invisibilecoccinella Mary

"Duas almas coloridas se encontraram no corredor onde se situavam os provadores da boutique, se encararam por intermédio de um sorriso amistoso e se identificaram ao longo de uma conversa na qual tiveram a impressão de que conviviam havia anos. Eu ainda não conhecia as cores do arco-íris e, portanto, o toque foi muito mais profundo, muito mais significativo, muito mais intenso do que poderia pintar o acaso." Inês da Rosa Bragança Valadares nunca foi a mais convicta das heterossexuais, tampouco assim se definia, apenas era uma garota como outra qualquer que gostava de pandas, gatos, games e filmes fofos da Disney, música e estilo emo, tinha um melhor amigo e uma família estável. Com quase quinze anos ela ainda não tinha dado o primeiro beijo e o fato de ser BV não tirava o seu sono, embora ao seu redor as pressões viessem de todas as formas, discretas ou não tanto. Alheia a todas as expectativas, Inês seguia sua vida tranquila até tudo mudar num dia dos namorados. O clichê que faria muitas leitoras ávidas darem suspiros de emoção não fez o coração dela disparar. No entanto, gostando ou não do primeiro beijo e das transformações que um pedido de namoro trouxe, Inês se vê dentro delas e aquela sua vidinha até então parada, previsível e ditada por ordens superiores, ganha tonalidades até então impensadas. Entre o amor e o ódio, um oceano de segredos, uma ponte por cruzar e um casulo para a lagarta se descolar. Poderia ser só uma fase, um capricho adolescente, quiçá um rompante de rebeldia. Será?


LGBT+ 18+.

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Quinta-feira costumava ser o dia mais tedioso para o primeiro ano: das seis aulas, pelo menos quatro eram de exatas. Não à toa murmurei quando o alarme do celular programado para as seis horas me lembrou de que gostando ou não das piadas do Prof. Vadão, o encontro com ele nos dois primeiros horários já estava marcado. Fazia muito frio e sair da cama em dias como aquele era um teste de resistência para mim. Terceiro, era Dia dos Namorados.

Abro parênteses para afirmar sem afetação que nunca fui nenhuma odiadora feroz do Dia dos Namorados ao ponto de passar o dia chorando pelos cantos por estar solteira e amaldiçoando todos os casais do mundo, não estava desesperada em busca de um porque, para mim, doze de junho era uma data como qualquer outra no calendário.

Graça eu achava de ver Sidney, meu pai, se desdobrando em mil para agradar Leila, minha mãe. Era praxe mamãe receber uma cesta de café-da-manhã recheada de mimos. Sidney Bragança Valadares destoava dos esposos comuns que não eram lá muito bons com datas. Ai dele se esquecesse, Leila da Rosa Bragança Valadares era bem capaz de colocar o amado para dormir no sofá se ele porventura se esquecesse do aniversário de casamento deles.

Em dias assim era comum eu ir para a escola me perguntando se no futuro haveria de amar alguém tanto quanto minha mãe amava o meu pai. Eles tinham problemas e diferenças como qualquer outro casal, entretanto mesmo depois de tantos anos ainda se esforçavam para manter acesa a chama da paixão, sendo que muitos casais da mesma faixa etária deles estavam se divorciando ou com a relação em frangalhos, viviam de fachada.

Minha irmã Isis sempre teve um imã para atrair garotos e era previsível que aos dezesseis tivesse um namorado fixo, o Emerson. Minhas primas Jéssica e Juliana, com quem nós tínhamos um contato bastante intenso, apesar de seguirem firmemente os preceitos de uma religião conservadora, viviam pegando meninos em festas e moralizando quando estavam fora delas.

Como de costume, Leila deixava Isis e eu na porta do colégio. Minha irmã ia de encontro às amigas e eu ao meu único amigo, o Roberto Hiroshi. Ele sempre acordava mais cedo do que eu e me esperava.

— E aí, pandinha? — cumprimentou-me ele com um beijinho na bochecha. — Animada pra aula do Vadão? — provocou-me também fazendo troça com a minha pouca aptidão para as exatas, enquanto ele honrava o protótipo do oriental que tirava notas altas, tinha facilidade para matemática e era viciado em games.

— Animada, eu? — retruquei. — Até parece!

— Ah, vai! O Vadão é o cara, confesse... — brincou o meu melhor amigo, me dando soquinhos no braço enquanto já víamos meninas recebendo buquês enormes dos namorados.

— O cara? Só se for o cara mais mala sem alça da face da Terra! Pior que ele, só o Rubão...

Hiroshi me pareceu indiferente àquele frenesi da galera porque eu vou te contar uma coisa: o que teve de gente desesperada para ganhar presente não está escrito. A maioria desses namoros durou menos do que a bateria do meu amado e saudoso Sony w580i.

— Inês, o que você vai fazer hoje? — quis saber Hiroshi quando soou o sinal do último horário. Nós dobrávamos um corredor para descermos as escadarias em meio àquele mar de gente que era o nosso colégio na hora da saída.

— Eu? Ah, sei lá... — respondi pensando que gostava de dias frios e chuvosos como aquele para me enfiar debaixo dos cobertores e dormir.

― Se você não tiver nada pra fazer hoje de tarde, passa lá em casa pra gente jogar... — convidou ele que me deu um beijinho no rosto e disse que estava atrasado para o dentista.

Às vezes almoçávamos juntos no shopping quando eu precisava passar à tarde no colégio para as aulas de reforço em exatas ou então íamos para a casa um do outro, onde ele me ajudava a decifrar todo aquele estranho universo dos números, típico de melhores amigos. O pai do meu amigo era cardiologista e a mãe, neurocirurgiã. Os irmãos mais velhos estudavam medicina, alguns nem no Paraná moravam, iriam até o outro lado do mundo para ter o diploma de doutor. Os Hiroshis eram referência de bons médicos.

Dia dos Namorados e nada para mim era a mesma coisa, eu agradeci aos céus por estar frio, dei uma fuçada no Orkut, quem estava online no MSN e tirei um cochilo gostoso, algo que mamãe detestava porque queria que eu saísse do ninho e me parecesse mais com a Isis, minha irmã mais velha, que quando não estava de grude com o namorado, saía com as amigas.

Devia ser quase quatro horas da tarde quando meu celular vibrou em cima do travesseiro e interrompeu minha soneca prevista para durar vinte minutos que se estendeu por quase duas horas. Era uma mensagem de texto do Hiroshi me inquirindo se podia subir para jogarmos videogame e comermos bobagens calóricas. Eu disse a ele que não queria sair da cama porque estava fazendo muito frio.

"Anda pandinha, desce aí, tô te esperando".

E eu que estava de pijama azul, vesti por cima dele um roupão lilás de plush, meus queridos chinelos de pano e me arrastando até o elevador, desci até o térreo e encontrei Hiroshi segurando um buquê de rosas brancas e amarelas. Cumprimentei-o pensando que alguma coisa de mim ele estava escondendo. Eu nunca o vi falando de nenhuma garota para mim.

— Quase que eu preciso acionar o alarme de incêndio pra pandinha acordar... — Hiroshi fez graça do meu cabelo despenteado e da minha cara de sono.

— Que flores são essas?

Ele continuou calado.

— São pra Isis?

Ele fez que não com a cabeça.

— Se não são pra Isis, então pra quem são?

Ele olhou para mim e sorriu com os dentes encavalados.

— Pra você... — respondeu ele.

— Pra mim? De quem? Quem deixou isso aí na portaria? O porteiro não disse?

Hiroshi esperava que eu entendesse a indireta e eu sempre fui péssima em matéria de adivinhações.

— São pra você... — insistiu o garoto.

— Mas quem me daria flores?

— Eu, Inês.

— Você?

— E por que não?

Ele tomou minhas mãos e desandou a se declarar como se aquele fosse o último dia de sua vida e não houvesse nada a perder.

Aquela revelação me deixou atônita. Com razão. Eu não estava preparada nem para ouvir todas aquelas palavras, quanto mais para responder o que quer que fosse e fazer silêncio geraria um clima nada agradável, embora minha timidez pudesse servir de escudo.

Às vezes uma pessoa ou outra comentava que nós dois formaríamos um casal muito bonitinho e ficava nisso. Hiroshi era bastante tímido e naquele momento estava literalmente abrindo o coração para mim que em troca engoli em seco porque apesar do enorme carinho que sentia pela pessoa dele, não o enxergava como homem, apenas um bom e confiável amigo com quem podia sempre contar, que inclusive não tendo eu um namorado como a minha irmã na festa de quinze anos dela, ofereceu-se para dançar a valsa da debutante comigo dentro de três meses.

— Eu vou entender se você não souber o que dizer, está tudo bem... — declarou Hiroshi que no fundo estava desapontado, uma vez que também esperava ouvir um monte de coisas bonitas que eu não fui capaz de dizer porque todo aquele amor que ele sentia por mim não era recíproco. — Tudo o que eu quero é que você seja a minha namorada...

E então ele ajoelhou-se às minhas pantufas, tomou minha mão direita e fez o pedido, tirando de dentro do bolso da japona cinza uma caixinha vermelha de veludo onde havia um par de alianças.

— São lindas! — exclamei.

— Você merecia coisa melhor, mas por enquanto é o que eu posso te dar...

Hiroshi colocou a aliança mais fina no meu dedo anular da mão direita e eu, meio sem jeito, fiz o mesmo com ele que a todo custo queria um beijo. Eu nunca tinha beijado ninguém, sempre me esquivava das sabatinas das minhas primas, mostrava até certa irritação quando começavam a querer me arranjar namoradinhos, me constrangia toda e qualquer exposição da minha vida e que o fato de eu beijar ou não insuflasse polêmicas desnecessárias no meu ver, pelo menos, porque se for analisar bem friamente, que diferença faz na sua vida o que eu faço com a minha?

— Eu sou seu namorado! Eu guardei o meu beijo só para você!

Era muito fofo da parte dele ter essa consideração comigo, me tratar com aquela exclusividade que faria qualquer outra menina heterossexual se sentir nas nuvens. Mas o primeiro beijo não foi legal, não como nas novelas, nos filmes e nos livros em que a personagem descreve aquela batalha de línguas com um ardor tão grande que o desejo de um dia viver semelhante experiência permeia os pensamentos. Não teve aquele entrosamento entre as bocas, parecíamos dois tontos mexendo uma língua na outra sem foco. O coração dele batia mais forte, o meu continuava indiferente como se nem batesse.

Aquilo era terrível porque se eu era namorada dele, precisaria me acostumar a beijar na boca todos os dias e mais cedo ou mais tarde compartilhar com ele a minha virgindade porque a intimidade aumentaria e os desejos comuns à natureza humana desabrochariam.

— O primeiro beijo é assim mesmo... — comentou Hiroshi, dizendo que adorou, porque a maior expectativa era que o primeiro beijo dele fosse comigo, mas eu queria dizer que não, que meu desejo era de devolver aquela aliança e não seguir adiante com aquela farsa.

Convidei-o para subir e comer um lanchinho, ele topou de prontidão e quando eu fui caminhando na frente para chamar o elevador, ouvi uma reprimenda:

— Ei, qual é?

Ele se colocou à minha frente e me deu a mão.

— Assim está melhor!

Sentados no sofá da sala de estar nos beijamos mais algumas vezes por insistência dele que sussurrando me aconselhava a soltar mais a língua e relaxar porque de fato o meu então namorado tomou posse da situação, sabia como segurar minha cabeça, estava muito menos tenso do que antes de se declarar. Quando meus pais chegaram do escritório e nos encontraram juntos, perguntaram sobre os "namoradinhos" e o Hiroshi respondeu que papai era seu sogro, assim numa boa, sem nenhum receio.

Mamãe sorriu de alívio.


*****


N/A: Se você gostou do capítulo, deixe uma estrelinha para eu saber. =)

N/A 2: Como mencionei nos avisos, nos capítulos mais adiante haverá cenas abordando o relacionamento abusivo vivido pela Inês, a nossa Pandinha, portanto se você sofreu ou ainda está tentando se reerguer de um relacionamento abusivo e porventura o texto ativar algum gatilho, não há problema algum em pular as cenas mais pesadas, porém se quiser desabafar, pode me procurar. Também já passei por um relacionamento abusivo e admito que muitos traços do Hiroshi foram tirados desse rapaz, a única diferença é que ele me infernizou na internet, mas eu quis mostrar que justamente muitos desses meninos que se escondem atrás dessa pecha de nerds, antissociais e incompreendidos podem não ser os fofos dos livros de ficção adolescente e sim nerds embustes.

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8 марта 2019 г. 2:15 2 Отчет Добавить Подписаться
8
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Mariana Diniz Mariana Diniz
eu tô apaixonada nesse livro, e eu comecei agr

  • Mary Mary
    Oieee! Seja bem-vinda. Tomara que você goste. Beijos! =) May 05, 2021, 16:10
~

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