u16697447221669744722 Sérgio Pires

Muitos dos hábitos e costumes que aprendemos em nossas vidas tem origens que não conhecemos, especialmente festas como o Natal! Você já pendurou a guirlanda em sua porta? Não? Leia este conto primeiro...


Триллер Всех возростов.
Короткий рассказ
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Não se esqueça da guirlanda!

Patrick e Gwen Packer mudaram-se para a gelada Fairbanks, no Alaska. Ele, um oficial da Força Aérea dos Estados Unidos, vinha assumir um posto na base Eielson, somente por isso saíram da sua pequena Laurel, no Mississippi.


Mudanças sempre são trabalhosas, especialmente quando a mudança é para outro país, com tudo tão diferente da sua cidade natal, o clima quente e os bairros arborizados agora dão lugar a casas com aquecimento e o branco da neve decorando ruas, copas de árvores e telhados, o reflexo era tão intenso que ofuscava os olhos de quem não está acostumado.


As boas-vindas à base foram calorosas, ainda que estivesse os termômetros estavam marcando 40 graus abaixo de zero, da mesma maneira, as mulheres da nova vizinhança visitaram Gwen e as crianças, o casal tinha dois filhos: Mark, de 13 anos e Tiffany, de 10.


Gwen se sentiu grata com tantas gentilezas recebidas pelas vizinhas, em sua maioria esposas dos integrantes da base. Muito sorridentes entre as conversas, bolos e chás, as novas vizinhas se colocaram a disposição para qualquer coisa, porém, uma dentre elas se mantinha séria, sem sorrir, apenas ficava observando cada canto da casa dos Packer.


Na hora da despedida, todas muito amáveis de uma a uma se despediam de Gwen, e por último a senhora Greta Nunavut, aquela mesma que estava quieta, olhando para os detalhes da casa.


Antes de passar pela porta, segurou firme a mão de Gwen e disse: “A Guirlanda, onde está a Guirlanda?”. A família dos Packer não tinha o costume de decorar a casa durante as festas natalinas, no máximo montavam um pinheiro de Natal e mais nada. A velha senhora olhou seriamente nos olhos de Gwen, em uma mistura de espanto e desaprovação. “Amanhã trarei uma para dar de presente para vocês. E não se esqueça de pendurar na porta tão logo eu lhe der, entendeu? Não se trata de decoração minha filha, é muito mais que isso.”, e saiu apressadamente.


Gwen passou o resto da tarde pensando sobre esse estranho acontecimento, afinal o que teria de tão sério em não decorar a casa para o Natal? Nunca se prendera a esses costumes, mas como estavam em um lugar novo, preferiu não debater isso com a senhora Greta.


Quando Patrick chegou da base, percebeu a preocupação da sua esposa. “Querida, está tudo bem?”, perguntou ele, ao que recebeu como resposta um meneio de cabeça e um sorriso discreto.


Já estavam casados há 20 anos, mas se conheciam a vida inteira, uma vez que eram vizinhos e seus pais eram amigos de infância também, típica coisa de cidade pequena. Sabia que estava preocupada com alguma coisa apenas observando o modo como respirava. Algo estava errado.


No dia seguinte, Gwen foi fazer compras enquanto as crianças estavam na escola. Pode finalmente conhecer melhor aquela pequena cidade após acabar de organizar toda a mudança e a casa nova. É uma cidade aconchegante, típica de interior, lembrava um pouco sua amada Laurel.


Chamou sua atenção à quantidade de guirlandas enfeitando as portas das casas, todas elas apresentavam essa peça decorativa. “Normal”, pensou ela, afinal era quase natal, mas olhando atentamente percebeu que eram guirlandas muito simples, sem muitos ornamentos como bolas de Natal ou luzes, eram apenas feitas com pinheiros, azevinhos e heras. “Deve ser um costume local dos Inuit”, afinal muitos membros da base eram de origem nativa, e muitos mantinham suas tradições.


Quando estava chegando a sua casa, Gwen viu que estava com visitas, dona Greta acompanhada de mais duas vizinhas, que mais tarde soube serem as anciãs daquela comunidade. Seguravam uma grande guirlanda, trançada caprichosamente.


— Boa tarde vizinhas! Que bom vê-las novamente. – Disse Gwen com um sorriso gentil.


— Boa tarde filha! Trouxemos um presente para você!


Com um tom solene, dona Greta passou ás mãos de Gwen a guirlanda, e olhando no fundo dos olhos da jovem, falou firmemente: “Pendure na sua porta hoje mesmo, não esqueça”. As duas senhoras que acompanhavam, disseram algo na língua local e saíram.


Gwen não teve tempo de agradecer o que para ela parecia uma gentileza, mas para aquelas senhoras, claramente se tratava de algo bem mais sério. Entrou em sua casa e guardou a guirlanda no armário onde penduravam os casados e guardavam calçados e mochilas. Era um lindo trabalho manual de entrelaçamento de galhos, mas ainda assim não se sentia à vontade de pendurar em sua porta, não tinha de fato esse hábito, e não estava disposta a mudar.


No dia seguinte, enquanto organizava as crianças para levar para a escola, ouviu uma fala ríspida, quase um grito, vindo do outro lado da rua: “Onde está a guirlanda?”, com o susto virou-se para olhar quem estava falando, e com um semblante sisudo lá estava dona Greta, olhando com reprovação para a ausência do enfeite natalino na porta dos Packer.


— Menina, onde está a guirlanda? Por que ainda não pendurou na sua porta?

— Olá senhora Nunavut! Bom vê-la novamente!

— Pendure aquela guirlanda minha filha, o quanto antes!

— Eu adorei o presente, mas minha família e eu não temos o costume de enfeitar a casa no Natal e...

— Não é um enfeite menina, você precisa entender isso! É para proteger sua casa, sua família! Logo é época de eles aparecerem, vocês precisam colocar logo a guirlanda em sua porta!

A expressão do rosto de dona Greta era uma mistura de medo e preocupação por aquela família que ainda não aprendera a importância dos costumes dos antigos!

— Não se esqueça da guirlanda! - Advertiu mais uma vez dona Greta antes de sair da calçada de Gwen, que continuava sem entender toda essa preocupação com a decoração das casas. Isso sempre soou estranho para ela, não via sentido em encher a casa com enfeites e decorações naquela época do ano. No máximo faziam algo assim no Halloween, muito pela diversão das crianças, fora isso, sempre preferiram viver de maneira mais sóbria possível, não ligados a crendices ou superstição. Patrick é oficial médico da Força Aérea, Gwen é biomédica de formação, viviam pautados na ciência, logo eram muito avessos a tudo o que envolve crenças, sejam elas quais forem, e a guirlanda permanecia enfeitando o armário dos casacos.


Gwen poupava Patrick dessas frivolidades, não havia contado para o marido sobre as conversas com dona Greta e suas amigas. Em virtude das baixas temperaturas e o clima severo, por muitos dias ela ficava só com as crianças, enquanto Patrick fazia seus plantões na base. Era necessário que um oficial médico estivesse sempre pronto para atender um chamado do comando, e dado a distância da base para a comunidade, os médicos ficavam por vezes uma semana fora de casa. Já estava acostumada, e se organizava muito bem para da conta de casa e das crianças.


No dia 19 de dezembro, logo cedo, batidas abruptas na porta de entrada, insistindo cada vez mais. Patrick estava na base naquela semana, e naquele dia as crianças estavam em casa, não teriam aula. Gwen foi abrir a porta, e lá estava dona Greta, com um semblante ainda mais sério que o de costume.


— Onde está a guirlanda? Vim pendurar ela para você!

— Obrigado dona Greta, mas isso já passou dos limites. Sou grata pelo presente, mas não costumo enfeitar a casa no Natal. Espero que a senhora entenda!

— Não é enfeite menina tola! Já disse que você precisa proteger sua casa e sua família! Eles virão hoje à noite, na entrada do solstício, se você não proteger sua casa, coisas terríveis podem acontecer!

— Me desculpe senhora Greta! Com licença! Gwen bateu a porta!


Gritando do lado de fora, dona greta insistia: “Não se esqueça da guirlanda”, “Pendure essa guirlanda já”!


“Gente maluca” pensou Gwen! Não colocaria de jeito nenhum a guirlanda na porta, não mudaria sua vida por causa de crendices locais!

O dia se passou tranquilamente. Inclusive podia-se perceber pouco movimento nas ruas naquele dia. A localidade era pequena, mas ainda assim o comércio local atraia muitas pessoas de outras comunidades, então sempre tinha movimento, mas estranhamente naquele dia não.


Ao cair da noite um vento frio começou a soprar com mais força, aumentando drasticamente a sensação térmica. Lareiras acesas, aquecedor ligado, geladeira cheia, estavam prontos para enfrentar mais uma nevasca.


Subitamente, a porta de entrada abriu com a força do vento, batendo ruidosamente na parede, soprando uma lufada de vento congelante. Gwen se levantou do sofá rapidamente para fechar a porta, mas não conseguiu, ficou aberta, aparentemente emperrada. “Estranho” pensou ela, reformaram toda a casa antes de se mudarem, não deveria estar desse jeito.


Nesse instante o vento ficou mais forte, a ponto de jogá-la contra o móvel dos casados, machucando suas costas, ao mesmo tempo que escutou claramente o som de muitos passos entrando na sua casa, à partir de então, as luzes se apagaram, móveis caíram sozinhos, enfeites se quebraram, e para seu terror, Gwen escutou o grito desesperado de seus filhos.


Levantou-se e subiu correndo as escadas, a porta do quarto das crianças estava aberta, seu coração quase parou nesse momento, pois as camas de seus filhos estavam vazias, e nem sinal deles! Passou a gritar desesperadamente o nome de seus filhos, e os ouvia respondendo, mas não estavam em nenhum lugar da casa.

Correndo de um cômodo a outro, chamando pelos seus filhos, o desespero aumentando, quando percebeu que as vozes das crianças vinham de dentro das paredes. Começou a socar as paredes da sala, chamando por seus filhos, quando um sopro de vento ainda mais gelado a jogou para longe, batendo sua cabeça no corrimão da escada.


Antes de perder os sentidos, a última visão que ela teve foi de dona Greta e as outras duas anciãs entrando na casa, com roupas estranhas e com tochas e ervas em suas mãos, falando uma língua estranha, quando tudo escureceu e ela desmaiou.


Gwen acordou no dia seguinte com a claridade incomodando seus olhos. Junto com ela na cama estavam seus filhos, Mark e Tiffany, dormindo profundamente, e aos pés da cama estava dona Greta, a olhando com serenidade.


— Dona Greta? O que aconteceu? Disse Gwen tentando se levantar, ainda com muitas dores pelo corpo.

— Eles já foram minha filha, não se preocupe! Conseguimos salvar você e as crianças, mas mais uns momentos e não conseguiríamos, e eles levariam vocês!

— O que eram essas coisas?

— Espíritos malignos minha filha, que se libertam todos os anos na entrada do solstício de inverno e vem para nosso plano para buscar as almas dos homens! Mas não se preocupe, por hora vocês estão seguros. Vou indo, deixei o café da manhã pronto para você e as crianças!

— Obrigada dona Greta! Muito obrigada!

Antes de sair da porta do quarto, dona Greta se virou novamente e disse:

— Gwen!

— Sim dona Greta?

— Não se esqueça da guirlanda!

1 декабря 2022 г. 5:10 1 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Sérgio Pires Professor, radialista, escritor, editor, diagramador, produtor do Creepy Metal Show. Editor-chefe do selo Creepy Metal Show Editorial.

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Marcelo Farnési Marcelo Farnési
Lúcido. Sem amarras nem rodeios. Parabéns!
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