Hinata
— Coluna reta, vossa majestade!— Philip censurou usando aquela vareta cujo nome eu nunca lembro para bater na mesinha.— Peito para fora, postura ereta, queixo erguido, o senhor tem que estar o mais elegante possível para o baile!
— Menos Philip, essa roupa é ridícula e está me matando de tanto peso.— reclamei olhando de novo os diversos adornos que enfeitavam minhas vestimentas.
— Vamos precisar apertar mais nos quadris para marcar sua cintura.— Jacques, meu costureiro oficial meditou me ignorando.
— O que acha de colocarmos uma espada no cinto? Daria um ar de poder e perigo.— Philip apontou.
— Minha combinação preferida.— o moreno riu com uma agulha na boca.
Respirei fundo, me troquei para ir ao jardim e deixei os dois conversando. O baile seria amanhã. Seria uma celebração para me apresentar formalmente para a sociedade como um jovem adulto, também era meu aniversário de dezesseis anos, não que eu estivesse muito animado para tal evento, já participei de bailes o suficiente para saber que era uma perda de tempo. A coisa toda era muito artificial, todos só queriam se mostrar, vestiam suas melhores roupas para passar a noite falando de como tinham posses, como suas filhas eram prendadas e estavam na idade de casar e principalmente das vestimentas das outras pessoas. Falando sério, quem liga para o vestido da Lady Eldymore? A maior parte nem sabe qual a cor dele, ela mesma só tem uma vaga ideia por causa da etiqueta dentro dele e olha que ela já tem trinta e três anos.
O tryst não tem uma idade certa para acontecer. Tem crianças que já tiveram, idosos que ainda vão ter e pessoas que podem nunca achar-lo. A única certeza é que ele pode acontecer a qualquer momento, ou não acontecer, no caso de sua alma gêmea ter tragicamente morrido, o maior medo de grande parte da população. Eu realmente não me importo com isso. Apesar de todo mundo dizer que é mágico, indescritível e que uma vez que você encontra seu parceiro ou parceira é praticamente impossível deixá-lo, eu não acho essas coisas.
Meu pai e minha mãe não são alma gêmeas ideais, ela nunca teve seu tryst e ele já, mas não foi com ela e apesar de lentamente perder a habilidade de vê as cores, prefere ficar com a esposa a ir atrás da outra. De qualquer modo os dois são felizes e para mim isso é o que realmente importa. Além do que meu casamento com a Duquesa de Blubleu já está marcado e não é uma coisa insignificante como o tryst que vai me fazer mudar o destino do meu reino. Falando sério, não tem nada demais em vê cores, passei toda a minha vida vendo tudo em preto e branco e algo assim não muda nada.
— Onii-chan!— Natsu pula me abraçando.— Gostou do meu vestido para o baile?— ela gira para me mostrar.— Fui eu que escolhi!
— Uau, é realmente bonito.— falei admirado.
— Suga-chan me disse que é rosa e combina com meus olhos.— ela sorriu grande.— Rosa é a cor de uma princesa, certo? Tenho certeza que quando eu puder vê será minha cor favorita!
— Se você diz.— dei de ombros.— Realmente não me importo com isso.
— Onii-chan! Você não quer vê as cores? Não quer encontrar sua outra metade?— Ela suspirou alto sonhadora.
— Talvez, não sei, não ligo muito de verdade, sou feliz do jeito que estou agora.
— Pois eu quero muito encontrar. Quero poder escolher minhas próprias roupas e vê qual a cor do meu cabelo, quero saber a diferença entre vermelho e azul e verde e saber qual é qual e quero todos aqueles sentimentos que Suga-san fala, ele parece tão feliz quando fala de Dai-chan, é uma pessoa totalmente diferente de como era antes de conhecê-lo!
Minha irmã só tinha quatorze anos, mas era uma romântica nata, seu maior sonho era encontrar seu soulmate.
— Tudo bem, Natsu, já entendi que você mal pode esperar para achar seu parceiro, mas é muito nova para isso, espere pelo menos mais uns quatro anos.
— O amor não tem idade, onii-chan, e nem espera ninguém. Minha alma gêmea está por aí agora provavelmente me procurando, o destino vai nos juntar muito em breve, talvez até nesse baile.— ela falou animada.— Tenho que está linda para encontrar o meu verdadeiro amor, tomara que ele venha galopando em um cavalo branco.
— O cavalo só vai poder ser branco ou preto para você, Natsu, não tem para onde correr
— Pare de estragar meus sonhos.— ela me deu língua.— E antes que eu esqueça, to-chan está te chamando na sala dele, algo sobre a nova guarda real.
Balançei a cabeça e segui para a sala real que meu pai ficava.
— Filho, está atrasado, sente-se.— indicou a poltrona.
— Desculpe.— fiz uma reverência e obedeci.
Meu pai assumia muito bem o papel de rei, ele era imponente, poderoso e acima de tudo rígido. Sempre dizia que antes de pai era comandante daquela nação e como tal era seu dever assegurar que todos os seus súditos estariam seguros em toda a extensão da palavra segurança.
— Como você sabe o baile será amanhã.— Acenei concordando.— Também será a ocasião perfeita para você pedir oficialmente a mão a Duquesa de Blubleu em casamento.
— O que?— perguntei chocado.— Pensei que seria daqui dois anos, na minha coroação.
— As coisas mudaram, o duque está às portas da morte e Blubleu pode sofrer um ataque se somente a duquesa ficar no poder, sua coroação será adiantada e como meu herdeiro já deveria está preparado para esse tipo de coisa.
Apertei minhas mãos em punho. Era sempre assim com meu pai.
— Sim, vossa majestade.
— Muito bem, agora trataremos de outro assunto. A guarda real tem que ser renovada de tempos em tempos e como herdeiro do reino você sofre perigo constante, sendo assim a elite da elite deve protegê-lo. Me acompanhe.— ele levantou da sua cadeira, ajeitou seu manto e se dirigiu até o pátio real, onde alguns dos nossos soldados treinavam no momento.
— Meu rei, meu príncipe, é um prazer ter-los aqui.— o capitão saudou fazendo uma reverência logo que chegamos.
— Capitão Sawamura.— O rei saudou.— É bom vê que nossos guerreiros estão em forma.
Daichi Sawamura era o capitão mais jovem a ter o posto, apesar da idade, dezoito anos, era um excelente estrategista e sabia como organizar toda a guarda de forma a trazer o melhor de cada um a tona. Ele também era o soulmate do principal servo e amigo da minha irmã.
— Fazemos o nosso melhor.— ele ficou em guarda.— Perdoe minha ousadia, mas o que lhes trás aqui hoje?
— Quero apresentar o príncipe ao seu novo guarda.
— Fala do que conseguiu as mais altas pontuações nos testes?
— Esse mesmo, ouvi muitas coisas boas deles, seu histórico é impecável, suas habilidades são afiadas e além de um guerreiro exemplar, consegue sair de situações complicadas num instante. É um guarda perfeito para tomar conta do meu filho.
— Ele ainda é um pouco jovem e tem um gênio difícil, sua realeza, talvez não seja a melhor escolha para cuidar do príncipe Hinata.
— Eles tem a mesma idade e assim é até melhor para se entenderem, visto o príncipe vivia se queixando do antecessor.— meu rosto ficou vermelho.
A verdade era que meu guarda-costas anterior era um velho de cinquenta anos que não conseguia mais me acompanhar. Um belo dia eu estava em uma das minhas corridas matinais e ele simplesmente teve um ataque cardíaco pelo esforço. Pode-se dizer que eu era um pouquinho ativo demais.
— Se sua majestade insiste.— ele fez outra reverência.— Tobio está no meio de um combate agora, mas posso chamá-lo se assim desejar.
— Não, não.— meu pai dispensou.— Desejo vê-lo em ação, nos leve até lá.
— Como quiser.— o capitão respondeu e pediu para ser seguido.
Chegamos até uma área rodeada de soldados que abriam caminho conforme passávamos. No centro da roda duas figuras se enfrentavam com suas espadas. A luta estava acirrada, o mais musculoso parecia está com a vantagem, ele avançava contra o outro que recuou dois passos para se defender. O tinlintar das espadas soava alto enquanto o restante guardas observavam a luta torcendo por seus respectivos lados. O guarda que parecia está com a vantagem atacou novamente e quando pensei que ele ganharia o jogo simplesmente virou. Foi tão rápido que nem consegui registrar direito o que aconteceu. A figura que antes perdia derrubou o outro com uma rasteira e o desarmou em segundos apontando sua espada para a garganta do companheiro e vencendo a luta. Todos vibraram em animação e o vencedor ajudou o outro a se levantar.
— Tobio!— o capitão chamou e imediatamente o cara que tinha vencido se virou para nós, afastando o cabelo suado do rosto para enxergar melhor. Foi como um soco no estômago.— Venha aqui.
E ele veio andando e olhando para todos nós fixamente. Minha vontade era sair correndo. Os olhos daquele maldito tinham a primeira e mais linda cor que eu já tinha visto em toda a minha vida.
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