29 de julho de 2014.
Caderno apoiado nos joelhos, caneta preta, céu carrancudo, café esfriando na xícara, coração partido, crise pessoal, combinação mais do que pertinente para ilustrar como se sente Cuca. A garota de trinta e seis anos com batom vermelho, salto alto e olhos manchados pela negritude do rímel que escorre junto às lágrimas.
Já tive noites muito piores, mas não posso negar a devastação. Nunca me senti tão frágil e amedrontada, logo eu que já encarei tantas perdas incomensuráveis e nunca me acovardei. Logo eu não tenho uma resposta pronta nem uma alternativa que me conforte.
***
O cântico dos ventos indica a chegada de outra onda de frio. A tão almejada chuva teima em não vir e no vai-e-vem das avenidas iluminadas, uma janela está aberta a acompanhar os passos cegos de um mundo incapaz de modificar a si mesmo.
O amor é interpretado no sentido figurado, eu também o sou. E sei da impotência de encarar os telefones mudos, não ser digna de receber um cartão de Natal assinado. Eu brinco e brindo sozinha, deveria estar acostumada, mas nunca me comportarei como se gostasse da solidão. Necessária até certo ponto, porém descontrolada. Tudo está. Eu, sem dúvida, consequência.
De tudo o que sinto saudade, inclui o insuperável, o irreversível, o preço das palavras que nunca disse e todos pensam, todos aqueles que eu queria por perto sem ser correspondida.
Pode ser que o futuro seja bom. Note que não é uma previsão nem uma convicção.
Pode ser.
E pode ser que não.
Prefiro acreditar que sim, pode ser.
Que a tristeza encontre outra ocupação por uns tempos. Que eu também me renove e entenda que chegou a hora de deixar o passado ficar ali quietinho enquanto a passos contados aproximo-me da porta e vou para onde o vento me levar.
Sinto o peso das decisões que outros tomaram em meu lugar. Do mesmo jeito que tenho essa consciência, posso acreditar que o “novo ano” vai chegar por mais que ninguém se lembre de me desejar o que quer que seja por qualquer razão, desejarei ter força. Ficar de pé é sempre mais difícil quando as velas não estão ajustadas na direção do vento, onde sei que os anjos cantam em coro.
Estou sozinha e não vou aceitar que seja uma condição definitiva. Se nem a existência nesse plano é, nem a alegria, nem a adversidade, nem os amigos...
Por que a dor teria de persistir se a sua permanência foi mais nociva que didática e aproveitável?
Não parece justo.
E dificilmente a vida é.
As divagações não passam de distrações e eu penso seriamente em me desfazer dessas folhas em que escrevo sonhos bobos, que por assim serem, tornam a realidade mais intragável.
Eu entre duas sentenças, dois futuros, duas versões distintas de mim.
O passado, via de regra, escrito foi.
O presente não veio embrulhado em uma bela caixa dourada e enfeitada com um laço vermelho de cetim. Foi uma surpresa triste que apagou o sorriso e impediu o meu choro, só não me matou por dentro.
É por isso que digo bem alto que não quero ver ninguém nessa noite.
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