Короткий рассказ
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Love Macchiato

Era início de outono em Paris, as folhas alaranjadas caídas de suas árvores seminuas, voavam com o vento frio e cortante da manhã, formando uma tempestade de folhagens coloridas, que, conforme a luz do sol emergente ao leste refletia em suas faces, deixavam-nas com cores cada vez mais vibrantes, criando assim, a mais bela das paisagens. Eram aproximadamente sete e dez da manhã, o nascer do sol estava belo naquele amanhecer, os raios solares dispersavam o resquício de neblina da madrugada, e eu me sentia abençoada por ter acordado mais cedo naquele dia, desta forma, teria a oportunidade de apreciar uma boa xícara de café, como não fazia há um tempo. Normalmente, minhas manhãs eram agitadas, acordava às sete e meia, para chegar na faculdade às oito, mal conseguia o tempo para aproveitar o café da minha cafeteria favorita do de toda Paris, a belíssima L'amour Café, um estabelecimento antigo e conceituado, incrivelmente decorado com paredes de tijolos laranjas e lindos candelabros de luzes amareladas, de forma a revelar um ambiente aconchegante, que eu amava frequentar.

Apenas passando em frente à vitrine da loja, meu coração batia mais forte, transbordando alegria, aquele era o meu lugar favorito da Terra, principalmente durante as estações outono e inverno, minhas preferidas do ano, pois o clima de ambas combinava perfeitamente com bebidas quentes.

O cheiro do café, em harmonia com o aroma doce dos bolos e biscoitos, a aparência sedutora dos macarrons coloridos, embalados em caixas transparentes com laços de fita de cetim no mostruário do lado de fora do local, me traziam paz. Eu estava tão animada de poder adentrar a cafeteria novamente, a desfrutar completamente daquele ambiente aconchegante, ao me sentar na janela e observar a maravilhante paisagem parisiense, enquanto bebia meu café e apreciava um bom livro.

Pressentia que aquele dia seria meu dia de sorte, talvez o melhor da minha vida, apenas por ter acordado mais cedo, motivada e me sentindo bem comigo mesma, podendo ter a oportunidade de relaxar e ter um momento só meu, que ninguém poderia tirar de mim. Estava sendo minha melhor companhia, e eu iria brindar àquilo com uma caneca de expresso. Minha previsão começara a concretizar-se no instante em que eu entrei na cafeteria e vi o recinto completamente vazio, o que normalmente não acontecia, afinal, a fama da L’amour causava filas quilométricas, compostas principalmente de turistas e novos moradores, que gostariam de, ao menos uma vez em suas vidas, conhecer a considerada melhor cafeteria de Paris. Esbocei imediatamente um sorriso quando avistei meus queridos amigos, funcionários do local, e caminhei até eles, então me sentando ao balcão, onde eles se encontravam.

— Bom dia, pessoal! — Falei, abrindo ainda mais meu sorriso, demonstrando a felicidade radiante que sentia naquele momento.

Peguei cardápio em mãos, mesmo já sabendo que pediria o que sempre pedia, exclusivamente para observar a estética do mesmo, por ele ser tão bem feito e as imagens do menu serem tão convidativas

— Bom dia, Madame Catherine, há quanto tempo não a víamos sentada no balcão, está sempre com pressa. — Amélie, gerente da cafeteria, disse, dando uma risada em seguida.

Eu ri junto à ela, e então respondi:

— Senti tanta falta! Eu precisava disso.

— O que vai ser hoje, Cath? — Pierre, o estagiário com sonho de se tornar um modelo profissional, indagou, com sua voz doce e rouca, abrindo um sorriso sedutor, somente com o canto dos lábios.

Pierre sempre fora apaixonado por mim, e sempre flertava comigo em quaisquer oportunidades que tivera. Eu não o correspondia, porém não deixava que tal detalhe afetasse nossa amizade, por escolha do próprio rapaz, que dizia que, mesmo não nos amando da mesma forma, éramos almas gêmeas, afinal, éramos melhores amigos. Eu não conseguia vê-lo como algo além de meu irmão, e eu o amava da tal maneira, sempre demonstrando isso à ele, sendo o mais responsável possível com seus sentimentos.

— Você nunca se cansa, não é mesmo?. — Eu falei, tirando de todos, uma risada. — Eu vou querer o de sempre: um Latte Macchiato grande, e macarrons sortidos para acompanhar.

— Com prazer minha rainha. — Disse Pierre me olhando com seus belos olhos verdes, enquanto pegava minha mão e depositava nela, um beijo.

— Ao trabalho, galanteador! — Amélie exclamou, puxando a orelha de Pierre levemente, para tirá-lo da minha frente, que cambaleou para o lado.

— Calma, calma, já estou indo! — Falou.

— Vamos, circulando, temos mais o que fazer! — Continuou Amélie. Sua voz estridente fez com que todos se assustassem, inclusive eu, que exalei ar pelo nariz, em uma risada contida.

De prontidão, Dominique, o barista, e Camille, sua noiva e chefe da cozinha, correram para seus respectivos postos, e Pierre, me dirigiu uma piscadela, com um meio sorriso nos lábios, em seguida saindo lentamente para o salão, para limpar as mesas que viriam a receber novos clientes.

Enquanto esperava meu pedido, retirei da bolsa, o meu romance preferido e meus fones de ouvido. Caminhei à minha mesa favorita da cafeteria, em um canto estratégico, com bancos acolchoados e encostada na janela, onde pegava a quantidade perfeita de sol, o suficiente para me esquentar e iluminar a leitura, porém a luz que refletia ali não era o bastante para atrapalhar minha visão, o lugar perfeito para o que pretendia fazer.

Eu me sentei, e coloquei em meus fones uma música, que era apenas instrumental, para que eu não houvesse distrações, nem do mundo externo, nem devido à letra da canção, e abri o livro, consumida por alegria e ansiedade para continuar a leitura e saber o que iria acontecer à seguir. Aquelas páginas amareladas e cheias de histórias me transportavam para um mundo cheio de emoções e possibilidades. Cada vez que eu mergulhava naquelas palavras, era como se a protagonista e eu nos tornássemos uma só, compartilhando nossos segredos mais profundos e desejos mais intensos. As descrições cuidadosas do autor me faziam sentir como se estivesse presente naquela época e lugar, em cada cena romântica e momentos de conflito. Eu podia sentir a brisa suave acariciando minha pele enquanto os protagonistas se encontravam sob a luz suave do luar. O perfume das flores e o som dos pássaros enchiam meus sentidos, como se eu estivesse imersa em um sonho encantado.

A porta se abriu, o que causou o soar do sino sinalizador, que quebrou o silêncio do café, e invadiu meus ouvidos, mesmo através dos fones, de forma a me fazer pular de susto e causar em meu coração, uma leve arritmia, me tirando a atenção das páginas. Minha reação imediata fora direcionar o olhar para a porta, quando avistei um rapaz, que estava inerte na entrada, e tremia de frio, seus dentes inferiores batiam nos superiores, e seus lábios pareciam pálidos e ressecados. Passei a prestar atenção no homem, observando-o cuidadosamente, ele estava com a coluna levemente curvada, encolhido, tentando compactar seu corpo e deixa-lo quente. Esfregava suas mãos uma na outra, enquanto as assoprava, com a boca encostada nelas, a fim de esquentá-las. Ele não estava agasalhado adequadamente para a temperatura daquela manhã, certamente iria esquentar durante o dia, como sempre acontecia, porém não naquele momento, naquele exato instante, as temperaturas estavam se aproximando de zero, e o homem vestia nada além de uma blusa justa e fina de gola alta, que agarrava em seus músculos volumosos, destacando cada curva, chamando minha atenção, principalmente para seus bíceps definidos e esculpidos. Poucos segundos olhando-o foram necessários para que eu ficasse hipnotizada por ele, um homem alto, bonito como uma como uma noite estrelada de lua cheia, moreno, de cabelos cacheados e pretos como breu, os olhos castanhos, brilhantes como caramelo e rosto angelical, com uma pele perfeita e uniforme, escura e iluminada, que refletia a luz quente da cafeteria, em um brilho levemente dourado, como nunca antes visto. Tudo acerca daquele rapaz passava suavidade, possuía uma aura doce e delicada, parecia confuso, certamente não era parisiense. "Poderia ser estrangeiro" — Pensei comigo mesma, enquanto o encarava.

Ele olhava para todos os lados, aparentemente buscando algum lugar para se sentar, e fora quando seus olhos passaram por mim, que estava vidrada nele, e então nossos olhares se encontraram, mesmo que por um breve instante, fora o suficiente para que o tempo parasse ao nosso redor. Naquele momento, senti uma conexão inexplicável entre nós, os olhos dele transmitiam uma mistura de curiosidade e encantamento, enquanto os meus refletiam surpresa e uma certa timidez, já que nunca havia me sentido tão atraída por um estranho em toda minha vida.

O tempo parecia ter desacelerado enquanto nós nos observávamos. Qualquer um que estivesse ao nosso redor se tornaram meros espectadores, desvanecendo-se em segundo plano. Era como se apenas nós existíssemos naquele curto período composto de pura magia.

Um sorriso tímido surgiu, involuntariamente em meus lábios, quando e rapaz acenou em minha direção com a cabeça, como um cumprimento, demonstrando que vivenciou a mesma coisa que eu, e que, aquele momento de conexão entre nós, não fora algo da minha imaginação.

Pierre, chamou minha atenção, me despertando dos meus devaneios, com o meu pedido disposto em belas peças de louça, posicionadas à minha frente na mesa. O café pelando em uma caneca de porcelana decorada, e um adorável desenho de coração feito com calda de chocolate no prato onde estavam os macarrons, que combinava com a caneca. Direcionei meu olhar para ele e sorri.

— Foi você quem fez esse coração? Indaguei.

— Sim, fui eu. — Pierre respondeu. — Queria alegrar o seu dia, sei como você anda estressada, mas mesmo assim dá valor às pequenas coisas da vida... E eu adoro isso em você, por isso o coração. — Completou e sorriu, enquanto acariciava meus cabelos, a partir de uma carícia breve no couro cabeludo, e então descendo ao comprimento com os dedos.

Eu devolvi o sorriso e reclinei minha cabeça em seu torso, em demonstração de alívio e gratidão. Ele me entendia, estávamos em situações parecidas, batalhando dia e noite para a conquista de um sonho.

Ele depositou um beijo em minha testa e se retirou.

Eu o observei enquanto saia, ele encaminhou-se na direção oposta de onde eu estava, e foi ao encontro do rapaz que entrara há pouco, cujo ainda tremia de frio, e escolhera o pior assento de toda a cafeteria para se esquentar. Ali não batia sol, ficava logo abaixo do ar condicionado, que arejava o local. Me senti comovida vendo-o ser dilacerado pelo frio.

Respirei fundo para tomar coragem e me levantei, retirando de meus ombros, a manta de tricô, que estava posicionada sobre meu casaco. A peça tricotada já era quente o suficiente sozinha, assim como o casaco, por isso, decidi que iria dá-la ao rapaz, para que não sentisse mais tanto frio. Me desloquei até a mesa do estranho, ficando parada em pé ao seu lado, que olhou para mim com olhar de confusão. Apenas estendi o braço, entregando-lhe a manta.

— Não pude deixar de notar que está tremendo de frio, não parece acostumado com esses ventos. Aceite esse tricô, ele é quentinho. E se quiser uma dica, o outro lado do salão não é tão gelado, pega um pouco de sol na janela onde estou, pode vir se sentar comigo.

— Ela tem razão, senhor. Madame Catherine frequenta aqui desde a infância, ela sabe tudo sobre esse lugar. — Pierre, que acabava de anotar o pedido do rapaz, concordou comigo, sorrindo, e então acenou com a cabeça, em seguida se retirando dali, para a cozinha, entregar a comanda à Camille.

Esbocei um sorriso tímido e desajeitado, esperando pela resposta dele, que se levantou e me fitou, com uma expressão séria e fria estampada em seu rosto, que logo após alguns segundos transformou-se num sorriso doce e agradecido, deixando à mostra seus belos dentes brancos e alinhados, enquanto seus olhos se fechavam e as todas as linhas ao redor ficavam evidentes, como se estivessem sorrindo também. Era um dos mais belos sorrisos que já tinha visto, estava encantada por aquele homem.

Ele tomou o tricô para si e colocou sobre seus ombros, relaxando sua expressão, claramente aliviada, durante um suspiro.

— Nossa! — Exclamou. — Realmente esquenta, muito obrigado, de verdade! Nem sei como posso te agradecer. Me permite te pagar uma bebida?

— Não, senhor, imagine! Mas eu agradeço imensamente. Apenas sente-se comigo e se esquente. A propósito, como se chama? — Perguntei, já tomando a frente e começando a caminhar de volta para a minha mesa.

Ele, me seguindo, respondeu:

— Sou Matheus, mas pode me chamar de Math para facilitar, muito prazer. E quando você disse que eu não parecia acostumado com esses ventos, acertou em cheio. Sou brasileiro, morava em uma cidade litorânea e me mudei há pouco tempo. Lá definitivamente não tem esse clima europeu. — Ele riu.

Quando o ouvi, me espantei, estava certa, ele era estrangeiro, apenas por sua aparência e postura eu conseguia dizer, além de seu sotaque, que soava tão adorável. Matheus, Math: brasileiro... Isso explicaria muita coisa.

— Uau, isso é impressionante! Seu francês é ótimo! — Exclamei.

Ele agradeceu e sorriu timidamente.

Ao chegarmos em minha mesa, dei à ele meu lugar, que absorvia um pouco melhor a luz do sol, e poderia deixa-lo mais aquecido.

— Você é a primeira madame francesa que é realmente gentil comigo desde que cheguei, obrigado de novo. — Disse ele, se sentando no banco.

Eu me sentei em seguida, ao lado oposto da mesa, ficando frente à frente com o rapaz, que arrastou para a minha direção, o livro, o prato de macarrons e a caneca de café, com cuidado para que não derramasse uma gota se quer na superfície. Ele era diferente de qualquer um que eu já havia conhecido, era um verdadeiro cavalheiro, doce e tinha um perfume encantador, um cheiro familiar, que me trazia calma e paz. Nada parecido com os homens franceses que já tive a oportunidade de me relacionar, rudes e fétidos, trogloditas, completamente opostos ao estrangeiro. Eu estava maravilhada, aos poucos minha postura fora sendo perdida, se quer que ainda houvesse alguma restante em mim.

Soltei uma risada frouxa e desajeitada, com a cabeça inclinada para baixo e colocando o cabelo atrás da orelha, deixando evidente minha timidez.

— O que lhe trouxe a Paris, Math? — Perguntei, direcionando novamente meu olhar para o rapaz, com o intuito de conhece-lo melhor, e conversar com ele, ouvir um pouco mais sua voz aveludada e seu sotaque adorável, que eu poderia escutar pelo resto da minha vida, sem me cansar.

— Fui aceito para um programa de residência aqui. Ainda estou no primeiro ano como residente, por isso ainda não me acostumei muito com o clima. — Ele riu.

Matheus tinha um ótimo senso de humor, a todo momento sorridente. Me fez sentir como se nos conhecêssemos há anos, estava à vontade comigo, assim como eu estava com ele, não parecíamos estranhos em um café, ele era como um dia de verão na praia, refrescante e caloroso ao mesmo tempo. Conhece-lo definitivamente fora o ponto alto do meu dia até ali, e como eu presumia no início da manhã, aquele era meu dia de sorte.

— Olha só, um médico! — Exclamei surpresa. — Já tem alguma especialidade em mente?

— Cardiologista. Porque eu sempre gostei de brincar com corações.

O rapaz ergueu as sobrancelhas e riu. A reação do meu próprio coração foi bater de forma acelerada. Eu estava levemente confusa com a sensação, não era normal para mim, me encantar dessa forma por alguém, a ponto de, por um minuto, me esquecer de tomar meu latte favorito. Eu ri de sua piada junto consigo, e peguei minha caneca, levando-a à minha boca, então tomei um gole. O clima frio o fizera esfriar, o que usualmente me deixaria irritada, afinal, eu odiava café gelado, porém ali, completamente entregue à conversa com o brasileiro, eu não me importei.

Amélie foi quem aparecera com o pedido de Matheus, o que me causou estranhamento, já que normalmente era Pierre o encarregado dos pedidos. Olhei confusa para a gerente, que apenas sorriu brevemente, sem os dentes para mim e arqueou uma das sobrancelhas, olhando discretamente, com o canto dos olhos para Matheus. No mesmo instante eu percebi do que se tratava. A paixão que Pierre sentia por mim o deixava enciumado, todas as vezes que me via com um homem, ele ficava de coração partido. Eu me sentia mal por causar esta sensação horrível nele, porém, eu não poderia interromper minha vida por causa de sua atração. Eu sempre deixei claro à ele que não sentia o mesmo, sempre fui o mais cuidadosa possível com seus sentimentos, dei à ele a chance de se afastar, porém ele escolheu continuar nossa amizade. Não havia mais nada que eu pudesse fazer em relação à isso. Suspirei, encarando Amélie, que se retirou logo após o meu contato visual. Matheus percebera meu suspiro, de forma a tornar sua expressão alegre em preocupada.

— Está tudo bem? — Indagou.

— Sua sensibilidade aos sentimentos alheios me espanta. — Eu ri, para tentar quebrar o clima pesado que surgiu.

Ele também riu e deu de ombros, então respondendo:

— Coisa de brasileiro. Gostamos de cuidar de quem cuida de nós. Pode me contar se quiser.

— Está tudo bem, Math, só estou preocupada com a faculdade, futuro. Essas coisas. Nada de mais.

— Eu entendo. Se precisar de um amigo que já passou por isso, estou bem aqui! — Ele disse e esboçou um sorriso largo, abrindo os braços e apontando seus dedos indicadores para si mesmo, com um gingado que apenas um latino teria.

Sorri também e consenti com a cabeça em agradecimento.

— Então, o que você faz? — Ele emendou a pergunta em sua fala anterior, bebendo um gole de seu café puro.

— Eu sou estudante de moda. Faço estágio de meio período em uma loja Versace perto da universidade. — Respondi, toda cheia de mim, cabeça erguida e peito aberto, orgulhosa do meu curso e emprego.

— Minha Nossa, que chique!

Mais um cliente entrou na cafeteria, e a porta entreaberta deixara espaço para uma brisa fresca embarcar o local, fazendo com que o aroma delicioso, e familiar, que Matheus exalava, e que tanto me agradou desde o primeiro contato que tivemos, invadisse novamente minhas narinas. Naquele instante, me lembrei de onde o conhecia, porque me trazia tanta calmaria. Seu perfume era Versace. Não um dos mais famosos no ramo da perfumaria, mas sim Blue Jeans, uma colônia leve, de cheiro clássico, amadeirado, levemente cítrico e com notas florais de rosas e lavanda. Era meu preferido, sempre que tinha chance de presentear alguém amado, escolhia o Blue Jeans, versátil e aclamado por todos que já tiveram a oportunidade de prová-lo.

— Seu perfume... — Disse, com um sorriso aturdido transparecendo em meus lábios.

Ele, tímido e confuso, direcionou à mim, um olhar, que demonstrava tais reações, seguido de um sorriso contido, sem mostrar os dentes.

— Me desculpe, eu quis dizer que conhecia o cheiro do seu perfume, e agora me lembrei. É Versace. —Ri, sem graça.

— Oh! Sim, é isso mesmo. — Seu sorriso desajeitado cresceu, tornando-se animado.— Se chama Blue Jeans, comprei nas minhas férias em Milão. Além de bonita, você é boa mesmo nesse lance de moda, deve ser a melhor funcionária da loja. — Ele riu.

Naquele momento, eu me derreti por completo, me deixei levar pelo sentimento, que mais parecia paixão, uma espécie de amor à primeira vista, e era cada vez mais crescente, conforme ele falava e revelava mais curiosidades sobre si. Além de tudo que já havia feito meu coração acelerar até ali, ele tinha bom gosto, era viajado, o que me fazia pensar que provavelmente gostava de se aventurar... Me fez sentir como uma adolescente boba e emocionada, ao proferir um elogio tão simples, porém de maneira tão genuína e sincera.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto tomávamos nossos cafés, apenas aproveitando a companhia um do outro. Eu o analisava com os olhos, prestando atenção em cada detalhe de sua aparência, como fiz quando o avistei pela primeira vez, e observando seus trejeitos, vendo-o beber de seu café e deleitar cada gole.

Tudo que sabia sobre Matheus até então, me fazia ter certeza de que ele era perfeito, exatamente como o melhor dos cafés: puro, forte e doce. A cafeína não era benéfica à saúde, poderia viciar, se tomada em excesso, seria fatal, porém, não ele. Ele tinha as qualidades da cafeína, me deixaria acordada quando necessário, me daria disposição e bom humor, combinadas ao aroma e o sabor do delicioso café puro, adoçado com açúcar de primeira qualidade, poderia me deixar viciada, mas não me mataria, como qualquer outro. Eu poderia tomar daquele café brasileiro para sempre, não era à toa que eram os melhores do mundo todo.

— Com licença, preciso ir ao toalete. — Falei, timidamente, esboçando um sorriso contido, e em seguida, me levantei.

— Estarei esperando. — Ele sorriu e virou a última gota de sua xícara.

Caminhando em direção ao banheiro, que ficava no fim do corredor, passei em frente à janela da cozinha, sendo possível ouvir a voz manhosa de Pierre, aos prantos, desabafando com nossos amigos, enquanto estes o consolavam. Baseado na interação que tive com Amélie anteriormente, já imaginava do que se tratava àquela cena. Me escondi, encostada ao lado da janela, para ouvir melhor o que estava acontecendo ali. O estagiário chorava, questionando por que eu não o amava, por que eu escolhi o estrangeiro ao invés dele, sendo que eu havia acabado de conhece-lo. Parei para pensar por um instante, minha atenção desvirtuou-se do assunto enquanto refletia se minha atração por Math estava tão evidente, a ponto de fazer Pierre chorar tanto na cozinha do café. Balancei minha cabeça para espantar os pensamentos, que certamente me deixaria envergonhada se continuasse, então voltando minha atenção para a cena de Pierre e nossos amigos.

— Amigão, entendemos o seu lado, mas você está se precipitando. Ela foi gentil, o cara estava congelando e ela ofereceu ajuda, você sabe que ela é assim, sempre foi. — Disse Dominique, entregando à ele um copo d’água, enquanto Camille acariciava as costas do garoto, que estava sentado em uma cadeira.

— Eu sei, mas, esse está sendo diferente, eu posso sentir. Ela sabe que eu sou apaixonado por ela. — Retrucou Pierre.

Amélie, que não estava presente até dado momento, pois estava cobrindo o cargo de Pierre no salão, adentrou a cozinha, caminhando de forma firme, com expressão brava em seu semblante, claramente estressada com a situação, então, colocando-se ao lado do estagiário, e segurou-o pelo ombro.

— Olhe para mim! — Ordenou a gerente, e ele obedeceu. — É claro que ela sabe. Você não faz questão de tentar esconder, você se declarou dezenas de vezes e ela te rejeitou dezenas de vezes. Mas ela não tem culpa, Pierre, não mandamos no coração, ela não pode se colocar na obrigação de amá-lo só porque você a ama! Ela é muito responsável com os seus sentimentos, nunca te deu falsas esperanças, foi paciente e te deu a chance de se afastar e se curar, você não quis, você quis continuar sua amizade, estar próximo dela, mesmo com esse sentimento. Se ela gostou do menino estrangeiro, não é culpa dela. Não cobre algo que ela não te deve. Se recomponha e volte ao trabalho.

Perplexa, desisti de continuar a escutar, e segui meu caminho para o banheiro, onde parei em frente à pia e encarei o espelho, enquanto pensava no que havia acabado de ouvir. Eu sabia que Pierre tinha fortes sentimentos por mim, porém, não imaginava que, mesmo depois de tanto tempo, apenas o fato de eu conhecer um homem, faria seu coração despedaçar-se desta forma, me senti como um monstro.

Eu concordava com o que Amélie havia dito, acreditava que eu não poderia ser culpada, afinal, eu não comandava meu coração, nem por quem ele iria se apaixonar, entretanto, eu não conseguia evitar de sentir culpa. Uma culpa que me consumiu por dentro, me fez sentir a pior pessoa do mundo, final, eu era a responsável pelo seu sofrimento. Eu não sabia o que fazer, deveria evitar Pierre, para que ele pudesse me superar, ou apenas agir como se não estivesse acontecendo nada daquilo? Ou deveria apenas seguir minha vida, e deixar que Pierre aprenda a lidar com seus sentimentos? Olhei para baixo, me apoiando na pia com os dois braços e balancei a cabeça negativamente, soltando um suspiro carregado de incertezas e confusão.

— Eu posso resolver isso em outro momento. Nada irá estragar esse dia. — Sussurrei para mim mesma e tornei meu olhar para o espelho, vendo em meu reflexo, uma versão preocupada de mim.

Mais alguns segundos fitando o espelho, enquanto eu via em minha mente, a ideia de Math, e seu belíssimo sorriso latino, invadir meus pensamentos, o que fez a minha imagem tornar-se alegre novamente, com um sorriso bobo estampado nos lábios. Peguei em meu bolso, um gloss de cor avermelhada, que carregava comigo para todos os lugares, e passei lenta e atenciosamente, retocando o batom que havia se esvaído em minha caneca. Olhei para mim mesma um pouco mais, em busca de quaisquer imperfeições, e então retornei para a mesa rapidamente, e, ao chegar, me sentei em meu lugar. Matheus, que estava mexendo no celular anteriormente, o desligou e guardou no bolso, voltando sua atenção para mim. Qualquer homem francês teria me ignorado até eu começar a falar, muitas vezes eles nem se quer prestariam atenção no que eu iria dizer a partir daquele momento. Mas ele era diferente, agiu como se quisesse estar ali, conversando com uma estranha, que lhe ofereceu uma manta e um banco no sol em uma cafeteria. Eu poderia me acostumar com tais costumes brasileiros.

— Todos os caras do Brasil são assim ou isso é uma coisa sua? — Perguntei enquanto o olhava discretamente de cima a baixo.

— Assim? Perguntou com tom de confusão na voz, erguendo uma das sobrancelhas.

— Educado. Você guardou o celular quando me viu, fez questão de estar presente na conversa, mesmo eu não tendo dito nada ainda. — Respondi ainda surpresa com sua atitude.

— Entendi. — Ele riu. — Somos um povo caloroso, não apenas os homens, mas todo mundo. Gostamos de fazer as pessoas se sentirem acolhidas.

— Isso é adorável!

Alguns minutos se passaram, e nós continuávamos conversando, mesmo com as xícaras vazias. A cada instante eu conhecia um pouco mais do estrangeiro, que parecia interessado em me conhecer tanto quanto eu, me fazia perguntas sobre minha vida, e ouvia atenciosamente o que eu tinha para dizer. Eu não vi o tempo passar, pouco mais de meia hora de conversas, que, ao mesmo tempo que pareceram trinta segundos, foram como uma vida inteira, dado ao quanto eu pude aprender sobre Math como indivíduo, e sua cultura. Eu poderia ficar ali para sempre, porém, meu celular nos interrompeu.

— Com licença. — Sorri, e me levantei, em seguida caminhando para um espaço mais afastado da mesa.

— Catherine! Onde você está? Você disse que chegaria mais cedo para nos prepararmos para a apresentação! Estamos atrasadas, a aula já vai começar! — Tina, minha colega de classe da faculdade, disse, esbravejando comigo ao telefone.

Me espantei, e olhei no relógio da parede da cafeteria. Ela estava certa, faltavam cinco minutos para o início da aula, e eu perdi a preparação, minha conversa com Matheus me causou uma distração, que me fez esquecer completamente de minhas obrigações. Eu precisava ser rápida, felizmente a universidade não era longe dali. Agradeci à Tina e encerrei a ligação, então voltei para a mesa e comecei a guardar tudo que tirei da bolsa mais cedo, peguei na carteira, o dinheiro para pagar meu pedido, junto com a gorjeta, e deixei em cima da mesa.

— Eu sinto muito, Math, preciso correr, estou atrasada para a aula. Muito obrigada pela conversa, eu adorei ter te conhecido. — Me curvei à sua altura, que ainda estava sentado, e o abracei brevemente, mal dando tempo para que ele retribuísse e saí, deixando para trás, minha manta, e os macarrons que eu pretendia levar comigo para comer no intervalo das aulas, devido à tanta pressa.

Quando coloquei os pés fora do ambiente, o vento frio me pegou desprevenida, meu palpite que esquentaria ao longo do dia estava errado, pois havia esfriado ainda mais. Minha pressa tornou-se lentidão, meu corpo todo se arrepiou, mesmo estando agasalhada, meus dentes de baixo batiam nos de cima conforme meu queixo tremia, meu nariz tornara-se vermelho e gélido. Era o dia mais frio do ano até aquele momento. Foi no instante em que desacelerei, que percebi não ter pedido à Matheus, seu contato, ele se perderia para sempre na imensidão de Paris, e eu não tinha seu número, ou rede social. Me perguntava se algum dia iria ouvir seu belo sotaque latino novamente

Me encontrava virando a esquina da cafeteria, quando ouvi meu nome. A voz era inconfundível, tal como o sotaque, eu soube quem era imediatamente. Matheus. Me virei rapidamente, abrindo um sorriso ao vê-lo, ele corria em minha direção e ambas as suas mãos estavam ocupadas. Em uma delas, meus macarrons esquecidos na mesa, empacotados para viagem, e na outra, uma caixa embrulhada para presente. Ele me entregou ambas, e eu guardei a embalagem de macarrons em minha bolsa, tendo apenas a caixa misteriosa em mãos.

— Oh, Math, oi! O que é isso? — Perguntei, dando evidência ao presente.

— São chocolates, Catherine. Para você. — Ele deu um sorriso meigo.

— Você não precisava fazer isso, muito obrigada!

— Eu insisto, você foi tão boa comigo, você merece. — Ele disse. — Falando nisso... — Continuou, colocando a mão no bolso de sua calça, e logo retirando dele, algumas cédulas de dinheiro. — Eu paguei seu café. Vim te devolver o que você deixou na mesa. — Completou.

Eu sorri, envergonhada, e peguei as notas de sua mão. Àquele ponto, eu já havia aprendido o quão generoso ele era, e que não adiantaria negar sua bondade. Apenas aceitei que Matheus era uma cavalheiro, e o agradeci novamente.

Ele, então, tirou a manta, que eu o havia dado anteriormente, de suas costas, e se posicionou atrás de mim, colocando-a, gentilmente, sobre meus ombros, me envolvendo nela, com seu toque suave e atenção cuidadosa, que transformou aquele momento em uma chama de calor, que afastou o frio e preencheu meu coração de paixão.

— Math, você poderia me dar seu número de telefone? — Indaguei, me virando, de forma a ficar frente a frente com seu rosto.

— Claro que sim! Mas eu quero ter certeza de que te verei de novo. Amanhã às sete da manhã eu virei na cafeteria. Se você aparecer, lhe darei meu número.

— Eu virei. Estou ansiosa. — Sorri.

— Então é aqui que me despeço. Até logo Catherine. — Ele disse de forma calma e pegou minha mão, depositando nela, um beijo suave e aveludado.

— Até amanhã. — Respondi no mesmo tom, tentando esconder minha timidez.

Ele me abraçou e encostou sua bochecha na minha, fazendo um barulho de beijo no ar, em seguida fez o mesmo no outro lado do rosto. Uma atitude intrigante, que me deixou confusa, confusão esta, que transpareceu em minha expressão.

— Costume brasileiro. — Ele disse, ao se afastar de mim e notar meu semblante, e riu em seguida.

Vi naquele momento, uma oportunidade, então respirei fundo discretamente, reunindo coragem para fazer o que faria em seguida, e com um leve sorriso nos lábios, ergui-me, na ponta dos pés, até alcançar a altura do rapaz. Nossos olhares se encontraram mais uma vez, me fazendo sentir exatamente como me senti mais cedo: encantada, hipnotizada, com o coração acelerado e borboletas dançando em meu estômago. Eu pude ver em seus olhos um vulto de surpresa e antecipação, e então, num gesto suave e delicado, encostei meus lábios nos dele, um breve e singelo selinho.

Ao separar-nos, me afastei levemente, com um brilho nos olhos e um sorriso tímido estampado em meu rosto. Eu via em sua face, que ele tentava esconder sua timidez e euforia, pois seu olhar também se encheu de luz, assim como o meu. Não havia mais volta, criamos ali, uma conexão, estávamos completamente entregues ao sentimento mútuo que cresceria em nós, e já naquele instante, tínhamos certeza de nosso amor.

— Costume francês. — Falei, abrindo mais ainda meu sorriso e dei meia volta.

Segui meu caminho sozinha, sentindo o coração ainda pulsar acelerado em meu peito. A adrenalina e a ansiedade misturavam-se dentro de mim, enquanto eu caminhava. A cada passo que eu dava, a imagem e os toque da boca aveludada de Math, permaneciam gravadas em minha mente.

Ao tomar uma certa distância, virei-me para olhar para trás. E lá estava ele, imóvel no mesmo lugar em que nos despedimos, seu sorriso radiante que ele lutara para esconder anteriormente agora iluminava seu rosto por completo. Seus olhos ainda brilhavam com uma mistura de ternura e contentamento, enquanto seus dedos delicadamente se tocavam nos lábios, como se estivesse revivendo o momento especial que compartilhamos juntos.

Então, ele desviou o olhar para baixo, colocou as mãos nos bolsos e lentamente deu meia volta, seguindo seu próprio caminho. O universo nos uniu por um breve momento, e agora nos separava, porém, sabíamos que estava escrito nas estrelas que, nosso destino seria encontrar-nos novamente, por isso ele me seguiu, por isso marcamos um novo encontro para o dia seguinte. Aquela seria a primeira e a última vez que seríamos separados.

Senti como se ele fosse uma xícara de café, uma mistura perfeita de sabores e sensações que me envolvia. Com todas as características de uma boa bebida quente, ele me acolhia como um abraço em um dia congelante. Seu nome no cardápio seria "Love Macchiato", um café expresso com um toque especial de amor, cuidadosamente preparado para despertar os sentimentos mais profundos.

Eu sempre soube que encontraria um sentimento especial como este na L'amour Café, desde o início sabia que minha alma gêmea estaria lá, afinal, a paz estava dentro de uma xícara de café, portanto, o amor poderia estar na cafeteria.

31 мая 2023 г. 14:10 0 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Victoria Affonso Sou uma apaixonada aspirante a escritora que encontrou na escrita o seu refúgio e fonte de prazer. Desde cedo, percebi que as palavras têm um poder mágico capaz de transportar sentimentos, histórias e ideias para além das páginas em branco. Com a caneta na mão ou os dedos no teclado, permito que minha imaginação floresça, criando mundos e personagens que ganham vida nas linhas traçadas.

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