sem se mover e sem dor… ou ele acordado e com dor. — a pessoa de branco se afastou, saindo do campo de visão de Eustass, enquanto Killer parava ao seu lado o encarando.
— O Kid? Bem, prefiro ele assim, é mais seguro. — o loiro riu ao receber o olhar enfurecido de seu capitão. — Fique bem, volto mais tarde.
Ele acenou para Eustass, antes de seguir para a porta e sair. Ele fechou os olhos se sentindo cansado, mas era como a pessoa havia dito. Era melhor estar daquela forma por um tempo, desde que sem dor.
Ele se sentia frustrado, havia perdido uma importante e decisiva luta contra um Yonkou**, e como resultado, perdido parte de seu braço esquerdo. Teria que recorrer a uma aliança se quisesse ganhar.
O aroma de canela tomava a cabine, o irritando um pouco, assim como a luz que entrava pela escotilha. Ele gostava do cheiro de metal e graxa, de ver suas criações espalhadas pelo cômodo, não daqueles aromas doces e de ver tudo perfeitamente organizado. Ele gostava do caos.
*. Usuário de Akuma no Mi, ou as chamadas Frutas do Diabo. No universo de One Piece elas são frutos com ‘propriedades mágicas’ que concedem poderes a quem as consome, porém, em troca a pessoa perde a capacidade de nadar em água salgada, seu corpo se torna pesado e eles afundam rapidamente. Eustass Kid é o ‘portador’ de uma Akuma no Mi com poderes ligados ao magnetismo.
**. Yonkou, também conhecidos como os ‘Quatro Imperadores’, são os piratas mais notórios e poderosos do mundo de One Piece. Eles não trabalham juntos, mas também não são inimigos.
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