— Mama, já estou indo — a menina de brilhantes cabelos negros falou — Itachi oji-san já chegou.
A mulher de madeixas rosadas ajeitou a roupa da garota enquanto sorria para ela. Após o alinhamento completo do traje escolar da filha, deu-lhe um beijo tenro na testa e disse as coisas clássicas que todas as mães falam a seus filhos: “se cuide”, “muita atenção”, “eu te amo”.
A menininha saiu saltitante para fora da residência luxuosa, entrando em um carro negro estacionado na frente da casa. Enquanto o carro se afastava, indo ao portão, ela olhou para trás e viu seus pais. Sua mãe estava no batente da porta, observando-a ir e seu pai atrás dela, enlaçava sua cintura fina com os braços mantendo o queixo no topo de sua cabeça.
Logo os perdeu de vista e se virou para frente.
Focando na paisagem que passava depressa pela janela do carro, a menina pensava.
Itachi, tio da garota, observava a expressão reflexiva que a menina apresentava e se perguntava o porquê de ela estar tão pensativa. Talvez ela estivesse pensando na neve que caia ou no frio que estava assolando a população desde que o inverno chegara.
No intuito de iniciar uma conversa, o Uchiha comentou:
— Akachan, está muito frio, não achas?
Akachan era o apelido que ele havia arrumado para a garota, pois ela era vermelhinha e, em sua mente, ela nunca deixaria de seu um bebê, apesar de já ter 9 anos completos. A menina ainda olhava a coberta de neve que cobria todo o chão, não havia ouvido o tio e sua mente estava submersa em pensamentos.
Franzindo a testa a garota, com as bochechas levemente avermelhadas pela friagem, se pronunciou.
— Itachi oji-san... Sonhos podem ser reais?
Pego de surpresa tanto pela fala da garota quanto por ela ter quebrado o silêncio em que estavam, o Uchiha pensou em alguma resposta para lhe dar.
Mirando-a pelo retrovisor, percebeu que os olhos da pequena acompanhavam-lhe todos os movimentos esperando uma resposta.
— Sonhos reais? Isso não seria uma antítese? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
A menina olhou para baixo e inflou as bochechas, sinal de que pensava em uma resposta para o questionamento do tio. Alguns segundos depois ela ajeitou sua postura dizendo:
—Oji-san, existem sonhos reais e irreais, ou melhor, os possíveis e os impossíveis.
— Hmm, ai já tem a resposta para sua pergunta. — Sorriu travesso, as conversas entre eles eram sempre assim, meio reflexivas e diferenciadas.
— Mas eu estou falando de sonhos que temos enquanto estamos dormindo, oji-san.
— Então esses são irreais, pois não aconteceram.
— E se você sentir que eles aconteceram? — ela insistiu.
— Aí podem ser memórias ou dejá-vus...
— Eu posso ter uma memória de algo que aconteceu antes de mim? — com os olhos arregalados a pequena Uchiha perguntou.
— Não exatamente...
A menina então parou de perguntar e novamente adotou a expressão reflexiva que seu rosto apresentava a alguns minutos atrás. Com os olhos semicerrados, ela olhava a janela do carro em completo silêncio.
— Por que está perguntando sobre sonhos do tipo que temos quando estamos dormindo, Akachan? — questionou-a Itachi no momento em que o sinal vermelho despontou no semáforo.
— Tive um incomum — a garota respondeu, ainda direcionando os olhos para o lado de fora do automóvel.
— Muito incomum?
— Um pouco...
— Por quê?
— Era muito real.
Aquilo realmente era algo meio esquisito para uma jovem de apenas 9 anos. Um pesadelo? Itachi pensou, talvez ela tivesse ficado impressionada com algo que viu ou ouviu e seu subconsciente registrou e lhe mostrou em seus devaneios noturnos. Antes que ele pudesse perguntar à menina o que havia visto no sonho, ela começou a contar.
— Eu estava na antiga casa do papa, ele estava chorando muito...
Num quarto escuro, um homem de cabelos e olhos negros se encolhia no canto, chorando e soluçando desesperado. A garotinha ali tentava identificar o local em que estava e ao constatar que aquele era seu pai, tentou correr até ele e consolá-lo... Mas quanto mais corria, mais distante ele ficava.
Embora nada, nada vá os afastar.
Seu pequeno coraçãozinho se apertava ao ver seu amado papai daquela forma. Ela queria abraça-lo e mostrar que ele não precisava ficar daquele jeito, mas por mais que ela corresse, a distância entre eles só aumentava.
Cansada, parou de correr e tentou recuperar o fôlego, mas ao piscar os olhos estava em outro local.
Nós podemos vencê-los, apenas por um dia.
Agora estava num beco sujo e fedido. Fezes de animais, restos de comida e lixo estavam por todos os lados. Na sua frente, o mesmo homem de antes. Era seu papa, mas ele estava diferente. Seu rosto estava mais liso e ele parecia mais novo.
Ela não conseguia respirar, algo a impedia de fazer tal ato.
Olhou para seu pai e os olhos tão calorosos e amorosos dele estavam vazios. Eram dois orbes opacos e sem vida. Tentou visualizar suas mãos ao leva-las ao pescoço e percebeu que o que a impedia de respirar eram os dedos do Uchiha.
Ela o ouviu gritar: “Diga-me quem foi!”.
Sem saber responder, ela cerrou os olhos e sentiu as lágrimas escorrerem.
Nós poderíamos enganar o tempo
De repente, a pressão que estava sendo exercida em seu pescoço diminuiu até desaparecer. Ela respirou fundo e novamente abriu os olhos, constatando o que já imaginava: estava em outro local.
Agora, ao analisar as coisas que estavam ao seu redor, a menina concluiu que estava em algo semelhante a um laboratório. Fuselagens, aparelhos, metal, fios, pregos, computadores e mais fios estavam espalhados pelo salão.
O silêncio reinava e o único som que ela ouvia era o de seus passos apressados atrás de alguma coisa que não conseguia saber o que era. Andou até ver uma máquina que se sobressaía das outras.
Utilizando-a estava seu pai. Um computador ligado a maquina mostrava o que ele via.
Eu, eu consigo lembrar (eu lembro).
No monitor do equipamento, a cena de dois jovens com uniformes escolares se desenrolava. Eram seus pais, eles estavam sorrindo e assistindo aquilo, a Uchiha soltou um sorriso de canto inconscientemente, pois a cena era tão doce e pura que faria qualquer um sorrir.
A doçura daquela cena se desfez quando ela se encontrou, novamente, noutro lugar.
Isso não acaba mais, pensou.
Nesse outro local, Shikamaru-sensei, diante de uma máquina ainda maior ajeitava algumas configurações e botões enquanto seu pai, dentro de uma cabine da estrutura, fechava os olhos e dizia “adeus”.
Quando os lábios do Uchiha formaram essa palavra, um clarão tomou conta do local e a última coisa que a garota viu foi fogo por todos os lados, tragando tudo e todos que estavam lá.
Eu, eu gostaria que você pudesse nadar.
De novo a escuridão veio e depois de se sentir sendo consumida pelo fogo, a menina sentiu a pele arder não pelas labaredas de calor, mas por ondas salgadas e gélidas. Abrindo as pálpebras, viu que estava no fundo do mar.
Ao seu lado, sendo arrastado por correntes marítimas, seu pai se encontrava.
Com a mesma roupa da cena anterior, ele sorria enquanto afundava no oceano.
A garota tentou nadar até ele. Quando chegou perto e foi tocá-lo, suas mãos transpassaram o corpo. Nesse instante, ela conseguiu ouvir claramente a voz dele.
“Eu consegui.”
Naquele momento, várias imagens passaram pela mente da pequena Uchiha, fazendo-a compreender o que acontecera. De olhos arregalados, ela olhava o homem. Estava chorando? Talvez. Não conseguia saber, pois a água do mar a impossibilitava de definir se lágrimas saíam de seus luminosos olhos.
Se aproximando novamente do corpo, tentou circundá-lo com seus braços, depositando toda a sua gratidão naquele ato.
Sasuke sorriu minimamente e cerrou os olhos enquanto afundava em um local no qual ninguém o encontraria.
Oh, nós podemos ser heróis, apenas por um dia.
—... Depois disso eu já estava em outro local, onde a Mama estava segurando uma arma apontada para mim — disse — Ela estava muito bonita, com maquiagem e uma roupa de gala; a última coisa que ouvi foi ela dizendo “Cherry Bomb” e o disparo depois do Cherry.
E você, você pode ser má.
Itachi estava estático.
O que sua sobrinha havia acabado de dizer era estranho, mas ao mesmo tempo real. Ele conseguia sentir e visualizar tudo o que ela falara de uma forma tão surpreendente que duvidou de si mesmo quando se lembrou de que era um sonho. E mais: Cherry bomb. Se sonhos eram algo do inconsciente, de onde a garota tinha ouvido esse nome se ninguém o mencionava?
— Oji-san?
Desperto de seus pensamentos, o Uchiha a olhou pelo retrovisor.
— O sinal abriu há alguns minutos — ela disse, apontando para o semáforo.
Ele sorriu desconcertado e pôs o carro para andar.
— Desde que acordei hoje cedo, estou pensando nesse sonho. É estranho, não é? — perguntou para o tio.
— É... Um pouco. — respondeu, vagamente — Aliás, de onde veio Cherry Bomb?
— Eu não sei, foi a primeira vez que ouvi isso, tirando aquela música do Runaways que tem esse nome — a garota sorriu com a referência dita por ela mesma.
A expressão reflexiva passou da sobrinha para o tio.
Itachi agora pensava sobre o que a menina lhe contara. De alguma forma, ele não conseguiu duvidar da veracidade daquilo, porém não conseguia encaixar aqueles fatos na realidade em que viviam.
— Sabe, Itachi oji-san, papa é um herói — ela começou — Em qualquer mundo, eu acredito que ele vai sempre tentar salvar a mama e fazer ela feliz. Quando os vejo juntos, sei que isso não poderia ser de outra maneira, eles se encaixam perfeitamente. Eu os amo tanto! — finalizou, sorrindo docemente.
O Uchiha saiu de seus devaneios e inclinou os lábios da mesma forma que a garota fizera.
— Eles são meus heróis...
Pequenas lágrimas escorreram pela face avermelhada da menina, sendo acompanhadas por um largo sorriso.
—... Apesar de Mama parecer ser uma anti-heroína.
”Agora, nossa Sarada pode nascer, minha querida Sakura.”
Embora nada, nos mantenha juntos
Nós poderíamos enganar o tempo
apenas por um dia
Nós podemos ser heróis, para todo o sempre
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