feitade_nuvens Carolini F.

Todos os dias eram os mesmos dias de sempre e Jungkook seguia sem lembrar quem era, preso naquela cela perfeita em que sua vida foi transformada. *postado no spirit*


Фанфикшн Группы / Singers 13+.

#bts #jikook #jungkook #jimin #angst #brokenrelatioship
Короткий рассказ
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— Eu não quero mais ser você.

A voz macia vacilou menos naquela manhã, mas isso não faria muita diferença no final do dia.

A imagem sorriu quando Jungkook sorriu, acompanhando todos os movimentos seguintes. A imagem virou quando ele virou, pegou a jaqueta de couro quando ele pegou e a imagem olhou mais uma vez para ele quando ele mesmo encarou o espelho. As olheiras não iam embora quando ele passava maquiagem naquele pequeno pedaço de pele.

Como em todas as outras boas manhãs, ele caminhou para o trabalho horrível que mantinha apenas para ter o que fazer durante o dia — ele odiava aquele escritório — e sorriu radiante quando avistou o primeiro colega que encontraria durante a jornada daquele dia. Namjoon, o cara simpático da mesa ao lado, sorriu de volta, mas não olhou duas vezes para a falta de brilho nos olhos do outro.

Jungkook dava seu melhor, mesmo nas coisas que não gostava, fazia parte da perfeição que tentava construir todos os dias. Mesmo que nem percebesse o que estava realmente fazendo. O trabalho não acumulava, o trabalho não tinha erros, o trabalho parecia ser o perfeito para si, o trabalho era apenas mais uma fachada. Fazia quantos anos que não tirava férias e viajava para aqueles lugares que tanto sonhou conhecer?

Espantou os pensamentos com um balançar de cabeça, os fios quase grandes demais roçando nas pestanas compridas, e se obrigou a lembrar que as férias já estavam planejadas. Seria aquela praia romântica que não tinha nada a ver consigo, mas tudo bem, ele gostaria do passeio.

No final do turno, imaginou como seria se pedisse demissão, talvez pudesse experimentar viver daquela mídia social que tanto gostava de atualizar, mesmo que ninguém realmente soubesse o que acontecia em sua vida apesar dos montantes de textos. Não, esse era o suficiente, esse o proporcionava ficar perto. Ele sempre dizia que era suficiente.

Jeon Jungkook se despediu da equipe, mas apenas depois de negar pela segunda vez aquela proposta de sair para beber um pouco naquela sexta-feira. Ele queria que alguém insistisse só mais um pouquinho, só aquele tanto que o convenceria a ir. Mas talvez ele só precisasse parar de pensar nas expectativas alheias e quebrar as regras de vez em quando, mesmo já sabendo da represália que receberia — aquela disfarçada de decepção e uma expressão tristonha dissimulada.

Por que Jungkook aceitava ser manipulado daquele jeito? Por que fingia não ver anomalia num ambiente onde, claramente, era um refém? Por que o rapaz bonito, com aqueles cabelos castanhos brilhantes, sorriso magnético e olhos de avelã, se deixava prender?

Suspirou mais uma vez. Suspirar era comum de um jeito que nem se lembrava quando começou aquela mania, assim como não lembrava quando fora tão lindamente domado. Passou os dedos compridos por entre os fios e seguiu seu caminho para casa.

A casa. Tão grande e cheia dos cômodos que planejou para hospedar a família em alguma visita, e quem sabe aumentar a sua família, tão bem mobiliada, tão bem planejada, tão bem feita. Tão perfeita... E fria. Aquele sentimento que tinha enquanto planejava e construía, despejando os desejos em meio aos sorridos formados durante a conversa gostosa, cada detalhezinho captado pelo outro, aquele sentimento não tinha mais, tinha ficado no passado.

Quando entrou, traçando seu caminho por entre a sala e seguindo direto para a cozinha, sentiu aquele cheio bom de comida sendo preparada, os sons dos talheres e pratos sendo postos, o cantarolar baixinho e afinado daquele que preparava. Sorriu pequeno, pelo menos isso ainda existia na rotina cuidadosamente planejada. Se viu satisfeito.

Riu quando entendeu uma piada sendo feita. Sorriu fechado, desviando os olhos para baixo daquele jeito que dizia que estava apaixonado, assim que sentiu a mão macia e quente se enroscando na sua. Fez seu papel e se sentiu feliz. Ou achava que estava feliz. Não estava. Mais uma mentira para a perfeição.

Mentiras para a perfeição, como aquela que contava quando o perguntava se precisava de alguma coisa, ou aquela decorada para situações de interrogatório. Está feliz? Claro. Gosta da casa? Sim. Gosta de mim? Amo. É o suficiente? É. “Não é.

Não é, porque ele não sabe onde foi parar sua família... Não é, porque não pode planejar seu próprio lazer, ou não planejar e apenas sair e ver no que vai dar. Não é, por que ele não sabe onde estão todas aquelas amizades que ele já cultivou com tanto cuidado. Não é, porque ele não sabe mais como sair e socializar se estiver sozinho. Não é, porque ele não é ele mesmo... Nunca. Onde tinha guardado seus sonhos?

Depois do banho, colocou aquele pijama de algodão — aquele num azul pastel e sem qualquer estampa, aquele que ele odiava — e tirou as lentes de contato que colocou antes daquela conversa com o espelho naquela manhã. Sentia falta de usar seus óculos grandes e sentir o peso escorregando pela ponte do nariz. Por que ele não os usava mais?

Quando o peso de seu corpo afundou levemente o colchão, Jungkook suspirou só mais uma vez e passou a encarar o homem ao seu lado. Park Jimin sempre fora um homem bonito, aqueles lábios cheios e rosados, a pele imaculada e levemente dourada pelo sol, o nariz delicado, os fios sempre coloridos com alguma cor diferente da anterior, o sorriso bonito que escondia seus olhos e mostrava aquele dente torto, mas charmoso. Park Jimin foi construído apenas para a perfeição, mesmo nas imperfeições, e também foi construído para destruição, já Jungkook nem conseguia se lembrar de quem era antes.

O mais baixo percebera o olhar em si, por isso desviou os olhos castanhos escuros do livro da semana e deu atenção ao companheiro.

— O que foi, Kookie? — perguntou macio, o lábio inferior enroscando entre os dentes no final da sentença.

Os olhos de avelã piscaram algumas vezes e os lábios finos crisparam em hesitação. Jungkook se sentia ansioso sempre que iniciava conversas como aquela que estava prestes a iniciar, as mãos logo ficariam suadas e seus coração engataria em um ritmo urgente.

— É só que... — Começou baixinho — É que tem aquele mestrado, sabe? Aquele que eu sempre quis fazer e ele vai abrir vagas... — Respirou ruidosamente — Você acha que devo fazer? — “posso fazer?

— Não.

O casal ficou em silêncio por um tempo, aquela distância invisível ficando cada vez maior e o ar mais rarefeito entre eles. Jungkook ameaçou responder qualquer coisa, mas aquela pouca concentração de coragem que tinha, estava completamente minada pela situação. O rapaz apenas aquiesceu rapidamente.

Foi a vez de Jimin suspirar.

— Você não precisa fazer só porque os outros querem. — disse calmamente — Não tem que provar nada para ninguém, sabe? Eu sei que você pode fazer, mas não precisa fazer. — Fez uma pequena pausa, observando cada movimento que o parceiro executava — Eu já te amo do jeito que é. Você sabe, não sabe?

O Park deixou o livro fechado na mesinha de cabeceira do seu lado da cama, inclinou o corpo para a esquerda, na direção do mais alto, para que conseguisse depositar a mão direita na bochecha avermelhada do outro. O polegar acariciou o local e passeou pelo rosto bem estruturado, com uma atenção especial para os lábios bonitos e convidativos.

A respiração já desregular de Jeon se torna quase nula ao receber o primeiro beijo da noite. Ele sempre se sentia atordoado quando os lábios macios do outro se encontravam com os seus, mas os neurônios realmente paravam quando sentia os joelhos alheios se acomodando, um no meio de suas pernas e o outro no lado direito do quadril. O frenesi era tanto que se esquecia dos problemas por um curto período. Era o suficiente para Jungkook.

Somos perfeitos assim. — Jimin sussurrou ao quebrar o beijo, o hálito quente arrepiando a pele sensível do pescoço do mais novo.

Não somos perfeitos.

Infelizmente a magia durava por um tempo muito curto e o Jeon logo estava de volta ao limbo o qual passava todos os dias. Absoluto nada

Naquela manhã, Jungkook colocou as lentes de contato antes de passar aquela camada de maquiagem que cobria os sinais de usa insônia, como em todas as outras, vestiu mais um dos seus jeans e uma camiseta preta. Voltou para pegar o colírio no banheiro e depois puxou um suéter listrado.

Assim que vestiu a peça de roupa que o manteria quente durante o dia, encarou o espelho e suspirou.

— Eu não quero mais ser você.

A voz baixa quase não conseguiu pronunciar as palavras naquele dia, inútil contra o castelo de vidro.

Jungkook não se inscreveu para uma das vagas no mestrado, assim como fora orientado pelo parceiro. Mas apenas porque já tinha o suficiente.

Exposto e frágil, o castelo luxuoso — construído sob medida para si — seguia intangível.

6 февраля 2019 г. 23:56 0 Отчет Добавить Подписаться
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Carolini F. mesmo na idade de virar eu mesmo ainda confundo felicidade com este nervosismo ~ Paulo Leminski

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