moonhwa moonhwa

Park Chanyeol é um popular jogador de basquete no colegial e acabou se apaixonando pelo nerd pequeninho que vive sozinho durante o almoço com o rosto enfiado em livros. Dois anos se passaram e ele não teve coragem de se aproximar, apenas manteve-se o admirando de longe. Agora, no seu último ano, ele está com medo de se formar e nunca mais vê-lo. Ele precisa dar o primeiro passo pois seu coração não aguenta mais esperar.


Фанфикшн Группы / Singers 18+.

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Yeolda

Chanyeol lembra, como se tivesse ocorrido no dia anterior, da primeira vez que colocou os olhos naquele que na época era um dos muitos calouros daquele ano na escola. Há mais ou menos dois anos, no primeiro almoço do ano letivo. Era sempre o mesmo plano de fundo, eles não tinham a mesma idade e, portanto, não eram colegas de classe. Chanyeol era um ano mais velho e, agora, estava no último ano do colegial. Mas na época ainda estava no segundo e ele havia entrado no primeiro, como todos os outros calouros.

Cabelos castanho-escuro desgrenhados com uma franja grande demais, lhe cobrindo a visão quando escorregava na frente dos óculos por algum movimento repentino. Ah, falando em óculos... óculos enormes. Igualmente grandes demais para o rosto pequeno e delicado com seus olhinhos quase sempre espremidos pela rinite visível. Chanyeol sabia que ele tinha rinite porque o nariz estava sempre vermelho, igualzinho acontecia com a sua irmã.

E o uniforme. É claro que ele não usava o uniforme do seu tamanho. Usava o moletom da escola três vezes maior, dando a impressão de que ele era mais pequeninho do que realmente era. As mangas ultrapassando os punhos com tanta frequência que Chanyeol achava que nunca havia visto as mãos dele. Talvez apenas os dedos, quando raramente segurava o hashi ou os talheres para comer.

Ele não comia muito, mas tomava muito café. Quando se cruzavam no corredor dos armários, de manhã cedo, ele sempre estava segurando uma garrafa térmica. A sorte de Chanyeol era que os armários dos dois eram quase um ao lado do outro, e num dos muitos dias nos quais seu corpo tencionava ao chegar perto do baixinho, sentiu o cheiro gostoso de café saindo da térmica quando ele deu um grande gole.

Bem, de qualquer forma... a primeira vez que o viu foi no refeitório, no primeiro dia de aula daquele segundo ano para Chanyeol. Sentado em uma mesa sozinho mergulhado em suas anotações. Era engraçado, ele enfiava o rosto no caderno para escrever. De que serviam aqueles óculos enormes então?

Suas anotações pareciam sempre tão importantes que a comida ficava em segundo plano. Na verdade o mundo inteiro ficava em segundo plano, era como se ele tivesse a verdade sobre o universo nas mãos e tudo ao seu redor se tornava irrelevante.

Era um típico nerd, ou seja, fazia parte de um estereótipo oposto ao de Chanyeol. Não que ele gostasse de estereótipos, mas eles existiam, de qualquer forma. E quando você faz parte do time de basquete da escola e é o pivô popular, acaba se conformando com os padrões. Não concordava com eles, apenas se conformava.

Passou a observar o pequeninho depois do primeiro dia. Era como um passatempo secreto na hora do almoço. Precisava administrar as conversas na sua mesa lotada de amigos e conhecidos com os olhares de relance para a mesa perto da janela, isolada do resto dos estudantes.

Com o passar das semanas, Chanyeol percebeu que ele não tinha amigos. Não havia feito nenhum, caso contrário estariam dividindo a mesa. Mas era difícil dizer se a solidão dele era uma escolha pessoal ou não.

Só que depois de uns dois meses o observando de longe, sem ter coragem de dar um jeito de se aproximar, foi possível notar que ele era o novo alvo dos valentões de seu ano. Cada ano tinha um grupo de valentões, era normal, e os valentões do ano de Chanyeol nem ousavam se meter com a mesa dos populares. Ou seja, nunca precisou lidar com eles.

Mas o pequeninho precisava lidar com os seus, que de vez em quando até se juntavam com os do ano de Chanyeol para importuná-lo. Parecia ser divertido para eles passar pela mesa do pequeno e lhe dar um tapa na cabeça ou arrancar o caderno de suas mãos. Era óbvio que eles nem deveriam entender o que estava escrito naquelas páginas porque eram uns ogros ignorantes, e as orelhas de Chanyeol esquentavam quando ele tinha que assistir aquilo.

Talvez acontecesse mais de uma vez por dia, ele só não presenciava todas as vezes. Mas admirava a forma como o pequeninho lidava com tudo aquilo. Apenas ficava parado, com uma expressão vazia, esperando os brutamontes irracionais lhe deixarem em paz. Por mais que levasse um tapa ou outro, nada era capaz de lhe atingir. Teve uma vez que até arrancaram os óculos de seu rosto, em um dos muitos almoços, e mesmo assim ele se manteve impassível, aguardando que um deles lhe jogasse de volta na cara o que lhe pertencia. A sorte era que ainda não haviam quebrado as lentes. Não que Chanyeol tivesse visto, pelo menos.

Sentia-se impotente e até meio sufocado ao imaginar o que o pequeninho poderia estar tendo que aturar longe dos olhos da multidão. E se estivesse apanhando? Bem, se estava, não parecia. Mas o pequeno era muito corajoso e resistente, então Chanyeol não saberia dizer ao certo.

Só sabia que se arrependia profundamente. Se arrependia por tê-lo observado de longe por dois anos e agora, no quarto e último ano, sentia que precisava fazer alguma coisa. Odiava ser um covarde. Não teve coragem o suficiente para ter se aproximado dele por dois anos letivos inteiros! Contentou-se em admirar sua beleza por trás de todo aquele estereótipo, porque Byun Baekhyun era um garoto muito bonito.

Chanyeol não sabia qual era exatamente sua própria sexualidade, só sabia que haviam se passado dois anos e ele ainda tinha vontade de se aproximar do pequeno. Mas não apenas como amigo.

Aquilo o deveria ter enlouquecido, porque era esperado que ele tivesse arranjado uma namorada – de preferencia uma das líderes de torcida – e que fossem juntos para uma universidade, para então se casarem e terem uma linda família.

Era o esperado, mas Chanyeol não havia conseguido atender as expectativas até aquele momento. Costumava ficar com garotas? Costumava, era como seguir o fluxo natural das coisas. Elas demonstravam interesse, os amigos incentivavam, e então Chanyeol se via em um quarto sozinho com uma de suas colegas, em alguma festa do pessoal da escola.

Mas no final, sempre acabava lembrando do pequeninho.

O que será que ele estaria fazendo naquele momento? Era o tipo de pergunta que surgia em sua mente quando não o estava observando durante o almoço.

Deveria se sentir culpado por seu coração acelerar por outro garoto? Bem, a sociedade diria que sim. Sim, deveria! Era muito errado, certo? Muito errado! Deveria... mas não se sentia. Bem no fundo não se sentia. Só conseguia sorrir ao lembrar dele espirrando e coçando o nariz, empurrando a franja para o lado ou simplesmente mordiscando o lábio inferior enquanto pensava no que escrever.

E o cheirinho de café da garrafa térmica, que já havia se tornado rotina para Chanyeol, todos os dias de manhã cedo no corredor dos armários. Nunca teve coragem nem de olhar para o lado, e Baekhyun nunca nem demonstrou perceber que ele existia.

Por mais alto e grande que fosse, Baekhyun nunca o havia notado.

E como raios havia conseguido descobrir o nome do pequeno? Não poderia simplesmente sair perguntando... era um covarde, afinal de contas. As pessoas iriam se questionar. Bem, foi muito simples. Depois de três meses o observando, deu um jeito de parar atrás dele na fila do buffet e espiar seu caderno. Havia o nome dele bem pequeno na capa de couro escura, parecia ter sido um presente. Era um trabalho manual interessante.

“Byun Baekhyun”, estava escrito. Soava como poesia ritmada.

Dormia murmurando aquele nome e acordava com as duas palavrinhas flutuando em sua mente. Nunca achou que ficaria tão na dele, mas quanto mais o tempo passava, mais Chanyeol se apaixonava.

Ah, era até meio patético. Nem conseguia assumir em voz alta. Mas estava mesmo apaixonado pelo pequeninho, e agora que estava no último ano do colegial, precisava fazer algo. Não podia se formar e nunca mais vê-lo. Sabia que se não desse o primeiro passo, se arrependeria pelo resto da vida. Formaria uma família, mas Byun Baekhyun sempre iria continuar em seus pensamentos. O levaria para o túmulo.

Depois da primeira semana de aulas daquele seu último ano, deu um jeito de seguir o pequeno discretamente depois do almoço. Inventou uma desculpa para os amigos e levantou da mesa lotada logo depois que Baekhyun guardou seus pertences e se retirou do refeitório.

Descobriu que o pequeninho ia para a biblioteca depois de almoçar – ou fingir que almoçava para escrever no caderno – e o acompanhou. Estava se sentindo um maluco, um perfeito stalker, mas seu futuro angustiado dependia daquilo.

Baekhyun se enfiou no meio das altas prateleiras do primeiro andar da biblioteca e escolheu uma mesa bem no fundo para largar sua mochila – obviamente as alças eram grandes demais, fazendo a mochila nas costas passar da bunda. Chanyeol, disfarçando em um dos corredores com um livro qualquer nas mãos, o observou como sempre fez.

Ele retirou seu caderno da mochila e se aproximou de uma estante dois corredores distante de onde Chanyeol disfarçava, entrando e começando a mexer nas estantes. Voltou com dois livros, os abriu e lá estava ele de novo, escrevendo.

Como iria puxar assunto se o pequeninho era tão introspectivo?

Precisaria entrar em seu mundo. Precisaria utilizar os livros, fonte de informação que Chanyeol tinha o maior respeito, para iniciar uma interação.

Deu a volta pelo lado oposto das estantes e entrou no corredor onde Baekhyun havia pegado seus dois livros. Passou os olhos pelas etiquetas e congelou.

Astronomia.

Caramba, ele não entendia nada daquilo. Como iria iniciar uma conversa?

Precisaria inventar um trabalho. Iria pedir ajuda em um trabalho fictício. Era isso. Seria uma mentira cabeluda, mas não aguentava mais ficar longe do pequeno. Dois anos!

Pegou um título qualquer na estante. “Buracos Negros: Mistérios Revelados”. Respirou fundo e se aproximou da mesa, por trás do corpo do pequeno. Ele era tão introspectivo que sentava de frente para a janela, dando as costas para o resto da biblioteca.

Chanyeol pigarreou, parando um pouco atrás dele. Baekhyun não se abalou de início, mas interrompeu suas anotações e virou o corpo, colocando os olhos em Chanyeol.

Era a primeira vez que o pequeno lhe olhava diretamente.

Wow. A sensação era maravilhosa. Era como estar sonhando. Na verdade, Chanyeol já havia sonhado com aquele momento muitas vezes. Os olhinhos brilhantes por trás das lentes eram exatamente como ele sonhou.

Se encararam em silêncio por cinco segundos muito constrangedores.

- Sim? – Baekhyun perguntou, empurrando os óculos para cima do nariz.

- Er... – Chanyeol começou, percebendo de última hora que não tinha coragem de fazer aquilo. Pensou em desistir. Em pedir desculpas e sair dali correndo, mas Baekhyun já estava com os olhos no livro no qual Chanyeol estava abraçado. Era um olhar curioso. Precisava seguir em frente agora. – Pode me ajudar? Eu... preciso encontrar mais livros sobre... – Deu uma olhada rápida na capa do livro em suas mãos, e percebeu Baekhyun levantando uma sobrancelha. – Sobre buracos negros. É para um trabalho semestral de Biologia.

- Biologia? – Baekhyun franziu o cenho, fazendo o coração de Chanyeol acelerar. Ele era muito fofo. – Não seria Física? Até Geografia... mas Biologia? Seu professor não está um tanto desviado? Que eu saiba estudamos genética no último ano.

- É, isso. Confundi. – Chanyeol se corrigiu rápido, balançando a cabeça. Sua boca estava seca. - É. Trabalho de Geografia. Tema livre. Escolhi buracos negros... a relação... deles... com a Terra... como... poderiam nos afetar... é.

Chanyeol queria se matar. Nem para inventar uma mentira decente ele era capaz.

Espera um momento...

Espera um momento!

Como ele sabia que Chanyeol estava no último ano?

Caramba.

Talvez ele soubesse quem Chanyeol era. Talvez não o tenha ignorado durante todo o colegial. Oh, meu Deus. Aquilo era algo.

Baekhyun concordou com a cabeça, colocando a caneta entre os lábios e virando o corpo para o corredor atrás deles. Levantou da cadeira e se afastou, se embrenhando por entre as estantes e começando a passar os olhos pelos títulos, concentrado. Chanyeol se perdeu o observando, a cabecinha se movendo rápido enquanto procurava lhe deixava ainda mais fofo. Ele era todo bonitinho, aqueles dois anos de encantamento estavam sendo justificados naquele momento.

Um minuto para que encontrasse mais dois títulos. Os trouxe para sua mesa – Chanyeol estava parado ao lado dela o aguardando – e largou-os ali por cima. Empurrou os óculos mais uma vez antes de abrir a primeira capa para ler o índice.

- Como... como sabe que estou no último ano? – Chanyeol murmurou, curioso e apreensivo. Baekhyun pareceu paralisar a leitura do índice e o olhar se perdeu no tampo da mesa de madeira escura e bem polida.

- Você... você é Park Chanyeol. O astro do time de basquete. Todos sabem em que ano você está. – Baekhyun se explicou, dando de ombros. O ânimo de Chanyeol caiu um pouco. Não queria uma resposta genérica assim. – Minhas colegas falam muito dos garotos do time. Estão sempre acompanhando os jogos com afinco.

Chanyeol concordou com a cabeça, por mais que Baekhyun não o estivesse encarando. O pequeninho voltou sua atenção para o índice, colocando o indicador fino e delicado na lista e o deslizando pela página.

- Aqui temos boas informações sobre buracos negros, horizonte de eventos, radiação térmica... tudo o que você precisa para...

- Já assistiu algum dos meus jogos? – O cortou sem nem perceber. Baekhyun franziu o cenho e o encarou, um tanto confuso.

- Eu... não. Desculpe. Tenho sempre muito o que fazer. – O pequeno se explicou, e pela primeira vez analisou de verdade a expressão descaradamente desapontada no rosto de Chanyeol. – Bem, qual a diferença se eu estiver lá ou não, certo? Vocês tem muitos admiradores. Enfim, buracos negros nos capítulos 12 e 13, também temos algo no 14...

- Faz diferença, Byun – Nem estava acreditando no que sua mente estava fazendo consigo mesmo. O que raios estava pensando ao falar aquilo? Agora não sabia como se explicar.

- Como você sabe meu sobrenome? Não sou ninguém.

- Apenas sei. – O mais alto respondeu simplesmente, era a única resposta que poderia dar naquele momento. Se fosse sincero, o assustaria e tudo seria pior. – E você é alguém. Todos somos alguém.

A última frase deixou o pequeno nervoso, Chanyeol podia perceber. Ele engoliu em seco e voltou sua atenção para os livros, agora para o segundo.

- Projeto LIGO... seria interessante você falar sobre esse projeto. Capítulo 9 desse outro livro aqui. – Baekhyun suspirou, fechando livro e o empilhando novamente. Empurrou-os na mesa na direção de Chanyeol.

- É um assunto complicado. – O maior comentou, largando o livro que estava em suas mãos na pilha junto com os outros dois. Baekhyun concordou com a cabeça.

- Astronomia é complicado. – O pequeno explicou, piscando por trás dos óculos grandes ao inclinar a cabeça para encará-lo.

- Você parece entender.

- Bastante.

- Poderia me ajudar no meu trabalho.

Foi o mini diálogo mais tenso que Chanyeol já deve. Apenas cinco falas e ele estava suando feito um porco. Mas era o seu último ano e estava apaixonado. Não sabia lidar com aquele sentimento, que parecia errado e certo ao mesmo tempo. Só queria ficar perto do pequeno.

- Eu... não tenho tempo, me desculpe. Pode pedir ajuda no laboratório de Física, conheço todos de lá. Posso lhe dar nomes que entendem desse assunto específico.

- Tudo bem. Obrigado.

Estava respondendo tão rápido e sem jeito que Baekhyun deve ter percebido que estava desconfortável, pois os lábios foram espremidos um no outro.

- Boa sorte no trabalho. Tenho certeza que vai se sair bem. – Os lábios vermelhinhos pela pressão ao serem espremidos receberam um tanto de saliva ao serem lambidos e então Baekhyun sentou novamente na cadeira, voltando-se para suas anotações.

E foi assim que Park Chanyeol conseguiu tudo por um breve instante.


XXX


Não tiveram contato nas duas semanas seguintes ao episódio da biblioteca. A única diferença era que agora Baekhyun lhe dava bom dia de manhã, no corredor dos armários. Mas ele nunca iniciava a interação, era sempre Chanyeol. Era um garoto muito introspectivo mesmo, difícil de se aproximar. E como ele não perguntou a Chanyeol nada mais sobre o trabalho – era o que qualquer pessoa mais sociável faria – não houve nenhuma conversa significativa.

Até que algo um tanto desagradável aconteceu em um dos almoços da terceira semana desde a primeira interação dos dois.

- Vai querer arroz ou macarrão? – O cozinheiro de oitenta anos segurava um prato vazio nas mãos trêmulas, a asma notável demonstrando seu nervosismo pela distração repentina do estudante. A fila estava enorme e todo mundo precisava se servir e comer em meia hora.

- Macarrão, por favor – Chanyeol pediu, observando o senhor lhe servir sem muita delicadeza e lhe entregar o prato de uma vez, já chamando o próximo da fila. Se afastou das estações de buffet no grande refeitório e lançou um olhar panorâmico rápido, procurando sua mesa sempre lotada e agitada. Era tão bom ver seus amigos todos juntos novamente, depois de dois meses de férias. Sentiria falta daquele ambiente quando se formasse.

- Yeollie! Senta aqui logo e conta pra gente quantas universidades já estão de olho em você! Ser o melhor jogador do time deve ser bom demais... vai ganhar uma bolsa dos sonhos – Jihae, uma das líderes de torcida, começou a falar enquanto ele se sentava entre seu melhor amigo Jongin, o ala do time, e Yohan, o armador um tanto convencido. Até que gostava desse último, mas achava que ele poderia ser menos. Bem menos.

- Ah... não sou o melhor, todos somos muito bons e todos vamos ganhar ótimas bolsas... – Chanyeol a corrigiu antes de dar uma garfada.

- Sua falsa modéstia é meio patética de vez em quando. Joga excelentemente em todas as posições, apesar de ser pivô, e vem com esse papo... – O tom de voz de Yohan era um tanto maldoso. Era pra ter soado como um elogio, mas Chanyeol continuou mastigando sem responder.

Um estrondo interrompeu a conversa na mesa. Ele quase se engasgou, estava tomando um gole de água bem na hora. Aos poucos, a mesa começou a rir em tom de zombaria e ele franziu o cenho, virando o corpo para ver o que estava acontecendo.

Alguém estava no chão. Livros espalhados misturados com macarrão e suco. A pessoa estava toda suja, coitada.

Ah, caramba.

Chanyeol olhou com mais atenção e percebeu que era ele.

O pequeno.

Seu pequeninho estava caído no chão. Ele empurrou os grandes óculos de grau para cima enquanto estava ajoelhado, por entre a comida derramada e os livros espalhados. A bandeja havia ido parar há cinco metros de distância. Boa parte do refeitório ria e ninguém se prestava a ir lá ajudá-lo a juntar suas coisas.

Chanyeol pode ver, um pouco afastados, os valentões que pegavam no pé de Baekhyun rindo muito, chegando a segurar as barrigas. Deveria ter sido coisa deles.

- Que desastre de pessoa – Jihae murmurou, colocando uma das mãos na frente da boca parar rir mais ainda. – Nem sabia que ele existia. Tem cada vermezinho estranho nessa escola...

- Tá gostoso o macarrão? – Yohan gritou, causando uma risada coletiva no refeitório. Baekhyun nem levantou o olhar, continuou apressado tentando recolher tudo. – Não come tão rápido que vai dar indigestão, mocinha! – Ele continuou, e mais risadas ecoaram.

- Pare com isso – Chanyeol resmungou, o cenho franzido e o coração apertado. O rosto do pequeninho estava todo sujo, provavelmente sujou as mãos por causa dos livros caídos por cima do molho da massa.

- Que nojeira! Porquinha no chiqueiro! – Jihae entrou na onda da zombaria. As orelhas grandes de Chanyeol já estavam vermelhas de impaciência. Nem percebeu quando se levantou, causando uma comoção na mesa. Ajeitou a própria mochila nas costas e se afastou, ao mesmo tempo se aproximando de Baekhyun e se abaixando ao lado dele.

- Eu te ajudo – murmurou baixo, só para ele ouvir. As risadas abafavam sua voz de qualquer forma. Agora os valentões gritavam alto e faziam piadinhas ofensivas envolvendo Chanyeol e Baekhyun, mas ele não poderia ligar menos.

- Me deixa em paz – Baekhyun falou de volta, a voz tímida e nervosa.

Chanyeol não o culpava, estava em uma posição humilhante e não poderia adivinhar suas boas intenções no meio de tanta maldade e zombaria.

Ele terminou de recolher os livros melados e os colocou nos braços. Levantou do chão, mas o pé acabou resvalando no molho e ele se desequilibrou. Chanyeol esticou rápido a mão e segurou seu braço fino, acabando por puxar um pouco a manga do moletom largo e expor todo o ombro e clavícula do menor.

A quase queda gerou mais risadas ainda, mas Chanyeol mal ouviu. Nunca se importou com a opinião dos outros, e se estavam achando engraçado ele ajudar Baekhyun, que achassem. O que sentia pelo pequeninho era muito maior que sua reputação de astro de basquete popular.

Ele puxou o braço com violência e se afastou, passando pelas mesas entre risadas e saindo porta a fora do refeitório. Chanyeol encarou o chão e percebeu que ele havia esquecido um livro pequeno no meio da massa espalhada. Abaixou-se e pegou, afastando os fios de comida, e ergueu as sobrancelhas ao ler o título. “Livro dos Sith” com uma capa vermelha e uma letra estilizada. O logo de “Star Wars” estava no topo, e Chanyeol sorriu de canto. Não conhecia muito sobre a saga mas sempre teve curiosidade, só faltava um incentivo para sentar e assistir tudo.

Deixou o refeitório e foi atrás de seu pequeno, queria devolver o livro. Por mais sujo e arruinado que estivesse, ainda era um livro e sabia como objetos assim eram significativos para quem gostava.

O encontrou no banheiro masculino do andar do refeitório, os livros empilhados em cima da pia. Usava um papel úmido para tentar limpar a capa dos maiores e mais caros, mas o blusão e o rosto ainda estavam sujos. Até as lentes dos óculos estavam meladas.

- Ei – Chanyeol chamou, dando passos receosos pelo banheiro e se aproximando da pia onde ele estava. O garoto virou o rosto para o lado, puxando os dois livros grandes que limpava para mais longe. – Você esqueceu um. – O mais alto – bem mais alto, diga-se de passagem – levantou o livro, mas ele continuou com o rosto virado. O largou em cima da pilha e cruzou os braços, o observando por um momento.

A primeira fungada fez o coração de Chanyeol acelerar. Baekhyun levou os dedos até o nariz e o limpou rápido, a cabeça ainda abaixada.

- Ei, pequeno... não ligue para essas pessoas. De verdade, são todos uns idiotas – Só percebeu que o havia chamado por seu apelido mental carinhoso no final da frase. Paralisou, assim como Baekhyun. Um silêncio constrangedor separou os dois, até o menor voltar a fungar, e agora soluçava junto. Passou as mãos pelas bochechas sujas enquanto chorava baixinho, Chanyeol estava quase entrando em coma de tanto desespero. Queria poder fazer algo.

Tinha que fazer algo. Era o seu pequeninho chorando.

Dois anos o paquerando à distância, talvez estivesse cometendo o maior erro de todos os tempos, mas sentia que compartilhavam uma intimidade diferente, talvez um tanto ilusória. Mas não custava nada arriscar.

Estendeu o braço e segurou o pulso de Baekhyun com delicadeza, o assustando um pouco de início, pois não compreendeu o que estava acontecendo. Puxou-o para perto e, depois de alguns segundos de resistência, o baixinho cedeu e se deixou levar até o peito de Chanyeol. Enterrou o rosto ali, no moletom do uniforme do maior, que abraçou seu tronco quase o fazendo sumir em seus braços enormes.

Deixou-o chorar por alguns minutos. Baekhyun costumava ser resistente, sim, mas aquele tipo de humilhação coletiva Chanyeol nunca tinha visto antes. Era normal até a pessoa mais resistente desabar. Sentiu-o soluçar em seus braços, era como estar abraçando um filhotinho trêmulo. O choro era baixo, mas intenso. Parecia que Baekhyun estava desabafando anos de resistência ali, naquele momento estranho e íntimo.

- Es-estou sujando v-você – Ele sussurrou por entre os soluços, fazendo Chanyeol apertar ainda mais o abraço.

- Não tem problema. – respondeu, sentindo-o relaxar um pouco mais e até se aconchegar melhor no abraço. Evitou sorrir, era um momento delicado. Mas queria. Muito. Pensou em distraí-lo um pouco. – Sabe, eu sempre tive inveja dos fãs de Star Wars. Sempre quis ser um deles, mas eu sou tão preguiçoso... nunca consegui assistir. Vale a pena?

O pequeno parou de soluçar e virou o rosto de lado, a bochecha agora apoiada no peito do maior. Nunca imaginaria estar tendo aquele momento tão confortável e íntimo com seu pequeninho tão cedo assim, mas simplesmente aconteceu. E estava amando.

Apesar do olhar vago perdido no chão do banheiro, Chanyeol percebeu um pequeno sorriso no canto dos lábios dele. Estava conseguindo algo. Mas queria inseri-lo em um diálogo de verdade para distraí-lo de vez.

- Meus amigos de infância me chamavam de “Yeolda” por causa das minhas orelhas, eu sempre ficava bravo porque sabia que era um monstro feioso e verde de um filme famoso e...

- Mestre Yoda não é um monstro feioso e verde – A voz tímida finalmente se manifestou, fazendo Chanyeol abrir um sorriso largo. Sabia que aquilo o faria falar e se distrair do choro. E era claro que, hoje em dia, tinha noção de quem era o personagem Yoda e sabia que era muito querido pelos fãs. – É um dos mais sábios e poderosos Jedi de todos os tempos.

- Então vale a pena – Chanyeol murmurou, rindo e, por consequência, balançando o tronco e o próprio Baekhyun em seus braços. O menor levantou o rosto e o encarou por trás dos óculos embaçados de sujeira e lágrimas. Chanyeol engoliu em seco ao notar uma pintinha fofa no canto do lábio superior dele, até bem chamativa. Como nunca a havia notado antes? Era magnífica...

- O que vale a pena? – perguntou, ajeitando o moletom largo do uniforme. Era tão grande nele que sua clavícula ficava toda visível, e até estava parecendo que ele não usava nada por baixo. O uniforme completo seria uma camisa social branca, mas... Chanyeol engoliu em seco mais uma vez, pensando em como aquela era uma clavícula bem bonita.

- Assistir a saga – Ele explicou, pigarreando em seguida. Estava desconfortável agora, o olhar dele era daqueles brilhantes e inocentes. Sentiu muita pena por alguém tão doce ter passado por aquilo, na mão de tanta gente maldosa.

Afrouxou o abraço mas Baekhyun permaneceu imóvel, parecendo ter estranhamente se acostumado com a posição.

- É claro que vale a pena. É a maior franquia de todos os tempos. É brilhante. – Ele piscou algumas vezes ao notar o sorriso de canto de Chanyeol e desviou o olhar. A voz estava fanha pelo choro e a ponta do nariz vermelha. Desfez-se dos braços do maior e retirou os óculos, se aproximando de volta da pia e pegando um pouco de sabonete líquido para lavar as lentes embaixo da água da torneira.

- Se você diz... vou assistir então – Chanyeol falou, o observando passar os dedos finos pelas lentes enquanto as limpava, para depois usar um dos papeis que havia pegado para limpar os livros e secar os óculos. Os colocou no rosto novamente e voltou a piscar para o mais alto. Precisava inclinar bastante a cabeça para isso.

- Comece pela ordem de lançamento. É a melhor ordem.

- O quê?

Baekhyun riu pelo nariz, como se estivesse zombando dele por não compreender algo tão óbvio. Chanyeol ficou satisfeito. Ele já estava completamente distraído.

- Comece pelo quarto filme. Depois o quinto, e depois o sexto. Para então ver os três primeiros. Star Wars é originalmente uma saga de seis filmes. Se desconsiderar os últimos lançamentos.

- Ah, sim. Eu sabia disso. Estava te testando. Você tem os dvd’s? Não tenho dinheiro para comprar.

- Tenho até em blu-ray. São meus filmes favoritos. – Ele molhou os lábios depois de falar, empurrando os óculos grandes para cima do nariz. Por que tudo nele era gigante demais para o seu tamanho? – Quer emprestado, é isso?

- Bem... seria legal assistir com alguém que já conhece a história pra me explicar. Não quer me convidar pra assistir com você?

- Não, nem te conheço direito.

Chanyeol riu pelo nariz, nem conseguiu ficar chateado com o corte ríspido. O pequeno era engraçado sem nem perceber.

- Claro que me conhece, já sabia meu nome e meu sobrenome. Sabe que sou um veterano e que jogo basquete no time da escola. Dividimos o mesmo ambiente diariamente faz dois anos. Não somos nada estranhos.

Aquilo o fez pensar um pouco.

- É, até que pode ser. – Baekhyun deu de ombros, fazendo Chanyeol sorrir de canto.

- Tem dezessete anos, certo? Ainda tem mais um ano de escola depois desse. Não gostaria de estar na sua pele. – Estava se esforçando ao máximo para distrair o pequeno. Conversar sobre aleatoriedades que necessitavam de resposta era o melhor a se fazer.

- Dezesseis ainda. E sim, mas não acho chato. Gosto da escola. Apesar de ninguém gostar de mim.

Chanyeol franziu o cenho, se sentindo incomodado. Não era verdade. Ele gostava. Muito. Até demais.

- Não fale assim, aposto que tem amigos. – murmurou, depois de engolir em seco. - Só não se encaixa no padrão, por isso é alvo. Ainda vai fazer muitos amigos. Não é de Seul, certo? Seu sotaque é um pouco marcante.

- Não, vim de Bucheon. Mas não tinha amigos lá também. Tanto faz. – Baekhyun deu de ombros mais uma vez, agora cruzando os braços e apoiando o corpo na pia.

- Então me convide para assistir todos os filmes de Star Wars. É uma ótima forma de fazer um amigo aqui na escola. Estou livre neste final de semana. Sábado, depois do meu jogo. Podemos fazer uma noite de cinema.

- Olha... Park Chanyeol... não sei se está tentando aliviar a pena que está sentindo por ser um cara bondoso, mas eu agradeço. Não preciso da piedade de ninguém. – Baekhyun não lhe olhava mais nos olhos para falar, encarando um ponto distante do chão do banheiro. - Sempre me virei sozinho nessa escola, eu não quero fazer amizades aqui. Não é o tipo de pessoa que quero na minha vida.

- Não sou? – Chanyeol perguntou, agora começando a se sentir chateado de verdade. Nada daquilo era verdade. Bem, sentiu pena dele porque era um ser humano com sentimentos, mas não estava fazendo aquilo por pena. Era apaixonado por ele. Pena nem chegava perto de suas reais motivações.

- Não, digo... as pessoas dessa escola. Não você em particular. Você não sei. Me parece ser um cara legal, mas não está interessado na minha amizade de verdade, só está com pena. Obrigado por ter me ajudado hoje, mas já chega. E se isso for sobre seu trabalho de novo, me dê seu telefone que te passo o número do pessoal do laboratório de Física. Não precisa ficar forçando amizade só pra conseguir ajuda, está constrangendo nós dois.

Ficou sem palavras. Baekhyun estava sendo muito severo e seu jeito de lidar com a situação era justificável, mas não deixava de machucar Chanyeol.

- Não... não é sobre pena e nem sobre o meu trabalho... desculpe se pareceu que era isso. Só achei você divertido e quis conhecê-lo melhor.

Baekhyun negou com a cabeça, como se estivesse descrente e até um tanto exausto.

- Você é um atleta, Park Chanyeol. Não deveria achar nerds divertidos. Deveria achá-los patéticos, como todos os seus amigos.

- Mas não acho. – Chanyeol logo completou, quase em cima da fala do outro. - Você não é nada patético. É fascinante. Gostaria de ouvir tudo o que tem a dizer sobre seus estudos. Dá pra ver que estuda muito. Deve ter muito guardado aí dentro de você. Só queria saber. Só isso. Mas se estou incomodando, vou parar.

Suas palavras tocaram o pequeno de certa forma. Ele engoliu em seco e lhe lançou um olhar rápido, para então voltar sua atenção para o chão do banheiro.

- Prefiro que pare. Vai ser melhor para nós dois. Vai acabar sendo humilhado assim como eu, e ninguém como você deve se expor ao ridículo. Sei como sua reputação é importante para que consiga sua bolsa na universidade. Por favor, não entre mais em contato comigo. Pode me deixar sozinho agora? Quero terminar de limpar os livros antes da próxima aula.

Chanyeol concordou com a cabeça e encarou o chão por um instante, sentindo todo o seu mundo desabar. Ele estava tão errado... mas não tinha como discutir. Estava com a mente feita. O coração de Chanyeol estava tão apertado e sufocado que poderia parar de bater a qualquer instante.

Seu pequeno o havia rejeitado, bem na sua cara. Ao vivo e a cores. Porque não acreditava que um cara popular e um garoto nerd poderiam ser amigos.

Quem dirá algo mais?


XXX


Um mês inteiro sem se falarem. Baekhyun não lhe dava mais bom dia ou ao menos lhe lançava um olhar. Estaca zero tudo de novo, como se Chanyeol não existisse.

Era horrível, insuportável. Pegou-se até deixando uma lágrima tímida escorrer antes de dormir, numa noite qualquer daquele período de afastamento. Nunca havia chorado por ninguém antes, nunca havia se imaginado derramando lágrimas por ter tido o coração quebrado. Era um clichê que nunca havia feito parte de sua vida até aquele momento.

Mas tudo mudou para valer no dia de seu primeiro jogo da temporada, entre as escolas da cidade. Não era um jogo importante, fazia parte apenas das eliminatórias, mas havia um público considerável. Já estava acostumado, era como ser um artista e se apresentar todo mês.

Nenhum nervosismo. Não costumava ficar nervoso, jogava com uma facilidade impressionante. Mas foi no intervalo, ao colocar os olhos nas arquibancadas do ginásio por estar distraído, que seu coração quase pulou pela boca.

Ele estava lá. Sozinho, no canto. As mãos apoiadas nas pernas, os joelhos grudados um no outro. Olhava em volta com certa curiosidade, perdido no seu mundinho. Não estava usando o uniforme da escola porque não estavam em horário de aula, então Chanyeol pode vê-lo usando uma camiseta de mangas longas e uma calça jeans apertada. As mangas, para variar, passando dos pulsos, como se fosse uma criança usando as roupas do pai ou irmão mais velho.

Chanyeol pigarreou, tentando colocar a cabeça no lugar. Não podia se distrair, mas não ficava tão feliz em meses. Baekhyun estava ali e só poderia ser por causa dele, pois havia contado que nunca teve tempo para assistir aos jogos.

E agora estava ali.

Isso queria dizer que talvez não estivesse mais o ignorando. Ou estava, mas não havia cortado totalmente Chanyeol de sua vida. Quer dizer, o que Baekhyun estaria fazendo ali se não fosse para vê-lo? Era muito iludido por pensar assim?

O intervalo chegou ao fim e Chanyeol sentiu vontade de chorar. Como se concentraria agora que o pequeninho o estava assistindo? Havia jogado muito bem até aquele momento, mas ainda não sabia de sua presença...

Esforçou-se ao máximo para lidar com a situação. Suas habilidades foram um pouco afetadas, mas nada tão dramático. Acabaram ganhando, como o esperado. E, como de costume, iriam comemorar em uma lanchonete retrô da rua de baixo, mas era a primeira vez que Chanyeol não estava com vontade de acompanhar seus amigos.

Ainda sentado no banco de reservas depois do jogo, aguardava a multidão se dispersar e seus colegas de time irem pro vestiário tomar banho. De vez em quando lançava um olhar para a arquibancada, monitorando a presença de Baekhyun. Ele continuava sentado e agora mexia no celular, parecendo esperar o ginásio esvaziar para poder sair. Chanyeol o observou espirrar na manga comprida da camiseta e sorriu consigo mesmo.

- E aí, vamos lá? Até todo o pessoal tomar banho e se vestir vai levar um tempo – Jongin o chamou, parando na sua frente com uma toalha branca apoiada no ombro direito. Yohan parou ao seu lado e balançou as sobrancelhas para Chanyeol.

- Jihae vai estar lá, garanhão – Yohan murmurou, usando sua toalha para bater no joelho de Chanyeol, que tentou sorrir de canto.

- Vou pra casa hoje, estou com sono. Preciso acordar cedo amanhã para fazer uma tarefa.

Yohan fez uma careta de absurdo e Jongin torceu os lábios.

- Está brincando? Hoje é sábado. Sábado à noite, Chanyeol. Deixa de ser otário.

Chanyeol rolou os olhos e deu de ombros.

- Terei muitos sábados ainda durante a minha vida inteira. Hoje vou pra casa mesmo.

Yohan revirou os olhos como uma garota dramática e Jongin lhe deu um aperto amigável no ombro.

- Nos vemos segunda-feira, então. Tenha um bom descanso – Kim Jongin era um dos garotos mais legais daquele grupo de populares. Nunca havia feito nenhuma maldade do nível de Yohan e Jihae, ele era como Chanyeol e por isso merecia sua admiração.

Acenou para eles antes do time desaparecer pela entrada do ginásio e ser seguido por um bom grupo de estudantes empolgados. Agora, o ambiente estava bem mais vazio, apenas com um estudante que outro se dirigindo mais lentamente para a saída.

Sorriu consigo mesmo ao perceber que Baekhyun ainda estava ali. Só poderia ter percebido que Chanyeol o estava aguardando, caso contrário já teria ido embora, pois a multidão já estava dispersa. O jogador levantou do banco e colocou sua bolsa no ombro, para então pular os bancos reservas e se aproximar das arquibancadas.

Finalmente recebeu o primeiro olhar de Baekhyun, que sorriu timidamente e quase imperceptivelmente de canto, levantando de seu banco e descendo alguns níveis até ficar um nível acima de onde Chanyeol estava parado.

- Resolveu abrir uma brecha nos seus estudos para me ver jogar? – O maior perguntou, sorrindo de canto mas de forma bem menos discreta. Baekhyun deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos da frente da calça. O rosto de Chanyeol estava próximo da barriga do pequeno e aquela posição dos corpos por algum motivo fez o mais alto sentir os pelos arrepiarem.

- Não vim para vê-lo – Baekhyun explicou, olhando em volta o ginásio agora vazio. – Vim assistir o jogo. Observar as estratégias, são interessantes.

- São mesmo – Chanyeol concordou, ainda sorrindo de canto, mas agora irônico. Um silêncio pousou entre eles, e o olhar de Baekhyun abaixou por um segundo antes de voltar para o ambiente. Ele era um bichinho bem orgulhoso.

- Joga bem – O pequeno resmungou, levando uma das mãos até os óculos e os empurrando para cima.

- Obrigado. Mas vai, assume logo que veio me ver. Antes de nos conhecermos direito você nem deveria pensar em basquete. – Chanyeol cutucou sua barriga com o indicador de forma infantil e implicante, fazendo o menor colocar os braços na frente do corpo e abrir os lábios, incrédulo. – Assume logo que você quer ser meu amigo. E que talvez tenha se arrependido por ter me dado o fora do milênio.

- Não vou assumir nada, é tudo engano seu – Baekhyun murmurou, os lábios estreitos. – Mas não estou aqui só por causa do jogo. Bem, é claro que eu poderia ter aparecido agora no final, mas tudo bem. Queria assistir você.

- Há! – Chanyeol implicou, o sorriso aumentando. Baekhyun rolou os olhos. – Por que mais está aqui?

- Porque fiquei com vontade de re-assistir Star Wars e não vi porque não convidá-lo, já que me pediu. Nunca se nega Star Wars a ninguém. E já que vamos estar juntos, posso até ajudar no seu trabalho. Umas duas páginas, talvez.

O sorriso de Chanyeol era tão bobo e grande que Baekhyun o empurrou pelos ombros e o lançou para trás, enfiando-se na frente dele para descer o último degrau da arquibancada.

- Na sua casa ou na minha? – O mais alto perguntou, levantando uma sobrancelha. Baekhyun era meio inocente e não percebeu o duplo sentido da pergunta, o que fez Chanyeol segurar uma risada interna.

- Na minha. Tenho o aparelho de blu-ray.

- Beleza. Só me espera tomar banho. Desculpe, talvez demore um pouco porque o vestiário deve estar lotado.

- Oh, não. Tome lá em casa. Sem problemas. Tenho meu próprio banheiro, não vai se sentir tão desconfortável.

Chanyeol levantou as sobrancelhas, impressionando-se com a hospitalidade. Baekhyun parecia ser ainda mais incrível do que sua imaginação havia fantasiado até aquele momento.

- Oh. Obrigado.

- Vamos, então – Ele fez um gesto com a cabeça em direção a porta do ginásio e saiu caminhando. Chanyeol observou suas costas por um instante, hipnotizado, e então acordou e o seguiu.

- Como iremos? Metrô? Ônibus?

- Meu carro – Baekhyun tirou do bolso da calça um chaveiro com um mini sabre de luz pendurado. O mais velho ergueu as sobrancelhas e sorriu de canto. – Ganhei de aniversário adiantado da minha tia.

- Ah... maneiro. Muito maneiro. Seria um sonho ter meu próprio carro, mas nem meus pais tem um...

- É uma grande mão na roda, confesso. Era muito chato depender das caronas da minha tia. Um dia vai ter seu carro, não esquenta.

Atravessaram os corredores parcialmente vazios da escola para chegarem no estacionamento, localizado na lateral do prédio. Estavam em silêncio por uns bons minutos já, até Chanyeol resolver puxar outro assunto.

- Você tem namorada?

Baekhyun não parou de caminhar, apenas virou o rosto para o lado um pouco. Agora andavam pelo estacionamento externo mal iluminado, então Chanyeol não podia ver sua expressão facial.

- Eu sou gay. Não, não tenho namorado. - O mais velho quase engasgou. Seu silêncio chocado fez Baekhyun virar o corpo para encará-lo, curioso. – Espero que isso não assuste você de alguma forma.

Oh, puxa.

Oh, puxa mesmo.

Ele era gay. Isso significava que gostava de homens. Byun Baekhyun, o seu pequeninho, gostava de homens. Os pontos a favor de Chanyeol só aumentavam e ele ficava cada vez mais nervoso. As mãos até tremiam agora.

- Não. Nunca. – Lembrou-se de responder a última frase dele, que aliás era muito importante ser respondida. Falou rápido e de forma preocupada.

Percebeu o menor sorrir de canto e balançar a cabeça em afirmativo. Mais alguns instantes de silêncio tenso e passos secos pelo estacionamento mal iluminado.

- E você? Tem namorada? Sei que é heterossexual, como todos os garotos populares da escola, então posso perguntar com certeza.

Chanyeol sentiu o coração acelerar ao receber de volta a mesma pergunta. O pequeno também estava curioso sobre sua situação amorosa atual. Se não estivesse, não perguntaria, certo? Não queria mesmo se iludir, mas era um pouco difícil.

Suspirou, sabendo que não deveria dizer a verdade. Mas já que ele havia perguntado, decidiu ser sincero.

- Eu não... não sei. – respondeu, depois de vários segundos um tanto tensos entre os dois.

- Não sabe se tem namorada? – Baekhyun perguntou, sorrindo meio zombeteiro.

- Não. – O jogador corrigiu, suspirando mais uma vez. Estava bem nervoso agora. - Não sei se sou heterossexual.

Conseguiu ver os lábios de Baekhyun se separarem um pouco ao receber a informação nada previsível. Limpou a garganta, sentindo-se meio estranho. Agora era o momento do pequeno desistir de tudo por achar que Chanyeol só queria usá-lo para sanar suas dúvidas.

Mas não foi o que aconteceu.

Baekhyun virou o rosto em sua direção e seus olhos sinceros piscaram, um tanto empático.

- Oh. Isso é um problema pra alguém como você. Sinto muito. – Ele falou, comprimindo os lábios. Chanyeol desviou o olhar e soltou a respiração, relaxando finalmente.

- Na verdade não. Não me importo. Apenas não sei o que sou ainda. – explicou, querendo logo mudar de assunto. Não queria parecer aproveitador, e se deu conta de que era o que poderia parecer, mesmo com Baekhyun não demonstrando que se importava.

Chegaram na vaga onde o carro do pequeno estava estacionado e Chanyeol fez um de seus melhores comentários mentais: o carro era, para variar, grande demais para ele. Tudo em Baekhyun era grande demais para ele! É claro que seu carro não seria diferente.

O pequeninho tinha uma caminhonete bonita, daquelas que Chanyeol só havia visto nos estacionamentos do shopping ou nos filmes. Ele a destrancou com o controle e logo subiu no banco do motorista. Era como ver uma criança no volante.

O jogador estava louco para ter intimidade o suficiente para poder fazer piadinhas carinhosas com o tamanho dele. Estava louco para poder provocá-lo, deixá-lo irritadinho só para depois lhe dar uns beijinhos no rosto.

Era tudo tão puro quando se tratava do pequeno.

Só queria ter um pouco mais de intimidade.

Sentou no banco do passageiro e percebeu o interior limpo e organizado do carro, com o painel todo de couro bege e madeira. Deveria ser um carro caro. No espelho retrovisor, havia cabeças de alguns storm troopers de pelúcia penduradas.

- Hm... me sinto mal por estar todo suado aqui dentro do seu carro limpo. Deveria ter me deixado tomar banho antes. – Chanyeol murmurou, observando o pequeno fechar a porta e colocar a chave na ignição.

- Você me ajudou naquele dia e eu o sujei todo de comida. Acha mesmo que vou me importar com isso? Ninguém aqui vai morrer por causa de cheirinho ruim.

- Eu estou fedendo? Sério?

- Não, não senti nada. Só estou dizendo, caso sentirmos. – Baekhyun estava segurando um sorriso cômico ao empurrar a armação dos óculos para cima. Chanyeol riu pelo nariz e se encostou no banco, meio desconfortável.


XXX


Baekhyun morava com a tia, mas ela não estava em casa naquela noite. Segundo ele, havia ido dormir na casa do namorado. Ele explicou que ela costumava fazer isso nos finais de semana, então ele sempre ficava sozinho. Era uma casa grande, bem maior do que o apartamento alugado e pequeno que morava com a mãe e a irmã no centro da cidade. Podia-se dizer que o pequeno vivia melhor que ele, mas gostaria de compreender melhor onde estavam os pais dele. Para você morar com sua tia é porque algo havia acontecido. Mas, se ele não falou nada, Chanyeol preferiu não perguntar.

O quarto era, para o prazer da consciência engraçadinha de Chanyeol, grande demais para Baekhyun. Quer dizer, era um tamanho normal de quarto, o problema era que o seu era minúsculo, então o do pequeno parecia enorme. E ainda era uma suíte, toda decorada com souvenires do Star Wars e outros filmes ou livros que ele gostava. Estantes cheias de dvd’s e livros nas paredes que também eram moradia de pôsteres, todos mais ou menos com a mesma temática de ficção científica. A escrivaninha era grande e continha um computador de última geração, era o tipo que provavelmente garotos gamers tinham. Chanyeol não entendia muito bem de nada daquilo porque nunca teve dinheiro para fazer parte daquela juventude tecnológica.

A cama era de casal e em frente a ela, na parede oposta, uma televisão grande acoplada na parede, com mais estantes embaixo dela com os aparelhos de dvd e tv a cabo. Era um quarto e tanto.

- Você tem a sua toalha, certo? Tem sabonete no box, a não ser que queira um novo. Ou você também tem sabonete?

- Eu tenho tudo. Só preciso do box e da água caindo na minha cabeça. – Chanyeol explicou, dando batidinhas na sua bolsa pendurada no ombro. Baekhyun riu e concordou com a cabeça, abrindo a porta do banheiro e acendendo a luz.

- Grite se precisar de algo.

- Obrigado – Chanyeol sorriu, entrando na peça e sendo deixado sozinho ali dentro. Era um banheiro limpo e arrumado, e sentiu-se estranhamente bem ali dentro. Como se estar tomando banho onde Baekhyun costumava tomar fosse algo íntimo. Bem, era e não era. Até se segurou para não usar o sabonete dele, afinal ele havia oferecido. Era meio bizarro? Era, mas estava gostando muito do pequeno e nada fazia sentido.

Terminou rápido para não pensar muito em besteiras e se vestiu, colocando a calça jeans e a camiseta que tinha dentro de sua bolsa. Quando saiu do banheiro, Baekhyun já estava deitado na sua cama sem as calças, só de samba-canção e camiseta de mangas curtas.

Era uma visão e tanto.

Ele ficava ainda mais fofinho todo confortável, entre as almofadas e travesseiros, com os pezinhos de fora.

- Pronto pra assistir o melhor filme da sua vida?

- Estou pronto pra qualquer coisa agora que tomei banho. Estava mesmo desconfortável daquele jeito.

- Deixa de ser bobo. – Ele deu tapinhas na colcha, ao seu lado. – Pode deitar aqui. Oh, puxa, espere. Sou um péssimo anfitrião. Está com fome? Deve estar, acabou de jogar...

- Ainda não, não se preocupe. Talvez mais tarde.

- Ótimo, então podemos comer algo depois. Ainda não estou com fome também.

Chanyeol concordou com a cabeça e se aproximou da cama, deitando o corpo ao lado do pequeno e encostando as costas nas almofadas. Cruzou as pernas e descansou os braços em cima da barriga. Baekhyun agora estava sentado de pernas cruzadas e usava o controle remoto para selecionar as opções do dvd.

- Nem acredito que vou finalmente ver esse filme. Uma vida inteira me sentindo excluído.

- Sinta-se sortudo por ter me conhecido, então. Pois sua vida vai mudar a partir de hoje.

Chanyeol sentiu vontade de concordar e dizer que sim, sua vida iria mudar, mas não por causa do filme e sim por estar tendo um momento legal com o garoto por quem seu coração acelerou por anos.

O pequeno lhe deu uma introdução básica do enredo antes de deixar o filme rolar. Era engraçado assistir algo com ele porque Baekhyun fazia comentários cômicos consigo mesmo em algumas cenas, fazendo Chanyeol rir pelo nariz.

Só que havia um problema no filme. Era uma história incrível, só que tinha um único problema. As cenas de guerra eram um tanto longas e Chanyeol estava cansado do jogo. Não que estivesse com vontade de virar para o lado e dormir, mas os olhos fecharam sem que ele percebesse, hipnotizado pelas imagens e sons.

Acordou com Baekhyun sentado de pernas cruzadas virado para ele, o cutucando na bochecha. As luzes ainda estavam apagadas e apenas os abajures acesos, então podiam se enxergar com certa clareza. O filme pausado na tela no meio de uma das cenas de guerra.

- Desculpe, não tinha me dado conta que você iria ficar cansado depois do jogo. Quer tirar um cochilo? Não me importo mesmo. Aliás, se quiser ir dormir, sinta-se à vontade. Tenho sempre coisas para fazer no computador. Pode dormir aqui na cama.

Ele ainda estava sonolento e de olhos meio fechados, parte da mente presa no mundo dos sonhos e parte acordada na realidade. Então cometeu, pela segunda vez, a gafe.

- Não, não, pequeno... não vou deixar você acordado sozinho – Ele coçou os olhos, realmente sem perceber que o havia chamado de forma carinhosa. – Só preciso da luz acesa, pelo menos. Pego no sono rápido com as luzes apagadas.

- Do que... do que me chamou? – Baekhyun perguntou, os olhos vidrados no rosto do mais velho.

- O quê? – Chanyeol perguntou, agora acordando de verdade. Sentou na cama também, sentindo-se culpado. O havia chamado de algo?

- Você me chamou de... de “pequeno”. Já havia feito isso antes.

- Oh... desculpe. Foi sem querer. É que você é... você é pequeno. Quer dizer, pelo menos pra mim.

- Você que é grande demais pra mim. – Baekhyun franziu o cenho e fez um biquinho engraçado, cruzando os braços. – Não sou pequeno.

Chanyeol encarou seu rosto em silêncio por um instante, um sorriso bobo nos lábios. Ele estava fazendo birra. Já eram íntimos o suficiente para Baekhyun se sentir confortável e fazer birra. Queria gritar de alegria.

- É sim... posso até ser grande demais pra você, mas isso não o torna maior do que é... – Finalmente ganhou uma chance de poder provocá-lo. Era um de seus sonhos... provocar Byun Baekhyun.

- Pare, não é legal analisar minha altura. Não gosto de ser baixo. – Ele ainda estava de braços cruzados e com um bico ofendido. Nunca esteve tão fofo. Chanyeol sorriu ainda mais, fazendo-o expremer os lábios e desviar o olhar para o próprio colo.

- Ei, pequeninho... não fica bravo comigo, não falei por mal. Acho seu tamanho perfeito. Sem tirar nem por um centímetro. Combina com você. Eu que sou alto demais, pareço um poste. Isso sim é ruim, sentir-se um gigante no meio de todo mundo.

Baekhyun continuou imóvel, mas deixou escapar um sorriso teimoso de canto nos lábios comprimidos.

- Tudo bem, pode me chamar assim, então. – Ele murmurou, dando de ombros.

- É só um jeito carinhoso. Porque é uma característica que gos... legal em você. – Chanyeol se corrigiu rápido, mas Baekhyun nem percebeu. Sorriu mais satisfeito e o olhou de novo.

- É que ninguém nunca me chamou de um apelido legal. Só de nomes ofensivos pra zombar de mim. Não estou acostumado.

- Então achou “pequeno” legal, agora que expliquei? Posso chamar assim?

- Pode – Baekhyun concordou, sorrindo tranquilo. - E você? Não vai ter um apelido também?

- Como assim? – Chanyeol franziu o cenho, mas os lábios já formavam um sorriso encantado.

- Para eu te chamar. Agora que... bem... não sei. Somos amigos?

Queria puxá-lo para seu colo e abraçá-lo forte. Dizer que sim, era óbvio que eram amigos agora e que, na verdade, Chanyeol não queria ser só amigo. Queria ser tantas coisas mais...

- É claro que somos amigos. – Ele respondeu com a voz doce. - Quer dizer, desde que você me queira como amigo, somos amigos.

- Quero – O menor concordou rápido, balançando a cabeça.

- Então crie um apelido carinhoso pra mim também. – Chanyeol não resistiu e esticou a mão para afastar a franja da frente dos óculos do menor. Ele sorriu agradecido e depois pensou um pouco, os olhos fixos na colcha. Era estranho como, aos poucos, os pequenos gestos íntimos iam se tornando corriqueiros. Baekhyun já estava se acostumando com a presença do maior e dava para ver que estava empolgado por ter um novo amigo.

Por um instante Chanyeol sentiu medo de quebrar aquele encanto. Se tentasse alguma investida mais romântica, talvez o pequeno se assustasse e ficasse chateado. Era uma situação delicada, como se estivesse pisando em ovos.

Mas, sinceramente, não se importava de esperar. Nem um pouco.

Aquele garoto na sua frente era precioso demais, e se tivesse que esperar anos... estava disposto a isso. Seu coração já havia esperado dois anos, já estava acostumado. Não iria morrer se tivesse de esperar mais um pouco. E ser amigo dele já era um grande passo, se comparado com o passado de olhares ao longe.

- “Grandão” é legal. Porque você é grande demais pra mim. – Baekhyun falou depois de pensar um pouco, corando bastante. – Mas não é pra ofender. Também acho o seu tamanho perfeito pra você.

Chanyeol riu enquanto admirava o rostinho corado. Queria acariciar a pele dele, mas sabia que ainda não podia.

- Sei disso, pequeno. Não precisa explicar. Pode me chamar assim quando quiser. Pode chamar de hyung também. Ou Chan. Ou Yeol. Ou Channie. Yeollie. O que preferir. – Ele listou os apelidos com os dedos das mãos, fazendo o menor rir.

- Mas hyung e todos esses outros todo mundo te chama. Grandão só eu vou chamar. – Baekhyun protestou, puxando uma almofada em formato de lua crescente para o colo.

- Então me chame de grandão. – Chanyeol concluiu, pegando a almofada das mãos dele só para implicar. O pequeno franziu o cenho e separou os lábios, meio chocado com a audácia do maior, que ria de sua expressão facial enquanto segurava a almofada em cima da própria cabeça.

Ele esticou o corpo magro para tentar pegar de volta, mas Chanyeol elevou ainda mais a almofada, já rindo bastante. Baekhyun avançou com o tronco, se esticando todo, e o mais alto continuou afastando a almofada. Com o avanço do menor, ele perdeu o equilíbrio e caiu para trás no colchão, tirando o apoio que Baekhyun estava usando ao se escorar nos ombros dele. O menor acabou caindo por cima do corpo de Chanyeol, rindo muito, a inocência transbordando das bochechinhas vermelhas. Os corpos estavam totalmente grudados agora, mas o pequeno não parecia se abalar.

Esticou-se um pouco mais e arrancou a almofada das mãos de Chanyeol, mas por algum motivo desconhecido permaneceu recuperando o fôlego em cima dele, os braços apoiados em seu peitoral. Ficaram respirando assim por alguns segundos, ainda rindo e se encarando.

Quando já estavam recuperados, Baekhyun separou os lábios para falar.

- Eu gostei quando você chamou de “pequeninho”. Faz parecer que você gosta de mim e se importa. – Ele comentou, colocando a almofada de lua no peito de Chanyeol e se apoiando melhor para poder encarar seu rosto. O mais velho abriu um sorriso encantado, não resistindo e apertando a ponta do nariz dele com os dedos. Baekhyun espremeu os olhos e riu do gesto.

- Mas eu gosto e me importo. Somos amigos agora. Fiquei triste quando você disse pra gente parar de se falar, porque queria ser seu amigo desde o início.

A confissão fez o pequeno parar de sorrir, deixando a culpa tomar conta de suas expressões faciais. Ele aproximou ainda mais o rosto do de Chanyeol, apoiando o queixo na almofada. Foi naquele instante que Chanyeol percebeu que estava segurando o pequeno pela cintura com as duas mãos.

- Desculpe. – Baekhyun pediu, fazendo um biquinho. - É que precisa concordar comigo que é meio... improvável. Você querer algo comigo. Ninguém nunca quer. Só falam comigo pra pedir ajuda em tarefa ou pra zoar da minha cara. E você pediu ajuda com a tarefa.

Chanyeol suspirou, decidindo falar logo a verdade. Até achou que seria positivo para o pequeno saber que ele havia inventado uma desculpa para terem uma amizade, já que ele não tinha muito disso em sua vida.

- Não tem tarefa nenhuma. Eu inventei pra ter uma desculpa pra falar com você. – O jogador confessou, deixando o pequeno todo confuso.

- O quê? – Ele murmurou, se afastando um pouco e empurrando a armação dos óculos para cima do nariz.

- Eu disse que queria ser seu amigo. Não estava mentindo. Sei que é muito estranho por conta das nossas diferenças, mas...

- Você inventou um trabalho só para se aproximar de mim? – Baekhyun o interrompeu, os olhos brilhando, mas ainda um tanto apreensivo. – Isso é alguma aposta com seus amigos populares?

- Não, não... por favor, não pense assim. É só eu. Minha vontade sincera. Eu não sou maldoso como as pessoas da escola, por favor, não pense assim de mim. Só queria ser seu amigo. Mesmo. Porque de vez em quando não me sinto totalmente compreendido no meu grupo de amigos, e você sempre me chamou a atenção por ser independente. Queria te conhecer. – Não era verdade, mas era a melhor desculpa que Chanyeol poderia inventar para que Baekhyun não achasse que aquilo se tratava de uma aposta. – Por favor confie em mim. Não tenha medo.

Baekhyun saiu de cima de Chanyeol e voltou a sentar na cama, abraçando a almofada forte contra o peito enquanto pensava. O jogador sentou também, analisando apreensivo o rostinho bonito e preocupado.

- Tudo bem. – Baekhyun finalmente murmurou, depois de alguns segundos. O olhava no rosto agora, bem no fundo dos olhos. - Eu confio. Só não... por favor, não me magoe. Eu não tenho ninguém mesmo, só a minha tia.

Aquela confissão foi como uma flechada no coração mole de Chanyeol. Então Baekhyun não tinha pais... ou se tinha não estavam por perto. E ele não tinha amigos mesmo.

- Ei, pequeno... não vou magoar você. Somos amigos agora, você pode contar comigo, certo? – Chanyeol arriscou esticar a mão e segurar o pulso fino, que se soltou da almofada e de forma estranhamente natural os dedos das mãos se entrelaçaram nos do mais alto. Os olhinhos estavam brilhando demais, mais do que o normal, fazendo Chanyeol perceber que estavam marejados. – Está triste? – Ele perguntou, acariciando os dedos finos com os seu polegar.

- Estou nervoso, só isso. É porque... é isso, ninguém nunca se importou. Se você se aproximar dessa forma para depois ir embora, eu não sei se vou...

- Sshh, não pense assim. Não vou mais me afastar. Já disse, pode contar comigo a qualquer hora. Pode me chamar pra ver filme com você quando estiver se sentindo sozinho, tudo bem? Promete?

Baekhyun concordou com a cabeça, e uma lágrima tímida escorreu pela bochecha por conta da movimentação. Chanyeol esticou a mão livre e limpou a umidade com o polegar, segurando o queixo com resto dos dedos. Aproveitou para acariciar finalmente a pele macia e quente, fazendo com que Baekhyun fechasse os olhos e sorrisse de canto.

- O que acha de voltarmos ao filme agora? Mas bebendo xícaras bem grandes de café para que eu não pegue no sono de novo? – Ele sugeriu depois de soltar seu rosto. Baekhyun abriu os olhos e o sorriso aumentou ao concordar com a cabeça.

- Vou lá fazer, espere por mim! Não aperte play! – O pequeno se arrastou para fora da cama e ficou em pé, enfiando suas pantufinhas de chewbacca que Chanyeol só havia notado naquele momento.

- Quer ajuda com algo? – Ele perguntou, o observando com um sorriso cômico. O jeito de Baekhyun era engraçado.

- Não, pode ficar aqui. Aproveite e tire seu último cochilo antes da maratona. Vamos virar a noite, grandão! – Ele levantou o punho no ar e saiu porta a fora, arrancando uma risada sincera de Chanyeol.

O jogador deitou no colchão novamente, por entre as almofadas, e suspirou satisfeito. Sentiu que não precisava de mais nada. Sim, era apaixonado pelo pequeninho e queria avançar, mas vê-lo alegre daquele jeito bastava. De verdade, não precisava mais de nada. Beijos quentes, mãos bobas... nada disso valia perto de um sorriso animado e olhos brilhantes. Baekhyun precisava de alguém para ser seu amigo de verdade, e Chanyeol estava disposto a ignorar seus sentimentos em prol da alegria do pequeno.

Só faria algo caso o próprio Baekhyun desse indícios de desejo. Caso contrário, estava feliz por poder ocupar aquele lugar tão especial de amigo dele.

Porque gostar de alguém de verdade... talvez até amar... ia muito além dos nossos desejos pessoais. Quando se ama para valer, o bem do outro vem em primeiro lugar. No amor não existe espaço para egoísmo.

E com o tempo Chanyeol percebeu que o amava de verdade. Cada pequeno detalhe que era grande demais nele. E não é que Baekhyun arranjou um amigo igualmente grande demais, assim como tudo em si?

Chanyeol nunca foi tão feliz durante todos os seus anos de colegial como estava sendo naquele momento. 

27 июня 2018 г. 3:27 6 Отчет Добавить Подписаться
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xxxx whor xxxx whor
Já disse o quanto isso foi perfeito?
Pedro Pedro
Tô tão perdido aqui
Pedro Pedro
Grande DEMAIS mesmo esse capítulo kkkkk, descobrir esse app hoje e essa é a primeira Fanfic que eu tô lendo aqui, pensei que fosse ser cansativo, mas a história me prendeu, faz tempo que não leio uma história tão boa como essa, amei. Muito boa, 0 defeitos.

  • Pedro Pedro
    Descobri* July 29, 2019, 23:58
Giovanna Romanini Giovanna Romanini
Meu pai eterno. Q LINDOOOOOO😍😍😍😍 EU TO MUITO APAIXONADA NESSES DOIS, NA SUA ESCRITA E NESSA ESTÓRIA MARAVILHOSA.
~

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