u15514544731551454473 Luiz Fabrício Mendes

Um inesperado surto viral. Uma cidade em quarentena. Diversos indivíduos tentam sobreviver em meio ao caos e incertezas. Este é um aprofundamento em suas mentes e motivações. Uma jornada sobre a batalha para sobreviver.


Fanfiction Jogos Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Jill

Raccoon: A Quarentena


Jill


Pela primeira vez em vários minutos, Jill Valentine conseguiu mover-se do sofá.

Nunca pensou que aquilo lhe seria um desafio, ainda mais após os intensos meses de treinamento em Fort Bragg, totalmente avessos à letargia. Quando fechava os olhos por muito tempo, em seus momentos de quietude, ainda conseguia sentir as dores musculares e o orgulho ferido pelas broncas do sargento.

Desde dois meses antes, no entanto, tais lembranças vinham se embaralhando a outras mais profundas... feridas ainda abertas, tais quais riscadas em seu ser pela lâmina da faca no emblema da Delta Force – ironicamente, justo quando a havia trocado por um céu estrelado. O cargo de especialista em arrombamento em uma equipe de elite da polícia de uma cidadezinha do interior era a promessa de paz e realização bem precoces na vida até então tumultuada de Valentine...

Se não houvessem sido comprometidos pelas ações da própria megacorporação farmacêutica que financiara a equipe.

Jill moveu os braços e as pernas em impaciência, mas ainda não conseguia se levantar do assento. O exercício de fechar os olhos lhe trazia agora as pontadas nos membros de tanto correr de zumbis e outras aberrações mortas-vivas pelos corredores da mansão, as broncas do sargento substituídas pela voz de Wesker detalhando sua armadilha. E, ao invés do silêncio com o qual poderia ao menos relaxar, a quietude era quebrada pelo ininterrupto coral dos mortos pelas ruas de Raccoon, suas carcaças vagando entre gemidos agoniantes conforme buscavam mais vivos para se alimentar...

Comprimir as persianas até as pontas de seus dedos sangrarem de nada adiantara para bloquear o som, conforme tentara ao cair da noite.Nada adiantaria.

Tendo a cabeça embaralhada, por um instante perdeu a noção de dia e hora.28 de setembro... Luz do dia?Um olho girou a uma janela, no limite de sua visão periférica. Escuridão, junto ao tom dourado de um incêndio.Não mais...

Ela ainda se questionava como tudo aquilo começara. Apesar dos resquícios da mansão, a contaminação parecia sob controle. Chris e Barry, talvez ouvindo uma voz providencial à qual Jill era surda, saíram da cidade dias antes de a situação realmente piorar. Não por covardia, claro: Redfield partira à Europa para investigar a Umbrella perto de seu QG, e Barry o seguiria dentro em breve após garantir a segurança de sua família além da fronteira. Ela, quem diria, até pouco antes se julgava a verdadeira fraca: permanecer em Raccoon, onde ainda contava com a amizade de boa parte dos policiais – mesmo com a eventual desconfiança – e uma satisfatória rede de contatos para investigar o que era o tal "G-Vírus" com cuja menção Chris havia esbarrado. Uma posição de conforto, quiçá luxo, dado o inferno que vinham vivendo desde julho...

O mais irônico era ter conseguido ao menos salvar seu cão labrador, Charlie, enviando-o aos cuidados do pai.Não tenho mais tempo para cuidar dele como deveria, não depois do que aconteceu...– justificara a si mesma mais de uma vez, mantendo uma foto do animal em sua escrivaninha da delegacia.Se ao menos não posso me salvar, ele está a salvo!

Moveu as pernas novamente, os pés descalços deslizando ásperos contra o assoalho recoberto por uma camada de pó acumulada por dias. Um braço se ergueu, a mão abrindo e fechando numa garantia de bombear sangue aos dedos. Poder realizar aquele exercício algumas vezes a cada hora, sem que os membros se queixassem além de uma leve dormência causada por sentar-se à mesma posição, era garantia de ainda poder controlá-los. Nenhum sinal de gangrena, putrefação. Coceira levando a segmentos inteiros de pele e músculo se descolarem do corpo. Ah, os registros daquele maldito diário... se lutara em vão por meses para tirá-los de sua mente, retornavam agora mais nítidos do que nunca!

Não fazia ideia de qual fora a principal fonte de contágio na cidade, e aquilo a apavorava. Durante seu tempo na Delta Force, ela participara debriefingssobre o uso de armas químicas contra civis ou epidemias de cólera no Oriente Médio. Nada,nadase equiparava ao que se tornara Raccoon City. Considerando a taxa pela qual os jornais esparsamente calcularam a progressão diária da doença antes de caírem, e como ela explodiu em poucos dias, Jill considerara o abastecimento de água. A ideia a apavorara, já que bebera diretamente da distribuição por dias antes de se precaver. Migrar para as garrafas – compradas no mercadinho do quarteirão próximo antes de ser saqueado – não lhe tirara da cabeça que o vírus já estava em seu corpo e que em breve sentiria os sintomas.

A incerteza era a pior das sensações. Segundo a merda do diário na mansão, dias poderiam se passar até o vírus se manifestar realmente. A taxa de infecção variava de pessoa a pessoa, de acordo com seu metabolismo – conforme ouvira de um médico, no rádio, antes de a estação entrar emloopcom música de qualidade duvidosa. Algumas pessoas eram mordidas na rua e já vagavam como zumbis pouco depois; o que, pela eliminação da incerteza, Jill não conseguia se decidir quanto a ser uma maldição ou uma benção.

Cinco dias desde que migrara à água mineral. Nenhum sintoma de infecção pelo vírus.Estou segura, então?

Realizar as tarefas diárias na prisão que se tornara seu apartamento era tortuoso, menos pela determinação em fazê-las do que fazê-las acabar revelando traços da infecção. Apesar de tomar banho, Jill evitava olhar-se no espelho: uma mera mancha sobre a pele ou marca no rosto, uma leve irritação às retinas que ela rogava ser decorrência das noites mal dormidas, gerava a dúvida quanto a se alastrarem e logo ela não passar de um cadáver ambulante em busca de alimento. A incerteza, maior das torturas.

O zelo por sua condição de saúde não era gerado apenas pela preocupação em sobreviver, mas principalmente representar uma ameaça aos outros. Tinha medo de atacar os vizinhos, levar o vírus àqueles que, como ela, permaneciam trancafiados nos apartamentos, mas haviam se precavido mais cedo. Entretanto, esse cuidado, no fundo também esperança de aqueles a quem conhecia e gostava ainda estarem vivos, hora após hora pendia mais apenas ao resguardo individual. As falas ouvidas através das paredes do prédio, as TVs ligadas nos noticiários, as luzes acesas ou apagadas nos ciclos usuais... tudo cessara.

Assim como outrora nos corredores escuros da mansão, Jill Valentine descobria-se sozinha. A única presença adicional, mais uma vez, representada por entes que não mais viviam, porém ainda assim caminhavam...

Em seus ciclos de ansiedade, sempre passava da autoculpabilização às circunstâncias externas que contribuíram àquele pandemônio. O que não pudera controlar, ainda que o desejasse com todas as forças – sua própria investigação, pós-mansão, servindo a isso. Mas a população preferira desacreditá-la, e a todos os S.T.A.R.S., ao invés do prefeito Warren: "É só uma doença passageira. A economia de Raccoon não pode parar, a cidade vai falir se decretarmos quarentena". Palavra por palavra, endossadas pelos sapientíssimos cientistas da Umbrella.

Claro, havia o jogo de futebol anual, que tantos lucros trazia ao comércio da cidade. Nada de o evento ser cancelado, e a circulação de pessoas foi mantida – tornada ainda mais intensa pelos visitantes. Por volta do dia 23, com o "boom" de casos, o Hospital Spencer simplesmente esgotara seus leitos, não demorando aos pacientes se erguerem e começarem a devorar os profissionais de saúde. Enquanto a própria Umbrella não reconheceu a calamidade por ela mesma causada, enviando os tais "mercenários armados" para auxiliarem a evacuação, o prefeito ainda insistira em minimizar os danos... "Morrer, todos vão morrer um dia".

Canalha miserável...

A indignação serviu para colocá-la de pé – o facho de luz de um helicóptero percorrendo suas janelas no mesmo instante, como se quisesse dar destaque ao ato; ou simplesmente mais alguém querendo matá-la.

Até então, o pensamento quanto a tudo estar perdido, nada poder fazer para salvar Raccoon City ou a si mesma, imobilizara-a. A única força ainda a impelindo, num nível instintivo primário, era a autopreservação, a neurose quanto a carregar ou não o vírus, criando insegurança que a impedia de lutar, achando-se incapaz de enxergar qualquer traço do pesadelo do lado de fora sem enlouquecer.

Foi quando, dos abismos do medo, a mesma sensação vivida sob um teto prestes a esmagá-la, mortos a ameaçarem com seus dentes e garras por salas apertadas ou répteis mutantes tentarem decapitá-la, transformou-se em inesperado combustível.

Para que tanto apreço à vida, se não tenho esperanças em evitar que outras catástrofes como estas se repitam?

Jill respirou fundo. Não, não estava infectada – e a epidemia infelizmente chegara a um ponto em que a quarentena nada podia fazer, ao contrário dos resultados se houvesse sido aplicada a tempo. Ao invés de temer transmitir o T-Vírus a outros, sua meta deveria ser continuar incólume para, usando as habilidades que ainda tinha, e das quais quase se esquecera, escapar daquela cidade para continuar somando provas que derrubariam a Umbrella.

Com os primeiros movimentos não apenas frutos de reflexo ou verificações de contaminação em dias, Jill puxou para si os coturnos atirados ao meio da sala e, sentando-se momentaneamente ao sofá, calçou-os. A tentação quanto a nele permanecer viu-se mesmo eliminada quando, rumando ao quarto, a policial levou mãos determinadas a uma série de artefatos dos quais sabia precisar: cinto, coldre, lanterna, seus pinos para arrombamento de fechaduras, o distintivo...

Após trocar a camiseta, abriu a gaveta junto à cama desarrumada e identificou pelo tato, antes de confirmar ante a visão, o cabo da Samurai Edge. O emblema do S.T.A.R.S. em alto relevo transmitiu-lhe a familiaridade necessária para prosseguir, sentando-se ao colchão e inserindo um pente novo na arma. Um presente de Robert Kendo. Como ele estaria em meio a tudo aquilo, em sua amada loja? E a pequena Emma? Jill preferia não pensar... Seria mais efetivo verificar por si mesma tão logo ganhasse as ruas. O lugar era colado ao R.P.D., afinal, onde deveria encontrar valiosos suprimentos.

Inserir a chave da porta do apartamento à fechadura foi a mais árdua tarefa desde que recuperara a confiança, dado o passo que representava. Apesar de o item encontrar-se à mão, sobre a mesinha da sala, por segundos revelou-se algo tão ou mais difícil de alcançar que as chaves de símbolos utilizadas na mansão secreta da Umbrella. Ela seria mesmo capaz de tomar aquela última atitude? Encarar os frutos da injustiça e imprudência de executivos manipuladores que colocavam seu lucro com pesquisas ilegais acima de vidas humanas? Presenciar a agonia de uma cidade que poderia ter sido salva?

Conforme girava a chave, Jill concluiu que sim, pois aquela não representava somente uma fuga de Raccoon. Deixava para trás a intimidação diante de forças avassaladoras que tentavam detê-la, causando mais e mais mal às pessoas. Afastava a reação de julgar-se impotente frente a uma tragédia que não conseguira evitar... O abandonar, por completo, do que restava de uma antiga Jill, transição já iniciada quando descera do helicóptero de Brad nas Montanhas Arklay, e prestes a ser completada agora, nas ruas infestadas de uma cidade condenada.

Aquela seria, nesse sentido, sua última fuga.

Erguendo a Samurai Edge no punho direito, Jill puxou a maçaneta com o esquerdo, ganhando o corredor. Atrás de si, deixou a porta se fechar.



Comentário do autor: Olá, pessoal. Espero que gostem deste novo projeto, ainda mais porque ando bem afastado das fanfics.


A ideia é ser algo breve e de narrativa descontínua, explorando o background e motivações dos principais personagens de Resident Evil 3, já aproveitando o gancho para o lançamento do remake / reimaginação do jogo. Como verão, cada capítulo consistirá no POV (point-of-view / ponto de vista) de um personagem, totalizando seis.

Ao final de cada capítulo, haverá um registro de quais personagens já tiveram seus registros revelados, e quais ainda faltam.



Como sabem, estamos passando por uma epidemia viral também em nosso mundo. Sabendo que ele ainda não está condenado como Raccoon City, não façam como a Jill e FIQUEM EM CASA o máximo que puderem, respeitando a quarentena.


Atualizarei assim que possível. Obrigado por lerem.

31 de Março de 2020 às 02:20 2 Denunciar Insira Seguir história
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Stefany V. Stefany V.
Cara, você acredita que eu vim ler JUSTAMENTE por que achei que era algum texto relacionado ao Corona? Kkkkkkkk Juro para você! Só depois que eu vi as tags (desculpa, sou noob no site, então...) é que percebi que se tratava de uma fanfic. A única coisa que já consumi de Resident Evil, foi o jogo para Playstation 2, o 4 e um dos filmes, que também não lembro qual era. Bom, vou continuar lendo porque, apesar de não ser tão intereda no fandom, a história é boa e sua escrita também! Beijos
May 22, 2020, 17:42

  • Luiz Fabrício Mendes Luiz Fabrício Mendes
    Huhauahaua, olha só! Ah, mas o jogo é metafórico de muita coisa da atual pandemia. Então é sobre o corona também, hauahaua! Que legal! Bom que curtiu mesmo sem conhecer muito o universo. Acho que vai continuar gostando. Obrigado por acompanhar :) May 22, 2020, 17:48
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