Nós estamos na beira do precipício, na beira do mar. O céu está enfeitado com nuvens escuras, o vento forte bagunça meus cabelos, as ondas fortes batem contra as rochas, posso sentir a água respingar na minha pele, me causando arrepios.
Sua mão segura a minha, você me gira, sem medo e eu me deixo levar, sem receios. Estamos felizes, o frio não importa naquele momento, e o perigo de cair muito menos. Seria só mais um adeus na vida de um de nós dois.
Estamos felizes, estamos loucos. Rimos. Seus olhos fixos nos meus. Um beijo gelado. Começa a chover, as ondas se agitam mais, e dessa vez, posso senti-las tocar meus calcanhares a cada vez que sobem no precipício, como se quisessem me levar junto para baixo.
Estamos sob a chuva, estamos felizes e estamos loucos.
Você está incerto, eu já estou decidida. Sua mão escorregou da minha, já não me gira mais. Outro beijo gelado, esse tem gosto salgado. Você abre seu guarda-chuva para se proteger da tempestade e se afasta do precipício, me chama para ir junto, grita meu nome, mas eu mal ouço graças ao vento.
Me viro sozinha, sobre meus próprios pés. Não tenho mais apóio, deslizo, as ondas fortes me tocam o quadril e me agarram, me levam para baixo. Não te vejo observando minha queda, obviamente, está lúcido, tem medo de chegar perto demais para observar e acabar escorregando como eu. Isso dói.
Estou sozinha, sob a chuva, não feliz e ainda louca.
Um mergulho fundo e não vejo nada, fechei meus olhos. Não ouço nada e nem sinto. Meu corpo parece pesado, a consciência me diz que estou afundando, cada vez mais.
Então me vou, sem você. Dói ser abandonada, mas minha loucura parecesse conseguir cobrir isso perfeitamente, então, estou satisfeita.
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