igorazevedoescritor Igor Azevedo

Em vida, tinha o não. Precisava do sim para crer no poder da existência. Por não tê-lo, forjou-se a inventar um novo mundo. Até o último microssegundo. Em vida, até tivera disposto o poder do amor, mesmo sem saber. Ocupou-se na tarefa de inventar o seu próprio mundo e tanto se acostumou com a vida lhe subestimar que não prestara atenção nas pequenas coisas, nos mínimos detalhes. Data de publicação original: 09/01/2019. PLÁGIO É CRIME! TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À © 2019/2022 Igor Azevedo.


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I

Eu preciso te contar a história de Laura, mas não sei como. Como começo, como termino. É uma história longa. Uma história, ao mesmo tempo vivida, e também inventada. Mas ela é real. Ela ainda mora em mim. Acredito que só em mim.

Eu preciso deixar de contar um pouco a minha parca história de vida e me preparar para contar a história dessa senhora, por muitas vezes infeliz, mas que inventava, todos os dias, a alegria. Eu te compreendo, Laura. Nessa vida, não basta só você se transformar e se conhecer internamente: tem que saber viver. E é saber viver que me pega. Que te pega. Que nos pega. Porque viver não é algo escrito em um manual de instruções. Nada disso. Nem é algo inventado. Mas, às vezes, é preciso inventar quando não se sabe viver e não se pode parar. Inventar e construir mentiras, pontes falhas, mas que te levam a algum lugar.

Acredito na verdade. Acho que desabafar seja uma das soluções para levar a vida mundana em frente. Mas chega um tempo que dizer que está tudo bem e logo inventar um modo de vida passa a ser uma solução. Talvez uma solução imediata, mas temporária. Entretanto, nem tudo sabe o homem.

E nem tudo Laura sabia. E não fazia questão de saber. Saber que dia é, que horas são, que mundo ou em qual galáxia vivia... E vivia. Talvez por viver. Acho que não. Laura sabia inventar. E, por inventar, sabia viver. Mas a realidade começa te comendo pelas bordas. Quando você se vê, não há mais nem um farelo.

Mas quem é Laura? Para eles, quem foi ela? Com que palavras posso falar dela? Preciso de palavras singelas para falar desse ser que me atormenta, todos os dias, para estar escrita em páginas por ainda se considerar um alguém ou uma personalidade famosa. Mas Laura não é isso tudo. Nunca foi. Ela só inventa. E, por inventar, acredita que existe. Mas quem é ela perto de mais de 7 bilhões de pessoas neste planeta?

Nada. 0,00000000000001% em uma estatística. Talvez muito menos que isso.

Laura, aos olhos dos outros, não valia uma migalha sequer de um pão sujo e mofado. Mas Laura sempre foi um diamante para mim. Um diamante que bastava ser lapidado. Laura era uma riqueza. Tinha amor no peito. Eu sei que sim.

Para mim, não é importante descrever como era Laura. Como era de corpo ou de rosto, ou como se vestia. Isso não era nada perto do ser humano incrível que ela foi e que resiste em ser para mim. Mas, para todos os outros que a via nas ruas, os aspectos aparentes eram o máximo para julgá-la da pior maneira. Porque costumam achar que todo mundo é igual a eles: cheio de julgamentos. Eu, por exemplo, foco no interior. E Laura era mais que isso: Laura via a sua alma. Nunca queria te julgar, mas sim sentir a energia saindo de você, na maioria ruins. Por que o ser humano transpira maldade? Laura talvez se questionava. Talvez. Mas acredito que ela inventava que você era um bom ser humano. No fundo, ela não era louca, mas sim, cansada. Cansada de tantos descasos. Era cansada, mas tinha propósitos para continuar vivendo e inventando. E só assim existia.

Antes de você deixar esse livro de lado e eu realmente começar a contar essa história, eu preciso descrever Laura. Porque a espécie humana exige, faz questão. Questão de ver, só ver para poder julgar no primeiro olhar. E nunca, nunca se arrepender por tais julgamentos. Porque, para todos eles, ou alguns, se é que há alguns, a primeira impressão é a que fica. O contato nunca conta. A troca de experiências, a vivência... Quem disse?

Para alguns como eu, isso dói; para outros, isso basta.

Como eu estava dizendo, quero descrever Laura. E vou agora mesmo descrevê-la.

Nem baixa nem alta, mas bem magra. Branca, olhos meio puxados, um pouco corcunda. Mancava em um dos pés, a mandíbula um pouco para frente e os dentes também. Para você, feia. Para mim, a beleza em pessoa. Por quê? Laura aguentou tudo. Aguentou principalmente julgamentos pela sua aparência. E, quando ouvia os cochichos maldosos de algumas pessoas, ela fingia que não ouvia e fingia ser uma miss. Sim, ela poderia garantir que já havia ganhado vários prêmios em concursos de beleza em seu passado. Pode sorrir à vontade, leitor. Ela era uma louca, como todos diziam. Todos também sorriam dela, sorriam bastante. Julgavam-na de doida, até o fim. Fim de quem? Dela. É o julgamento que vale, não o que eu, você ou qualquer outro alguém tem no peito. Preciso contar o quanto antes o fim de Laura, necessito. O fim de todas as suas invenções que a levava a continuar vivendo, a aguentar tudo aquilo que vivia.

Já é de se imaginar que Laura era pobre. Feiura combina com pobreza, pelo o que me parece sobre a vida lá fora... Tenho a certeza que ninguém deduziu isso... Sim, Laura era pobre. Extremamente pobre. Morava nas proximidades de um lixão, em sua pequena mansão, como ela poderia se acostumar a nomear a sua humilde casa feita de barro em restos de um terreno baldio. Esqueci de dizer que era do lixão que Laura tirava o seu sustento. Catava latinhas. Brigava por elas. Você pensa que no lixão também não tem concorrência? Tem sim. Quando não catava latinhas, Laura catava outros materiais e fazia artesanato. De bolsas e até sandálias, Laura criava tudo. Poderia até dizer que era dona de uma loja de grife - Laura's Magazine, eu intitulo. Mas Laura não vendia nada: criava seu artesanato e deixava exposto, em algumas horas do dia, na porta de casa para todos criticarem. Quem disse que alguém compraria rascunhos malfeitos de artesanato? Assim que eles falavam. Mas Laura poderia dizer que seu trabalho era um sucesso.

A verdade é que Laura ganhava mais esmola do que vendia suas confecções. Pobre Laura. Era até um trabalho bem feito - só era rudimentar. E as pessoas estranham coisas rudimentares e são bem piores que isso...

Ah, lembrei também que ela não morava sozinha. Pensava que Laura morava sozinha? Não, não. Gente feia e pobre nem sempre mora sozinho. Laura tinha um filho - Raimundo. Aparentava ser bem adulto, mas só tinha dezesseis anos. Laura o adotou quando ele tinha seis. Filho de um flanelinha, viu o pai morrer assassinado. Pobre homem... Tudo o que sobrou foi o filho. Laura o pegou para criar, já que nenhum civilizado o quis... Registrou o menino e tudo. Mimou o quanto podia, alegando que o filho era um príncipe no meio de tantas pessoas ruins. Não costumava levar o menino para catar latinhas, muito menos o permitia participar dos afazeres domésticos e artesanais.

- Meu menino é homem! - Dizia ela.

E lutava e lutava. Colocou o menino na escola, mas o menino era esperto. Saía antes do fim do horário, alegando que estava doente, ou que a mãe estava doente. Faltava só matar a pobre... Às vezes, nem ia para a escola. Ia então para a bodega do Seu Inácio, um velho safado que enchia o garoto de doses, todas pagas com as moedas que Laura guardava e ele roubava, aliás, pegava escondido. Porque ela também era esperta, mas só se via que ela era feia. Guardava as moedas que ganhava na rua e os míseros centavos que ganhava com o seu trabalho. Mas não era tão esperta quanto ao filho.

Laura conhecia o Seu Inácio. E queria ser dele também. Laura amava o velho, em segredo. Só ela sabia disso. Sempre que podia, ia na bodega pechinchar alguma coisa e, claro, tomar gosto com o seu velho bonitão.

- Vai fazer alguma coisa hoje, Seu Inácio? - Disse a sonhadora.

- Sempre estou ocupado! Faço tudo, menos catar latinhas. - Debochava o velho das condições daquela mulher, juntamente com sua clientela que ali bebia. Nenhum melhor do que ela.

Seu Inácio não era boa gente. Além de acobertar Raimundo de seus furtos, suas fugas da escola e das bebidas que tomava, incentivava o garoto a roubar para ter seu próprio dinheiro. E pior: vivia cheio de mulheres. Mulheres de um, mulheres de outro.

Um homem para casar. Pensava Laura, iludida. Sempre iludida... Laura acreditava na própria sorte. Sorte de encontrar o amor da sua vida, de se encontrar na multidão. Laura mentia: tinha em mente não só a casa bonita e a loja de grife, mas também acreditava que tinha o melhor filho do mundo e que Seu Inácio era seu, o homem da sua vida. Seu galã de novela. Mera bobagem, o leitor pensa. Mas Laura já pensou isso antes em relação a outros homens. Consideravam-na cabelo na sopa e assim Laura deixava ser. Ficava na sua, porque era o que se tinha; acreditava na existência de outro príncipe encantado e assim ficava, até que ela encontrou Seu Inácio, o homem da sua vida. Feitos um para o outro. Só pra ela. Na cabeça dela. E no seu coração.

9 января 2022 г. 11:34 2 Отчет Добавить Подписаться
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