nolongerstella 96hime

Quando Tsuki se sente triste, se enfia em algum canto onde ninguém o verá. Se fosse só isso ninguém o acharia, né; mas acontece que nunca era um canto qualquer – por saber disso é que eu sempre o encontrava.


Фанфикшн Всех возростов.

#slash #haikyuu #fluffy #yamaguchi tadashi #tsukishima #tsukiyama
Короткий рассказ
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Pontos Cintilantes

Que eu sempre conseguia encontra-lo, era o tipo de coisa que os adultos falavam impressionados quando nós éramos crianças e o Tsuki fugia para algum canto, longe de tudo e de todos que se aproximassem. Acho que é um tipo de mania dele, porque sozinho, de fones, ao menos as ansiedades corriqueiras talvez não importem tanto; como se feito vento a música pudesse soprar toda dor para longe até que sobrassem apenas coisas bonitas. Aí eu o encontrava: encolhido, perdido em si mesmo e em música.

Acontece que estamos nas férias de verão e para ser sincero eu não sei mais o que fazer, porque já contei o número de madeiras no teto do meu quarto umas dez vezes e céus, está tão calor... tem um ventilador na minha cara e eu acho que isso não faz muito bem. Às vezes sinto as minhas narinas e garganta queimarem um pouco por causa do vento ou do ar seco, sei lá, então me viro e volto a contar as madeiras até a janela, onde ainda está o teru teru bozu que ele fez na aula de artes e me deu quando éramos meninos. Apesar do tempo estar ótimo (se entendermos como ótimo um calor do inferno) ele continua lá. Talvez ajude a tornar o clima menos insuportável.

No fim, acho que de nada vale férias se eu acabo me sentindo apenas mais triste e mais sozinho. Pode ser um equívoco resumir todas as minhas inconstâncias em duas palavrinhas assim, mas não sou um cara muito complicado; ou pelo menos o Tsuki consegue me descomplicar. Quando éramos crianças ele me ensinou que tem um botão de desliga para certas coisas, tipo um switchnos sentimentos que, quando desativado, faz tudo doer um pouco menos. Agora que paro para pensar, acho que nunca consegui usá-lo corretamente e receio que ele tem o usado muito. Isso não faz bem, gostaria de dizer, mas nessas horas não acho que palavras sejam fortes o suficiente para mudar como alguém pensa, não importa o quão bem as escolhamos.

Bem, nunca contei pra ninguém (nem pro Tsuki) como eu o encontrava, mas a verdade é que era bem fácil. Quando ele se sente triste, se enfia em algum canto onde ninguém o verá. Se fosse só isso ninguém o acharia, né; mas acontece que nunca era um canto qualquer. Seus esconderijos preferidos sempre envolviam locais que em dados momentos eram repletos de gente, mas que, quando ele se escondia, não havia ninguém. No fundamental era uma árvore grande, uma figueira, eu acho. Nela tinha um balanço de pneu onde todas as crianças pequenas brincavam no recreio. Quando os pirralhos não estavam por lá, Tsuki subia até onde conseguia e ficava no alto por horas se as professoras não dessem falta dele, o que era comum, já que ele não falava muito. Nessa época eu ainda não o conhecia e o encontrei por acaso. Lembro como os raios de sol faziam seu caminho por entre as folhas lá do alto da árvore e quando ventava era lindo: na grama se refletia a luz em formas arredondadas, instáveis a depender de como as folhas se moviam, e aquela foi a primeira vez que eu pensei que as sombras eram bonitas também; apesar do meu medo de escuro. Aí vi a sombra de alguém misturada às folhas na grama, olhei para cima e ele estava lá, sentado em um galho enquanto lia um livro. Eu o achei muito legal, mas não tive coragem de falar com ele.

Mesmo depois de começarmos a andarmos juntos, acho que sempre foi assim: ele no alto e eu o admirando de baixo, capaz apenas de alcançar sua sombra. Mas sabe, ultimamente sinto que posso começar a escalar aquela árvore também, que eu também posso sentar num galho ao lado do Tsuki: ele pode ficar lendo daquele jeito calmo e indiferente de sempre enquanto eu me contento em ouvir o som das folhas sopradas pelo vento com cheiro de verão. Ah... como eu queria que fosse simples assim...

Sobre o segredo do Tsuki, acho que talvez nem ele mesmo tenha percebido sua preferência por esses lugares frequentemente movimentados. Eu os chamo de pontos cintilantes. Neles há algo que parece reluzir, não sei se por causa das pessoas que por ali passaram ou outra coisa; mas são espaços cheios de vida, mesmo vazios. Como se ele não quisesse ficar sozinho de verdade, os procura instintivamente: um lugar sem ninguém, ainda assim capaz de o livrar dos desassossegos como num abraço de mentira...

Eu queria ver ele, então fui na casa dele mais cedo. Levei um jogo novo para matarmos o tempo, mas não é como se precisássemos de alguma desculpa para aproveitarmos um pouco a companhia do outro. Só estar com ele já era o suficiente para mim, fosse jogando, lendo, conversando, dormindo ou mesmo não fazendo nada; eu poderia ficar apenas olhando para ele: para a pele clara que parece mais rosada quando ele pega sol, para os olhos do meu tom preferido entre o castanho e o dourado, para os lábios finos que costumam rachar facilmente e para os dedos dele, sempre machucados pelos bloqueios, encaixando os óculos sobre o nariz no gesto mais simples do mundo, mas que sempre prendia meu olhar. Não lembro quando comecei a prestar tanta atenção nele, só sei que não pretendo parar tão cedo, afinal, parece que não importa o quanto eu o olhe, ainda há muitas coisas que não entendo e isso me entristece. Sabe, não ser capaz de saber mais sobre uma pessoa importante para você é horrível.

Então fui vê-lo, mas ele não estava. Voltei pra casa e aqui estou, no meu quarto sem graça, sozinho no mormaço do verão enquanto tudo que dá para ouvir é o ventilador barulhento na minha cara e alguma cigarra teimosa, chorando por quem não tem coragem. Talvez eu tenha que sair por aí e encontrá-lo mais uma vez. Se ele se escondeu é por que não quer ser achado, né? Espero que não fique bravo comigo, mas eu sou egoísta a ponto de procura-lo apenas porque eu quero, porque estou com saudades; simples assim.

Fora de casa as coisas parecem tão tediosas quanto dentro: o calor é tenebroso e minha única companhia parece ser os insetos e algum gato que, vagando pelos muros, não faria questão de virar a cara pra mim mesmo se eu chamasse. As casas neste bairro costumam ser pequenas, pertinho umas das outras; a maioria com roupas penduradas que certamente agregariam um clima dramático à paisagem se balançassem um pouco com o vento; mas não há vento, então parece tudo estático – quase como se eu estivesse sozinho no mundo. O Tsuki provavelmente diria que estou exagerando, mas eu odeio me sentir assim, sabe, abandonado... Falando nele, tenho algumas ideias de onde ele possa estar. Não bolei nenhum plano nem nada, então acho que vagar pelos pontos cintilantes das redondezas até o encontrar é a melhor alternativa mesmo.

Assim, o procurei pela margem do rio, límpido, apesar de refletir agora um céu mais acinzentado do que azul, e não o vi. Andei pelo parque, especialmente nas partes mais longes da trilha, onde o clima é mais ameno e sempre há pássaros cantando, mas ele não estava lá também. Aí fui numa pracinha, a mesma de quando ele afugentou aqueles pirralhos que não saiam do meu pé há alguns anos, mas ela estava deserta, com exceção de dois meninos corajosos o suficiente para brincarem longe de um ar condicionado. Eles estavam murmurando alguma coisa, muito sérios, então me aproximei e perguntei se havia acontecido algo.

“A minha bola foi pra dentro do escorregador, mas... tá difícil de pegar...” O menino que parecia mais velho respondeu um pouco receoso, enquanto o outro tentava se esconder. O tal escorregador era um castelo: na parte de baixo havia uma entrada grande e lá dentro provavelmente deveria ter a escada para o escorregador em si. Era um brinquedo dois em um, mas não entendi o problema em buscar a bola.

“É que tem um monstro lá. Um muito assustador.” O menor respondeu antes que eu perguntasse. Ele estava segurando com força a camisa do menino que falou primeiro, como se tentasse não se separar dele de maneira alguma, e desse sentimento eu entendo tanto que o reconheci logo de cara. Enfim, fui verificar o tal monstro e só quis sorrir quando vi do que se tratava, mas a vontade logo passou.

Tsuki estava sentado no canto – os pés dele quase tocando a bola que os meninos tanto tinham medo de pegar. Do jeito que ele abraçava as pernas não dava para ver o rosto dele, apoiado contra os joelhos; dava um pressentimento ruim. Mesmo de fones e com a cabeça baixa, Tsuki provavelmente tinha me percebido, só não queria me olhar ainda, então sentei ao lado dele até que ele quisesse. Devolvi a bola para os garotos e eles logo saíram correndo – parecia que ia chover ou algo parecido, não fiz questão de os ouvir.

O lugar era todo de plástico, pequeno, mas caberia umas quatro pessoas sentadas. Não era tão abafado quanto poderia parecer à primeira vista, inclusive acho que era até mais confortável do que o meu quarto, apesar de, ali, não ter nada além de mim e do Tsuki. Talvez nós dois fossemos o suficiente, ou algo do tipo. Pode soar clichê, mas enquanto gente for gente estaremos fadados a repetir os mesmos clichês, e não penso que isso seja particularmente bom ou ruim; é só como as coisas são.

Está tudo bem pra mim; o problema é que Tsuki parece solitário. Nessas horas acho que ele se assemelha mais com Saturno do que com Lua, sabe, um planeta inteiro ao invés de um satélite sem luz. Saturno pode ser meio triste, mas ainda é repleto de melodia... – foi o que eu lhe disse na primeira vez que fomos a um observatório e ele apenas riu de mim. Fiquei com um pouco de vergonha por de repente falar desse tipo de estranheza que com certeza todo mundo alimenta no mundo das ideias, mas nunca admite em voz alta; só que ele apenas sorriu – pediu para ouvir mais das minhas teorias astronômicas, mesmo que das estrelas ele soubesse mais do que eu.

Quanto tempo vai ficar aqui?” De repente a voz dele ecoou pelas paredes de plástico, apesar de abafada, e eu me virei para olhá-lo. Tsuki não havia levantado a cabeça, ainda assim pude sentir o mesmo arrepio de quando sou vítima do olhar agridoce dele – de quando as emoções que ele tanto contém escapam-no pelos detalhes mais banais; pelos gestos, olhares, suspiros... dessa vez escaparam pela voz.

O quanto você quiser.” O respondi, e então ele quis me olhar. Estava sem os óculos – os olhos inchados e o rosto amassado como se tivesse recém acordado. Pode se dizer que era o que acontecera, de certa forma, e então, como se fosse a melhor resposta que eu tivesse, o abracei.

Você me achou de novo.” Pude sentir o calor da voz dele no meu pescoço; os cabelos dele na minha bochecha quando ele cruzou os braços pelo meu corpo e pela primeira vez desde que o verão começou eu não tive vontade de reclamar do calor. Quis perguntar para ele o motivo das fugas, mas acho que seria o mesmo que perguntar o porquê de a terra girar. Até que ele possa dividir seus problemas comigo, só posso o abraçar, o beijar... o encontrar. Não sei se isso é o suficiente, mas é tudo o que eu tenho, de verdade.

De qualquer forma, acho que minhas teorias não importam tanto quando o tenho nos braços.

26 февраля 2018 г. 6:01 0 Отчет Добавить Подписаться
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96hime uma fujoshi sem salvação que propaga sofrimento através de personagens 2D

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