Короткий рассказ
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Um

Nunca pensei que uma doença terrível iria salvar minha vida.

O dia começou como outro qualquer, escovei os dentes, tomei meus remédios e fui para o trabalho. Andando pela cidade percebi uma certa tensão no ar, ou seria apenas outra crise? Bem, só poderia esperar o tempo dizer qual seria. Perdido em meus pensamentos terminei por esbarrar em um rapaz um pouco mais jovem que eu, me virei para trás implorando por desculpas, sem conseguir ao menos olhar seu rosto.

—Por que não olha por onde anda, imbecil! — disse ele.

Antes que pudesse pedir desculpas novamente o jovem me derrubou com um empurrão e saltou sobre mim. Não consegui entender o que estava acontecendo, apenas tentei me proteger de seus ataques furiosos, afinal o que diabos estava acontecendo? Foi então que surgiu meu herói, empurrando o rapaz em cima de mim e o derrubando no chão, mesmo já o tendo afastado, ele começou a chutar meu agressor caído. Aquilo era demais para eu olhar, mesmo tendo sofrido com um ataque repentino de fúria do jovem, não podia simplesmente deixar que fizessem o mesmo com ele, me aproximei do homem que me ajudou e toquei seu ombro pedindo para que parasse, a expressão na face que se virou para mim era do mais puro ódio, dei dois passos para trás ao vê-la e pedi por socorro, aquela situação estava fora de controle, aquele que me salvou passou a pisar na cabeça do jovem, porém ninguém ao redor se moveu para ajuda-lo.

Foi a pior coisa que já havia visto, um homem esmagar a cabeça de outro bem diante dos meus olhos sem que eu pudesse fazer nada, só parando quando já não sobrou mais nada para se pisar. Olhei ao meu redor e percebi que algumas pessoas estavam gostando do que viam, um policial finalmente surgiu para ver que confusão era aquela, porém, antes de dizer qualquer coisa uma mulher o atingiu com um cabo de vassoura na cabeça, pareceu a fagulha necessária para explosão, as pessoas começaram a atacar umas as outras sem discriminação, crianças e velhos socavam uns aos outros com uma ferocidade animalesca, homens e mulheres se atracavam no chão como loucos. Meu coração logo disparou, lágrimas caíram do meu rosto, precisava fugir daquele lugar. Me levantei num pulo, entrei em meio a loucura que me cercava, até hoje não sei como consegui escapar, voltei até o meu apartamento desviando de grupos que se espancavam sem muita dificuldade.

Quando alcancei minha casa as roupas que vestia estavam sujas do sangue de pessoas com quem cruzei, precisava tira-las. Entrei, liguei a televisão no máximo e fui para o banho. Não parei para escolher um canal, se aquela loucura estivesse acontecendo em mais lugares, logo todos os canais estariam falando. Foi como esperado, em poucos minutos pude ouvir o sinal de plantão, o jornalista anunciou que diversos países haviam simplesmente entrado em colapso, milhares de pessoas passaram a se degladiar sem motivo algum, os governos pareciam não conseguir reagir pois até mesmo entre as forças policiais e o exército haviam pessoas ensandecidas. A situação era pior do que imaginava.

Gritos começaram a vir da televisão, corri para ver o que acontecia, alguém da produção saltou sobre a bancada e tentava insistentemente socar o jornalista, logo a imagem desapareceu e desliguei-a. Me vesti e deitei, talvez aquilo não passasse de um sonho e em breve acordaria em um mundo não tão caótico.

Meus olhos já estavam pesados quando ouvi os sinos da porta tocarem, não a havia trancado. Me levantei em silêncio e fui até o closet, fechando a porta com o máximo de cuidado, logo pude ouvir passos vindos do quarto, seguidos por alguém se atirando em minha cama, não parecia ser um dos loucos, porém não iria me arriscar. Me distanciei da porta e andei até o fundo do closet, acabando por bater em alguns cabide pendurados.

—Quem está aí? — Pude ouvir do outro lado.

Não esperaria para descobrir se aquela pessoa estava sã, abri a porta e corri o mais rápido que pude para fora de casa, a rua estava repleta de corpos, porém sem nenhuma alma viva. Corri até a esquina e me deparei com um grupo vindo na minha direção, comecei imediatamente a correr para fugir deles, porém, ao olhar para trás percebi que na verdade eles corriam comigo, um homem, armado com uma espingarda nos perseguia, aquilo estava se tornando insano.

De repente alguém do grupo saltou sobre outro e começou a espanca-lo, não havia mais amigos nesse mundo, logo todos começaram a se separar, restando apenas eu e uma mulher. Olhei para trás mais uma vez a tempo de ver o homem armado matar o que havia se rebelado antes. Foi quando percebi que a mulher me seguindo não estava mais com medo, sua expressão era de completo ódio, ela claramente não era mais a mesma. Acelerei a corrida, o que logo se mostrou em vão, enquanto eu me sentia mais esgotada a cada minuto, aquela que me perseguia parecia não sofrer com o cansaço, teria que despista-la.

Me virei na primeira curva que vi, procurando entrar em qualquer lugar aberto, acabei por me esconder em uma confeitaria, ela logo passou correndo sem pensar que poderia ter me escondido. Me encostei na parede e sentei no chão, precisava de um momento para recuperar o fôlego. Um barulho de metal caindo veio dos fundos da loja, mais uma vez alguém iria me tirar de um refúgio, olhei pela janela e lá estava o homem que me perseguia com sua espingarda, teria que esperar e torcer para haver apenas um animal lá trás. Acho que seria um pouco de mais pedir por isso, mas realmente esperava não haver alguém louco ali. A pessoa que estava nos fundos apareceu, um homem de meia idade com uma aparência cansada, ele me olhou um pouco surpreso e levou algum tempo para decidir se era uma ameaça ou não, logo fez um gesto para que me aproximasse e fosse para os fundos, ele não parecia ser uma ameaça, olhei para fora vendo que o homem armado continuava rondando por lá, não haviam muitas opções.

Lá atrás ele perguntou meu nome e disse que não me machucaria, ele se chamava Luiz e havia escapado de uma clínica psiquiátrica, em um primeiro momento aquilo me assustou, mas lembrei que meu pai já havia estado em um lugar assim e nem por isso era uma pessoa perigosa.

—Você tem algum transtorno, não tem? — Perguntou ele de repente. — Depressão, ansiedade ou talvez algum transtorno de personalidade que não te deixe agressivo.

—Síndrome do pânico. — respondi com surpresa.

—A maioria dos pacientes na clínica não enlouqueceu como os outros, — contou ele, — eu deduzi que isso de alguma forma nos tornou imune, talvez seja algo temporário, mas torço para que não.

Achei interessante essa esperança de sua parte, a única coisa em que conseguia pensar era que não gostaria de viver nesse novo mundo feroz, mas talvez não fosse algo tão ruim, eu não precisaria mais me preocupar com multidões e situações complicadas, talvez existissem vantagens no fim do mundo.

Fim do mundo.

Foi só então que pensei na minha família, meu pai provavelmente estaria são, mas minha quanto a mãe e irmãos? Eles sempre foram “normais”, comecei a rezar por eles. Senti meu peito apertar, todo meu mundo parecia estar desabando de repente. Luiz me puxou para baixo sem aviso e um tiro afastou todos meus pensamentos, o homem havia nos encontrado. Ficou difícil respirar, suor começou a escorrer da minha testa, a vontade de chorar se tornou insuportável, era a pior hora possível para se ter uma crise. De repente uma mão pousou sobre meu ombro, Luiz chegou mais perto e sussurrou em meu ouvido para respirar fundo, ele cuidaria de tudo.

Queria acreditar nisso, mas não havia chance para nós, tiros começaram a chover, mas logo foram silenciados, ousei me levantar, se seria meu fim pelo menos aconteceria rápido. Olhei para Luiz em pé coberto de sangue com uma faça na mão, era um milagre. Ele respirava pesadamente, aquilo devia exigir esforço, principalmente para alguém na sua idade. Ele olhou para mim, sua expressão estava em fúria, não era possível, tudo só ficava cada vez pior.

Era o meu fim.

11 апреля 2021 г. 18:39 0 Отчет Добавить Подписаться
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Erick Q. Alves Palavras são como brasas, quando juntas podem gerar chamas brilhantes que aquecem ou destroem.

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