litwalk Kassandra Lays

Um conto sobre uma viajem a Hel, o mundo dos mortos, na mitologia nórdica.


Conto Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#conto #mitologias #nórdico #deuses #hell #inframundo #Hela
Conto
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Um brinde em nome de Odin.



Contar-te-ei a história de Ekhein, ou Héktor se assim preferir. Ekhein habitante de Midgard, era um entregador famoso pelo bom serviço, sempre era requisitado pelos mais altos nobres. Era apenas um homem, mas podia valer por três, forte e ágil, sempre se gabou - e com razão - de nunca recusar o que quer que fosse que tivesse que levar ou o quão longe este lugar estaria. Toda vez que retornava para casa, celebrava com festa e bebida. Ele não era rico, mas tinha o suficiente para gastar com mulheres e barris de cerveja.


Um dia quando voltava do porre na casa de um amigo, um pouco alterado, andava pelos subúrbios quando viu alguém chamar-lhe pelo nome. Se virou para ver quem era, e viu um senhora, enrugada como um trapo velho, vestida com o pior dos tecidos, segurando nos braços algo como um pacote igualmente maltrapilho, mancar em direção a ele.



-O que é que queres de mim?


-Quero solicitar seus serviços.


-E tens dinheiro para isso?


-Posso dar-te o que quiser. O quanto conseguir me dizer.


-Senhora, veste-se pior que um pedinte, e diz que irá me dar o que eu quiser em troca de meus serviços?



A velha senhora desembrulhou o pacote que levava em mãos revelando o que tinha dentro, inumeráveis moedas de ouro.



-Sinto ser pouco mas foi o que uma velha decrépita como eu conseguiu carregar.


-Pois bem, diga-me aonde devo ir e o que deverei levar.



Hel, era o destino do jovem Ekhein, ou Héktor. No início tentou se safar mas a ganância falou mais alto. Caso vós não saiba, Hel é o mundo onde é amontoado com todos os espectros opacos e titirantes daqueles que morreram sem glória, doentes ou com idade avançada. Hel é o reino mais frio e baixo na ordem total do universo. Encontra-se abaixo da terceira raiz de Yggdrasil, perto de Hvergelmir e de Nastrond. Hel foi construído sobre Niflheim.



-Jovem, apareça aqui amanhã, quando o sol começar a aparecer no horizonte e eu te darei a encomenda para que leves a minha filha. Só tenho uma condição, nunca olhe dentro do embrulho, caso o faça, não terás o restante das moedas.



Ao chegar em casa, sentou-se a mesa e pensou sobre tudo o que ocorrera. Não estava embriagado o suficiente para ter sido tudo um sonho. Passou a noite fitando as frestas da janela por onde entrava um frio diabólico. Quando pensou que a noite duraria para sempre, o sol começou a aparecer no horizonte, dando o alarde de um novo dia. Ekhein ou Héktor, fez sua provisão para o dia e partiu para aonde tinha encontrado a velha sombria. Esperou, esperou, e quando achou que tudo tinha sido uma invenção de sua cabeça, a senhora surgiu como havia aparecido na noite passada, caminhando lentamente e segurando um embrulho. Ela repetiu a conversa da noite anterior, alertando sobre nunca abrir o embrulho, e acrescentando que deveria ir até o monte mais alto de Midgard em busca da águia que lá habita e irá lhe pedir que leve-o até Hel, em troca, este terá que dar o seu olho esquerdo para a ave comer. Ekhein sempre valente e aspirando o dinheiro que iria receber, fez como a velha ordenará, foi até o monte mais alto de Midgard - o pico do monte chegava até as nuvens - escalou até o topo e procurou pela ave. Ao encontrá-la, empoeirada em uma árvore, disse-lhe o que desejava, e com um vôo abrupto em direção ao jovem, arrancou-lhe o olho. Assim, o trato estava feito, faltava a ave cumprir com sua parte, e cumpriu. Com suas pernas esqueléticas segurou o rapaz pelos ombros, alçando para o céu, suas grandes asas cinza cintilantes.



Héktor havia adormecido quando sentiu-se em queda livre, abriu os olhos assustado. Olhou para baixo com seu único olho bom, não via nada, parecia já estar noite, e se não estivesse ele poderia afirmar que ali o sol não mostrava as caras, tudo era escuridão. Ouviu o som de asas ficarem cada vez mais distantes, enquanto sentia o vento lhe bater forte no rosto, caía, caía, mas nunca chegava ao chão. Ainda com o embrulho, amarrado ao corpo, rasgou o pano velho, e o abriu, não viu nada pois estava muito escuro, porém ele parou de cair, bateu contra algo invisível. Um som abafado, ele tateou um chão liso, sentiu , mas não teve tempo para pensar, seu estômago começou a se revirar, era como se extraíssem toda a água de seu corpo, deixando-o seco. Quando piscou, não estava mais no vácuo, estava em Hel, no mundo dos mortos. Olhou o redor, agora conseguiu ver, mas preferia não ter visto. Inacabavéis montanhas de ossos se erguiam até se perderem no céu negro sem lua ou estrelas. Espectros negros, sem aparência e deformes, vagavam por ali, enquanto um mar de sangue gritava, gritos de horror. O cheiro de carne queimada com um mistura de sangue e terra o teria feito vomitar, se ele tivesse algo no estômago. Ao voltar seu pescoço novamente para frente, estava uma mulher, tinha cabelos longos e vestia-se de verde. Era incivelmente bonita.



-Quem é você?


-Bem vindo a Hel, Héktor. Eu sou Hela, quem governa Hel. Acho que já ouviu falar de mim.


-Não acredito, ouvi que você é metade viva e metade morta, porém só vejo uma mulher na minha frente.


-Porque a outra metade está atrás de você.



Ao se virar espantado, viu uma figura assombrosa, um cadáver, sem olhos, seu rosto deformado, seu corpo nu, cheirando a enxofre e fumaça ao mesmo tempo.



-Gostei do presente que trouxe, Ekhein.



Sua voz, uma e outra, um homem uma mulher, nem feminino nem masculino, o som que saía de sua boca poderia ser bem o de um animal, se não fosse a língua dos homens que falava. Segurava em mãos o embrulho que ele trouxe, agora Héktor poderia ver o que ele sustentou por todo o caminho. Não precisou se aproximar, Hela-a-cadáver levantou em mãos, na altura dos olhos de Ekhein o corpo ainda não totalmente formado, de um feto, podre. Héktor sem entender, olhou para Hela, buscando explicações, viu nela uma de suas mulheres, não, duas, três, sua face mudava de acordo com os segundos que passavam, ele viu nela todas as suas mulheres.



-É Héktor, - Quem disse foi Hela, a humana - acho que você já entendeu. Você pecou muito no mundo dos vivos, teve muitas mulheres, e nem um filho. Você se lembra por quê?


-Porque ele matou os filhos dele.



Hela-a-cadáver foi quem respondeu, Héktor ou Ekhein, já não mais importa, estava perplexo, o sangue que já não possuía parou de fluir no corpo, tentou sentir seu coração mas ele já não batia há algum tempo, no momento em que pisou em Hel, ele já estava morto.







-Dar-te-ei aos filhos que você mandou para o mundo dos mortos. Eles saberão o que fazer com ti.



A morte em forma de um feto deformado apareceu, seis cabeças saídas de diversos lugares em um só corpo, cadavérico e podre. Os olhos esbugalhados em algumas cabeças que as larvas e insetos não haviam comido. A morte se mostrou na forma de Ekhein, - ou Héktor -, deformação, podridão, injúrias, luxúria, sacrifícios em bem próprio.


E então, deixou de existir. Assim como o tempo passa e nunca mais volta, Ekhein foi jogado na barriga da morte na forma de um feto múltiplo e horrendo. As criaturas o devoraram assim como um cão faminto devora com prazer a comida que o dono lhe dá. Hela a-cadáver-humana, sorriu, estava feito, mais uma vez ela ouviu o ressoar da canção dos mortos.

27 de Abril de 2020 às 13:28 4 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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nD nusti Damn
Me sinto enganado! ela me disse que era sobre travecos 💔
April 29, 2020, 01:25

DC David Cassab
Gostei da história (embora meus conhecimentos de mitologia nórdica são pífios, somente God of War 4 kkkkk) e além de gostar da história eu gostei do título, as vezes é chato dar nome as histórias não é?
April 29, 2020, 00:30

  • Kassandra Lays Kassandra Lays
    Sim. Não sou boa para títulos ou nomes, quando crio um personagem novo, uso o mesmo nome do anterior. April 29, 2020, 01:12
~