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Como uma forma de diminuir a criminalidade nos Estados Unidos, o país passa a adotar "o dia do Expurgo", um período de doze horas onde todo e qualquer crime é liberado e todos os serviços de emergência estão suspensos. O estado da Califórnia é o primeiro a adotar tal medida, que é bastante criticada por apenas os ricos conseguirem se proteger das consequências da nova lei. Naomi Walsh é uma dessas pessoas, que pode se esconder em um bunker bem equipado pelas doze horas, porém escolhe passar pela adrenalina de correr pelas ruas durante o período, desafiando inclusive a própria sorte. Em outros dias, ser uma rebelde sem causa seria apenas um empecilho para seu pai. Mas é o dia do Expurgo, e ninguém está a salvo. Essa é uma história inspirada no universo de The Purge. Há conteúdo explicitamente violento mencionado durante o texto, logo, não é aconselhável para pessoas sensíveis.


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#The-Purge #The-Purge-Universe
Короткий рассказ
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Hell in California

Ah, a Califórnia. A doce e ensolarada Califórnia. Com seus habitantes eternamente em óculos de sol e roupas que vão do inacreditavelmente fechadas a ridiculamente curtas. Essa mesma Califórnia, onde o sol parece querer queimar a todos nós vivos dia sim e outro também, e que você pode ser um tremendo sortudo de morar nos Hills, como eu, e ter uma vista e um silêncio privilegiado, ou pode ouvir toda a confusão das ruas abarrotadas de bares que algum dia foram a cena de diversos músicos e hoje em dia é apenas a calçada para milhares de jovens entendidos de tecnologia desfilarem, achando que com seus copos de café do Starbucks e óculos de grau irônicos irão realizar todos os passos para se tornar uma espécie de novo Zuckerberg.

O mesmo Estado da Califórnia, tema de séries de tv, locação de filmes de comédia, um símbolo de liberdade onde você pode usar maconha como recreação e ser LGBT é uma regra implícita quando você se muda para San Francisco.

Essa Califórnia, tão calorosa e peculiar, que agora tinha como lei vigente o dia d’O Expurgo.

Era o primeiro local a adotar a medida para tentar diminuir os números altos de criminalidade no país. Usavam de base a ideia de que era preciso colocar para fora a violência e ódio reprimidos, sem qualquer consequência, para assim poder seguir normalmente dentro do sistema em que vivíamos. Então, por doze horas, todos os crimes poderiam ser cometidos sem qualquer consequência legal. As unidades de emergência estariam suspensas e só retornariam exatamente um minuto depois do fim do período do Expurgo. A sirene iria tocar anunciando o início e o fim, porém era bem óbvio que de 19:00 às 07:00 às ruas seriam o último lugar que se deveria estar se você não quisesse se envolver. Claro, houveram muitas reclamações sobre a decisão, falando que nós ricos seríamos as pessoas que melhor se saíram nesse ponto, pois estaríamos seguros.

O que não era mentira.

Meu pai e eu tínhamos três imóveis e todos foram equipados com uma rota para um quarto do pânico ou um bunker em caso da lei ser aprovada. Duvidava muito que outras famílias tivessem condições de comprar pelo menos uma semiautomática para se defender.

Mas, bem, a lei era a lei. E eu deveria saber disso, estudava sobre elas.


§


Durante a aula de Direito Constitucional, na Berkeley, recebi uma mensagem das minhas melhores amigas. Poucas palavras, apenas um convite que era uma intimação: Sexta, 20:00, no boliche. A gente costumava tanto ir nos mesmos lugares que não precisava nem mesmo informar qual boliche em toda a cidade que seria o local do nosso encontro. As coisas funcionavam assim no nosso mundinho. Confirmei presença, antes de voltar a prestar atenção na aula.

No dia e hora marcada, apareci logo após cruzar o caminho inteiro até ali correndo no meu conversível branco – uma Mercedes que pode ou não se parecer muito com a de Britney Spears. Munida de botas de salto fino e um vestido tubinho, não era bem o que se esperava ver em um lugar como aquele, mas não era como se minhas amigas e eu fizéssemos a linha mais convencional. Henrietta e Tessalia me esperavam em uma mesa, conversando e rindo, com mais um bando de gente que eu não fazia ideia de quem era, mas apostaria minha casa em Venice Beach como alguém estava comendo alguém ali.

— E finalmente temos a nossa advogada aqui! — Henrietta foi a primeira a se manifestar, erguendo seu copo de milkshake no ar.

— Quase advogada — a relembrei, já que estava longe de concluir minha graduação.

Meus olhos passaram rapidamente pelos ali presentes, avistando além das duas, um cara que agora entendia que era o namorado de Tessalia, o seu amigo de infância e a namorada dele, e mais um cara que eu nunca tinha visto, mas que eu super aceitaria ser apresentada, pra ontem.

— Essa é Naomi Walsh. Ela é o nosso pequeno prodígio que conseguiu entrar na segunda melhor faculdade de direito da Califórnia — Henrietta comentou para o garoto em que me interessei.

— Não, não, que escolheu estudar na segunda melhor faculdade de direito da Califórnia, é assim que você tem que dizer. — Foi a vez de Tessalia corrigir, me fazendo emitir uma careta para as duas.

— E é por isso que nenhuma das duas mais passa em casa sem eu tirar meu pai de lá. — Me atirei no único banco vazio, no meio de todo aquele povo. Abri o menor dos sorrisos, antes de agitar minha mão no ar. — Certo, além de tentar me zoar por algo que nem foi minha culpa, qual o motivo da reunião?

— Na próxima semana é o Dia do Expurgo… — Henrietta começou a falar, meneando a cabeça, antes que Tessalia abrisse um sorriso para mim.

— E nós estamos montando o nosso próprio clubinho de extermínio. Bem-vinda ao grupo! — anunciou com direito a emitir um “yay!” ao final, esperando que eu absorvesse a notícia de uma vez.

— Ah… Então… Tá. — Foi o que eu consegui dizer, de improviso, depois daquela proposta que na verdade era outra intimação.

Maldita hora em que fiz amizade na adolescência com aquele bando de fã de Crepúsculo na fila do cinema.


§


Uma coisa deveria ser dita sobre os herdeiros da Califórnia: nenhum de nós realmente ligamos muito para o glamour. Enquanto que o pessoal criado em lugares como New York sempre se chocam por isso ou aquilo, nós simplesmente vivemos, e vivemos bem, intensamente.

— Naomi, já passou da hora de você entender que eu não vou ficar pagando por cada ida só seu carro ao mecânico.

E às vezes, essa intensidade leva a pequenos acidentes que não tem como realmente você dizer que não esperava. Porque estavam ali o tempo todo, mas você ainda assim correu diretamente para eles.

— Foi sem querer — murmurei, tanto porque não queria dar o braço a torcer e admitir que estava bêbada ao volante mais uma vez, tanto porque a ressaca ainda fazia ressoar cada barulho um milhão de vezes dentro da minha cabeça.

— O que você quer, afinal? Morrer por aí por pura irresponsabilidade? — Meu pai me perguntou, encarando meus olhos em fúria.

Engoli em seco, me contendo para não lhe revelar a verdade.

Que eu só queria sentir alguma coisa, para variar, uma emoção à flor da pele e que não fosse comprada ou esperada.

— Eu não vou mais destruir meu carro. Prometo — era a única coisa que consegui pensar em dizer como forma daquilo acabar.

— Suas promessas… elas nunca vingam — o mais velho rebateu, me olhando seriamente. — Semana que vem é o dia do Expurgo.

Ah. Mais um para tocar naquele assunto.

— Sim, eu sei. Já separei as minhas coisas para ficar em Venice Beach — afirmei com segurança, porque antes da visita às minhas amigas, era a realidade. Estava com tudo pronto para me esconder no bunker com uma seleta lista de pessoas.

— Por que não vem pra casa? — Ele me perguntou, já passando as mãos na testa.

— Porque se passarmos doze horas no mesmo lugar, vamos acabar matando um ao outro — o lembrei, abrindo um sorriso maldoso.

O mais velho suspirou, cansado de uma briga que sempre iria tender para o lado exagerado. Éramos assim, sempre fomos. Meu pai, o linha dura que não sabia o que fazer com a filha que perdeu a mãe muito cedo. E eu, a filha que não aguentava a pressão exercida pelo homem que só queria uma pessoa perfeita para lhe suceder.

— Ao menos leve os seguranças com você — ele acrescentou.

— Pode deixar, eles estarão a postos — confirmei, porque seria mais fácil.

Naquela noite eu tinha entrado em um plano mirabolante envolvendo aventura e perversão que começaria na próxima sexta, às 19:00 e se encerraria às 07:00 do sábado. Tinha bebido e brindado ao plano e prometido que seria a cabeça pensante do grupo, pronta para tomar decisões legais caso entrássemos em uma área cinzenta do decreto.

Poderia parecer burrice, mas destruir o carro sem querer ao avançar um sinal voltando para casa talvez já não fosse mais o suficiente para ter uma emoção verdadeira.


§


Eu era a herdeira de um advogado influente que esteve defendendo uma grande galeria de celebridades por crimes leves e alguns mais preocupantes – lembra quando virou moda os jovens ex-acts da Disney roubarem coisas e afins? Então, meu pai defendia essas pessoas. Nunca reclamei, conhecia ídolos da infância e ainda pagavam pelos meus próprios estragos juvenis. Mas isso tudo levava a uma conclusão: eu nunca tinha segurado ou visto uma arma de perto.

Meus planos originais para o Dia do Expurgo seria dar uma festa para amigos em Venice Beach mesmo, inclusive tinha disparado convite para todo mundo e eu que não ia ser aquela que ia dispensar as pessoas assim, em cima da hora. Iria emendar a festa em trinta minutos dirigindo até o ponto de encontro em Los Angeles e que meu estado etílico que desse conta.

— É o seguinte, preciso resolver uma coisa. Espero que vocês não coloquem fogo na minha casa! — Avisei a todo mundo que estava presente na festinha dentro do bunker instalado na área verdejante que se localizava atrás de minha casa.

Dava uns bons metros quadrados que poderia servir como abrigo para uma família de quatro pessoas. Ou, sabe, abrir mais de uma dezena de jovens bêbados enquanto as pessoas literalmente se matavam do lado de fora.

— Eu vou levar isso aqui também — murmurei, carregando comigo um último drink. Ninguém nem mesmo percebeu que eu estava de saída. Previsível.

Acabei chegando primeiro ao galpão abandonado, portando apenas uma faca de cozinha para me defender, e alguns minutos depois um carro clássico encostou, com o garoto loiro, que eu sabia agora se chamar Atlas, descendo dele.

— A garota da Bekerley — ele me reconheceu, me fazendo soltar levemente o ar pelo nariz.

— O amigo da Henrietta — o cumprimentei, balançando a cabeça. Tinha carregado comigo, para além do drink, duas garrafinhas de gin da festa, uma que eu terminei de beber no caminho e outra que eu tinha a pretensão de negociar pela minha vida, se fosse o caso. Mesmo assim, ofereci um gole para o recém-chegado. — Serve como um esquenta?

— Eu iria preferir outros modos de me esquentar, mas obrigado — ele respondeu, trocando um olhar significativo comigo.

Se sobrevivesse àquela ideia merda das meninas, certamente iria atrás de esquentar certas partes do corpo de Atlas com as minhas.

— Ainda temos alguns minutos antes da hora marcada — argumentei, como quem não queria nada. Mas os faróis da picape de Henrietta surgiram ao longe, junto com o barulhento carro em que vinham todos os associados de Tessalia, incluindo a própria. — Ou não.

Otto, o amigo de Tessalia, nos entregou uma arma sem identificação para cada um e explicou como deveríamos fazer. Alguns de nós treinamos em um alvo improvisado, não muito para não acabar com nosso estoque de balas. Éramos um bando de universitários com cara de quem nunca tinha passado um aperto na vida, prontos para cometer uma noite inteira de crimes, apenas porque podíamos. Como se não fizéssemos esse tipo de coisa em dias normais.

— O ponto do grupo é simples: se achou que alguém estava fazendo merda, vai lá dar uma de justiceiro e bala nele. Simples. — Sierra, a namorada de Otto, explicava novamente o funcionamento das nossas regras. — Sempre andem em dupla, porque fica mais fácil de varrer a área. E se divirtam. É um feriado, de qualquer forma.

— E estamos todos protegidos pela lei da Califórnia, desde que não matemos um prefeito ou alguém com imunidade diplomática — os lembrei, mexendo naquele trambolho que queria entender qual a finalidade de ser semiautomática se eu ainda teria que fazer um esforço para acertar alguém.

— Sempre soube que ter uma advogada entre nós ia ser o que precisávamos! — Henrietta se animou, batendo palmas e tudo.

Faltando 15 minutos para o alarme, nos dividimos em carros e segui com Henrietta e Atlas para a invasão do campus da UCLA, onde iríamos adulterar notas, já que todo tipo de crime era permitido e perdoado. Então ao menos faríamos algo pelos amigos, não é mesmo?

Foi fácil pular a murada, arrebentar os cadeados e até mesmo reescrever os históricos de quem pediu o favor naquela primeira hora de Expurgo. Usava a lanterna do meu celular para iluminar melhor as teclas do computador. O problema era que todo crime era perdoado. Inclusive assassinato. Por isso, não foi bem uma surpresa quando, enquanto estávamos escrevendo referências no histórico de colegas de sala de Atlas, uma bala passou zunindo em nossos ouvidos.

— O GUARDA VAI NOS MATAR. LITERALMENTE! — Gritei para os dois, os puxando para o chão, enfiando o aparelho no decote da camiseta. Engatinhamos dali, o desespero nos nossos olhos, deixando tudo para trás do jeito que estava mesmo, sem cobrir rastros, mais preocupados em escapar dali com vida.

A adrenalina me fazia pensar mais rápido, de fato. Calculava rotas e pensava em distrações, conseguindo tempo para pular no carro e partir dali.

Nunca estive em algo assim. O máximo de terror que eu via pessoalmente era meu pai dando em cima das minhas amigas depois de secar uma garrafa de Old Parr sozinho. Mas aquilo ali, era uma história completamente diferente.

— Me dá isso aqui — sussurrei para Henriquetta, tomando dela suas pulseiras e as atirando em um corredor próximo.

O som indicou um falso caminho para o guarda, o que nos permitiu correr em outra direção, escapando do prédio.

— Tem alguém mais nos seguindo, atira nele! — Atlas ordenava, enquanto saíamos no escuro para as últimas portas que nos levaria para o nosso carro.

— Eu nunca atirei! — Protestei, mesmo sendo a única com uma arma na mão, já que os outros deixaram tudo em cima do painel da picape.

— É só apontar! — E foi o que eu fiz, olhei para trás e atirei.

O som de dor na voz de Henrietta indicou que eu tinha uma péssima mira e um péssimo foco. No momento seguinte, um cachorro passou em disparada por nós, provavelmente sendo ele um acompanhante do guarda. Não tínhamos tempo a perder. Me sentindo responsável, entreguei minhas costas para que a garota se tornasse a minha mochila enquanto estivéssemos fugindo.

— Eu sinto muito! Muito mesmo! — Choramingava, sentindo o sangue escorrer da panturrilha de Henriquetta e sabendo que tinha ferrado com toda a programação.

— Finge que você é uma Skywalker e corre como se a vida dependesse disso. Eu sou seu Yoda. — A nerd mandou aquela e eu balancei a cabeça concordando.

Não sei como conseguimos chegar no carro, mas sei que eu desmaiei por minutos ali dentro, enquanto Atlas arrancava dali para a próxima missão.


§


Enquanto rodávamos a cidade, paramos próximo a uma MAC. Olhei para os dois dentro do carro e disse que precisava fazer algumas coisas. Saí daquela picape correndo como se minha vida dependesse disso e tão logo estava arrombando o vidro da loja de maquiagens. Mais algumas pessoas se juntaram a mim na empreitada e lá estava enchendo os bolsos do casaco que tinha roubado de Atlas com batons e lip tints, quando senti alguém me agarrar por trás, me arrastando dali de dentro.

— Me solta, porra, me solta. Tem rímel pra todo mundo aqui! — Reclamei, chutando o ar, desesperada.

Fui levada junto com outras pessoas para um parque abandonado, em uma espécie de sequestro com tortura psicológica como entretenimento. Em dado momento, começaram a inflar a ideia de que deveríamos torturar uns aos outros como maneira de escapar. Uma loucura desenfreada. No meio disso tudo, encontrei Tessalia, também sequestrada para fazer parte daquilo.

— Onde está o seu namorado? — Perguntei a ela, os olhos arregalados.

— Mal posso esperar a hora de saber. — Ela me respondeu, engatilhando na sua mão uma pistola.

Claramente se ele estivesse na sua frente, viraria um alvo.

No meio daquele circo de horrores, as luzes da picape se iluminaram e Atlas nos achou. Abri um sorriso enorme e pronta para correr em sua direção, me sentindo grata e talvez emocionada por ele ser mesmo o príncipe surgindo para um resgate. Até ouvir uma voz surgir atrás de mim.

— Então você saiu para o Expurgo? — Era uma garota de cabelos curtos, muito branca, com cara de quem veio de fora mesmo.

— Kim! Oi… Eu… Jurei que você estava… A essa hora… — O modo como o rapaz gaguejava demonstrava que ele era ligeiro apenas para cantar outras garotas, mas lento demais para escapar da própria.

— Sobe todo mundo e vambora dessa merda. — Tessalia disse, se jogando na caçamba do carro, me despertando para a necessidade de corrermos dali.


§


O sol começou a nascer. Durante o resto daquelas horas eu vi Tessalia ameaçar atirar no próprio namorado, dizendo que era para ele deixar de ser otário. Segurei a mão de Henrietta enquanto pedia seu perdão ao encontrá-la no posto de atendimento em que havia sido abandonada, antes. Levei um tapa na cara pela audácia. Vimos Atlas se afrouxar e admitir para Kim que ele estava pronto para abrir a relação, mas sozinho, sem consultá-la.

Finalmente consegui pegar meu carro e me dirigir de volta a minha casa. Um pingo de paz e o fim de uma ideia péssima que quase acabou com a minha vida. Estacionei o conversível na frente de casa e corri para a porta.

E então alguma coisa me atingiu e a dor me fez cair no carpete de boas-vindas. O celular voou do meu decote da camisa, parando ao meu lado com a tela acesa. Faltava um minuto para acabar o expurgo. Eu iria morrer dentro dos crimes permitidos.

Eu devia ter ficado em casa bebendo mesmo. Fechei meus olhos e então eu senti. Eu realmente senti.

3 марта 2022 г. 3:36 0 Отчет Добавить Подписаться
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Lay Perfil para postagens de fanfics apenas. Altas doses de cultura pop através de histórias sobre kpop, filmes e séries. Para publicações de material original, siga @layiswriting. Migrei pro AO3.

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