mschneider21 Margot Schneider

Inês se mudara para a Europa com seu namorado suíço esperando que ele se casasse com ela, como prometeu. Ao invés disso ele a deixou e consequentemente ela deveria deixar o país. Revoltada com a situação ela pensa em vingança e em suicídio. Uma conhecida dela a encontra desnorteada e no momento exato em que ela estava preparada para quebrar o local de trabalho do ex-namorado. Compadecida com o caso, Fátima convenceu Inês a esfriar a cabeça por uns dias em sua casa, o que lhe trouxe alguns problemas que nos fazem rir. Parte dessa estória é real.


Короткий рассказ 18+.

#suicídio #Martelo #Facas #amizade #surpresa #Churrasco #traição #Gazolina
Короткий рассказ
2
2.9k ПРОСМОТРОВ
Завершено
reading time
AA Поделиться

O desrespeito ao suicídio alheio


Ela não tinha mais esperanças. O namorado a havia deixado recentemente e inesperadamente. Ele era um dentista mal sucedido que fazia mais dinheiro como cafetão de Inês do que sanando dentes. O relacionamento com o dentista foi o modo que ela encontrara para entrar no "primeiro mundo".

Ela foi descoberta pela polícia morando no negro na Suíça e de repente tinha, obrigatoriamente, que deixar o país. Tinha sido uma luta chegar até lá e agora, pobre Inês, tudo estava perdido. Sem casamento em vista que a permitisse ficar na Europa, sem saber o que fazer e em meio a desespero não pensou em outra coisa senão em se vingar do namorado e se matar. Foi ao mercado e com o pouco dinheiro que lhe restava comprou um galão de gasolina, um martelo, um grande facão e ainda outras facas de vários tamanhos e bem afiadas. O martelo seria para quebrar o consultorio do dentista. A gasolina para se matar e o facão e as facas menores...bem cada uma delas haveria de ser útil para alguma coisa. Ela tinha que garantir a tragédia.

Fátima, uma amiga, apareceu para uma visita exatamente quando Inês voltava de suas derradeiras compras. Vendo que Inês estava transtornada e tinha que se mandar logo da Suíça, Fátima ofereceu sua amizade e sua casa para que Inês tivesse onde ficar escondida por alguns dias, talvez semanas até encontrar uma solução para seu problema. Afinal, Inês não queria ir embora.

Vieram as duas pelas ruas carregando uma velha mala e sacolas. E claro, Inês com uma mochila nas costas onde levava o kit suicida para se matar...mais pra frente...provavelmente na casa de Fátima. Talvez depois de um bom banho, ou um vinhozinho, quem sabe?

Naquele dia conversaram até altas horas da madrugada e Inês se abriu em prantos para Fátima. Depois de muito consolo e catarse, foram ambas dormir. Passados alguns dias Fátima resolveu sumir com o tal galão de gasolina para que Inês nao fizesse qualquer besteira. Enquanto Inês dormia, Fátima entrou sorrateiramente no quarto e catou a gasolina. Levou o combustível para baixo no prédio e deixou o pesado recipiente ao lado do latão de lixo seletivo.

Quando a moça acordou sentiu falta de sua gasolina e gritou furiosa: "Onde está a minha gasolina??? Quem robou minha gasolina???". Fátima com a maior das boas intenções respondeu firme e inocentemente: "Fui eu quem pegou sua gasolina para que você pare de pensar bobagem. E eu a joguei no lixo". - "No lixo onde?! Em que lixo?! Você não tem o direito de mexer no que é meu! Você roubou minha gasolina! Aonde ela está?", gritava a moça descontrolada - "Joguei o galão inteiro no riacho. Não tem como recuperar". - "Você sabe quanto me custou aquele galão de gasolina? Você vai ter que me pagar!!! Está pensando o quê? Eu gastei meus últimos francos para comprar minha gazolina", repetia a mulher aos berros - "Ai, ´tá bom...´tá bom. Eu pago a sua gasolina, quanto foi?" - "Quarenta francos". - "Pronto, ´tá aqui, quarenta francos, satisfeita?".

O ambiente havia se acalmado por alguns instantes, mas a tensão era total entre todos na casa de Fátima. No dia seguinte Inês disse que iria sair. Fátima fez uma busca no armário de Inês e encontrou várias facas de tamanhos diferentes. Escondeu todas em outro canto, assustada com as idéias que se passavam na cabeça da amiga. Inês voltou da rua lépida e resolvida com um segundo galão de gasolina. O modo como iria se matar estava decididamente acertado.

Três dias se passaram e então foi a vez do marido de Fátima pegar a gasolina de Inês. Afinal, aquele mês os gastos com a casa aumentaram por conta na nova hóspede e o tanque de seu velho carro estava quase vazio; já que Inês não fazia logo uso da gasolina... Quando Inês novamente sentiu falta de seu produto mortífero fez mais um escândalo. - "Quem robou minha gasolina desta vez??? Vocês não tem respeito por nada nesta casa! Cuidem de suas vidas ou eu vou infernizar a de vocês! Vou me atirar do terraço e vou dar o maior trabalho pra vocês se explicarem na polícia. Estão pensando o que?! Eu não fico mais nessa casa, vou embora desta porcaria."

O filho de treze anos de Fátima, mais sensato que todos juntos se virou a mãe e disse. Mãe, você não deve insistir para que Inês fique aqui. Se ela quer ir embora, deixe que vá. Eu vou chamar um taxi para ela.

- "Mas eu só saio daqui com a minha gasolina!"

- "Inês, eu juro p’ra você que desta vez eu não peguei sua gasolina."

Enquanto isso Pedro, o marido de Fátima, fazia um sinal discreto para contar – sem que a desvairada da Inês percebesse - que foi ele quem sumiu com a maldita gasolina desta vez.

- "Eu tenho o direito de me matar e vocês estão me tolhendo isso! Quero minha gasolina de volta".

- "Pedro, dá a gasolina pra ela Pedro. Deixa ela se matar longe daqui. Onde você colocou?"

- "Esta no armário da garagem".

- "Vamos lá então pegar".

E desceram todos os cinco, Fátima, marido, as duas crianças do casal e Inês, para pegarem a gasolina na garagem e ajudarem Inês em sua mudança. Sentindo-se terrivelmente desrespeitada na casa de Fátima, Inês finalmente partiu muito brava em um taxi, sabe-se lá para onde, com sua velha mala, sacolas, martelo, facão e gasolina na esperança de encontrar a paz que tanto precisava para acabar com seu tormento.

As esquecidas facas foram de ótima serventia para o churrasco caseiro de Fátima no fim de semana seguinte.

13 января 2021 г. 20:54 2 Отчет Добавить Подписаться
3
Конец

Об авторе

Margot Schneider Margot Schneider é o pseudônimo adotado pela escritora brasileira, nascida em Santos. Mudou-se para São Paulo, estudou Ciências da Computação o que lhe permitiu mais tarde trabalhar como desenvolvedora de sistemas de informação na Suíça, onde mora desde o ano 2000. A escritora adora tocar piano, violão, ler, viajar, conhecer gente, conversar, aprender outras culturas, novas línguas e atualmente só usa os computadores para trocar e-mails e escrever, mais uma paixão descoberta.

Прокомментируйте

Отправить!
~