mariribeiro_1370 Mari F.R

O mundo é um lugar em que estamos apenas por passagem, um dia partiremos... Muitos não são gratos por simplesmente poderem viver e tentar seguir seu próprio caminho sozinhos. Dizem que seu fracasso ou sofrimento foram determinados, talvez tenha sido, mas quem realmente decide como lidar com isso, é você! Maya sempre soube que tinha um ser Divino que olhava por todos, mas ela se sentia excluída e fora desse olhar. Apesar de seguir e aprender sobre Cristo, a dúvida e a solidão nunca a deixou. Em um momento de desespero, sua fé será testada.


Короткий рассказ Всех возростов.

#conto #fe
Короткий рассказ
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Uma segunda chance

Me ajude!

Aquela voz foi o suficiente para fazer Maya pular do sofá. Tinha dormido enquanto assistia a um filme e escutar aquilo tão de repente a assustou.

Se levantou e desligou a televisão, passou as mãos pelos cabelos curtos e as parou em seu rosto, vasculhou os lados a procura daquela voz, parecia a voz de Isabel, sua irmãzinha de dez anos. Mas ela não estava em lugar algum. Se levantou e foi até a cozinha, também não estava.

— Isa? — chamou enquanto ia de um canto a outro da casa. — Mãe? Pai? — não houve qualquer resposta, voltou a sala e viu um pequeno papel dobrado em cima da mesa de centro.

Fomos a casa de Sophia, como Isa também queria ir, deixamos. Voltaremos logo.
Beijinhos!

Mamãe.

Dobrou o papel outra vez e o deixou na mesa, depois subiu e foi tomar um banho. Pelo tempo em que dormira, eles deviam ter saído a mais de três horas e já deveriam ter voltado. Maya tentou deixar qualquer pensamento descer pelo ralo junto com a água. Porém, a cada minuto de silêncio na casa, mais inquieta ficava.

Saiu do banheiro, se vestiu e desceu outra vez para a cozinha, fez um lanche e comeu com muito custo, sua preocupação aumentava e junto com ela sua ansiedade. Olhou as horas em seu celular e o enfiou no bolso outra vez, já eram mais de sete horas e ninguém aparecia. Começou a bater o dedo freneticamente na mesa enquanto tentava em vão se acalmar.

— Não tenho motivos para estar nervosa! — falou em voz alta para ter certeza de que ficaria tudo bem. Mas não adiantou e ela ficou ainda mais nervosa, parou de mexer o dedo por um momento enquanto pensamentos estranhos vinham a sua mente.

A música alta quase a derrubou do banco, estava tão destraída que acabou se assustando com o toque do celular. Pegou o mesmo no bolso e atendeu.

— Alô? — mais ao fundo ela pôde ouvir um barulho inscesante de uma sirene e pessoas conversando alto.

— Maya Rodrigues? — uma voz masculina perguntou do outro lado da linha.

— Sim, sou eu. — ela respondeu sentindo um enorme frio percorrer sua espinha, nunca escutara aquela voz em sua vida e tudo o barulho ao fundo não trazia uma boa impressão. — Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou torcendo para que qualquer coisa que saísse da boca dele fosse um mero engano.

— Infelizmente sim... — o homem respondeu.

— O que foi?

— Emília Rodrigues e Saulo Rodrigues se envolveram em um acidente de carro juntamente com uma criança chamada Isabel... — Maya sentiu como se todo seu mundo estivesse desabando em sua frente. Lágrimas desceram por seu rosto enquanto suas pernas ficaram fracas fazendo com que seu corpo fosse ao chão. Sem qualquer amparo, ela ficou ali caída no chão sentindo o desespero e a dor a invadir.

— E-eles...? — começou sem a mínima coragem para terminar, queria que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo e quem alguém a tirasse dele.

— Lamento informar que seus pais morreram no local. — o homem falou com pesar.

— Não, por favor não! — ela sussurrou sem forças para dizer algo a mais, não queria acreditar naquilo. Eles não podiam ter morrido... Como suportaria aquela dor? Como seguir em frente sem eles? Por que Deus permitiria isso?!

— Sinto muito — o homem pronunciou baixinho.

— Isabel também...?

— A garota foi levada as pressas para o hospital, sua pulsação está muito fraca mas ainda assim persistente.

— Onde ela está? — perguntou se levantando toda atrapalhada, Isabel ainda tinha chances de viver e ela não podia perder Isa também.

Pegou as chaves assim que o homem lhe disse o nome do hospital e se retirou para o mesmo. Também queria ver os pais, mas do que adiantaria agora se eles estavam mortos? Isabel poderia acabar morrendo a qualquer momento também e Maya precisava vê-la antes que isso pudesse acontecer.

Chegou ao hospital em poucos minutos, correu até a recepção e perguntou sobre sua irmã. Seu estado era grave, ela estava passando por uma cirurgia agora e corria um sério risco de morte. Maya tentou se manter forte, mas foi impossível, cada parte de seu corpo tremia em desespero, seu rosto ficava cada vez mais molhado devido ao choro que não parava de cair e os soluços aumentavam cada vez mais. Uma das enfermeiras a levou até o corredor perto da sala de cirurgia em que Isabel estava e a fez sentar em um dos bancos.

Foi nele que Maya desabou de vez, sem esconder sua dor e muito menos tentar ser forte, ainda não acreditava que algo como aquilo podia estar acontecendo com ela. Mas em sua mente os "por ques" não paravam de surgir. Principalmente o por que Deus que tem todo o poder e é dono de tudo, deixou que aquilo acontecesse, o por que de ele ter deixado eles morrerem. E agora Isa estava ali, em uma sala de cirurgia entre a vida e a morte.

꧁꧂

Mais de duas horas haviam se passado desde que Maya chegara ao hospital, não tinha mais qualquer lágrima para ser derramada, não tinha mais forças, seu olhar não trazia qualquer emoção a não ser dor, dor e vazio que se instalara em seu peito. Por todo aquele tempo sentada ali, ela não teve qualquer notícia da irmã, ninguém lhe falara sobre seus pais, a não ser no momento em que a pediram para que reconhecesse os corpos. Ela os reconheceu e voltou para onde estava sua irmã, eles estavam mesmo mortos e sua única esperança era de que Isa ficasse bem e voltasse para casa com ela.

Seu celular tocou em cima do banco e ela logo o atendeu, mas sequer teve forças para pronunciar um "alô".

— May? — Josh falou do outro lado da linha. Ele era um de seus melhores amigos, o que Maya mais gostava e talvez o mais próximo. — Você está bem? — ele perguntou preocupado com o silêncio dela. — Bom, — ele continuou depois de um tempo em que ela ficou calada. — eu estava pensando, faz tempo que você não sai e como estamos de férias, pensei em te convidar para pegarmos um cinema amanhã, o que acha?

— Desculpe Josh — ela falou enquanto passava a mão pelo cabelo outra vez. — eu... — a frase se perdeu no ar quando outra crise de choro a dominou.

— May, o que foi? — ele perguntou preocupado.

— Eu... Não consigo dizer... — ela respondeu com a voz embargada.

— Onde você está?

— No hospital central — ela respondeu fungando.

— Estou indo aí.

— Vem logo. — ela pediu desligando o celular e o deixando outra vez no banco, olhou em direção a sala, nenhum médico ou enfermeira tinha saído para lhe dar notícias sobre Isa.

Os minutos pareciam uma eternidade enquanto Maya esperava, não só Josh como alguém para lhe dizer que Isabel ficaria bem.

O garoto alto de cabelos negros não tão grandes logo apareceu vindo a passos largos e rápidos pelo corredor praticamente vazio. Assim que o viu, Maya se levantou indo em direção a ele, que abriu os braços nos quais ela se aconchegou. Ela precisava daquele abraço, precisava de alguém que fosse seu apoio e que lhe desse o mínimo de força possível.

— Você demorou... — ela sussurrou afundando o rosto em seu peitoral.

— Me desculpe, — ele sussurrou de volta dando um beijo em sua testa enquanto mexia em seu cabelo. — eu sinto muito pelos seus pais. — ele a apertou em seus braços e a simples menção de seus pais, a deixou totalmente abalada de novo e ela não pode sequer evitar as lágrimas. — sei o quanto deve estar sendo difícil pra você e vou ficar aqui pra te apoiar.

— Por que? Por que com eles? — ela perguntou trincando os dentes. — Por que Ele deixou isso acontecer?

— Não é culpa Dele May. — ele disse a afastando e limpando as lágrimas que continuavam caindo de seu rosto. — Foi um acidente...

— Mas Ele poderia ter salvado eles.

— Talvez já fosse a hora. — ele argumentou encolhendo os ombros. Ela mordeu os lábios e desviou o olhar. — Olha, — ele disse com suavidade. — Isabel está naquela sala agora e tudo o que importa, mas tenho certeza de que ela ficará bem, e você também precisa acreditar nisso.

— Não sei mais em quê acreditar... — ela falou com desgosto. Ele puxou seu rosto gentilmente a fazendo olha-lo.

— Ela vai ficar bem e eu vou ficar com você, está bem? — ela confirmou com um aceno e o abraçou, outra vez desabando em lágrimas.

— Maya Rodrigues? — um arrepio estranho percorreu seu corpo, era a mesma voz que lhe dera a notícia da morte de seus pais e ela não fazia ideia do que esperar ouvindo aquela mesma voz.

Se afastou de Josh e se virou para encarar o dono da voz, um homem com um jaleco branco, uma barba rala e o cabelo grisalho, devia ter no máximo 50 anos e provavelmente era um dos médicos responsáveis por Isabel.

— Isabel está bem? — ela perguntou sem conter sua ansiedade, precisava saber de Isabel urgentemente.

— Seu estado ainda é crítico e preocupante — ele respondeu com toda sua sinceridade, preferia dizer logo a verdade do que ficar dando falsas esperanças a alguém. — ainda está inconsciente e está respirando por aparelhos. Não posso dizer agora se ela ficará bem ou não, estamos fazendo o que podemos para que fique bem, lamento sua perda, — ele disse tocando seu ombro. — sua irmã tem poucas chances de sair viva daqui, mas nada é impossível e há coisas que só Deus pode fazer. — ele terminou acenando e o então seguiu para outra sala.

꧁꧂

Várias pessoas entravam pelo local trazendo flores e prestando homenagens a Emília e Saulo. Alguns pronunciaram textos grandes, outros, algumas poucas palavras, mas que para Maya, eram as mais sinceras. Não pudera visitar Isa ainda, então fora até o velório de seus pais no dia seguinte. Não conseguia parar de pensar nela e muito menos deixar que o medo de que ela também partisse a dominasse. Precisava vê-la logo, ter a certeza de que ela ficaria bem, precisava encarar aqueles olhos azuis outra vez.

Os dois foram enterrados e aos poucos as pessoas foram indo embora, deixando somente ela alí, Josh ficara logo atrás dando a ela o tempo necessário de que ela se despedisse, apesar de que não havia tempo o suficiente para se despedir, nunca queremos nos despedir das pessoas que amamos, é doloroso demais dar tchau e aceitar o adeus que você não pôde dar, que foi forçado a aceitar, é pior ainda.

A dor da saudade nunca passa, não há uma superação, talvez por algum tempo, haja alguns sorrisos e momentos de felicidade, mas a dor e a saudade sempre aparece e é nesse momento que você se sente acabado e sem qualquer motivação pra seguir adiante.

Maya deixou uma última flor em cada túmulo e dando um último adeus, se virou para ir embora.

— Por que ainda está aqui? — ela perguntou se aproximando de Josh, fazia muito tempo que estava ali supostamente sozinha.

— Eu não disse que ficaria com você? — ele devolveu outra pergunta. — Temos que voltar ao hospital... — ela concordou e ele passou um braço em volta de seu ombro e sairam em direção a saída do cemitério.

Por mais que ele não tivesse dito em voz alta, havia um motivo para ele estar ali com ela, não só um, mas muitos. Ele também havia perdido os pais a dois anos antes e quem o ajudou foi Maya, esse era um dos motivos deles serem tão próximos, ele sabia pelo que ela estava passando e queria ajudá-la. E outro era o mais importante, o real motivo de ele se importar, não era qualquer sentimento de gratidão, — apesar de quê ele era totalmente grato a ela. — mas sim um sentimento mais forte e carinhoso.

No hospital estava a mesma coisa, a mesma correria de todo o dia. Os dois seguiram juntos até o mesmo corredor em que esperaram na noite passada, se sentaram na esperança de que o médico passasse por ali e dissesse que Isabel tinha apresentado alguma melhora, mas por um longo tempo isso não aconteceu e demorou até que o Dr. Stevans aparecesse.

— Doutor? — Maya chamou assim que ele passou por eles. — Posso ver Isa? — ele a olhou por um tempo e depois para a sala, então deu de ombros e fez um sim silencioso.

— Mas não agora, — ele falou soltando um suspiro. — vamos transfiria-la para a UTI e então poderá ficar com ela.

— Obrigada. — ele acenou e saiu outra vez.

— Pode ser um bom sinal — Josh disse dando um sorriso.

— Sim.

꧁꧂

Maya abriu os olhos e os piscou algumas vezes para se acostumar com a claridade do local, não se lembrava de tanta luz na UTI do hospital, mas também não ouvia o barulho incessante que checava os batimentos de Isa. Estava a mais de três semanas na UTI e ela se recuperava lentamente e todas as esperanças já tinham se esvaziado. Mas... Ela não estava no hospital, não estava com Isa...

Se levantou o mais rápido que pôde, mas não saiu do lugar, não fazia a mínima ideia de onde estava. A claridade não vinha por luzes elétricas, não havia barulho de aparelhos ou até mesmo passos apressados pelos corredores, afinal, não havia um corredor, nem uma parede sequer. Josh também não estava do seu lado, era só ela.

Olhou ao redor procurando por Isa e Josh, era inútil procurar...

Mas não ficou preocupada, o lugar lhe transmitia total paz e segurança. Flores silvestres de cheiros suaves cresciam ao redor, árvores com folhas coloridas a cercavam e a poucos metros a frente, o barulho de uma cascata se fez presente.

Sem qualquer temor, deixou seus pés a levarem em direção a água, era uma enorme cascata de água cristalina, que levava vida a todo o local. Ao olhar para o lado percebeu uma estreita trilha que conduzia uma inclinação para cima. Continuou seu caminho por ela, uma brisa gentil soprou em seu rosto, o que fez ela se sentir renovada e alegre apesar de todo o sofrimento pelo qual estava passando.

No fim da trilha se deparou com uma casa vidrada com um lago a frente. Atravessou a ponte e parou em frente a casa, a porta se abriu e ao estar dentro a mesma se fechou sozinha. Continuou andando até chegar um longo vidro que deveria ser uma parede, parou em frente ao mesmo e então olhou além dele.

Crianças com auras celestiais corriam para lá e para cá, riam delíciadas e cantavam alegres, algo que Maya não conseguia entender, apesar de se concentrar e tentar ela não soube que língua era aquela.

Uma criança em especial lhe chamou a atenção, os cabelos negros e grandes balançavam livres ao vento, usava um lindo vestido branco e carregava uma coroa de flores. Tinha quase certeza de quem era aquela criança, seu coração acelerou dando forte sinal de vida, o que não fazia a muito tempo. A criança seguiu com a coroa de flores na mão até parar perto a um homem com a aura ainda mais impressionante, irradiava luz branca e pura, que transmitia amor e paz. O mesmo se abaixou para que a própria garotinha colocasse a coroa sobre sua cabeça, depois lhe deu um sorriso, e fez com que ela se virasse para Maya.

A garota correu em direção a Maya que ao ter a certeza de que era mesmo Isabel, deixou seu corpo ir ao chão apoiando suas mãos no vidro, algo a aqueceu por dentro quando Isabel parou em frente ao vidro e colocou suas mãos rentes as suas, talvez fosse seu sorriso, estava mais vivo do que nunca, belo e quente. Lágrimas de felicidade escorreram por seu rosto. Isa estava bem, feliz e cheia de vida, por um momento não conseguiu se lembrar da garotinha sem vida na cama de um hospital ligada a aparelhos.

— Eu te amo.

Ela sussurrou soprando um beijo, dando um longo sorriso logo depois.

— Eu também te amo.

Maya respondeu sentindo um aperto em seu peito, Isa acenou para ela e então se virou e correu para junto das outras crianças.

Maya se levantou e ficou por um bom tempo olhando elas brincarem em absoluta paz. Estava distraída observando elas que não percebera as duas pessoas a sua frente, do lado oposto do vidro. Eram Emília e Saulo, eles deram a mão e então ergueram as mãos livres para o vidro, Maya colocou também suas mãos rentes as deles como se pudesse sentir seus toques.

Não pôde evitar que as lágrimas aumentassem ainda mais por seu rosto, não era tristeza, talvez um pouco por lembrar da dor de ter perdido eles tão cedo, mas também alegria por vê-los bem, eles estavam em completa paz e harmonia.

— Mãe... Pai... — eles lhe deram um sorriso. — Eu... — não conseguiu terminar sua frase, a emoção era demais para tal.

— Não se preocupe querida. — seu pai falou com firmeza.

— Deixe que ele cuide de você — sua mãe disse lhe passando confiança. — não sofremos com a passagem, estamos bem.

— Amamos você querida, iremos espera-la, e sempre estaremos com você.

— Seja forte filha. — sua mãe completou. — Não se esqueça de que te amamos muito. — Maya acenou com a cabeça enquanto via os dois virarem as costas e irem em direção contrária a Isabel.

— Também amo vocês. — eles se viraram dando um último sorriso e foram embora.

Tentou em vão controlar o choro, vê-los ali lhe despertaram a saudade e ela só queria estar com eles, para ela seria o suficiente.

Mãos gentis tocaram seus ombros e ela se virou para trás, não pôde distinguir totalmente o rosto do home, mas soube que era o mesmo para o qual Isa tinha lhe dado a coroa de flores, a mesma ainda estava em sua cabeça. Maya engoliu o choro, porém um sorriso terno lhe foi direcionado.

— Não tenha medo de se expressar criança — sua voz veio como uma suave melodia aos seus ouvidos. — chore! Alivie sua alma, não deve guardar tudo em seu coração, se o fizer o tornará escuro...

Ela fez o que lhe foi aconselhado e deixou todo seu choro sair, toda a frustração e dor saíram como um choro alto e sofrido. Sua saudade, o vazio em seu peito, a angústia, a deixaram naquele instante, junto foi toda a dúvida que por muitos anos vieram dominando sua vida.

— Eles estão bem — o ser Divino falou outra vez a fazendo olhar para ele. — continuamos cuidando deles e quero que me deixe cuidar de você, sei que seu coração está machucado, posso ouvir ele chorando todo dia... Mas quero que confie e continue cultivando sua fé, és uma filha forte e destemida. Mas os mais fortes também necessitam de ajuda.

— Não sou forte — ela disse em meio aos choros e soluços.

— Você é forte, vejo suas lutas e sei o quão forte é. Tenha fé, confie em mim e principalmente, confie em você. — Maya sentiu todo o vazio que dominava seu peito ser preenchido por algo quente e reconfortante. Deu um pequeno aceno em concordância e Ele a olhou com ternura. — É hora de ir Maya, seja forte!

O barulho incessante dos batimentos cardíacos se fez presente outra vez, apesar de estarem no corredor, ainda podiam ouvir devido ao silêncio no hospital. Passos suaves suaram próximos e uma porta foi aberta. Maya sentiu dedos brincarem com seu cabelo e sua respiração entrou em ritmo com os bips da máquina. Forçou seus olhos a se abrirem e então se viu outra vez no corredor do hospital, viu a sua frente as pernas de alguém que apoiavam sua cabeça. Se ergueu e Josh a saudou com um bom dia caloroso.

— Alguma novidade? — perguntou esfregando os olhos.

— Ainda não — ele respondeu frustrado.

Ela se levantou e foi até o quarto com Josh indo logo atrás dela, uma enfermeira a observava os aparelhos. Os batimentos ficavam cada vez mais fracos, Maya sentiu medo ao perceber os batimentos de sua irmã diminuindo.

— O que está acontecendo? — a enfermeira saiu do quarto em busca do médico. Maya foi até seu lado e segurou firme em sua mão. O monitor disparou em um sonoro e eterno pii, mostrando uma linha reta que fez com que Maya entrasse em desespero. — Isa! Isa você não pode desistir! Não pode fazer isso comigo! — ela gritou desesperada.

O médico entrou na sala e começou um longo procedimento de reanimação em Isa. Josh apoiava Maya enquanto seu choro aumentava junto com gritos desesperados. O médico parou e o monitor continuou mostrando a linha reta. Ela ficou com o olhar vidrado no monitor sentido seu coração trincar ainda mais. Josh a soltou e ela foi até Isa a abraçando de um jeito improvisado que não mexesse qualquer dos tubos de soro, aquilo não podia ser uma despedida.

— Isa... — ela sussurrou já sem forças. — Eu te amo. — foi tudo o que ela conseguiu dizer, era tudo o que ela poderia falar, se ela não pudesse ficar mais entre eles, ela deveria se despedir e dizer uma última vez.

A sala ficou em completo silêncio, Maya sabia que Ele faria o que fosse melhor, Ele havia cuidado de seus pais e de Isa também em todo esse tempo, se isso fosse o melhor, ela aceitaria. Porque Ele lhe mostrara e lhe tirara toda e qualquer dúvida que estava em seu coração.

Uma mão fria repousou em seu braço e Maya ergueu a cabeça assustada. Era a mão de Isabel e não era só ela que estava vendo. Virou seu olhar, os batimentos tinham entrado novamente no ritmo certo e os lindos olhos azuis de Isa estavam outra vez abertos e brilhantes.

— Eu também te amo.

꧁꧂

— Como está se sentindo? — Maya perguntou entregando um copo de suco para Isabel.

— Cansada, mas bem. — ela disse dando um sorriso.

— É normal eu acho, — ela diz com um sorriso terno também. — saiu do hospital a poucos dias e teve uma experiência inexplicável. — ela balançou a cabeça.

— Tudo parecia um sonho, — ela falou prendendo sua atenção. — toda a luz que Ele tinha em volta, as outras crianças...

— Do que você mais lembra? — Maya perguntou realmente curiosa.

— Lembro Dele me dizer que eu estava em tratamento — seu semblante ficou pensativo. — que meu corpo e minha alma precisavam de descanso então eu ficaria ali por um tempo. A paz era tão grande e real, também me lembro de ter visto você, acho que foi o que me deu mais força.

— Eu acho que foi totalmente ao contrário. — as duas acabaram rindo.

A porta foi aberta o garoto de cabelos negros apareceu com um sorriso radiante no rosto.

— Como estão minha guerreiras?

— Beeeeem! — Isa cantarolou em resposta.

— Bem também — Maya respondeu assim que ele lhe lançou um olhar preocupado.

— Então — ele começou deixando as sacolas em cima da mesa. — hoje rola o cinema improvisado né?

— Por favor! — Isa disse aderindo a empolgação dele.

Maya foi até a cozinha e terminou de arrumar as coisas enquanto Josh cuidava dos filmes e todo o resto. Desde o acidente ele sempre estava por perto cuidando das duas. Maya sorriu sozinha consigo mesma ao lembrar do quanto ele fazia de tudo para divertir Isabel nos dias seguintes em que ela recebera uma nova chance de viver, ele sempre estava ali, fazendo com que ela esquecesse a dor e desse sorrisos contagiantes.

— Do que você está rindo? — Josh perguntou aparecendo de repente ao seu lado, aproveitou a mão molhada e espalhou água pelo rosto dele.

— Nada seu bobo! — ela disse rindo, acabou de arrumar tudo e se virou novamente pra ele. — Quero te agradecer por ter ficado comigo, não sei o que eu seria sem você.

— Eu não te disse que ela ficaria bem!? — ele disse piscando.

— Sim, foi um grande apoio pra mim, e eu pude finalmente ter uma nova visão sobre o mundo e esquecer toda dúvida que rondava meu coração... Obrigada!

— Aceito seu agradecimento se eu ganhar um beijo. — ele brincou e para sua total surpresa Maya realmente o fez, um leve beijo em seus lábios mas foi o suficiente para deixá-lo confuso. Ela saiu em direção a cozinha enquanto ele ficou estarrecido em frente a pia.

— Você não vem? — ela perguntou escondendo uma risada.

— Ahm... Claro!

24 августа 2021 г. 12:32 0 Отчет Добавить Подписаться
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Mari F.R 18 Years Escritora de vários gêneros. Livro físico: Em minhas flores, poesias.

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