stormy-mcknight Conrado Yoshida

Kurt Blake, um estudante universitário, estava em uma festa em uma boate com seus amigos, Amanda Tucci, e Johnathan Silva. O mundo de Kurt muda completamente, depois que um apagão na boate acontece, e o mesmo cai no banheiro feminino da boate e bate a cabeça. A alma de Kurt troca de corpo no banheiro. E ele acorda no corpo de uma garota. Um anônimo começa a perseguir ele e os amigos. Após o acidente na boate, Kurt começa uma nova vida em seu novo corpo, porém, logo ele vai perdendo sua identidade, e começa a assumir uma nova identidade. O seu mundo azul começa a se transformar em um mundo rosa.


Romance Suspense romântico Para maiores de 18 apenas.

#378 #258 #genderbender #misterio
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Fora do azul

“Fora do Azul”


Um dia eu estava com meus amigos em uma boate. Nós havíamos bebido bastante e estávamos completamente fora de…digo, não éramos nós mesmos.


— Cara, olha esse lugar. Está cheio de gatinhas — John, meu amigo, comentou.

— Cara, eu acho que vou vomitar depois de tanta bebida… — Eu falei me sentindo um pouco enjoado.


Ah sim, meu nome é Kurt Blake. Eu tenho 36 anos, estou cursando uma faculdade de moda. Eu sempre quis ser um estilista famoso. A verdade é que eu sempre gostei de moda, mas meus pais sempre desaprovaram. Um dia eu insisti e finalmente consegui convencê-los a me colocarem na faculdade de moda.


Enfim, aquele seria mais um dia comum se não fosse pelo que viria acontecer algum tempo depois. Mas, vamos voltar pro cenário atual.


— Eu acho que se eu fosse lésbica, eu pegava essas garotas — Amanda, uma amiga minha, pareceu gritar em meio a música alta que abafava as nossas vozes.

— O quê? Eu não consigo te ouvir — eu exclamei.

Amanda tentou repetir o que havia dito, e mesmo assim parecia impossível ouvi-la.

— Você escutou o que eu falei?! — Amanda exclamou — Deixa pra lá.



Então eu me foquei em John e ele foi saindo, mas antes fez uma parada e olhou para mim. Ele me avisou que iria pegar um drinque para nós no bar, e eu respondi que estava tudo bem.

Eu então resolvi ir no banheiro.



Fui andando por esse corredor e bem no fundo eu vi duas portas com aqueles bonequinhos de Masculino e feminino, mas… eu estava tão bêbado que acabei enxergando dois banheiros masculinos.


— O quê?! Porque dois banheiros masculinos?

Eu mal conseguia pensar com a minha cabeça latejando de tanta bebida. Mas, eu estava apertado e não conseguia me segurar. Mais um pouco eu iria molhar as calças.


Então, com as minhas pernas cambaleando, eu entrei na primeira porta. Em seguida, eu fechei a porta atrás de mim, e então olhei ao meu redor. Eu vi um bando de garotas ali no banheiro masculino e pensei: “O quê diabos essas garotas estão fazendo no banheiro masculino?”


— Desculpa, garotas, mas… esse é o banheiro masculino — balbuciei com a boca toda torta.

— Não, você errou, cara! Esse é o banheiro feminino! Você não viu a placa?! — uma voz feminina exclamou.

— Que placa? Digo, eu vi duas placas de banheiro masculino lá fora. Achei que eram banheiros masculinos extras…

— Cara, sai daqui! Esse é o banheiro das garotas! — Outra voz feminina tentou me expulsar de lá.

— Tudo bem, eu só vou mijar e saio. É bem rápido!


Na hora eu estava tão apertado que nem percebi a reação das garotas. Corri pra uma das divisórias do banheiro que parecia estar vaga, entrei e fechei a porta.


Enquanto mijava, eu podia ouvir as garotas batendo agressivamente na porta do lado de fora e também alguns gritos delas tentando me expulsar de lá, mas… os sons foram abafados com os meus grunhidos enquanto tentava me aliviar.


Eu estava tão bêbado que não vi aonde eu estava acertando o mijo. Acho que eu fiz tudo pra fora.


O meu mijo parecia interminável, de tanto que eu havia bebido naquela boate. Acho que em seguida, eu acabei mijando no chão também, e então escorreguei no meu próprio mijo, bati a cabeça na porta da divisória e apaguei.


Eu pude ouvir as vozes ecoando ao meu redor como se eu estivesse em um sonho, mas… eu não conseguia acordar e me levantar, já que a pancada na minha cabeça parecia ter sido forte, e um galo estava se formando. Eu gemi, mas com a minha cabeça dolorida, eu só conseguia ficar ali deitado e esperar a dor passar.


Enquanto isso....


John, o amigo de Kurt estava no meio da pista de dança com os drinques na mão, e berrando o nome do amigo, tentando encontrá-lo.


— Kurt! Kurt! Kurt!


O mesmo então continuou procurando o seu amigo, mas sem sucesso. Ao ver John procurando o amigo, Amanda foi até ele e falou com o mesmo.


— John? Você está bem?

— Não. Eu estou bêbado. Completamente Bêbado. Você viu o Kurt por ai? — John balbuciou.

— Não. Ele não estava com você? — Amanda o interrogou.

— Sim. Mas, eu fui pegar uns drinques e quando virei, ele tinha sumido.

— Talvez ele esteja no banheiro.

— O quê?! — John parecia não conseguir ouvir a garota.

— TALVEZ ELE ESTEJA NO BANHEIRO!!! — Amanda berrou.

— ENTENDI! VOCÊ NÂO QUER ME AJUDAR A PROCURAR ELE?! — O mesmo devolveu.

Amanda ficou processando aquela pergunta, até que soltou um:

— Tudo bem!



Amanda e John foram em direção ao banheiro procurar por Kurt. Quando chegaram no banheiro, eles pararam em frente de duas placas. John, assim como Kurt, enxergou duas placas de banheiro masculino.

Amanda parecia não ter bebido muito e claramente via as placas como eram. Mas, acabou ficando em dúvida.


— Porquê tem dois banheiros masculinos? — John inquiriu.

— Não tem dois banheiros masculinos. Um é o feminino e o outro o masculino, mas… qual é qual?


Foi então que Amanda olhou ao redor e viu uma fila de mulheres que se estendia da porta do banheiro feminino e ia até o outro lado do corredor.


— Meu Deus! Deve ter acontecido algo. Será que alguma garota está passando mal? Vamos lá ver…

— O quê?! Eu não posso ir lá, se você está falando que é o banheiro feminino — John contestou.


Mas, John não sabia onde era o banheiro feminino, ele só enxergava dois banheiros masculinos.


Amanda agarrou a mão de John e o arrastou até o começo da fila de mulheres, a porta de entrada do banheiro feminino.


— Vem, John! Nós precisamos fazer alguma coisa…

Então, Amanda soltou a mão de John ao chegar na porta do banheiro e interrogou uma das mulheres que esperava na fila para usar o banheiro.

— Ei, você sabe o que está acontecendo?

— Não sei. Faz mais de meia-hora que eu e as outras garotas estão aqui esperando para usar o banheiro e nada…

— Obrigada. Eu vou dar uma olhada nisso.


Foi quando as luzes da boate começaram a oscilar constantemente. As pessoas na boate começaram a ficar assustadas. Amanda e John não sabiam o que estava acontecendo, mas se mantiveram calmos.


— O que está acontecendo?! — Amanda ficou curiosa.

— Será que é o fim do mundo?! Será que é terremoto?! Cara! Nós vamos morrer aqui! — John entrou em pânico.


As luzes continuavam a oscilar por mais algum tempo.



Algumas horas se passaram até que as luzes se apagaram e todos ficaram no escuro.


— Eu estou ficando com medo!!! — John exclamou.

— Que droga! Eu não consigo enxergar nada! — Amanda praguejou em seguida.


Amanda tentava manter a calma e seguir calmamente até o banheiro. Ela foi andando devagar, abriu a porta do banheiro feminino e logo fora recebida por um coral de vozes femininas.


— Que bom que alguém chegou! — Uma voz exclamou — Um cara entrou no banheiro e não quer sair de lá. Nós estávamos batendo na porta, e nada.

— Kurt! Será que ele está bem? — Amanda falou sozinha — Deixa que eu cuido disso, mas antes…

— Eu estou com o meu celular, espera que eu vou ligar a lanterna… — uma outra voz feminina comentou.


Então um som estridente ecoou no ambiente e logo uma luz se acendeu na ponta do celular de uma das garotas e iluminou onde elas estavam.


— Vocês estão bem? Ainda bem que eu tenho a lanterna do meu celular…

— Nossa! Bem melhor. Você pode me levar até onde você viu o cara? — Amanda quis saber.

— Claro. Mas, e as outras manas? Elas vão ficar no escuro sem a luz do meu celular… — a garota com o celular contestou.

— Não deve demorar para as luzes voltarem. Até lá, me leve até onde o cara foi! — Amanda exigiu.

— Tudo bem…


Quando Amanda chegou no local onde seu amigo poderia estar, acompanhada da garota do celular, ela então gritou o nome dele.


— Kurt! Você está aí?!

Kurt parecia não responder. Mas Amanda continuou tentando chamá-lo.

— Kur! Kurt! Kurt!


Amanda continuou a chamar pelo amigo, até que algo misterioso aconteceu.


A luz do flash do celular saiu e foi até a porta do banheiro onde Kurt estaria e a atravessou. Em seguida, as garotas ouviram uma explosão e estalos de faíscas como se fossem fogos de artifício no banheiro, iluminando um pouco a escuridão.


A garota do celular começou a se sentir mal. Ela foi ficando sonolenta e suas pálpebras foram fechando, até que ela desmaiou perto de Amanda.


Como o local estava com pouca luz, com apenas a luz misteriosa iluminando um dos banheiros, Amanda não havia percebido a garota cair no chão.



Alguns minutos depois…


A porta do banheiro que antes estava trancada, se abre lentamente, e Kurt sai andando devagar, até que de repente….


As luzes voltam ao normal e o banheiro feminino fica todo iluminado.


Amanda olha na direção de Kurt e se alegra.


— Kurt! Você está bem? Eu estava preocupada. Tem uma fila de garotas esperando pra usar o banheiro — A mesma disparou.

— Onde eu estou? Quem é Kurt? — Uma voz feminina saiu do corpo de Kurt. Mas, não soava como ele.


Amanda ficou perplexa.


Atrás dela, a garota do celular começou a se levantar, sem se lembrar de nada.


As palavras que saíram da boca da garota, tinham um tom masculino.


— Onde eu estou?!


Amanda olhou para trás e logo viu que a garota do celular tinha a voz de Kurt.


— Kurt, é você?


A garota focou o olhar em Amanda. E então se surpreendeu.


— Amanda? É você? Onde eu estou? E o que aconteceu com o meu corpo?

— Eu… não sei…sim. sou eu. — Amanda gaguejou.


O corpo de Kurt foi se aproximando de onde Amanda e as garotas estavam e tentou falar com elas.


— Ei, o que aconteceu comigo?


O corpo de Kurt com a voz da garota do celular, então olhou para si, e viu que a calça que estava usando estava toda encharcada.


— Porquê eu estou molhado...ada? — A voz da garota ressoou com o corpo masculino.

— Ahn… Vem comigo, Kurt. Vamos sair daqui — Amanda sugeriu.

Amanda foi até o corpo da garota do celular e pegou na mão dela.

— Amanda? O que está acontecendo?! — Kurt exclamou no corpo da garota.

— Eu… depois. Só vem! — Amanda rebateu.


Então Amanda arrastou a garota para fora do banheiro, passando pelas mulheres que estavam na fila que logo ficaram pasmas ao verem Amanda com a garota saindo do banheiro.


John então interveio.


— Ei, O que aconteceu? Quem é essa garota? E onde está o Kurt?

— Eu não sei, John. Eu acho que eu perdi o Kurt… — Amanda confessou.

— Perdeu? Mas você encontrou ele, não?! — John estava aflito.

— Mais ou menos. Eu não sei explicar…


Então, sons de passos ecoaram pelo corredor e o corpo de Kurt ao ver Amanda e John foi atrás deles. A multidão que estava indo no banheiro não tinha entendido nada.


— Espera! Esse é o meu corpo! — Exclamou a garota no corpo de Kurt.

— Espera! Aquele é o Kurt, não é?! — John surtou.

— Não exatamente…

— Eu estou aqui, John! Você pode me ouvir? — Kurt gritou.


John voltou o olhar para o corpo de garota.


— Você é o Kurt? Mas… você não é gostosa assim! Gente, o que está acontecendo? — o mesmo ficou confuso.

— John, sou eu sim. Eu não sei o que houve, mas...sou eu…

— Kurt, isso é permanente? Você pode voltar ao normal, certo?

— Eu não sei, Amanda….eu acho que é permanente. Eu não sei como eu poderia desfazer o que houve.

O corpo de Kurt então se junta a Amanda e John e a garota.

— Ei, eu não sei o que houve, mas...devolve o meu corpo! — a garota no corpo de Kurt berra.



Então eu ouvi essa voz feminina que estava no meu corpo reclamando sobre o corpo dela onde eu fiquei.


— “Devolve o meu corpo?” — Tentei imitar a garota — Pra começo de conversa, eu não sei como desfazer isso. Eu acho que é permanente.

— Mas… — a garota se lamentou — Não pode ser…


Amanda então tentou apartar a discussão.


— Calma, gente! Precisamos ter calma. Eu realmente não sei o que aconteceu aqui…

— Bom, eu só lembro que ahn...eu estava sonhando com essa energia que veio até mim, e disse que sabia tudo sobre mim e que a minha situação iria mudar... eu acho que foi isso — repliquei.


Eu realmente me lembro mais ou menos do que aconteceu. O que eu disse a Amanda, é a última coisa que eu me lembro antes de acordar no banheiro.


Será que, eu fui possuído por alguma entidade alienígena?


De qualquer forma, eu vejo que por um lado, agora que estou num corpo feminino, talvez meus pais não reclamem do curso que eu escolhi.


O difícil vai ser viver nesse corpo… será que eu vou acabar gostando da minha amiga?


Sobre Amanda e John, eu os conheci no colegial, e... nós estudávamos juntos, depois do colegial nós fomos juntos pra universidade. Cada um seguiu seu caminho. John queria ser um programador de jogos eletrônicos, e estava cursando design gráfico, e Amanda...queria ser fotógrafa. Ela estava estudando Áudio e Video e fazendo curso de fotografia, o sonho de Amanda era fazer fotografias Boudoir. E eu estava fazendo curso de moda na universidade. Talvez por ironia do destino, nós acabamos juntos, mas em cursos diferentes.


Voltando pra minha situação…


Então eu percebi que eu ainda estava segurando o celular de uma garota na mão, e...então olhei pra tela.


“12:44 - Sábado, dia 31 de outubro de 2019”


Enquanto focava naquela informação escrita na tela, eu fiquei pensando que talvez isso me ajudasse futuramente. O dia talvez não servisse pra nada, mas a hora que marcava na tela do celular, talvez pudesse me ajudar a destrocar de corpo. Talvez às 12:44 de algum dia, eu pudesse voltar ao normal…


— O que está vendo, Kurt? — Amanda quis saber.

— Eu não sei. “12:44 - Sábado, dia 31 de outubro de 2019”....é o que está escrito na tela do celular.

— O quê?! Então isso foi algum tipo de brincadeira de dia das bruxas?

— Eu não sei…


Então pensei em checar o celular da garota, mas estava travado com um código digital.


— Precisa de uma senha…

A garota no meu corpo falou:

— Você rouba meu corpo e agora o meu celular?


Fiquei pensativo por um momento…


— A senha é só desenhar com o dedo uma linha curva… — a mesma continuou revirando os olhos.

— Fácil assim?


Então testei o que a garota havia falado.


O celular foi desbloqueado e eu pude acessá-lo. Deslizei o dedo pela tela procurando por algo que fosse relevante.

De repente, uma mensagem de Whatsapp surgiu na tela. Parecia ser de um número desconhecido.


“Você foi hackeado. Eu sei de tudo” — dizia a mensagem.


Então eu entrei no aplicativo e… para a minha surpresa só dizia isso. Que inferno!


— Você foi hackeada, garota. O que você fez para atrair a atenção de um hacker? — Questionei a garota no meu corpo.

— Nada. Eu só...falo com o meu namorado. É só — Eu não sabia se ela estava mentindo ou se estava dizendo a verdade.


Resolvi fuçar a galeria de fotos do celular da garota. Havia umas fotos bem ousadas dela de lingerie.


— Nossa! Eu estou impressionado…— exclamei.

— O que você está vendo?! — a garota se irritou.

— Nada. Deixa eu ver uma coisa…


Olhei mais um pouco na galeria de fotos e havia umas fotos dela pelada.


— Nossa!

— Deixa eu ver! Pela sua cara de espanto deve ser algo muito “quente” — John interveio.


John se aproximou de mim e então deu uma bisbilhotada no que eu tava vendo.


— Caraaamba! Isso é melhor que pornô! Eu pegava, se o meu amigo não estivesse no corpo de uma garota.

— Qual o problema, John? Você não quer trepar com uma garota? Eu faço de graça — insinuei já tirando proveito da minha situação.

— Não, cara! Ainda sim, com o perdão da palavra, vai parecer gay! Porque você é um cara. E eu não tenho interesse em caras, só nas minas. Mas, pelo menos eu não sou um daqueles héteros com orgulho. Esses caras são muito escrotos — John se defendeu.

— Ei, não se atreva a usar o meu corpo para suas fantasias pervertidas! — a garota no meu corpo contestou.

Então olhei para ela fixamente.

— Bom, eu não sei como voltar para o meu corpo, que você está usando. Então...porquê você não aproveita, já que a maioria das garotas sonha em fazer xixi em pé? — Sugeri.

— Pensando por esse lado... então...eu posso te comer? Agora eu sou um cara, então… — a garota falou com malícia.

— Nem pense nisso! Agora que eu sou uma garota, eu vou comer mulher! — contestei.


Acho que aquela situação toda despertou em mim um desejo obscuro que eu vinha guardando dentro de mim. Eu sempre quis ser uma garota, ainda mais tendo em vista a desaprovação dos meus pais com relação ao curso de moda.


— Garoto, eu sou hétero! Você é que está com pensamentos sujos agora que está no meu corpo!

— Eu to pagando pra ver…


Fui bisbilhotar o email da garota no app de email e eis que eu encontro uma mensagem não lida. O endereço de email era de uma garota.


Fiquei curioso e abri o email.


Então comecei a ler em voz alta:


— “Eu estou sentindo a sua falta, quando nós vamos nos ver de novo, gatinha?”, “Um beijo e um abraço, Jessica.”

— O quê?! — John exclamou — Cara, você se deu bem entrando no corpo de uma garota. Quem dera eu estivesse no corpo de uma garota também…


Então eu e John voltamos o olhar para a garota.


— O que foi?! Porque estão me olhando desse jeito? Eu sou hétero, tá bom?! — ela se defendeu.

— Não parece! Você está dizendo isso só pra esconder que você é Homo. Na boa, sai do armário, garota!

— Ok, o que o meu amigo disse soa rude, mas ele está certo em uma coisa, você não está sendo verdadeira consigo mesmo — John rebateu.

— Foi isso que eu quis dizer. Eu não sei escolher bem as palavras…

Então, Amanda interveio na discussão.

— O que vocês estão discutindo?

— Nada, Amanda. É só que tem um email aqui, que é de uma garota que parece ser a namorada dela, e a garota no meu corpo está dizendo que é hétero — resumi a situação para Amanda.

— Talvez ela seja uma amiga, ou ficante...mas namorada… — Amanda sugeriu.

— Eu não acredito nisso…


Logo em seguida, surgiu um novo email da garota que parecia ser a namorada da garota que estava me usando.


— Chegou um novo email — avisei.


Amanda e John se juntaram a mim para ler o novo email.


Então nós vimos uma foto ousada da garota se tocando e uma legenda em baixo.


“Vem lamber minha xana, Daniele. Eu fico molhada só de pensar em ti”.


— O QUÊ?! — Nós três exclamamos juntos.

— Ok, eu acho que subestimei essa garota. Se a outra fosse ficante, eu entenderia umas mensagens mais… “leves”, mas...uma mensagem picante dessas e com uma foto dela se tocando, ela tem que ser a namorada dessa garota. Mas, eu acho que não é da conta de ninguém se ela for mesmo a namorada.

— Tudo bem. Eu não tenho nada contra ela ter uma namorada, mas... ficar se passando por hétero...como o John disse, ela não está sendo verdadeira consigo mesma. E… interessante, a dona do meu corpo se chama Daniele. Talvez agora eu pare de chamá-la de “a garota no meu corpo.”

— Então, é verdade isso, Daniele? — John se voltou para a garota e a interrogou.

— Bem… — Daniele ficou perplexa com a pergunta — Eu...sim, é verdade. Eu na verdade estou namorando uma garota.

— E porque você diz que é “hétero”? — Amanda quis saber.

— Porque… eu não quero que ninguém saiba disso. E se eu disser que sou hétero, todo mundo deixa pra lá — Daniele confessou.

— Cara, não tem como “deixar pra lá”, a internet não é 100% segura. O Google sabe de tudo que você faz. Você tem que ser mais cuidadosa com o que você faz ou posta.


Eu acho que talvez o que aconteceu comigo e Daniele naquele dia, deve ter sido coisa do Google, ou talvez algum hacker que pegou Daniele aleatoriamente, e...como eu assumi o lugar dela, ele achou que era eu. Não sei…


Então eu olhei a hora no relógio do celular de Daniele.


“4:00”


Fiquei tremendamente assustado. O tempo havia passado bem rápido, e…no dia seguinte, eu teria que levantar de manhã para ir ao colégio. Mas...eu não poderia voltar para a minha casa como Daniele. E imaginei o mesmo com Daniele, mas...no caso dela seria mais tranquilo, já que ela estava com a minha aparência, meus pais provavelmente não iriam notar a diferença.


Então eu resolvi falar com Daniele.


— Desculpa, eu adoraria continuar a descobrir mais sobre você, Daniele, mas… são 4 da manhã, e… eu preciso ir para a universidade, só que eu não posso chegar em casa assim — falei para a mesma.

— E eu não posso chegar assim na minha casa. Então… parece que o jeito será nós trocarmos de casa. Eu vou para a sua e você para a minha. Mas, precisamos do endereço pra chamar um Uber — a mesma continuou.


Eu fui pesquisar o endereço de Daniele na internet do celular, usando o número do celular dela que eu fiquei vendo nas configurações e depois acabei encontrando o endereço da mesma.


— Você, pode me passar o seu endereço? — Daniele me interrompeu.

— Eu posso, eu já visitei a casa do Kurt algumas vezes — John cortou.

— John vai te acompanhar até minha casa. Então fica assim, John vai com você e eu vou com Amanda.


Daniele, Amanda e John balançaram a cabeça positivamente. Então estava combinado.


Saímos da boate e chamamos um Uber. O carro parou na entrada da boate e nós entramos.



Quando cheguei com Amanda na casa de Daniele, eu desci do carro e Amanda ficou no carro para voltar para casa dela e pagou a minha corrida. Eu fiquei conversando com ela com a porta aberta.


— Você tem certeza de que vai ficar bem? — Amanda quis saber.

— Eu acho que sim. Mas, acho melhor o aconteceu ficar entre nós mesmo. Avisa pro John pra não espalhar a notícia — Repliquei.

— Tudo bem. Eu vou falar com ele. Eu espero que tudo fique bem. Te vejo na universidade!

— Idem. Até mais, Amanda! Se cuida!

Então eu fiquei na frente da casa e o carro com Amanda se retirou.

Ouvi então um berro.

— DANIELE!!! ISSO SÂO HORAS DE CHEGAR EM CASA?!!! VENHA JÁ PARA DENTRO!!!


Quando olhei para trás, eu vi um homem e uma mulher que deviam ser os pais de Daniele, andando na minha direção com roupões.


Então eles chegaram berrando comigo.


— São quase 5 da manhã, e você chega agora em casa?! Eu avisei para chegar em casa à meia noite! — O homem exclamou.

— Isso são horas de chegar em casa, moçinha?! Você tem faculdade para ir! Estamos pagando caro por isso — A mulher berrou em seguida.

— Você não sabe o que tivemos que fazer para fazer você entrar na faculdade — O homem prosseguiu.


Então… Daniele aparentemente iria para a universidade também, será que na mesma que a minha? E… o que os pais dela fizeram para conseguir que ela entrasse na faculdade? Talvez seja melhor não saber.


De volta a realidade…


Eu não sabia como reagir, então… tentei imitar a voz de Daniele para eles não desconfiarem.


— Me desculpa, pai, mãe...eu acho que eu bebi demais, minha cabeça está latejando… — fiz como se estivesse com dor de cabeça e pus as mãos na testa — Quando vi, eu esqueci até que eu tinha que ir para a faculdade.

— Eu não quero saber de desculpas, vá já para o seu quarto e dorme!!! — O pai de Daniele gritou.

— Eu devia dar umas palmadas na sua bunda por ter chegado a essa hora!!! — A mãe de Daniele continuou.

— Desculpa, mãe… não vai acontecer de novo.



Entrei na casa acompanhado dos pais de Daniele que me guiaram até o quarto dela.


Lá, eu fiquei proximo a cama e aguardei a ordem de um dos adultos.


— Coloque seu pijama e durma! — A mãe de Daniele demandou.

— Está bem, mãe…


Esperei os adultos se retirarem do quarto e fui me trocar para dormir. Joguei o celular na cama e comecei a me despir.


Fui tirando a roupa e as peças começaram a cair no chão.


Eu resolvi que iria dormir pelado. Não sei se a dona do meu corpo dormia assim, mas...com curvas como as minhas, porquê dormir de roupa de baixo? Pelo menos, foi o que eu pensei.


Quando já ia me deitar, a tela do celular se acendeu e eu peguei o aparelho para ver o que era.


Recebi uma mensagem de Daniele no WhatsApp, com o meu usuário.


“Aqui é a Daniele. Você já está dormindo?” — dizia a mensagem.

Respondi.


“Não, mas estou indo…Como conseguiu me achar?”


“John e eu achamos o seu celular aqui na sua casa, parece que você esqueceu ele carregando. Enfim, os seus pais não acordaram, se está curioso.”


“Blz. Então… eu vou ser breve. Seus pais disseram que você vai entrar na mesma universidade que eu…” — comentei.


Enquanto esperava a resposta de Daniele, eu fui me ajeitando na cama e me cobrindo com o cobertor e o lençol.

A resposta veio logo em seguida.


“Nossa! Eu tinha esquecido desse detalhe.”


“Então é verdade? E agora eu fiquei curioso, o que os seus pais tiveram que fazer pra você entrar na faculdade?”


“Bem…eu não gosto muito de falar sobre isso...mas... na época, o meu pai estava trabalhando tentando conseguir o dinheiro pra minha faculdade. E minha mãe estava em casa comigo. E aí veio essa ligação da universidade. O diretor disse que queria fazer uma visita e conversar sobre a instituição, você sabe, papo de adulto. E eu estava tomando meu cereal e ouvi a minha mãe dizer “sim”, e continuar a conversa no telefone. Não consegui ouvir os outros detalhes, mas até onde eu sei foi isso.”


“E depois?”


“Bem, depois eu e minha mãe recebemos a visita do diretor. Ele começou a falar sobre a instituição, e demonstrou o quanto eles pareciam precisar de alunos, então… ele disse que iria abrir uma exceção pra mim. Ele iria isentar a matrícula, em troca de um favor.”


“E que favor foi esse?”


“Bem, como meus pais não tinham dinheiro o suficiente pra pagar pela instituição, e meu pai estava dando duro pra conseguir o dinheiro... ele disse que se eu transasse com ele, ele deixaria isento a matrícula e ele pagaria os demais custos.”


“Aquilo soou abusivo. Nós estávamos cogitando chamar a polícia, mas o diretor tentou nos convencer que era fazer aquilo, ou ficar sem bolsa de estudos..”


“Nós acabamos levando um tempo para pensar, e no fim eu resolvi atender o pedido dele. E eu me arrependi depois, mas… nem eu e nem minha mãe tivemos escolha. Minha mãe ficou devastada, porque se aquilo se espalhasse, eu iria ser taxada de puta, vadia, todos os adjetivos que são usados para nós garotas enquanto que para os garotos, eles são “Os caras” e etc.


“Eu te entendo, Daniele. Eu já fui xingado de homossexual pelos meus pais e pelos caras dos colégios onde eu estudei antes de conhecer o John e a Amanda, e vir para essa universidade. Que eu saiba, nenhum de nós teve que passar por algo assim. Se isso aconteceu com você, você tinha que denunciar.”


“Como eu disse, nós não tínhamos escolha, e a minha vida já é difícil com os meus pais tentando dar duro, pra conseguir me sustentar.”


“Tudo bem, me desculpa.”


“Não, não é sua culpa, Kurt. É culpa daquele diretor explorador! Mas… talvez essa nossa situação veio a calhar. Talvez você possa me vingar do diretor usando o meu corpo. “


“Talvez… mas, e se eu… digo, você ficar grávida comigo aqui no seu corpo?”


“Isso não vai acontecer, foi só uma vez. Mas, você tem que se cuidar, digo, cuidar do meu corpo pra mim. E dê uma lição neste diretor pra mim!”


Eu fiquei pensando naquilo. As horas haviam se passado muito depressa enquanto viramos a madrugada conversando no celular.


Uma coisa é certa. Talvez o meu encontro com Daniele não tivesse sido por acaso. E talvez quem quer tivesse hackeado nossos corpos, ou o que tivesse feito isso, viu uma oportunidade de nos unir de alguma forma.


Talvez quem ou que quer que estivesse por trás da transferência de corpos, quisesse combater o sistema fazendo isso como uma forma de revidar e mudar a situação caótica que vivemos no dia a dia.


Eu não sei… Eu não sei se quero as respostas também. Talvez devêssemos continuar vivendo nossas vidas, seguir em frente.


E então eu me vi diante de um dilema complexo, vingar o que fizeram com Daniele, ou continuar vivendo a vida normalmente. Porque sim, se eu fizesse alguma ameaça, iria sobrar pra mim. E talvez eu fosse expulso da universidade… Eu estou cansado, e preciso pensar melhor quanto ao que fazer...

17 de Dezembro de 2019 às 13:26 0 Denunciar Insira Seguir história
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