Eu, uma janela, meus pensamentos, o toque da natureza, o céu... Sempre me pego despercebido a refletir sobre a vida. Me desligo do mundo enquanto mergulho na superficialidade profunda do meu ser. Um mar de angústias se eleva até o meu queixo enquanto observo a potente força avassaladora de suas águas. Bebo dela e transbordam palavras....
O mundo se desaba em destroços e permaneço melancólico, confesso, mas olho para o lado e vejo minha própria companhia. Que alívio!... Sim, eu sei que sou refém da dor, mas foi ela sempre me deixou mais forte.
Não foram poucas as vezes que busquei romper minha solitude. Reativo, sempre me questionava: “onde será que está aquele lindo amor que me prometeram?”. E a resposta foi sempre a mesma: “não sei!”. Aliás, me prometeram muitas coisas felizes. Me prometeram que a vida seria bela, que eu iria amar pessoas e ser amado, que eu iria poder criar lindos laços com as pessoas a minha volta. Mas não! Suponho que eu possa estar no mundo errado, ou, talvez, eu tenha me perdido no meio destes destroços.
Sinto que, aqui, não mais impulsionamos uns aos outros, pelo contrário. Sinto que a sinfonia entrou em descompasso, e todos correm como loucos pelo palco. Alguns se trombam violentamente, enquanto outros são pisoteados sem a menor compaixão. Que tragédia!
Não existem mais relações leves pelo mundo, como a troca de um “bom dia” sincero, o toque despretensioso ou mesmo uma conversa livre de primeira pessoa do singular e de pronomes possessivos. Geralmente, o que sinto, são violações vindas por todos os lados. Encontros onde todos falam e ninguém ouve.
Então, por que eu irei desejar acordar e sair da janela? Por que eu preciso abandonar minha solidão? Certa vez ouvi que sou estranho por querer me manter só em meu pequeno mundo, e, talvez, este seja mesmo o meu maior adjetivo: estranho!
Ao não me sujeitar às relações invasivas no dia a dia, me torno estranho. Ao negar o prazer carnal e vazio no contato entre nossos corpos, me torno ainda mais estranho. Sempre quando opto pela melancolia em vez da trágica pseudoesperança, me torno mais estranho. Mas, me responda: de que serve a esperança em um mundo que, cada vez mais, caminha para um suicídio das experiências afetivas cotidianas? Um mundo onde a sensatez e o bom senso se tornam corrosivos?
Vejo vários messias pelo mundo derrubando e construído novas moralizações, pregando uma nova etiqueta em favor das boas condutas, sem sequer corporificar um por cento do que sai da boca pra fora.
Só me resta, portanto, permanecer aqui na janela a me afogar em angústias e me transbordar em palavras, sem quaisquer esperanças neste mundo. Caso, em algum momento, apareçam outros vagantes que também estejam perdidos por aí, poderemos ter a feliz experiência de trocar cartas sobre a vida. De potencializar a solidão que é viver nesse mundo cheio, mas que não passa de um mero espaço vazio.
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