raquelquintal Raquel Jardim

O primeiro amor é uma das formas mais bonitas de amar. Os sonhos infantis, promessas de amor eterno que desejamos cumprir mais que tudo. Beijos que arrepiam a nuca e ressoam na alma. O mais bonito amor, visto pelos olhos mais inocentes que já tivemos. Mas ele acaba, não? Tão rápido quanto o verão, a infância, a adolescência e as antigas expectativas. Ao olhar para trás, o primeiro amor parece um acaso. Uma Delilah é um completo acaso. Mas o mais surpreendente nos primeiros amores é que eles continuam, envoltos por memórias de verões passados. Os olhos verdes oblíquos ficam como uma marca. Para o seu bem ou mal, seu primeiro amor - sua Delilah - fica para sempre, mesmo que num eco. Sua Delilah te deu seu primeiro olhar sobre o amor e te ensinou a colocar os pés na pista. 'Delilah: Meu Primeiro Amor', é apenas um conjunto de histórias esquecidas sobre o primeiro amor de alguém. "É um tipo diferente de perigo E meus pés estão rodando Nunca soube que eu era uma dançarina Até Delilah me mostrar"


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Trevo de Quatro Folhas


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Em um dia qualquer, no verão, estamos caminhando de mãos dadas pela calçada, usando roupas leves e tomando sorvete.

— Uma coisa que você nunca me contou - diz ela, se virando para mim -, foi sobre o seu primeiro amor.

Ah, meu primeiro amor.

Foi como um dia de verão, como esse. Um lembrança gostosa da infância, como uma ida à praia. As primeiras borboletas no estômago. O primeiro beijo. Ah...

Solto minha mão da dela, e a levo ao meu pescoço, tocando o pequeno pingente em formato de um trevo de quatro folhas.

Delilah.

🍀🍀🍀

Foi num primeiro dia de aula qualquer, quando você apareceu. Um pouco diferente de mim; extrovertida e alegre, você veio.

— Oi, meu nome é Delilah. — você disse, estendendo a mão no ar. Seus olhos cor de mel me fitavam, brilhantes. Seu cabelo castanho preso em um rabo de cavalo, sobre o ombro. Seu colar com um trevo de quatro folhas balançava em seu pescoço. Naquele dia, eu pensei no quanto você era bonita.

Apertei sua mão de volta.

— Delilah, que nome bonito. — Soltamos nossas mãos, e você sorriu para mim pela primeira vez. Tive vontade de tocar seus lábios com os dedos.

A partir desse dia, nos tornamos amigas. Fazíamos tudo juntas, falávamos sobre coisas que tínhamos vergonha de dizer para os outros, cochichávamos segredos que só nós sabíamos. Me sentia como uma menina de 10 anos, mas a sensação era maravilhosa.

Diferente das amigas que já tivera, nós éramos muito grudadas. Meu estômago borbulhava quando você colocava a cabeça sobre meu ombro, até se acostumar com a sensação. Você desenhava coisas que nunca soube o que eram no meu braço com o dedo. Me acostumei com seu perfume.

Convivemos assim por alguns meses, até o início do inverno. Em um dia qualquer do mês, havia aula. Chovia muito; a água da chuva descia pelo meio-fio como uma cachoeira.

Corri para o ponto de ônibus com você, como fazíamos todos os dias. Eu esperava pelo ônibus com você, até que ele viesse. Depois, ligava para o meu pai vir me buscar. Naquele dia, sentamos no ponto, encolhidas, para que a chuva não respingasse em nossas roupas. Esperamos 10, 15, 40 minutos.

Seu ônibus não veio.

Seus pais trabalhavam até tarde, e nenhum deles poderia te buscar.

— Mano, o que eu vou fazer agora? — disse desesperada, enfiando o rosto nas mãos. — A escola fecha às três, e meus pais só podem me buscar às oito...

— Hey, não se preocupa — respondi, abaixando suas mãos —, eu ligo pra minha mãe e peço pra você ir pra casa comigo.

Você sorriu e me deu um abraço apertado. Consegui sentir o pingente, que costumava ficar debaixo da sua blusa, roçando no meu peito, gelado. Depois do abraço, você continuou sorrindo.

— Obrigada. — Você me olhou com os seus olhos-mel, colocando a mão sobre a minha. Tinha vontade de tocar seus lábios, pela milésima vez. Dessa vez, me perguntei se teriam sabor de mel, assim como seus olhos...

Fui aproximando meu rosto do seu cada vez mais, sem perceber. Você continuava me olhando, sorrindo...

Meu celular começou a tocar.

— Pai? — disse, o atendendo. — Você já está vindo? Desculpa não ter te ligado. A Delilah pode ir com a gente? O ônibus dela não passou e os pais só podem buscar ela à noite. Aham. Eu ligo pra mãe. Ok, busca a gente no ponto de ônibus. Beijo, tchau.

Desliguei o telefone, e me virei para você. Estava sentada de pernas cruzadas, virada para frente, observando o céu enquanto girava o pingente de seu colar entre os dedos. Foi nesse momento que um sino tocou dentro da minha cabeça.

Você era mais do que uma amiga para mim, Delilah. Era um amor.

Você se virou e sorriu para mim, e depois voltou a encarar o céu. Eu liguei para a minha mãe, que deixou a deixou ir para casa.

O que mais a gente pode fazer, filha? Não podemos deixar ela na rua. Passa um pano na casa quando chegar, por favor. Ela é vi-si-ta.

Ok, mãe. Ok.

Meu pai nos buscou no ponto de ônibus em pouco mais de dez minutos. Entramos correndo no carro, amontoadas uma em cima da outra. Durante o caminho para casa, meu pai conversou sobre assuntos sem sentido que você pareceu gostar. Não é todo mundo que aguenta ele. Enquanto conversavam, eu olhava para a janela, finalmente, ligando os pontos sobre nós duas, Delilah. As sensações no estômago com você por perto. A vontade de tocar sua boca. A vontade de gritar seu nome aos sete ventos. Delilah, Delilah, Delilah...

Chegamos em meu apartamento rápido, e tive vergonha de apresentá-lo a você. Ele já era pequeno, e comparado com a casa que você vivia, parecia minúsculo. Mas você pareceu gostar.

Era sexta-feira, o que significava que meu pai iria trabalhar às duas e meia da tarde, talvez três. Minha mãe só chegaria em casa pelas sete da noite, e meu pai, depois das dez. Seus pais te viriam te buscar às oito, então teríamos mais de quatro horas só para nós.

— Nossa, seu quarto é lindo! — você disse, quando entramos no meu quarto. Ele deveria ser três vezes menor que o seu. As paredes eram amarelas. — Sempre quis pintar as paredes do meu quarto, mas meus pais nunca deixaram...

— Obrigada, Lilah. Mas vem aqui, eu preciso da sua ajuda pra achar uma roupa que te sirva.

Você olhou para mim, confusa.

— Roupa? Pra quê?

— Você não achou que ia ficar com esse uniforme a tarde toda, achou? — digo, apontando para a calça de nylon e a blusa de algodão. — Minha mãe me mataria se eu deixasse. Hey, tenta isso. — Joguei uma regata que já estava pequena em mim e uma lycra preta. Você era um pouco menor do que eu, então serviria bem.

Fechei a porta do quarto caso meu pai passasse pelo corredor, e você começou a tirar a blusa. Agora que sabia que gostava de ti, virei para o lado, envergonhada, como se fosse uma trapaça te ver sem roupa sem você saber o que eu pensava. Fingi que estava procurando uma roupa para mim, e peguei um short antigo e uma camiseta. Comecei a trocar de roupa rápido, de costas para você, esperando que não puxasse nenhum assunto.

— Hey, você está estranha desde que saímos do ponto de ônibus. Mais calada que o costume. — Você disse, começando a de aproximar de mim.

— Ahn? Que nada, deve ser impressão sua. — rebati rápido, ainda de costas, colocando o short. Comecei a tirar a blusa, e você chegou mais perto. Meu coração começou a acelerar. Sentia meu rosto queimando.

— Olha pra mim. Qual o motivo dessa vergonha toda? — Pelo seu tom de voz, eu tinha certeza que estava sorrindo.

Me virei, e você estava a poucos centímetros de mim. Conseguia sentir a sua respiração, e poderíamos nos beijar apenas dando um passo.

— Doeu muito se virar? — disse, com a sobrancelha arqueada. Você foi chegando seu rosto cada vez mais perto de mim, os olhos me encarando, a boca se abrindo...

E depois se afastou.

Me lembro muito bem, Delilah, que você gostava de dançar. De brincar um pouco com a presa, antes de matá-la. Adorava isso em você, apesar de, às vezes me deixar com raiva.

Você se sentou na cama, e ficou olhando para tudo, menos para mim.

— Nossa... — disse, com um sorriso malicioso. — Eu realmente gostaria de poder pintar meu quarto.


*-*-*


Passamos a tarde inteira vendo séries na televisão do quarto dos meus pais; assistir na sala era desconfortável, pelo sofá não ficar virado para a televisão. Estávamos sentadas na cama, quase deitadas, você com a cabeça apoiada em meu peito. Provavelmente, sentindo as batidas aceleradas do meu coração.

Uma hora, você parou de assistir, e começou a desenhar pelo meu braço com o indicador, como sempre fazia, até se cansar. Você soltou um grande suspiro e segurou minha mão. Deitou a cabeça ainda mais em mim, e balançava nossas mãos de um lado ao outro.

Estática, eu não sabia o que fazer. Nunca tinha beijado na vida, nem mesmo dado em cima de alguém. Mas não era tão sonsa assim. Coloquei a mão livre na sua cintura e te puxei pra perto.

Seu pingente encostava em mim de novo, e você começou a me encarar. Seus lábios se abriram no seu típico sorriso. Você se aproximou de mim, olhando para a minha boca, para os meus olhos, e depois para a boca de novo. Coloquei uma mão atrás de sua cabeça e a puxei.

Nossos lábios se encostaram de leve, fazendo meu corpo estremecer. Você empurrou sua língua para minha boca, e eu fiz o mesmo. Era quente, uma das melhores sensações que já tivera na vida.

E não é que seus lábios tinham mesmo um gosto doce?

Não sei por quanto tempo ficamos daquele jeito, mas, no que pareceu um piscar de olhos, minha mãe chegou. Depois, os seus pais.

— Vou levar suas roupas para casa. — disse, como sempre, sorrindo. Já estava cruzando a porta do apartamento, junto da mãe. — Segunda-feira eu te entrego elas lavadas, certo?

Você agia de como se nada tivesse acontecido. Fiquei parada, apenas te observando cruzar o corredor, tentando descobrir se aquela era uma de suas danças, ou não.

— OK... Até Segunda, Delilah. — suspirei enquanto você descia as escadas.

— Até! — respondeu, gritando. Sua voz ecoou pelo corredor por alguns momentos, e depois, no meu coração.


🍀🍀🍀


Mas eu não vou descrever seus olhos cor de mel, Delilah. Não direi para ela que o colar que carrego em meu pescoço foi o seu adeus. Não descreverei cada pinta do seu rosto queimado. Não, não. Essas são lembranças apenas minhas. Ou melhor, nossas.

— Foi quando eu tinha 14 anos. — começo, me segurando para não esboçar um sorriso de orelha à orelha. — Nós não chegamos a namorar, sabíamos que seria complicado demais para ambas. Isso foi no oitavo ano. Dois anos depois ela mudou de escola. Ainda tenho o celular dela. Às vezes, ela me liga. Acabamos amigas.

— Nossa, com 14 anos? - indaga. — Foi há muito tempo, então.

Há dez anos, Delilah. Há dez anos nos conhecíamos, nos amávamos, e nos separávamos, de certa forma. Mas me lembro, me lembro como se fosse ontem.

"Ô, meu bem', você disse, alguns dias antes de sua partida. 'você sabe como isso seria para nós. Não vai dar certo, você sabe. Então, tome isto'. Você tirou seu colar do pescoço, e o prendeu ao meu. 'É para dar sorte. Nós duas vamos precisar, não é?"

Caso eu me concentre, ainda consigo ouvir seu riso ecoando dentro do meu coração. Consigo escutar música que você me ensinou a dançar. Ainda me lembro de seu sorriso, o lugar de cada dente, a forma como seus lábios se dobram. Me diga, Delilah, você sorria apenas para mim?

— Realmente, faz muito tempo.


🍀🍀🍀

20 октября 2019 г. 22:21 0 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Raquel Jardim Raquel Jardim, 15. Belo Horizonte, Minas. Escrevo desde que me entendo por gente, mas sei que tenho muito a melhorar. Apaixonada por romance e fantasia! Sempre aberta a novas amizades 💕

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