laura-botelho1995 Laura Botelho

Mia, uma garota de dezessete anos, segura de si e de sua sexualidade. Porém, ela carrega traumas consigo, traumas que ela não sabe lidar. Com a chegada dos irmãos Hackney na sua vida de maneira inesperada, tudo passa a mudar para ela e ela deve aprender a lidar com seus medos e traumas se quiser amar novamente. Fic baseada no mangá "Fragments of Love" com liberdades artísticas durante a história.


Романтика Молодой взрослый романс 13+.

#yuri #lesbico
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O outro adicionado a minha vida (Mia)

Abro meus olhos, lampejos de luz passam pela minha retina. Me esforço para levantar e me olhar no espelho, tomo meu café; cereal com leite, mastigo lentamente. O sabor por entre minhas mandíbulas, é crocante, é doce. Me levanto, lavo as louças, me preparo para sair. Saio de caso fecho a porta, pego minha bicicleta, ando com ela pelas ruas, a brisa passando pelos meus cabelos, o som dos carros, o trânsito. Chego na escola e sento na minha mesa ao lado da janela.

Sento-me isoladamente, vejo os outros a distâncias, aquelas conversas vazias de sempre. Não os compreendo, não possuo a intenção, são estranhos, vultos, formas. Olho pela janela. O que se passa na cabeça de cada indivíduo? Será que eles possuem as mesmas ideias absurdas que eu?

Minhas aulas estão ocorrendo, o relógio conta as horas, cada tique é uma pequena ansiedade dentro de mim. Ansiedade de sair dessa sala, dessas pessoas. Quando toca o sinal, sei que o semblante da minha face se modifica, estou extasiada, vou para o corredor, meus passos pesados, passo as mãos nas paredes para sentir a texturas delas, às vezes me sinto como se estivesse em outro lugar, não aqui. É insano, os lugares para onde minha mente vai, é como se formassem diversas idéias, todas de uma vez. É inevitável.

Estou na cafeteria, não quero olhar para os "animais" ao meu redor, todos nessa mesmice adolescente. Tenho meu lugar de sempre, numa mesa bem no canto, longe de tudo e todos. Mais uma vez sento-me sozinha, aproveito meu almoço. Sopa de frango e arroz, aqueles pequenos pedaços desfiados de frangos como sempre ficam presos entre meus dentes.

Quando acabo o almoço, aproveito para ir ao meu lugar preferido que é a biblioteca. Eu passo a mão lentamente pelas bordas dos livros, a textura deles me traz um conforto inexplicável,não preciso nem mesmo lê-los para me sentir assim, um prazer que queima, uma pequena alegria que raramente sinto.

A minha vida na escola se constitui desses pequenos momentos nos quais posso ficar só, esquecendo da existência do mundo ao meu redor.

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Depois da escola sempre vou a essa cafeteria chamada "Café des Artistes", aproveito o sabor do cappuccino, admiro a dona do local a distância, conheço-a de longa data, ela é uma imigrante indiana que sempre tenta trazer novos sabores de café para seus clientes. Seus cafés são exóticos e possuem um aroma próprio que sempre me agradam. Ela está há quatro anos nessa cidade, abandonou o país devido a um casamento arranjado no qual ela se sentia infeliz, isso exigiu muita coragem dela, às vezes ela ainda chora à noite pensando nos abusos que passou com seu antigo marido que ainda tenta descobrir onde ela foi parar, é o que ela sempre me diz. "Hoje ele ligou para uma amiga minha na Índia, ele ameaçou a família dela, foi um horror! Não sei mais o que fazer, ele é completamente louco e eu nem posso falar com a família" ela me contou um dia desses desesperada.

Sempre tento incentivá-la, ela é uma boa amiga, e creio que tenho mais em comum com ela do que imagino, porém ela é tão bem resolvida devido a sua idade. Meu grande sonho é trabalhar no café com ela e conhecer sabores exóticos de diferentes coisas, ouvir as histórias dos cliente, rir um bocado da vida alheia.

Ainda sou muito nova para isso, é o que ela sempre afirma. Devo me concentrar na escola, suspiro quando lembro dela dizendo essas palavras. Eu só queria alguma coisa para fugir daquele lugar, daquelas pessoas. "Eu não tive oportunidade de ter uma educação como você, sabe? Você devia valorizar o que tem!". é o que Maya (a dona do café) vive comentando comigo.

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O que é a minha vida? Esses fragmentos de nada, me ocupo com coisas bestas como literatura e filmes. As pessoas da minha idade nunca parecem interessadas em nada do que eu gosto, não existe alguém como eu e a cada dia mais eu tenho certeza que sou um peixe fora d'água.

Meus relacionamentos? Falhos. Sempre com mulheres mais velhas (é o meu tipo), coisa que não parece ser muito certa para uma menina de dezessete anos, mas tenho tanta confiança no meu flerte e na minha sexualidade que passo essa imagem de ser mais velha para elas e elas sempre acreditam. O que acontece depois da conquista? O vazio, eu sou nada para elas, deixo elas me usarem. Por quê? Porque eu dou permissão para elas me usarem, sou descartável para elas. Relações líquidas na modernidade líquida, certo?

Mistério é o dia que eu vá para meu bar habitual de sempre e de fato dançar. Um simples ato que todos seres humanos fazem menos eu. Eu me travo, apesar de sempre apreciar boa música, mas não quero ir para pista de dança. Eu só bebo uns shakes não alcoólicos, finjo que estou bebendo de fato e pronto acho a minha "isca". Uma mulher mais velha, geralmente loura e confiante de si. Trocamos uns amassos, digo que não danço e não adianta insistir. E nos beijamos de novo, o beijo tem gosto de nada todas as vezes, é só um ato banal para mim.

Depois pode ocorrer algo a mais, pode ocorrer umas pegadas na bunda e as coisas passam a ficar intensas, mas sinceramente é tão banal para mim que não há muito que posso comentar sobre isso. É algo que faço uma vez por mês se possível, é para fugir das responsabilidades e também minha válvula de escape. É bom eu ser eu mesma, é bom fingir que eu tenho algum tipo de lazer, que sou como todos os outros e necessito dessas superficialidades. Ser aceita, ha! É tão simples, não é mesmo?

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Um dia desses saí do meu bar habitual, encontro um colega da minha sala brigando com alguém que parecia ser seu namorado, a briga é feia e ele leva um soco e cai no chão. O homem que bateu nele simplesmente o deixa no chão e parece não se importar. Eu o ajudo, ele me reconhece. Digo que sou lésbica. Ele arregala os olhos, nunca foi um dos indivíduos mais brilhantes desse planeta. Ele é popular, a estrela do tipo de futebol. Seu nome é George Hackney.

Ele me pede para que não conte a ninguém sobre sua sexualidade e eu digo que não contarei. George ainda parece desconfiado, mas não tenho tempo para isso, tenho que pegar o último metrô da noite.

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Nos dias seguintes George fica "obcecado" por mim, pede meu dever de casa, me segue por todos os lugares. Acabou minha paz, não possuo interesse em ser amiga dele só porque nós dois somos homossexuais. Ele tenta sentar comigo na mesa no almoço, eu só faço uma cara feia e procuro um outro lugar para sentar e o deixo sozinho na mesa que ele havia ocupado.

As fãs de George estão espalhando fofocas ao meu respeito, ninguém sabe que ele é gay no ambiente escolar e como já disse ele possui uma popularidade imensa, especialmente entre as garotas da escolas, elas são devotas à ele, assistem a todas as suas partidas. As fofocas que elas espalham é sobre eu e George estarmos talvez de rolo, o que é o cúmulo do absurdo considerando os fatores da situação. Porém, escola é isso, sempre assumem o pior e elas passam a me ameaçam e mandar estranhas mensagem de texto para que eu não fique muito próxima dele.

Resolvi que não havia outro jeito a não ser conversar com ele, o procuro no campo de treinamento de futebol. Suas fãs estão o admirando a distância e gritam toda vez que ele faz um gol, ridículo!

Quando acaba o treino e suas fãs vão embora, vejo que ele está sentado em um banco e retirando suas chuteiras. Eu digo inconformada a ele: "Está sendo um saco, sabe?", ele me responde sem entender absolutamente nada: "o quê? ", eu respiro fundo. Ele é um idiota! É o que eu penso.

Converso seriamente com ele, George se demonstra realmente arrependido. Sempre achei que sua popularidade era devido a sua aparência: loiro, olhos azuis e alto. Pouco dou atenção para homens, mas George sempre chamou atenção onde quer ele fosse. Percebo que há algo a mais, além de sua aparência, ele é honesto e até simpático.

George me conta sobre sua dificuldade em se assumir como gay e como seria difícil para ele ser aceito pelo time e pelo treinador. "Há atletas que são recusados em grandes times só por serem gays!" ele me conta desesperado. O que digo a ele é que ele não deve se preocupar com isso agora, tudo tem seu devido tempo e quem sabe ele poderia aprender sua vida "secreta" com o esporte? Ele reflete sobre o que disse à ele.

"Seus pais sabem? Sobre você ser lésbica?" ele me pergunta.

"Minha mãe sabe." eu respondo.

"E seu pai?"

"Meu pai deixou minha mãe no momento que soube que ela estava grávida, sinceramente eu não me importo com ele." eu respondo como se pouco me importasse.

Após esse diálogo, ele me diz mais algumas coisas sobre como ele não possui coragem de contar aos seus pais, eu respondo que está tudo bem.

"Eu gosto de você, sabe Mia? - ele sorri.-como amigo, claro.

"Também gosto de você" eu suspiro "ou ao menos, acho que estou começando a gostar."

"Então, posso me sentar ao seu lado no almoço agora? ele pergunta num tom que soa como brincadeira, mas também como se fosse sério.

"Nem pense nisso!" eu esclareço para ele.

Ele apenas ri. Não imaginaria que as coisas seriam assim, que eu teria uma conversa decente com George, que eu o acharia uma boa pessoa. Não achava que um dia iria começar a gostar dele e perceber que ele é muito mais que um idiota. É estranho, as coisas mudam tão rápido, piscamos e tudo se modifica, mesmo quando nada aparentemente está ocorrendo, outras estão ao nosso redor. E enxergo um pouco melhor a minha prepotência de assumir algo sobre George, eu sempre estive tão fechada, por que não posso me permitir abrir? Quanto tempo isso leva?

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Com nossa conversa, eu e George nos aproximamos, é um processo rápido, mas satisfatório. Não admito que gosto de sua companhia mais do que esperava, meus passos não estão mais pesados, eles flutuam no ar. Eu rio um pouco de seu jeito bobo e percebo que suas fãs não mais me incomodam. Ele fez o que eu pedi sobre dar um jeito nas fãs e estou grata por isso, entretanto sei que agora ele não é mais um fardo para mim.

Se antes eu sentava sozinha à janela, agora George vem a minha mesa. Ele me conta de seus treinos, conta sobre sua relação com o resto do time. Me conta sobre "ex" namorado, esse é o assunto delicado e que nunca posso ajudar. Não entendo de relacionamentos, simplesmente não entendo. Fugazes são os meus, jamais me deixando completamente satisfeita, mas não quero pensar nisso!

A verdade é que não quero que George tente voltar com seu "ex", eu não acredito que isso dará resultados. Sei exatamente o que acontecerá, eu prevejo. Seu coração se partirá, ele irá receber uma resposta seca como a minha. Ele nunca mais o verá na sua vida e ele recordará de todos os momentos que passaram juntos, porém para o "ex" esses momentos serão esquecidos, nada aconteceu. É o que sempre acontece, certo? Relacionamentos são fadados ao fracasso, mas George não precisa saber disso.

Eu sei que agora não estou tão só como antes, nem tudo é perfeito. Não desejo compartilhar certos assuntos com ele, não desejo saber de seus relacionamentos. Eu gosto dele, mas quem não garante que ele se cansará de mim?

Mais uma vez, fui provada como errada. Andamos sempre juntos na chegada da escola, ele me vê chegando de bicicleta e espera por mim. Ele começa com um bom dia, eu o respondo cordialmente. Conversamos sobre assuntos banais, mas é leve. Antes não havia ninguém ao meu lado nas minhas caminhadas até a sala. E ele me faz ri novamente com uma bobagem que ele diz. Ele fala que sou estranha porque cubro com minha mão toda vez que rio, ele é mais perceptivo do que esperava. Ele sabe que há algo que eu escondo, ele nunca ousa perguntar. Sou sua ídola, seu exemplo a seguir. Como lidar com um ídolo imperfeito?

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E assim os dias passam, eu e George viramos rotina. Ele sempre anda ao meu lado, mas nunca ousa sentar na minha mesa durante o almoço, eu fico grata por isso. Na quarta feira, estamos saindo da escola, George me diz que esqueceu algo e logo volta. Eu espero por ele, quando de repente, uma voz me chama a atenção: "Com licença." é uma voz feminina suave. "Tenho algo para te falar."

Eu me viro e nada me prepara para a visão que tenho. Uma garota que provavelmente é do primeiro ano e ela é bela, radiante, parece uma pintura. Ela é loura, cabelos levemente onduladas com laços vermelhos, seus olhos azuis claros e expressivos, sua boca delicada e sua altura média. Tenho que tomar fôlego ao respondê-la: "Sim?" eu quase gaguejo devido ao meu nervosismo.

"Que isso, Mia?" eu questiono a mim mesma "Parece que você nunca viu uma garota na sua vida! Você está agindo como um daqueles garotos idiotas na puberdade (como se você não estivesse na puberdade também)!" Tomo fôlego mais uma vez e permito-me responder a meu lado emocional a resposta que ele tanto deseja: "Porém, ela não é qualquer garota. Ela é uma das garotas mais bonitas que eu já vi, sei que não me interesso por meninas mais novas, portanto não tenho que me preocupar com ela. Mas como é bonita! E seus traços me são estranhamente familiares, mesmo que eu nunca a tenha visto.

"Você está perdendo seu tempo com meu irmão." ela me tira do meu conflito interno.

"Hmmm?" respondo confusa.

"Ele é gay."

"Espera..." daí entendo porque seus traços são familiares para mim. "Seu irmão é...?"

E sou interrompida por George com sua mochila na mão correndo e chamando meu nome, quando ele pára de repente e encara a garota loura.

"Mary?" ele pergunta. "O que você está fazendo?"

"Nada!" ela exclama envergonhada e saí andando apressadamente.

"Ei! Espera!" ele grita para ela.

Tarde demais, ela já está em uma boa distância de nós. Eu compreendo quem é a garota e a reação de George diz tudo.

"Ela é sua irmã mais nova?" eu pergunto.

"Sim" ele responde e seu tom muda drasticamente. "Você estava dando em cima da minha irmã?"

"Quê? - eu respondo inconformada de ele deduzir algo do tipo "Não!"

Me dá vontade de rir um pouco com sua reação, eu explico a ele que não há nada para se preocupar já que não me atraio por garotas mais novas. Ele parece aliviado, porém me pergunta o que ela queria, eu respondi que ela apenas queria saber onde ele estava. Como George não é muito inteligente, ele acaba acreditando. Daí penso: "Mais um problema que esse garoto está me criando! A irmã dele sabe que ele é gay e ele nem sequer me contou que tinha uma!". Eu apenas suspiro, fico feliz que tenho um amigo agora, apesar de tudo. Para alguém que evita tanto as pessoas era um começo e me deixo levar por essa ligeira alegria em meu peito. Quando começa, não acaba, a flor foi plantada e a amizade formada. Eu e George temos muito caminho a percorrer, ele está aqui para ficar, ele não me deixará de lado. Não mais só eu, agora o outro adicionado na minha vida.

18 августа 2020 г. 17:24 0 Отчет Добавить Подписаться
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