O despertador tocou, mas Shikamaru o ignorou esperando que seu colega de quarto, Chouji, se arrastasse da própria cama para desligá-lo. Com desgosto, lembrou-se que o amigo havia se mudado para a casa da namorada, Karui, no dia anterior.
Complicado. Pensou, mas permaneceu na mesma posição.
Naruto e Kiba dividiam o quarto ao lado – ponderou – porém, os dois tinham sono pesado e não acordariam mesmo se uma bomba explodisse a casa. Apertou o travesseiro contra a cabeça na tentativa de abafar o barulho, fechou os olhos e aguardou.
O quarto de Neji ficava do outro lado do corredor, o Hyuga tinha sono leve e com toda a certeza viria desligar o aparelho – o som estridente lhe incomodaria o suficiente para isso. Satisfeito com a resolução que havia encontrado para o problema, Shikamaru começou uma contagem regressiva. Estava no três quando a porta foi abruptamente aberta por um Sasuke furioso – apenas de cueca – marchando em sua direção.
- Seu maldito preguiçoso – sob o olhar alarmado de Shikamaru, pegou o despertador sem cuidado, arrancando a tomada da parede, abriu a janela e jogou o aparelho com força – se não vai levantar quando essa merda tocar, não precisa de um – com as palavras rosnadas, virou-se e saiu do quarto pisando duro.
O desfecho não ocorrera exatamente como previra, afinal, o quarto do Uchiha ficava afastado e nem de longe seu sono poderia ser considerado leve, mas tinha conseguido alcançar seu objetivo e isso era tudo que importava.
Fazendo das cobertas um casulo, Shikamaru voltou a relaxar até que seu celular começou a vibrar na cabeceira. Se mexendo o mínimo possível, deu uma espiada no visor.
Chouji: Acorda Shikamaru!
Chouji: Ñ pode se atrasar p aula
Chouji: VC É O PROFESSOR
Com um “complicado” resmungando, levantou-se calmamente. Odiava sair da rotina, estava feliz pelo amigo ter encontrado o amor, mas agora teria que achar outro colega de quarto. Uma pessoa com as próprias manias e hábitos, que talvez não fossem compatíveis com as dele.
A mudança seria mais que complicada.
Não demorou muito no banho, escovou os dentes e amarrou o cabelo no costumeiro coque. Enfiou as chaves no bolso da calça jeans junto com a carteira e maço de cigarro, no bolso interno da jaqueta surrada colocou o isqueiro e dois pilotos para quadro negro.
- Vai trabalhar assim? – foi o “bom dia” de Neji, apesar de ser só um aluno de direito, o moreno trajava uma roupa social perfeitamente alinhada, um contraste bem estranho com o avental de cozinha e a frigideira que tinha na mão.
- É complicado – pegou uma panqueca da pilha já posta a mesa e enfiou na boca sem dar maiores explicações.
- Deveria levar isso mais a sério, Shikamaru – Neji usou o tom que Naruto nomeara de “mamãe galinha” – ser professor universitário com a idade que tem é uma oportunidade única.
Em sua opinião, o Hyuga se preocupava demais. A reitora da Universidade, Tsunade Senju, havia praticamente implorado – ou mais precisamente, usado de intimidação, chantagem e suborno – para que aceitasse a vaga na instituição quando concluiu o mestrado, precisaria de algo além de desrespeitar regras de vestimenta para ser chutado do cargo. Além do mais, usava uma blusa social branca abotoada até o colarinho, o que escondia perfeitamente todas as suas tatuagens.
Imagem mais respeitável que aquela era impossível
- CHEIRO DE BACON – como uma criança hiperativa, Kiba invadiu a cozinha, logo meteu a mão na panela para roubar uma fatia da carne.
- Use um prato, Inuzuka – Neji vociferou – outras pessoas vão comer.
- Sim, mãeeeeee – não conseguiu desviar do tapa que recebeu na cabeça – ei, não me bate.
- Então não seja estúpido.
- Estou de saída – aproveitando a deixa, Shikamaru pegou outra panqueca e se dirigiu para a porta.
- A entrevista com seu novo colega de quarto é às 15h – Neji lembrou.
- Uhum – confirmou de boca cheia.
Não morava muito longe do trabalho, apenas alguns quarteirões, então preferia uma bicicleta a um carro. Por ser uma região universitária – sendo a Faculdade de Konoha a principal – a maior parte dos moradores eram estudantes, o grande centro composto por cafés, bares, repúblicas, bibliotecas, mercados modernos, restaurantes veganos e fast food.
A manhã estava agradável o bastante para a brisa gelada incomodá-lo, com uma habilidade adquirida pelos anos de prática, tirou ambas as mãos do guidom para fechar a jaqueta. Tudo aconteceu muito repentinamente, uma hora estava entrando no estacionamento e no segundo seguinte, no chão, caído de costas no asfalto. Não sentiu o impacto, mas ouviu o carro freando.
Mãos de dedos finos e ágeis começaram a apalpar e verificar seu corpo, Shikamaru encarou o rosto da bela loira a quem eles pertenciam.
- ... dói? – seu tom era autoritário, vincos de preocupação formaram-se em sua testa.
Estranhamente, o Nara quis que a expressão se desfizesse, pois não combinava com os olhos límpidos e verdes, ou com o nariz arrebitado, muito menos com a boca rosada e tentadora.
Tentadora? De onde tinha vindo aquilo?
- Sente dor em algum lugar? – ela repetiu a pergunta depois da sua óbvia confusão, aproximando ainda mais seus rostos.
- Não – sua voz saiu abóbada até mesmo para seus próprios ouvidos.
- Bateu a cabeça? – o encarou com certa desconfiança.
- Não – mentiu, não tinha certeza sobre isso.
- Como se chama?
- Shikamaru – por que estava agindo de forma tão idiota?
- Okay, meu seguro não cobre despesas médicas de terceiros – aliviada, o segurou pelo braço – consegue se levantar? Estamos criando um belo show.
Sem esperar por permissão, o ajudou – arrastou – até que ficasse de pé.
- A roda da sua bicicleta empenou, posso cuidar disse se quiser – passou as mãos por sua jaqueta e depois a calça, como se para limpar a sujeira do chão que adquiriu na queda – meu irmão tem uma oficina, não vai levar mais que um dia.
Foi até a bike, pegou cuidadosamente – irônico, já que havia passado com o carro por cima dela minutos antes – e a encarou de forma avaliativa.
- Não precisa – a parte sã do seu cérebro revirou-se com a recusa, por Kami, deixar que ela levasse a coisa seria menos complicado que procurar uma loja de consertos e pagar por isso, no entanto, por algum motivo desconhecido estava tendo dificuldades para colocar o raciocínio em palavras.
- Tem certeza?
Shikamaru assentiu.
- Tudo bem – parecia incerta com a decisão, mas com um suspiro, entregou a bicicleta em suas mãos e entrou no próprio carro, uma picape que já teve dias melhores – ah –parou novamente e meteu a cabeça para fora da janela – evite dormir por um tempo, caso tenha tido uma contusão – e partiu.
Shikamaru só fez encarar a traseira do veículo se afastando, perguntando-se que merda tinha acabado de acontecer.
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