Nae Chin-Sun sentia o concreto gelado da mureta contra suas costas através da fina camiseta que ela vestia no momento, enquanto tamborilava os dedos pelo chão despreocupadamente perdida em pensamentos. Por meses esses eram seus únicos momentos de completa paz, sozinha ali, contemplando o silêncio da praça quase deserta observando as poucas pessoas que passavam por ali e se perguntando o que se passava em suas cabeças.
Apesar de aproveitar seus momentos ali sozinha, a garota não podia evitar se sentir solitária nas raras vezes em que avistava um grupo sorridente de amigos que pareciam se divertir passando por ali. Não era como se ela não tivesse nenhum amigo, possuía alguns que havia conhecido na escola, mas sentia que as coisas já não eram mais iguais entre eles. Era como se ainda se falassem apenas por ter virado rotina e não por dividirem laços. Chin-Sun sentia que aquelas "amizades" faziam mais mal do que bem a ela, mas nenhum deles fazia de propósito, e a garota simplesmente não conseguia abandoná-los e começar novas amizades graças a sua maldita dificuldade em socializar que parecia ter piorado nos últimos meses.
Os pensamentos da garota foram interrompidos quando ela ouviu alguém que parecia ter se sentado do outro lado da mureta, de costas para a Nae. O silêncio quase cortante que havia se instalado na praça naquele momento permitia que ela ouvisse claramente a respiração tranquila atrás de si, fazendo com que Chin-sun prendesse a sua na tentativa falha de esconder sua presença, já que a garota se mexia nervosamente produzindo muito mais barulhos do que apenas sua respiração faria.
— Tem alguém aí? — a voz masculina do outro questionou, mas não obteve uma resposta da garota que apenas se levantou e começou a andar, tentando sair sorrateiramente. — Se for um assassino e me matar eu volto pra te assombrar. — ele acrescentou obtendo uma breve risada como resposta.
— Não se preocupe, eu já estava indo embora. — Chin-Sun finalmente respondeu.
— Tudo bem pode ficar, não estava atrapalhando. — o rapaz falou e começou a se levantar para poder ver com quem estava falando.
— Não! — a garota sibilou sentando-se novamente para que ele não a visse, e ele mesmo sem entender também se sentou novamente. — Desculpe. — foi só o que ela conseguiu dizer.
— Qual o seu nome? — o garoto arriscou, curioso com a situação.
— Desculpe. — Chin-Sun repetiu. — Eu só não me sinto muito a vontade com essas coisas de... você sabe... interação, então é melhor assim.
— Então sem rostos e sem nomes? Isso reforça minha teoria de que você pode ser uma assassina, eu posso ir comer antes de ser morto? Não quero morrer de estômago vazio. — ele brincou e novamente Chin-Sun riu, dessa vez um pouco mais a vontade.
— Acho que todo vilão concede um último desejo antes de matar sua vítima, então vá em frente.
Quando Nae Chin-Sun percebeu já estava conversando com o rapaz há horas e se divertindo como não fazia há muito tempo. Era como se assim, no anonimato as coisas fossem infinitamente mais fáceis para ela.
— Então, imagino que não seja permitido olhar para trás agora. — o garoto falou quando perceberam que já estava tarde e ambos precisavam ir embora.
— Exatamente. — foi a única coisa que ela disse antes de ambos se levantarem e começarem a andar.
Ela não olhou para trás, não tinha coragem para fazê-lo e ele por mais que estivesse curioso também não o fez por respeito a ela.
Era inegável o quanto aquelas simples conversa sobre coisas aleatórias com um estranho haviam feito bem a Chin-Sun, então quando ela voltou ao seu local habitual no dia seguinte não pode evitar torcer para que ele estivesse lá novamente, e para sua surpresa estava. Isso se repetiu durante meses, eles até mesmo combinaram um tipo de batida secreta para que pudessem avisar um ao outro quando chegavam, dando batidas ritmadas na mureta que emitia um som oco.
Com o tempo as batidas começaram a ser respondidas cada vez com menos frequência, até um dia pararem de vez. Era óbvio que algo como aquilo não iria durar para sempre, a garota sabia disso, mas ainda sim mesmo após anos ela não podia evitar pequenos momentos de nostalgia onde se desligava das coisas ao seu redor e se lembrava daqueles dias e do quanto aquele garoto que ela sequer sabia o nome havia a ajudado. E era exatamente isso o que ela fazia naquele momento, pouco antes de ser retirada de sua viagem por suas memórias quando ouviu alguém chamando por seu nome.
— Está tudo pronto, eles vão entrar no palco em alguns minutos. — a mulher alguns anos mais velha que ela avisou, e Nae suspirou aliviada assentindo e se dirigindo ao camarim para chamá-los.
Como contrarregra era Chin-Sun a responsável pelo desenrolar do show, quem garantia que tudo daria certo antes e durante a apresentação. A mulher executava muito bem seu trabalho, mas imprevistos acontecem e em seu último show algumas coisas haviam dado errado, o que a havia deixado extremamente ansiosa e apreensiva em relação ao show que ela organizava no momento, principalmente pelo fato de ser algo grande de um grupo de kpop que fazia um estrondoso sucesso.
Apesar de saber quem eles eram devido não só ao seu trabalho, mas também a todos os outdoors, camisetas e todas as outras coisas estampadas com o nome do grupo, ela não era exatamente fã. Já tinha escutado uma ou outra música deles e os achava ótimos, mas não possuía o tempo que tinha quando adolescente para acompanhar e ser fã de alguém.
Chin-Sun parou em frente a porta do camarim, a placa na porta com o nome "bts". Ela levou sua mão até a porta, automaticamente reproduzindo o padrão de batidas que mesmo anos após os acontecimentos da praça ainda continuava uma mania. Do outro lado da porta Jin se sobressaltou na cadeira ao ouvir o som familiar que há muito não chegava a seus ouvidos. Seokjin se levantou caminhando até a porta e devolvendo o padrão de batidas.
A moça mesmo espantada não levou a sério, já havia ouvido falar o quanto os mesmo do bts eram brincalhões, eles provavelmente haviam achado estranha a forma como ela bateu na porta e estavam brincando com ela.
— Está tudo pronto, vocês sobem no palco em dois minutos. — ela avisou.
— É você mesmo. — foram as únicas palavras que Jin conseguiu pronunciar ao ouvir a voz familiar sentindo seu coração palpitar em seu peito.
Quando suas palavras chegaram aos ouvidos de Chin-Sun e ela reconheceu aquela voz as coisas a sua volta começaram a girar, o ar faltou em seus pulmões por um instante enquanto Jin levava sua mão até a maçaneta abrindo lentamente a porta. E pela primeira vez de muitas que viriam a seguir Nae Chin-Sun e Kim Seokjin se viram.
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