Escrito por: louiselobo_
Notas iniciais: Oi, Anjinhos! Aqui é a Loui.
A ideia inicial dessa fic era ter uma atmosfera mais macabra mas eu não sei o que me deu e tomou um rumo totalmente diferente kkkkkk.
Enfim, espero que vocês gostem!
Dedicada ao meu bebê, de (quase) 22 anos que faz aniversário dia 31 de outubro e nunca vai ler essa fic, Lucas. Te amo, bro.
Aproveitem, vejo vocês nas notas finais <3
~~
Busan era a típica cidade pequena e pacata, com moradores pacíficos e conservadores, cheia de costumes e tradições. Era assim desde sempre e talvez fosse assim para sempre. Localizada em uma região tranquila, a cidadezinha era agraciada por ter muitas praias, montanhas e templos. Os habitantes daquela área eram calmos e se davam muito bem, todos os vizinhos se conheciam e acabavam por manter uma convivência boa e agradável.
Com o avanço da tecnologia e entre outras coisas, os jovens de Busan — antes tão pacíficos quanto sua cidade — começaram a buscar por novos meios de diversão, muitas vezes até saindo da cidade em busca de novas oportunidades, entretenimento ou até mesmo uma aventura que saísse de sua zona de conforto.
Esse era o caso do Mochi — o menino dos Park —, como Jimin era conhecido. Desde pequeno teve uma personalidade doce e tranquila, cresceu em uma família feliz e estruturada, estudou nas melhores escolas da pequena cidade e tornou-se um jovem gentil e bondoso, mas essa personalidade branda não resistiu à adolescência e puberdade do garoto. Não que Park Jimin fosse um encrenqueiro, longe disso! Mas o garoto loiro queria algo mais. Queria ver o mundo evoluído lá fora e aproveitar tudo o que pudesse dele. Desde que descobriu sua sexualidade aos quinze anos, Jimin não conseguia evitar pensar em como seria viver longe dali, longe dos olhos antiquados e questionadores, longe dos vizinhos irritantes que não cansavam de empurrar garotas — suas filhas ou netas — para “paquerarem” o Park. Jimin só queria poder ser quem ele realmente era num lugar que fosse bem mais aberto quanto a sexualidade dele, mas sabia que ainda estava longe de acontecer.
— Acorda, Minnie — chamou Taehyung. — Tem quase cinco minutos que você tá moscando aí — reclamou. — Não ouviu nada do que eu falei.
— Desculpa, Tae — disse sorrindo envergonhado. — O que você tava dizendo mesmo?
Os garotos estavam no quarto do mais novo, terminando de estudar para uma prova de admissão na faculdade que não demoraria a chegar.
— Tô falando do Halloween — explicou. — Jisoo me chamou e pediu pra te convidar também, vai ser a única coisa interessante esse ano, eu acho — disse entediado.
— Você quer ir? — perguntou o loiro, Taehyung deu de ombros.
— É a única opção — disse com uma careta, e Jimin riu.
— Falando desse jeito parece que não quer ir!
— Não é como se fosse a melhor escolha de algo pra se fazer, mas — pontuou erguendo o dedo indicador frente ao rosto do amigo. — Se não for isso, vamos acabar apenas recolhendo doces com Gguk e Hobi. — Agora foi a vez de Jimin fazer uma careta. — Não que eu não goste, mas, cá entre nós, a gente já tá velho demais pra sair, pegar uns doces e voltar pra casa.
— É verdade — afirmou balançando a cabeça para cima e para baixo. — Vamos falar com eles também.
— Okay — concordou o garoto de cabelos castanhos claros. — Não quero mais estudar. — Fechou o caderno.
— O que quer fazer? — perguntou Jimin enquanto se espreguiçava.
— Podemos ver as fantasias — propôs. — Nada de Coringa e Arlequina, pelo amor de Deus, já deu! — Os dois caíram na gargalhada.
— Nossa, ano passado foi horrível, ninguém conhecia mais nada além disso! — Colocou a mão na frente do rosto, fingindo esconder sua decepção com a falta de criatividade alheia. — E você já pensou em algo?
— Tenho algumas opções, mas acho que vou de Fantasma da Ópera.
— Kim Taehyung, isso não é justo! Você vai ficar lindo!
— Ué… E qual o problema? — disse cruzando os braços. — Ele era um monstro, né?
Jimin riu mais uma vez, negando com a cabeça.
— Ok, ok. Eu não tenho ideia alguma do que usar — concluiu o loiro depois de olhar algumas coisas no guarda-roupa.
— Vai vestido de Adão — falou impassível, e caíram na gargalhada mais uma vez.
— Eu vou ligar pro Hobi e perguntar do que ele vai se fantasiar esse ano, talvez me dê alguma ideia.
[•••]
Os dias seguiram rápidos e a sexta-feira de Halloween se aproximava cada vez mais; Jimin havia falado com Hoseok, mas o amigo também não havia decidido que fantasia usar, então Taehyung acabou o ajudando, afinal.
— Já é a décima roupa que você experimenta, então, por favor, Park Jimin, decida-se! — falou impacientemente.
— Tae, nenhuma dessas ficou boa, sinceramente, tô desistindo — disse, jogando-se na cama do Kim. — Todas essas já te viram usando também. Queria algo inédito.
O Kim parou por um instante, o indicador apoiando o queixo enquanto as sobrancelhas franzidas mostravam que estava pensando em algo.
— Acho que tive uma ideia… — falou.
— O quê? — perguntou, sentando-se na cama, atento.
— Você lembra que a Jennie deixou a roupa de líder de torcida comigo da última vez que encobri uma saída dela dos nossos pais? — Sim, Jimin lembrava, até havia ajudado a garota. Concordou com a cabeça. — Então, essa roupa ainda tá comigo e, bem, ela não vai mais usar agora que se formou.
— Tae? Você tá falando de…
— Hum-Rum — concordou. — Eu só preciso fazer uns ajustes, e você precisa arrumar uma meia, não vamos exagerar também — concluiu.
Jimin ainda estava absorvendo a informação. Ele usaria a roupa de líder de torcida de Jennie? Ele? Park Jimin. Um garoto. Um sentimento de nervosismo tomou conta de si, pois aquilo sim seria inédito, mas também muito ousado.
Olhou mais uma vez para Taehyung, que agora já havia voltado do antigo quarto da irmã trazendo com ele um top e uma saia — ambos vermelhos com detalhes pretos. Imaginou-se vestindo aquilo enquanto saía pelas ruas de Busan. Riu com o próprio pensamento, “Foda-se! É Halloween!”.
— Ótimo! E o que você vai fazer com isso? — perguntou ao castanho claro.
— Apenas dar uma “halloweenizada”! — brincou.
[•••]
Ainda que Busan fosse uma cidade um tanto quanto antiquada, em algumas datas comemorativas as pessoas se empenhavam em fazer algo especial ou diferente. Esse era o caso do Halloween, que, apesar de não ser uma comemoração tão famosa na Coreia, era sempre bem lembrada naquela cidade. As crianças, jovens e até mesmo alguns adultos saíam para as ruas em busca de doces, cada um com sua sacola ou recipiente para guardar as guloseimas que conseguiam arrecadar. Brincavam, conversavam, interagiam com outras pessoas e depois de tudo voltavam para casa com muitos doces e bons momentos para guardar na memória.
Em alguns casos, como era o dos jovens, após fazerem a busca pelos doces, reuniam-se na casa de algum conhecido ou em grupos para irem até algum pub beber cerveja a preço baixo e depois voltar para casa. Poucos moradores não gostavam das comemorações ou implicavam com o barulho que os mais jovens faziam durante a noite, mas nada que pudesse tirar a magia e diversão dos que participavam.
Jisoo era melhor amiga de Jennie, irmã de Taehyung, então desde sempre frequentava as festas na casa da garota. Claro que, convidando Taehyung, Jimin, Jungkook e Hoseok também eram automaticamente convidados, visto que os garotos não se separavam por nada. Eles se conheciam desde que se lembravam, mais precisamente, desde o ensino fundamental. Cresceram juntos e aprontaram muito juntos, Jimin demorou um pouco mais por ser mais tímido, mas em compensação, os outros três sempre foram agitados e faziam bagunça por onde passavam.
Jung Hoseok era demais. Alegre demais, espontâneo demais, divertido demais e não havia problema nenhum nisso. Por ser o mais velho dos quatro, sempre que precisava, tomava sua postura séria e defendia os mais novos — mas isso quase não acontecia. Todos o chamavam de Sol, pois levava luz e alegria por onde ia.
Kim Taehyung era criativo e gostava de artes, se autodenominava Vante; era o principal responsável pelas encrencas em que se metiam, sempre curioso e muito avoado, mas também sempre leal e amoroso com os amigos, destemido e disposto a encarar as consequências do que fazia.
Jeon Jungkook era o mais novo, mas nem sempre parecia. O moreno procurava dar seu melhor em tudo, ser o melhor em tudo, queria orgulhar seus hyungs e impressioná-los e isso o tornava muito competitivo, tendo como seu maior rival ele mesmo; tentando a todo custo ser melhor do que era antes, mais forte, mais inteligente, rendendo a ele um apelido carinhoso de Golden Maknae.
E quando cresceram, a amizade se manteve, tornando-se ainda mais forte.
Hoseok apareceu na casa de Jimin vestido como Jigsaw — o boneco de Jogos Mortais —, dizendo que estava com medo da própria fantasia, mas que era a única que havia conseguido encontrar. Jungkook estava com um macacão de malha vermelho, com um triângulo branco de cabeça para baixo no meio do peito, no rosto uma máscara do Homem de Ferro. Esperavam Taehyung, que traria consigo a fantasia de Jimin, esse ainda estava de roupão, fazendo a maquiagem. Subiram para o quarto do Park e ligaram o videogame para passar o tempo.
— Jeongguk, você tem cinco anos? — perguntou o Kim assim que abriu a porta do quarto de Jimin.
— Não, por quê? — questionou inocentemente.
— Homem de Ferro? Sério?! — falou novamente o castanho.
Jungkook olhou para a própria fantasia e deu de ombros.
— É o melhor herói. E você? — Apontou na direção do outro. — Veio de motorista, não tem o que falar da minha fantasia!
Taehyung revirou os olhos e tirou a máscara de dentro da sacola que trazia, colocando-a no rosto.
— Ah! — exclamou o Jung. — Já sei, é aquele filme lá! Não fala, eu vou lembrar o nome! — disse. — A Casa de Cera!
— Eu ia falar Jason, mas não tô vendo o facão — terminou Jungkook.
— Vou te mostrar o facão! — disse Taehyung, dando um soco fraco no mais novo.
— É o Fantasma da Ópera! — falou Jimin, rindo. — Tae, cadê minha roupa?
— Aqui, bebê — disse, entregando uma sacola para Jimin. — Dei uma arrumadinha, veja se ficou boa.
— Ok.
Jimin foi até o banheiro, levando consigo a sacola com a roupa e mais uma meia-calça que já havia comprado antes. Ao retirar a fantasia da sacola, o queixo do loiro quase foi ao chão, talvez, só talvez, Taehyung pudesse ter exagerado. O top preto e vermelho agora carregava a inscrição “Go, Devil” feita com tinta — que parecia ser spray — bem na região do peito, e a saia agora tinha sua barra enfeitadas com vários pentagramas manualmente desenhados em preto.
— Taehyung! Vão pensar que eu virei satanista! — gritou do banheiro para que o amigo escutasse.
— É só hoje! — Ouviu o outro responder.
Negou com a cabeça e teve que reconhecer: o trabalho que Taehyung fez estava maravilhoso. Assustador, mas maravilhoso. Vestiu a meia-calça sobre a cueca vermelha que já usava antes de vestir a saia, como imaginou, o top chegava ao meio da barriga, mal conseguindo cobrir suas últimas costelas. Arrumou o cabelo uma última vez e saiu do banheiro um tanto tímido.
— Jiminnie… — Hoseok começou a falar.
— Jimin-ssi! — Jungkook ria. — Meu Deus! Os seus pais estão lá embaixo!
Taehyung batia palmas, como se admirasse uma obra de arte que havia acabado de fazer.
— Maravilhoso — falou. — Simplesmente maravilhoso, Chim.
— Se você abaixar, um pouquinho que seja, eu consigo ver sua bunda — Hoseok soltou no automático.
— Hoseok?! — repreendeu Taehyung.
— Não falei que tá ruim!!!
— Ok! Ok! Vamos indo! — disse Jimin para não ficar ainda mais constrangido.
— Você tá lindo, ignore a plebe! — Taehyung terminou de dizer. — Agora vamos logo! Não quero demorar na rua, quero uns bons drinks da Jisoo.
Os quatro saíram rumo ao centro, começariam por lá e depois fariam o caminho até a casa de Jisoo, onde terminariam a noite. Se dessem sorte, conseguiriam beijar alguma boca ou até mesmo acordar na cama de alguém.
[•••]
A busca por doces era a diversão das crianças, trabalho para as mães e pais que teriam que acompanhar seus filhos ainda muito pequenos para saírem sozinho, e para os jovens como eles, era só uma tradição; uma lembrança de quando eram crianças sem preocupações e obrigações, um dia para se divertir e aproveitar a noite ao lado dos amigos, com fantasias divertidas e bonitas, beber algumas doses e voltar para casa com um sorriso no rosto.
Quem não esperava por isso era Min Yoongi, o mais novo residente da cidade de Busan. O jovem empresário foi criado dentro de uma família rica e desestruturada, aos cinco já carregava sobre si o peso de ser um dos maiores herdeiros da Coreia e isso com certeza o deixou sobrecarregado demais durante toda sua — até então curta — vida. Aos vinte e dois já assumia a empresa dos pais e todo o negócio da família, lidava com sócios internacionais e investidores a todo momento, sem tempo para descansar, sem tempo para viver.
— Deixe isso por um tempo, Yoongi — dizia Namjoon, seu melhor amigo. — Vai viver sua vida ou vai acabar morrendo sem ter alguma paz.
Paz. Paz era tudo o que Min Yoongi mais ansiava e precisava, ficar longe de tudo o que lhe causava stress e piorava sua ansiedade. Precisava de calma, tranquilidade e paz de espírito, tirar um tempo consigo mesmo e descansar da rotina agitada e desgastante que vinha lhe consumindo, foi assim que decidiu se mudar. Dar um tempo seria bom e isso incluía sua família que não parava de lhe pressionar por um mísero instante. Queria se ver longe da casa de seus pais — que sempre insistiam para que ele não se mudasse —, aproveitar de sua própria companhia, colocar sua cabeça em ordem e relaxar.
Meses antes, organizou tudo o que precisava; deixou os negócios sobre os cuidados de seu leal sócio Kim Seokjin, em quem confiava de olhos fechados e tinha certeza que o mesmo daria conta de tudo, buscou um lugar adequado para o que queria e começou a pesquisar valores de residências na região. Achou a perfeita, como desejava, longe de tudo e todos, numa cidade tranquila e litorânea. Só precisava contatar algumas pessoas e tudo estaria resolvido; no fim da mesma semana já estava fazendo a mala para sair, pronto para tirar as primeiras férias desde que assumiu a empresa, quase dez anos depois.
Yoongi chegou à casa que havia comprado, era grande e silenciosa, perfeita. Os quartos eram enormes e perfeitamente vazios, sem ninguém para importuná-lo. Trocou o celular e as únicas pessoas que tinham o novo número eram Seokjin e Namjoon, tudo o que precisavam saber sobre ele era notificado pelos dois, Yoongi finalmente estava em paz.
Até aquela noite. Pois aparentemente, depois de meses, a cidade estava em festa; as ruas estavam barulhentas, cheias de crianças e alguém batia em sua porta — mesmo esta possuindo uma campainha.
[•••]
— Eu já tô cansado! Já chega, pra mim já deu! — Taehyung reclamava.
— Fracote — zombou Jungkook. — Não andamos nem meia hora, Taehyung. Você tá sedentário.
— Eu não vou te responder do jeito que eu quero Jeongguk, porque: 1- Te mandaria fazer algo que você gosta; 2- Respeito a sua mãe.
— Tá bom! Já chega vocês dois — apaziguou Hoseok. — Vamos sentar um pouco e ver algo pra beber, eu tô com sede.
— Eu vou ficar aqui, sentadinho — falou Taehyung enquanto sentava no meio fio. — Eu quero uma água, Hobi.
— Tudo bem. Chim, você vem?
— Vão vocês dois, eu fico com o Tae.
Sentou-se ao lado do amigo enquanto os outros dois iam em busca de alguma bebida. Taehyung revirava a própria sacola resmungando sobre os doces que havia conseguido e Jimin reclamava sobre como algumas pessoas estavam o olhando torto por causa da fantasia.
— Como se nunca tivessem visto um homem de saia! — Taehyung indignou-se. — São um bando de atrasados, isso sim.
— Argh! Eu só queria beijar umas boquinhas, mas eu já conheço todo mundo nesse botão que é essa cidade. — Suspirou.
— E tem algumas pessoas que são “impegáveis”, urgh!
Jimin riu da cara que o amigo fazia, ele tinha razão.
Hoseok e Jungkook voltaram e eles retomaram a caminhada rumo à casa de Jisoo, agora com mais energia por terem descansado um pouco e se hidratado.
— Ei! — Taehyung chamou. — Por que aquela luz tá acesa? — Apontou para a casa da que ficava no alto da colina.
— O quê? — perguntou Hoseok, mas logo virou-se e viu do que se tratava. — Tá ligada mesmo... Vamos embora. — Puxou Taehyung pela mão.
— Espera, Hobi! — disse Jimin. — Fazia muito tempo que não via nada ligado lá.
— Talvez porque a casa seja assombrada e ninguém aguenta morar lá por muito tempo?!
— Você acredita mesmo nisso, Hobi? — Foi a vez de Jungkook se pronunciar.
— E você não?! — retrucou o Jung.
A pergunta de Hoseok era válida, afinal, todos acreditavam e tinham medo.
A casa da colina, como todos se referiam, era uma mansão antiga e malcuidada. Além de estar muito afastada do centro, sendo localizada no alto de uma elevação, a casa possuía um portão grande e antigo, assim como toda a sua estrutura. Os mais antigos diziam que há muito tempo uma família inteira havia sido assassinada dentro da mansão, o assassino nunca fora pego, e os espíritos se recusavam a deixar a propriedade. O herdeiro — parente distante da família — tentava vendê-la, mas sempre acontecia algo que impedia o novo morador de permanecer na casa; então, na maior parte do tempo, a mansão ficava vazia, sem iluminação e imersa nas folhagens do que antes era um jardim.
Tudo nela mostrava um cenário fantasmagórico e ninguém ousava atravessar os portões, muito menos o pequeno caminho de concreto que levava à porta imponente de madeira maciça. Por anos e anos os boatos continuaram a correr pelo lugar e ninguém teve coragem o suficiente de testar ser ou não verdade o que todos falavam.
— Taehyung! Volta aqui! — chamou Hoseok quando o Kim correu em direção ao portão de metal enferrujado.
— Eu não vou entrar, só quero olhar mais de perto — disse, curioso como sempre.
— Taetae… — chamou Jungkook também.
— Moleque, se você cair aí pra dentro, eu vou te buscar na base do soco! — falou Jimin irritado.
— Até parece, meio metro! — zombou. — Eu só quero ver… Vocês não acham estranho?
— Acho! Por isso mesmo a gente tem que ir embora!
— Deixa de ser medroso, Hoseok! — disse o Kim.
— Você é que tem que deixar de ser um fofoqueiro! Não é da sua conta se tem alguém aí!
— Não tem ninguém, vamos embora.
— Também tá com medo, Chim? — provocou Taehyung.
— Claro que não! Só não vejo necessidade de ficar fuçando propriedade privada — disse. — Vamos, Taehyung.
— Tá com medinho. — Taehyung riu. — Duvido você entrar lá — disse para Jungkook.
— O que eu ganho? — perguntou o mais novo.
— O que você quiser.
— Não! — repreendeu Hoseok. — Kookie, não vai na dele.
— Vocês estão com medo!
— Sim! — gritou Hoseok.
— Não! — falaram Jimin e Jungkook juntos.
Taehyung cruzou os braços, Hoseok resmungou que já sabia o que viria agora.
— Vamos no Jokenpo. Quem perder, tem que ir até a porta. — O Kim tinha um sorriso debochado no rosto.
— Ok, vamos lá. — Jungkook prontamente aceitou.
Jimin revirou os olhos, irritado. Fecharam os punhos e jogaram. Jimin colocou papel e, assim como Taehyung, Jungkook jogou tesoura.
— Você perdeu, Chim. Agora vai até lá dentro! — disse vitorioso.
— Jiminnie, não precisa fazer isso, vamos embora. — Hoseok quase implorava.
— Não, regra é regra. Eu perdi, eu vou — disse firme.
Deixou a sacola de doces com Hoseok e empurrou o portão com certa força, mas este nem ao menos se moveu.
Jimin pediu para subir nos ombros de Jungkook, pois não teria como abrir o portão, estava travado por uma fechadura que parecia ser automática. Park conseguiu pular por cima; utilizando de toda sua força, pendurou-se para o lado de dentro da propriedade e se soltou, caindo com os dois pés juntos no chão, limpando as mãos na saia.
— Boa sorte, Jimin hyung — falou Jungkook.
Caminhou um pouco e esbarrou em um arbusto, vários morcegos saíram voando, assustando os outros garotos.
— Merda! — gritou Jimin.
— Volta daí, Jimin! Volta! — pediu Hoseok.
Mas Jimin era orgulhoso e não admitiria estar com medo, principalmente para Taehyung. Seu amigo poderia ser o diabo quando queria e nunca ia deixá-lo esquecer disso. Num ímpeto de coragem e adrenalina, correu pelo pequeno caminho que levava até a casa e bateu fortemente na porta três vezes. Sacudia as mãos impacientemente, sempre olhando para onde os amigos estavam, mas para completar sua falta de sorte, toda a cidade caiu em sombras com uma queda de energia.
— Jimin! — chamou Taehyung, sentindo-se culpado.
— Tá tudo bem! — gritou de volta. — Vamos esperar a energia voltar.
— Jiminnie… Onde você tá? — perguntou Hoseok.
— Tô aqui na porta, tá tudo bem, fiquem tranquilos — disse. — Para de tremer, Jimin — sussurrou para si mesmo.
[•••]
No meio do caminho para atender à porta, uma queda de energia deixou a casa em um profundo breu. Agitou o celular para ligar a lanterna e foi até a entrada. Ao abrir a porta, se deparou com um garoto assustado e de olhos arregalados, vestido curiosamente em um uniforme de líder de torcida um tanto quanto diferente. Yoongi arqueou a sobrancelha ao ver o garoto loiro abrir e fechar a boca algumas vezes. Daquele ângulo, não conseguia ver os outros três rapazes encostados em seu portão, assim como eles não conseguiam vê-lo.
— Posso ajudar? — falou Yoongi em tom baixo, e o garoto continuava a abrir e fechar a boca no escuro.
A pouca luz da lanterna do telefone celular iluminava o rosto da figura à sua frente, incrivelmente pálida, de cabelos negros sobre a testa, expressão entediada e roupas brancas que pareciam muito confortáveis; Jimin queria poder correr dali, mas seus pés pareciam ter sido imersos em cola, pois por mais que enviasse mensagens sinápticas para que seus membros movessem, ele continuava ali, parado.
— Olá? — O ser pálido voltava a falar com ele, a boca quase não se mexendo ao pronunciar a palavra.
— V-você é real?! — disse com um fio de voz, fraco e assustado.
— O quê?! — Riu.
Park olhou para o portão, mas não conseguia ver os amigos, apenas ouvia os garotos planejando como entrar para resgatar Jimin, já que ninguém conseguia levantar Jungkook para que o garoto pulasse o portão e nenhum dos outros dois conseguiria fazer algo de útil para trazer o garoto para fora.
— Olha, se você for fazer bagunça na minha propriedade, eu chamo a polícia — falou o homem de cabelos negros.
Jimin não pôde deixar de notar como seus olhos pequenos eram encantadores e seu timbre era suave demais e real demais para ser um fantasma; reunindo toda a coragem que ainda lhe restava, o loiro perguntou:
— Você não é um fantasma?
Viu o outro franzir as sobrancelhas parecendo confuso e depois sorrir incrédulo.
— Que tipo de brincadeira é essa?! — perguntou. — Olhe, eu não tenho tempo. Volte lá pra fora e vá se divertir.
Só então Yoongi percebeu que os muros eram altos demais e ele nem sequer havia destrancado a fechadura eletrônica de sua residência.
— Aliás! Como você chegou aqui? — disse cruzando os braços. — Eu vou chamar a polícia! — Pegou o celular já discando o número de emergência.
— Não, espera, espera! — falou. — Eu achei que não tinha ninguém em casa.
— E isso te dá o direito de invadir propriedade privada, garoto? — disse em tom bravo.
— Não! Não é isso! — respondeu rápido. — É que eu pensei que na verdade ninguém morava aqui!
Min Yoongi olhava o garoto de cima a baixo, tentando identificar se estava mentindo ou falando a verdade. Já deveria tê-lo expulsado de sua casa, mas ele estava admirado com a beleza do mais novo.
— O que é tudo isso? — perguntou.
— O quê? — O loiro devolveu.
— Essa roupa. — Apontou. — Se veste assim naturalmente?
Jimin olhou para si mesmo, havia até esquecido o que estava fazendo ali, tamanho fora o susto.
— É Halloween, sabe — disse, vendo o outro franzir as sobrancelhas. — É minha fantasia.
A face do outro se iluminou ao entender do que se tratava. O loiro cruzou os braços cobrindo a barriga, envergonhado. A noite toda muitas pessoas o observaram com muitos tipos de olhares, mas sob aquele, do desconhecido pálido e de feições suaves, ele se sentiu… quente?
Olhando agora com mais atenção, poderia dizer que o homem à sua frente era bonito. Não como os galãs de cinema ou de séries de TV conhecidas, mas muito bonito mesmo.
— Isso não explica você ter... — interrompeu-se para olhar para o portão e ver a movimentação dos outros jovens que agora aparentemente discutiam. — Você ia invadir a minha casa?! — perguntou incrédulo.
— Quê?! Não! — Apressou-se em dizer. — Olha, eu estava pegando doces com meus amigos — falou apontando para o portão. — E aí nós-
— Eu não tenho doces — falou simples.
Park piscou algumas vezes, nem sabia mais o que continuava a fazer ali, só sabia que queria ficar e falar um pouco mais.
— Ah, não?
— Não, mas não quero esse negócio de travessuras, então… — Apontou para o portão, indicando que o garoto precisava ir.
Jimin riu, ele poderia estar maluco, mas com certeza estava sentindo alguma coisa estranha ali. Passou a mão pelo cabelo e viu os olhos pequenos do homem de cabelos negros acompanharem o movimento.
— Desculpe, mas é a regra. — Aproximou-se um passo para perto do outro, mordendo o lábio inferior.
— Você já invadiu minha casa, o que mais você quer? — perguntou olhando para a boca carnuda do jovem à sua frente, lutando arduamente para não olhar novamente para as coxas grossas sob a saia.
Com o olhar fixo nos lábios pequenos do outro, Jimin sorriu mais uma vez com um pensamento malicioso que acabara de passar por sua cabeça, ainda mais quando viu que os olhos pequenos fixaram em seus lábios.
— Eu quero doce, hyung. — Aproximou-se do mais velho a ponto de sentir a respiração do outro sobre sua face.
Percebendo a intenção do mais novo, Yoongi riu baixinho tocando o rosto do mais baixo, passando a mão por sua bochecha suavemente.
— Eu já disse que não tenho doces, anjo. — Roçou os lábios no canto da boca do outro enquanto falava. — Mas posso te dar um pouco de travessura…
Jimin envolveu o pescoço do maior com os braços, selando seus lábios, enquanto imediatamente o mais velho segurava sua cintura exposta com dedos firmes e certos. Colou seus corpos com certa impaciência, empurrando o moreno para dentro da residência.
[•••]
Minutos depois, a energia foi reestabelecida e os três rapazes se assustaram ao ouvir a tranca do portão apitar e abrir, levantando-se alarmados. Logo em seguida, viram um Jimin sorridente descer correndo pelo caminho que levava à porta da casa da colina, podendo assim respirarem aliviados ao saber que o amigo estava bem.
— CHIM! — gritou Taehyung. — Me desculpa! Meu Deus, eu não sabia que a energia ia cair, me perdoa! — O Kim quase chorava abraçado ao loiro.
— Fica calmo, eu tô bem! — disse, tranquilizando o amigo.
— Hyung, a gente achou que você tinha sido capturado e nunca mais ia sair vivo de lá de dentro. — O mais novo falou realmente preocupado.
— Credo, Kookie! Foram só alguns minutos, nem demorou muito!
— Você fala com essa tranquilidade, nós estávamos desesperados! — falou Hoseok, abraçando o loiro.
— Tá tudo bem, gente. Relaxem — disse. — Agora vamos sair logo daqui.
Enquanto eles caminhavam de volta em direção à casa de Jisoo, os rapazes contavam sobre os quinze minutos de pânico que viveram em frente à casa da colina. O medo de perder o amigo foi real, principalmente quando Jimin parou de responder aos gritos dos amigos. Foi então que Hoseok notou mais uma coisa.
— Ei, Chim — chamou.
— O que foi?
— Como você conseguiu abrir o portão?
Taehyung franziu as sobrancelhas e Jungkook também parou para pensar.
— É… — disse o Kim. — Você entrou com ajuda do Kookie, mas saiu pelo portão aberto.
— Como você abriu, hyung? — perguntou Jungkook.
— Hm... Acho que foi por causa da energia que voltou, deve ter sido algum curto circuito — mentiu, Yoongi havia aberto a fechadura pelo lado de dentro da mansão.
— E por que você parou de responder quando a gente chamava? — questionou Jungkook. — Nós ficamos muito preocupados!
— Longa história, Kookie. Longa história…
Aproveitou a oportunidade para mudar de assunto assim que avistaram a casa bem iluminada de Jisoo, deixando apenas para si as memórias recentes de algo que nunca havia feito.
Jimin queria algo mais, mais liberdade, mais emoção, uma aventura fora dos padrões conservadores de Busan. Não via a hora de descobrir coisas novas e empolgantes no mundo, mas um número de telefone escrito num papel pequeno e colocado cuidadosamente na box do garoto, quem sabe, poderia ser o início da aventura que ele desejava, dentro da própria cidadezinha de Busan.
~~
Notas finais:
Obrigada a quem chegou até aqui 💙
Me digam o que acharam e um ótimo Halloween a todos! Muitos doces e travessuras.
Roxo 💜 Vocês.
Спасибо за чтение!
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